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Pandemia pode revolucionar o investimento privado na ciência brasileira, acredita imunologista da Fiocruz

Mudança de cultura no pós-pandemia do investimento do setor privado na Ciência brasileira deve ser um dos legados da crise, segundo o Dr. Wilson Savino

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“Políticas e investimentos ditam o avanço das pesquisas?”: esse foi o tema de extrema relevância de um painel desta manhã, na Expert, num contexto de pandemia em que a área da Ciência é a protagonista para atingir boas resoluções e saídas para espantar a crise sanitária e socioeconômica causada pelo coronavírus.

O imunologista Wilson Savino, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi o convidado especial da Live para apresentar as medida da instituição que mais tem se esforçado para estancar a disseminação do vírus, ajudar no tratamento da população e, também, desenvolver uma vacina contra a covid-19.

A importância do investimento na Ciência

Savino começou seu discurso fazendo um paralelo com o mundo dos investimentos ao dizer que “priorizar a Ciência não é um gasto e, sim, um investimento”. Mas que essa máxima usada pelos pesquisadores não tem se mostrado uma realidade no Brasil.

“Nós temos notado um desinvestimento público em Ciência no Brasil. Há escassez de pesquisadores e de laboratórios”, afirma o renomado imunologista da Fiocruz. Para ele, a ampliação dos recursos é mais do que necessária para continuarmos desenvolvendo centros de pesquisas sólidos em Ciência e Tecnologia, mas Savino foi além em seu discurso. O especialista acredita que se houvesse um investimento massivo nessas áreas, a soberania nacional seria, talvez, o maior ganho para o Brasil.

“Ao produzir conhecimento próprio com a Ciência no Brasil iríamos adquirir a soberania nacional, que garante autonomia do funcionamento das instituições de pesquisa e até da economia nacional. Mas não temos isso e dependemos de insumos importados, sobretudo nesta pandemia. Eu não tem sombra de dúvida que o Brasil precisa investir mais. O Brasil não investe nem 1% do PIB, precisaria investir 3 ou 4%. São necessários políticas de Estado que deixe bem claro que investir em ciência não é um gasto”, diz o cientista.

Savino diz que na epidemia de Zika, de 2015 para 2016, havia no Brasil maior infraestrutura. “Nós tínhamos ainda um parque de produção cientifica, infraestrutura e pessoal maior do que hoje e, naquela época, a comunidade cientifica brasileira foi capaz de gerar o conhecimento essencial para o entendimento e enfrentamento de Zika. Nesse momento nós já temos uma dificuldade maior. Temos uma comunidade sólida, mas definitivamente precisamos de mais investimento público”.

A revolução na iniciativa privada

A pandemia do coronavírus despertou nas empresas um sentimento de solidariedade e financiamento de projetos nunca antes visto. E Wilson Savino, imunologista da Fiocruz, reconhece isso como o que pode ser o início de uma revolução nas parcerias público-privadas em torno do desenvolvimento da ciência e da produção de tecnologia no Brasil.

“O exemplo dessa pandemia pode gerar uma mudança cultural. Setores da iniciativa privada estão tomando uma decisão estratégica interna de promover doações. E a Fiocruz foi um dos órgãos que mais recebeu esses recursos e isso acelerou nossa produção científica especificamente para a pandemia. Mas isso pode deixar de ser apenas um movimento pontual para ser um verdadeiro turning point em que as políticas empresariais passarão a ter um planejamento estratégico para incentivar o setor público a produzir ciência”, acredita o especialista.

E a vacina para o coronavírus?

Outro ponto de destaque tocado durante o painel foi o desenvolvido de vacinas para o combate ao coronavírus. Isso mesmo, no plural.

“Existem hoje cerca de 200 programas de desenvolvimento de vacinas no mundo. Só a Fiocruz tem dois. No âmbito nacional, a Fiocruz deverá ser a instituição a produzir uma vacina, própria ou vinda de fora, uma vez que ela tenha provado a sua eficácia. Nesse momento, ainda não estamos nesse patamar”.

Um dos protótipos vacinais que está em fase 3, ou seja, de ensaios clínicios e humanos, foi desenvolvido pela Oxford e a Fiocruz já assinou um protocolo em, que se mostrar eficácia da vacina, a instituição brasileira produzirá cerca de 30 milhões de doses em um primeiro momento para controlar a pandemia no Brasil. “Nós precisamos dessa comprovação antes de distribuirmos por conta da segurança da população. E a vacina de Oxford está numa fase adiantada, mas nós não temos a certeza no que vai dar”, revela Savino.

Vários países se comprometeram a investir nessas vacinas. É um investimento de larga escala e de bastante risco em que não se sabe o que vai acontecer. “Mas é um investimento que pode salvar vidas”, afirma o imunologista.

O pesquisador da Fiocruz diz que não necessariamente haverá apenas uma única vacina a ser aplicada no Brasil. O instituto Butantã também já assinou um protocolo para produzir uma grande quantidade de uma vacina chinesa, que também está em estágio mais avançado.

Para Wilson Savino, só o respaldo científico que é capaz de definir o destino da população mundial e, para isso, quanto mais investimento melhor.

Wilson Savino, imunologista da Fiocruz

O imunologista brasileiro Wilson Savino, ex-presidente da SBI (1993-1995), recebeu, na noite de ontem (11), o título de doutor honoris causa pela Universidade de Sorbonne. A cerimonia de titulação ocorreu na instituição, em Paris, na França.

Foi na capital francesa que Wilson Savino realizou seu pós-doutorado em Imunologia Celular, no Hospital Necker, entre 1983 e 1985. Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em 1974, a decisão por se tornar cientista veio um ano antes, quando cursava Medicina na mesma instituição e optou pela transferência do curso.

Ainda na década de 1970, deu início à carreira na docência como professor assistente da graduação; e à de pesquisador, apresentando sua dissertação de mestrado sobre a histofisiologia do timo do gambá. O interesse pelo pequeno notável do sistema imunológico, o timo, seguiu no doutorado, na Universidade de São Paulo (USP), que o levou à primeira vivência científica em Paris, por meio de uma bolsa-sanduíche que permitiu conduzir a parte experimental da tese no Instituto Francês de Pesquisas Médica e da Saúde.

De volta ao Brasil após o pós-doc, em 1985, ingressou no Departamento de Imunologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), onde permanece até os dias de hoje, como pesquisador titular, coordenador de Estratégias de Integração Nacional e de disciplinas de pós-graduação. Participou da criação do Programa de Pós-graduação (mestrado e doutorado) em Biologia Celular e Molecular da Fiocruz, e da organização de diversas reuniões científicas. É pesquisador 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Como presidente da SBI, criou o primeiro diretório de laboratórios de imunologia, entre outras realizações. Também presidiu a Sociedade Brasileira de Biologia Celular (2010-2014) e a Sociedade Internacional de Neuroimunomodulação (2011-2014). Atualmente, é vice-presidente da Sociedade Internacional de Imunonutrição.

Além da titulação como doutor honoris causa da Sorbonne, Wilson Savino recebeu vários prêmios e honrarias – entre eles, o título de Chevalier dans l’Ordre de Palmes Académiques, do governo francês, e a medalha Luis Federico Leloir, do governo argentino.

Currículo tirado do site oficial da Sociedade Brasileira de Imunologia

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