1. Economia Americana: Novos dados reforçam análise do Fed – Inflação segue acelerando de forma moderada e Fed mostra não ter pressa para cortes
2. Visto H-1B: Novo pedágio para o American Dream – Taxa de visto para profissionais qualificados pode chegar a US$ 100 mil
3. Big Techs: Entre multas, investimentos e inovações – Amazon, Google e Apple seguem enfrentando disputas regulatórias
4. China: Estreitando a diferença tecnológica – Alibaba e Baidu empenhadas em fechar a distância em relação ao ocidente em inteligência artificial
5. TikTok: Tic tac, tic tac, acordo é aprovado após 3º adiamento do prazo limite – Valuation de US$ 14 bilhões do “TikTok US” equivale à remuneração de 466 trilhões de visualizações na plataforma

1. Economia Americana: Novos dados reforçam análise do Fed
Após a reunião do comitê de política monetária da semana passada, em que o Fed sinalizou um regime de “equilíbrio estável”, e cortou a taxa dos Fed Funds em 25 bps, as atenções do mercado seguem na evolução dos indicadores econômicos, porém com mais atenção dedicada à dinâmica do emprego que à inflação, enquanto não há risco iminente para a atividade.
Nessa semana, os dados corroboraram a análise da autoridade monetária: o PIB do 2º trimestre foi revisado de 3,3% para 3,8% A/A, retratando um cenário de demanda resiliente e superando a expectativa do mercado. A inflação medida pelo deflator PCE de agosto veio em linha com as estimativas (2,7% A/A no índice cheio de 2,9% no núcleo), refletindo crescimento dos gastos e renda pessoais um pouco acima do esperado e sinais de que o repasse das tarifas tem sido mais suave do que o imaginado. Já do lado do emprego, os pedidos iniciais de auxílio-desemprego caíram para 218 mil, mas com “qualidade” pior do mercado de trabalho. O cenário geral é de que a inflação segue avançando de forma moderada e que não há necessidade de pressa nos cortes.
Tarifas seguem constituindo o principal risco para a dinâmica dos preços e atividade. Nessa semana, a Casa Branca abriu investigação sobre importações de dispositivos médicos e anunciou tarifa de 100% sobre fármacos de marca/patente, mas com isenção para quem “estiver construindo” fábricas nos EUA. Os anúncios podem gerar pressão de custos, mas foram recebidos com alívio pelo mercado, uma vez que as cláusulas sugerem um impacto limitado.
Os discursos de dirigentes do Fed ao longo da semana também reforçaram a mensagem de cautela. O presidente do banco central, Jerome Powell, destacou que a economia mostra resiliência, mas com sinais de desaceleração diante de crescimento mais fraco, inflação ainda acima da meta e um mercado de trabalho menos dinâmico. O presidente do Fed seguiu com o discurso de que não existe um “caminho sem riscos”, uma vez que cortar demais pode reaquecer a inflação, mas manter juros altos pode prejudicar o emprego.
Em paralelo às dinâmicas dos dados econômicos, a política monetária americana também sofre com o risco de interferência política, e a batalha judicial envolvendo Lisa Cook canha novo capítulo. A dirigente do Federal Reserve agora pediu à Suprema Corte dos Estados Unidos que rejeite a tentativa de Donald Trump de demiti-la, dizendo aos juízes que a medida sem precedentes do presidente americano destruiria a independência do banco central e perturbaria os mercados financeiros. O pedido marca uma escalada da batalha, que antes corria em instâncias inferiores.
À luz de todos os dados e notícias da semana, a curva de juros abriu, com avanços de +6,5 bps e +4,4 bps nas taxas de 2 e 10 anos, respectivamente. A precificação na curva contempla a previsão do mercado de cerca de 1,6 cortes até o final de 2025 e mais aproximadamente 2,3 cortes em 2026, com probabilidade de 89,8% de mais um corte em outubro.

2. Visto H-1B: Novo pedágio para o American Dream
A questão imigratória segue no centro das discussões envolvendo o governo Trump. No último final de semana, a decisão do presidente em impor uma nova taxa de até US$ 100 mil para a concessão de novos vistos H-1B, destinados a trabalhadores estrangeiros qualificados, provocou onda de choque na sociedade e entre setores que dependem da entrada desses profissionais, como saúde e tecnologia. Entre as repercussões, vieram orientações para que funcionários de Big Techs não viagem, advogados de imigração trabalhando sem descanso e startups temendo não conseguir manter seus times. Após a turbulência inicial, a Casa Branca esclareceu que a cobrança se aplicaria somente a novos pedidos, mas a incerteza permaneceu.
O H-1B, criado em 1990, é a principal via para profissionais estrangeiros atuarem nos EUA em áreas como tecnologia, saúde e educação. Indianos são a nacionalidade mais afetada (cerca de 70% das concessões recentes), seguidos pelos chineses. O programa foi responsável por levar engenheiros a grandes empresas de tecnologia, como Google e Microsoft, além de médicos que hoje representam até 6% da força de trabalho nos hospitais americanos. A nova taxa, entretanto, pode inviabilizar a entrada de novos talentos, já que em 2023 o salário mediano dos aprovados para o visto era de US$ 94 mil por ano, abaixo do valor exigido apenas para arcar com os novos custos da aplicação.
Para as empresas, o impacto pode ser imediato. Big Techs como Amazon, Microsoft e Meta talvez consigam absorver os custos, mas startups e setores como saúde e educação dificilmente conseguirão arcar com a cobrança. Consultorias apontam risco de “apagão” de mão de obra especializada, com empresas optando por transferir operações para Índia, Canadá ou Reino Unido. No curto prazo, contratos podem ser renegociados ou adiados, e no médio prazo cresce o temor de perda de competitividade global. A medida tem a capacidade de gerar um verdadeiro “brain drain reverso”, onde profissionais altamente qualificados buscarão outros destinos mais receptivos.
O anúncio sobre o H-1B antecipou também o discurso de Trump na Assembleia Geral da ONU. Em sua fala, o presidente reforçou a agenda nacionalista, defendendo fronteiras rígidas, atacando o “globalismo” e criticando o que chamou de “experimento fracassado das fronteiras abertas”. O tom duro contra a imigração dialoga diretamente com a decisão sobre os vistos, sinalizando que o endurecimento da política migratória deve ser um dos pilares de sua nova administração.
A decisão sobre o H-1B sucede uma série de políticas que inicialmente impactaram migrantes de renda mais baixa, e já provocam impactos no equilíbrio do mercado de trabalho americano, com efeitos como a redução do payroll (criação de novos empregos) de “equilíbrio” e inflação salarial. Diante de uma queda disseminada na taxa de fecundidade entre os países desenvolvidos, os Estados Unidos ocupavam uma posição de exceção ao conseguir impulsionar seu potencial de crescimento econômico ao suprir um fluxo constante de migrantes para mitigar o impacto do eventual declínio populacional. Isso é relevante uma vez que em última instância, podemos atribuir o potencial crescimento econômico de longo prazo ao crescimento populacional e ganho de produtividade.

3. Big Techs: Entre multas, investimentos e inovações
As maiores empresas de tecnologia do mundo viveram dias intensos, com avanços estratégicos e choques regulatórios em diferentes continentes. Amazon, Google, Nvidia, Apple e Meta foram protagonistas de manchetes que, apesar de distintas, convergem para um ambiente de maior regulação sobre o poder das Big Techs e a forma como elas têm moldado a vida digital.
A Amazon (ticker: AMZN) foi a primeira impactada da semana. A companhia concordou em pagar US$ 2,5 bilhões para encerrar acusações da FTC (Federal Trade Comission, regulador concorrencial dos EUA) de ter enganado consumidores ao facilitar inscrições e dificultar cancelamentos do Prime. O acordo inclui um fundo de US$ 1,5 bilhão para reembolsar clientes, do qual cerca de 35 milhões de pessoas devem receber US$ 51 cada. O valor, apesar de expressivo, representa apenas 33 horas de receita da Amazon. Contudo, a decisão reforça a pressão contra práticas abusivas de assinatura em todo o setor digital.
Na Europa, a aplicação da Lei de Mercados Digitais (DMA) gerou notícias sobre duas gigantes da tecnologia. A Comissão Europeia prepara sua primeira multa contra o Google (ticker: GOOG) justificada pela DMA, acusando a companhia de favorecer suas próprias verticais como Shopping, Voos e Hotels em buscas. A penalidade pode chegar a até 10% da receita global, sinalizando que a Europa não pretende aliviar punições a práticas anticompetitivas, mesmo diante de tensões comerciais com os EUA.
Apple (ticker: AAPL), por sua vez, endureceu o tom contra reguladores europeus, num embate cada vez mais público sobre as DMA. A companhia acusa os “burocratas de Bruxelas” de minarem a experiência integrada que diferencia o ecossistema da marca, obrigando-a a abrir o iPhone a dispositivos e serviços de terceiros. A disputa ganhou novo capítulo após a Comissão Europeia rejeitar recurso da Apple contra multa de €500 milhões, e a empresa ameaçar segurar o lançamento de alguns recursos no continente.
A Meta (ticker: META), por outro lado, adotou uma estratégia diferente: em vez de travar disputas, a companhia tenta mostrar avanços práticos ao usuário. A empresa lançou no WhatsApp uma função de tradução em tempo real, inicialmente em seis idiomas no Android e 19 no iOS. O recurso funciona dentro do próprio dispositivo, sem que as mensagens precisem passar pelos servidores da Meta, em linha com a promessa de proteger a privacidade dos usuários.
Enquanto isso, a Nvidia surpreendeu ao anunciar um investimento de até US$ 100 bilhões na OpenAI para viabilizar centros de dados equivalentes a 10 gigawatts de capacidade, algo próximo de 5 milhões de GPUs. O movimento reforça a simbiose entre as duas companhias que lideram a revolução da inteligência artificial. Paralelamente, a Nvidia também investiu US$ 5 bilhões na Intel, como comentamos semana passada, consolidando sua posição no epicentro da infraestrutura de próxima geração.
O saldo da semana foi misto para as maiores empresas de tecnologia do mundo, mas revelam sinais importantes sobre a corrida por inteligência artificial, que enfrenta crescentes questionamentos sobre ritmo de gastos e expectativa de retorno em um mundo que ainda não está inteiramente preparado para a velocidade da inovação.

4. China: Estreitando a diferença tecnológica
Os ventos seguem soprando a favor das gigantes da tecnologia chinesa. Em um mercado ainda sensível a riscos regulatórios e geopolíticos, Alibaba e Baidu se destacaram com anúncios relacionados ao que mais empolga investidores hoje: infraestrutura para inteligência artificial, modelos proprietários e aplicações de AI visíveis no mundo real. O resultado foi uma forte valorização nas duas ações ao longo da semana, com narrativa de crescimento mais clara e, sobretudo, com uma rota tecnológica que leva a receita fora do varejo digital tradicional.
No caso de Alibaba (ticker: BABA), o gatilho foi um pacote robusto: parceria com a Nvidia, expansão global de data centers e a estreia do Qwen3-Max, LLM com mais de 1 trilhão de parâmetros. Eddie Wu, CEO da companhia, reforçou que AI é prioridade estratégica e que o capex vai além dos 380 bilhões de yuans (US$ 53 bi) já anunciados para três anos. A empresa anunciou abrirá data centers no Brasil, França e Holanda (e prepara México, Japão, Coreia, Malásia e Dubai), posicionando a Alibaba Cloud como “full-stack AI provider”, indo desde a capacidade de processamento aos modelos de AI. O mercado se animou com as notícias, fazendo as ações subirem +5,6% durante a semana.
Já a Baidu (ticker: BIDU) brilhou através de outro vetor: execução em aplicações de “AI física”. A Apollo Go obteve a primeira permissão de testes de robotáxis em Dubai, com 50 licenças, e planeja escalar a frota para 1.000 veículos totalmente autônomos até 2028. O avanço soma-se ao otimismo de diversos bancos, ancorado em chips próprios (Kunlun) e parcerias que podem turbinar o segmento de computação na nuvem. O papel, apesar de ter passado por uma correção que gerou uma queda de -3,0% durante a semana, já acumula alta de mais de 55% no ano, sustentado pela percepção de que a companhia diversifica além de busca/anúncios e captura demanda chinesa em meio a restrições a GPUs estrangeiras.
As notícias da semana reforçam duas teses complementares, e contribuem para o rali de ações de tecnologia chinesa no mês em que se completa um ano desde o anúncio do pacote de estímulos governamentais que precedeu a virada de ciclo das bolsas chinesas e impulsionou a atual corrida local por inteligência artificial. Alibaba agora quer ser plataforma global de infraestrutura e modelos, com a ajuda de parceiros “campeões mundiais” em hardware. Baidu, por sua vez, acelera o go-to-market de casos de uso tangíveis (robotáxis) enquanto verticaliza componentes críticos. Para o investidor, a leitura é que o “AI trade” na China não se limita a ideias: temos capex, produtos e licenças saindo do papel.
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5. TikTok: Tic tac, tic tac, acordo é aprovado após 3º adiamento do prazo limite
Na semana passada, contamos como o destino do TikTok nos EUA parecia caminhar para um arranjo com investidores locais, com prazo de desinvestimento estendido até dezembro. Agora, um novo capítulo da saga se inicia: o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva aprovando o esboço do acordo. O plano prevê a criação de uma nova empresa para abrigar a operação americana, avaliada em cerca de US$ 14 bilhões, com a chinesa ByteDance limitada a uma fatia inferior a 20%. A decisão atende à lei de segurança nacional validada pela Suprema Corte, que exige a separação entre a rede social e sua controladora chinesa para seguir funcionando nos EUA.
O novo arranjo traz grandes nomes no consórcio de acionistas. Oracle, Silver Lake e o fundo MGX, do governo de Abu Dhabi, devem deter 45% da operação, enquanto outros investidores e antigos acionistas da ByteDance ficariam com 35%. Trump destacou que a operação será “100% americana” em governança, e que a Oracle terá papel central na segurança e no armazenamento de dados. Entre os nomes comentados para compor o grupo, aparecem ainda figuras como Rupert Murdoch, presidente emérito da Fox Corporation e News Corp, e Michael Dell, CEO da Dell Technologies, reforçando o caráter estratégico e político da transação.
Apesar do avanço, o valor atribuído ao TikTok U.S. surpreendeu negativamente investidores. A cifra de US$ 14 bilhões, mencionada pelo vice-presidente JD Vance, está bem abaixo das estimativas de mercado, que oscilavam entre US$ 30 e 40 bilhões. O preço foi classificado como “subvalorizado”, uma vez que o aplicativo gera mais de US$ 10 bilhões anuais em receita apenas nos EUA. Para muitos, a pressão regulatória criou um cenário de “venda forçada”, no qual a ByteDance tem pouco poder de barganha. Do outro lado, o governo chinês ainda não se pronunciou oficialmente sobre a concessão da licença de exportação do algoritmo, que é a peça central de toda a equação.
O resultado é um acordo que avança, mas ainda depende da aprovação chinesa e de ajustes práticos para separar a experiência americana da rede global. A dúvida que resta é se um “TikTok US” conseguirá replicar o mesmo apelo sem acesso irrestrito ao algoritmo original, e como o público reagirá a eventuais mudanças na experiência. Até lá, continuamos indo em direção ao prazo de 16 de dezembro, data marcada para que a história tenha, ou não, um desfecho.

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