COP30 começa: Nossa visão sobre os primeiros dias da conferência

Tom coordenado prepara o terreno para negociações, apesar dos desafios

A cúpula climática COP30 da ONU começou em Belém nesta segunda-feira, com otimismo cauteloso – a presença na conferência é limitada, mas o progresso diplomático inicial estabeleceu um tom mais coordenado do que em edições anteriores. Apesar dos desafios geopolíticos e logísticos, temos visto um progresso. De forma geral, os resultados iniciais apontam para avanços constantes e mais pragmáticos, em vez de grandes transformações. Veja abaixo os principais destaques e nossa visão.

COP30 começa com participação limitada, mas progresso diplomático inicial. Antes do evento, identificamos três fatores-chave com potencial para influenciar os resultados da conferência. Com os primeiros dias já concluídos, veja como cada fator está se desenvolvendo. A cúpula começou em meio a desafios logísticos em Belém, com apenas 28 chefes de Estado presentes – bem abaixo dos 59 da COP29 – mas a participação geral continua forte, com cerca de 47 mil pessoas, embora ainda abaixo do recorde de público da conferência de 2023 (100 mil). Apesar da ausência do presidente Trump, a presença dos EUA é significativa, com mais de 100 representantes estaduais e locais destacando o compromisso doméstico contínuo com a ação climática. Em um sinal diplomático positivo, os países chegaram a um consenso preliminar sobre a agenda de discussões antes do início oficial da cúpula (pela primeira vez nos últimos anos) – um passo promissor rumo a uma maior coordenação em um contexto global fragmentado.

NDCs: Início lento, mas participação mais ampla em maio à COP30. Com o Acordo de Paris completando 10 anos, espera-se que os países apresentem suas terceiras Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, sigla em inglês). O prazo original de fevereiro de 2025 foi estendido para setembro devido à baixa participação. Mesmo após a extensão, apenas 64 partes haviam submetido suas NDCs, limitando o escopo da análise inicial. No entanto, à medida que a COP30 se aproximava, o ritmo de submissões acelerou, com cerca de 110 países atualizando suas metas – cobrindo 69% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE)¹. Sob tal contexto, a projeção atualizada indica uma redução de 12% nas emissões globais até 2035 em comparação com os níveis de 2019. Dentre as metas que vale destaque, mencionamos: (i) Brasil: meta de redução de 59%-67% nas emissões até 2035 em relação aos níveis de 2005 (acima dos 48% e 53% para 2025 e 2030, respectivamente); (ii) China: anunciou uma redução de 7%-10% em relação ao pico até 2035, uma meta menos ambiciosa do que o esperado para o maior emissor mundial; (iii) União Europeia: submeteu sua NDC pouco antes da cúpula, propondo uma redução indicativa de 66,25%-72,5% até 2035, reafirmando a meta de 55% até 2030 e o compromisso com a neutralidade de carbono até 2050.

Fortalecendo o financiamento climático com novos compromissos. Considerando que o financiamento da transição energética para enfrentar as mudanças climáticas é uma das prioridades da conferência deste ano, o financiamento climático continua sendo um tema recorrente na agenda da COP, especialmente no que se refere ao apoio oferecido a países em desenvolvimento. No primeiro dia da cúpula, dez bancos multilaterais de desenvolvimento anunciaram um compromisso conjunto para ajudar países de baixa e média renda a se adaptarem às mudanças climáticas, com alocação de US$185 bilhões para projetos de adaptação e mitigação até 2030. Além disso, vários outros fundos climáticos receberam contribuições significativas: (i) o Fundo Climático, que arrecadou R$10,6 bilhões; (ii) o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, sigla em inglês), que garantiu aportes totalizando mais de US$5,5 bilhões; (iii) o Fundo de Perdas e Danos, para o qual Ana Toni anunciou a primeira rodada de financiamento, abrindo US$250 milhões em solicitações de propostas de projetos.

Nossa visão até agora (…) A COP30 começou com um otimismo cauteloso – participação limitada, mas um avanço diplomático inicial que estabeleceu um tom mais coordenado do que em edições anteriores. Apesar dos desafios geopolíticos e logísticos em andamento, há progresso em diferentes frentes: as submissões de NDCs se expandiram para cobrir quase 70% das emissões globais, e novas promessas de financiamento climático que ultrapassam US$190 bilhões sinalizam um compromisso renovado – embora ainda insuficiente – com o apoio à transição energética global. De modo geral, os resultados iniciais sugerem avanços constantes e pragmáticos, em vez de grandes transformações.

(…) e o que vem pela frente? À medida que a cúpula avança, espera-se progresso principalmente em duas áreas-chave: (i) aceleração da agenda global de descarbonização, com discussões centradas na expansão das energias renováveis e no avanço da integração dos mercados globais de carbono; (ii) aproveitamento do uso da terra e da biodiversidade, com o Brasil, como país anfitrião, destacando prioridades domésticas como gestão sustentável da terra, prevenção do desmatamento e promoção da bioeconomia.

¹ em comparação com os níveis de 2019