O futuro do mercado de Crédito Privado no Brasil

Cenário atual é o mesmo da pandemia?

Na sessão ocorrida nesta sexta-feira, na Expert XP 2023, os especialistas Vivian Murakoshi Lee, sócia, CIO e gestora dos fundos de crédito da Ibiúna, e Leonardo Ono, sócio e gestor dos fundos de crédito da Legacy Capital, relembraram o evento Americanas, ocorrido no início do ano, e as consequências para o mercado de crédito no Brasil.

Leonardo Ono pontuou as diferenças entre o atual momento e ocorrido durante a pandemia de Covid-19, quando houve o fechamento de todos os mercados ao mesmo tempo. À época, o índice da Anbima de debêntures (IDA) subiu 400 pontos-base e foram observados movimentos abruptos nas bolsas e no mercado internacional. Já atualmente, o mesmo índice reprecificou cerca de 200 pontos-base, em um momento em que demais mercados não estavam com correção relevante.

Crédito e o cenário macroeconômico

Ono citou que o fator macroeconômico, com revisão do PIB para cima, aliado à revisão dos juros esperados em menor patamar e a busca das empresas por capital, foram fatores que colaboraram para a retomada do mercado de crédito a partir de maio deste ano.

Fazendo um paralelo com o cenário macroeconômico, Ono informou que a maioria das dívidas das empresas é indexada ao CDI, o que deve ajudar as empresas a reduzir a despesa financeira. Do ponto de vista dos investimentos, destacou que “é a hora dos investidores começarem a pensar a como se posicionar nesse ciclo [de corte de juros]. Ter ativos de mais duration [prazo médio] faz sentido agora”.

Dando um passo atrás, Vivian Lee destacou o ciclo de alta da taxa de juros vivenciado pelas empresas, que foi de 2% para 13,75%, o que ocasionou uma despesa financeira mais pesada para todas as empresas. Na visão da gestora, as empresas com necessidade de refinanciamento e mais alavancadas foram as que mais sofreram com o evento Americanas, independentemente do setor.

Do ponto de vista de prêmios de risco, já houve melhora, mas ainda não chegamos no cenário pré-Americanas. Vivian ressaltou que “na nossa indústria [de crédito], o fluxo influencia bastante o preço”, justificando que o menor volume de crédito no primeiro semestre impactou os preços dos ativos. Já o mês de agosto mostrou recuperação, e que com a captação voltando o cenário se torna mais benigno para os refinanciamentos das empresas.

Avanço do Crédito Privado e Oportunidades

Vivian Lee destacou também o avanço do Crédito Privado no Brasil de maneira geral, com o surgimento de gestoras com foco em crédito privado. A transparência de preços e a liquidez são fatores que corroboram para o desenvolvimento do segmento, e “novos emissores estão passando a compor a liquidez do mercado”, o que é positivo para o mercado de crédito privado em geral.

Foi destacada também a maior diversificação dos títulos que estão sendo emitidos pelas empresas no mercado, com novos setores participantes e alternativas de características de cada papel.

Para finalizar, os panelistas discorreram sobre o cenário offshore (internacional). A depender do Bond, a liquidez não é tão ampla, e há uma maior concentração de emissores. A busca por esse tipo de papel segue mais seleta, e o fluxo para mercados emergentes ainda segue negativo para o segmento.