Pano de fundo Macroeconômico
O aperto de condições monetárias globais aumenta a probabilidade de recessão e diminuem a liquidez para ativos de risco, pesando sobre os mercados de commodities.
A crise energética na Europa pode atrasar a desinflação global, exigindo dos Bancos Centrais uma postura ainda mais dura. A região vive um quadro de estagflação, com custos de produção em alta em meio à sinais claros de desaceleração.
Em contrapartida, as cadeias de produção dão sinais de que caminham em direção à normalização após os desarranjos provocados pelas restrições relacionadas à Covid-19 e à guerra na Ucrânia.
Em suma, o quadro macroeconômico global sugere descompressão nos preços de commodities, embora riscos geopolíticos tendam a evitar quedas significativas frente aos patamares atuais.
Commodities Agrícolas
Uma recessão global parece já apreçada nas principais commodities agrícolas. Neste sentido, o risco parece ser para cima, por conta de condições climáticas piores, incluindo a perspectiva de um terceiro ano de la niña. Os fretes e custos de produção ainda elevados e a menor disponibilidade de mão de obra nas cadeias produtivas também são grandes fatores de risco altista.
Cereais
Milho
Acreditamos que o milho deva ser a ‘commodity da vez’ do próximo ano, considerando o agravamento das perspectivas climáticas que antecipou o plantio no sul do Brasil. Na Argentina, a seca provocou redução da área plantada e nos Estados Unidos, com o início da colheita, a qualidade da lavoura tem piorado. Do lado da demanda, uma aceleração da importação da parte da China tem levado o preço para cima. O Brasil ainda não exporta a commodity para o país, mas uma liberação, que deve acontecer em algum momento de 2023 ou até mesmo antes, tende a beneficiar os exportadores brasileiros, impulsionando o preço do milho no Brasil e trazendo mais pressão para o preço do milho em Chicago.
Soja
No Brasil, a redução da área de milho-verão deve ser destinada à soja, cujo plantio ainda está no início. No resto das Américas, a perspectiva não é boa: a seca na Argentina e a colheita mais lenta e de qualidade mais baixa nos EUA pressionam preços no curto prazo. O Brasil deve ser o único país a entregar a safra cheia da soja.
Após dois anos de queda de produtividade devido ao la niña e com a perspectiva de um terceiro ano da anomalia climática, várias regiões sofrem com falta de reservas hídricas suficientes e demandam investimentos para compensar.
Trigo
Na Argentina, a safra foi bastante impactada pelo la niña, mas o efeito da depreciação do câmbio local aliviou pressões no curto prazo. Nos Estados Unidos, a safra também sofre devido às condições climáticas ruins: a seca afeta a qualidade; a colheita está atrasada e o plantio do trigo de inverno está começando.
Açúcar e etanol
A dinâmica favorável do açúcar nos últimos dois anos, a queda recente do petróleo e as medidas do governo brasileiro para reduzir o preço da gasolina fizeram com que o etanol perdesse atratividade para o produtor brasileiro. Daqui para frente, com preços relativos mais ajustados, a produção de etanol tende a retomar.
Com a queda da atratividade do etanol, os produtores brasileiros alteraram a produção para maior produção de açúcar (“max sugar”), o que juntamente com uma perspectiva de retomada da produtividade, ajudou a pressionar os preços. Na Europa, a produção de açúcar envolve custo energético maior que no Brasil, onde a produção é autossuficiente, e o aumento dos preços de energia na região devem pressionar preços na região.
Óleos Vegetais
Os óleos vegetais foram bastante afetados por restrições a exportações no sudeste asiático, mas logo que o comércio internacional foi retomado, a oferta aumentou drasticamente e os preços agora rodam perto da mínima desde junho do ano passado. Entretanto, o excedente dos óleos não está sendo aproveitado para geração de energia, ainda que os preços de petróleo estejam em um patamar elevado.
Proteínas
Carne bovina
O excedente provocado pelo aumento do abate de bovinos (cerca de 5% em termos interanuais) tem pressionado os preços do gado, os quais já apresentam queda em termos reais. Esse volume tem sido distribuído entre o mercado interno e externo, especialmente para a China, onde os preços continuam altos.
Carne suína
As margens ruins no mercado interno devido à dificuldade de repassar os custos mais elevados para o consumidor brasileiro e o aumento nos preços na China fazem com que a maior parte do excedente esteja sendo direcionada para o mercado externo. Os preços de suínos na China, embora maiores, ainda não retomaram os patamares pré-ASF (febre suína africana). Dessa forma, as exportações de suína ainda não retomaram seu volume e as margens dos produtores continuam negativas.
Carne de frango
As margens melhoraram para os produtores de aves com a queda recente nos preços das commodities. Na ponta de preços, uma tempestade perfeita parece ter tomada forma, sendo que os preços foram impulsionados (i) pela crise entre Rússia e Ucrânia afetando a oferta na Europa; (ii) com forte impacto da gripe aviária no hemisfério norte; (iii) com o movimento de trade-down global dado os custos mais altos da carne bovina. Adicionalmente, o recente da produção de aves não parece sustentável. O movimento foi impulsionado pelo aumento nos dias de engorda, que acabou elevando o peso médio. O alojamento e o abate está cerca de 2% abaixo do nível do mesmo período do ano passado, e o excesso de produção foi escoado para o mercado internacional que sofreu com queda na oferta pelos fatores acima mencionados. Com forte demanda e uma capacidade limitada de incremento da oferta, temos uma perspectiva de preços sustentados para a carne de aves.
Lácteos
O forte aumento na captação de leite reduziu os preços do leite ao produtor e, somada à resistência do consumidor em absorver novas altas, ajudou a pressionar os derivados (queda forte no leite UHT e na muçarela), com perspectiva de novas baixas nos derivados para o próximo mês.
Óleo, gás e materiais básicos
O risco de recessão e o fortalecimento do dólar tem pesado sobre preços de energia e metais. A queda de preços, contudo, tem sido limitada pelos riscos geopolíticos, em especial a guerra na Ucrânia e seus impactos sobre a Europa.
Petróleo
Apesar do desajuste de oferta, durante o último mês, o discurso sobre recessão econômica tem predominado no mercado, impactando o preço do Brent nas últimas semanas. Entretanto, ressaltamos que, fundamentalmente, o petróleo deveria seguir em níveis altos dado o problema estrutural na oferta da commodity: considerando a recomposição de estoques, que está em níveis baixos, a queda de demanda precisa ser muito agressiva para reduzir preços. A OPEP não tem atingido suas metas de produção (Irã e Venezuela não conseguem aumentar produção), e o aumento da produção é limitado já que não há capacidade ociosa.
Além disso, outros fatores como de um lado a sinalização de que a OPEP irá reduzir oferta com petróleo abaixo de 90 dólares por barril e, de outro, o anúncio do presidente Biden, que deve recomprar estoques se o preço vier abaixo de 80 dólares também exercem pressão sobre o setor.
Gás Natural
O preço do gás natural caiu consideravelmente no último mês, depois de controlado o risco de desabastecimento total no inverno europeu via formação de estoques. Apesar disso, a Europa não deve ganhar do benefício da queda recente devido à forte depreciação da libra e do euro. O gasoduto Nord Stream I não voltou a operar desde a pausa para manutenção no final de agosto.
Alumínio
A inflação de custos deve manter o alumínio em um nível de preços alto, especialmente por conta de preços de energia.
Minério de Ferro e aço
Estruturalmente, o minério e o aço devem continuar em queda devido à desaceleração da atividade, em particular na China. Enxergamos, no entanto, o suporte em níveis mais altos, por conta de curva de custos mais alta (cerca de 80 dólares).
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!