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IPCA-15: prévia da inflação confirma que preços seguem perdendo fôlego 

O IPCA-15, prévia para do IPCA, registrou alta de 0,21% em outubro, levando o acumulado em doze meses a acelerar para 5,05%. Isso não significa que o processo de enfraquecimento da inflação foi revertido, mas tampouco que a alta de preços sai do radar dos riscos. Investimentos que protegem contra a inflação seguem excelentes oportunidades.

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A inflação medida pelo IPCA-15, uma espécie de “prévia mensal” do nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou alta de 0,21% em outubro de 2023. O resultado mensal levou o índice para 5,05% no acumulado em doze meses, acelerando levemente em relação a setembro – quando o IPCA-15 acumulava 5,00%.   

Alimentos seguem em queda, e serviços sinalizam “segunda fase” da desinflação em curso 

O resultado de outubro veio em linha com o esperado pela maior parte dos analistas de mercado. De maneira geral, o número pode ser lido como benigno, consolidando mais um passo no caminho da desinflação observado nos últimos meses. Em bom português: boas notícias no campo da inflação. 

Vale destacar que um processo de desinflação é diferente de um período deflacionário – em que os preços efetivamente caem. Dito isso, os resultados recentes foram marcados pela queda de preços em alguns itens, em especial alimentos. Para se ter uma ideia, no acumulado dos últimos doze meses, a batata inglesa e o filé-mignon acumulam queda de mais 17% e 16%, respectivamente, enquanto a farinha de trigo caiu próximo de 7% no período.  

Por trás da queda do preço de muitos alimentos estão fatores climáticos e a forte produção agrícola, além de questões específicas de algumas produções – como de bovinos. Estima-se que a safra de grãos no país cresça mais de 20% nesse ano (comparado a 2022), atingindo outro recorde histórico – com destaque para milho e soja, que servem de insumo para criação de proteína animal, reduzindo também o custo de produção desses alimentos.    

Assim, embora o IPCA-15 de outubro indique uma leve aceleração na métrica acumulada em doze meses, a tendência enfraquecimento da inflação segue em curso.  

Nesse sentido, além dos alimentos, o resultado mensal também trouxe notícias boas sobre os preços no setor de serviços – apesar de acelerações mais pontuais em serviços mais voláteis, como passagens aéreas. Para ilustrar, a medida chamada de “serviços subjacentes” – que exclui preços mais voláteis como hotéis, passagens aéreas e tarifas de internet – caiu de 4,5% para 4,2% na variação anual (considerando a média móvel de três meses), se aproximando da meta do Banco Central.    

A inflação de serviços é um dos fatores mais observados pelo Banco Central. Isso, porque os preços no setor tendem a ser mais difíceis de controlar uma vez disseminados pela economia, por não serem impactados por movimentos como o clima e a redução ou aumento de oferta de uma commodity.   

Finalmente, preços de bens industriais também vem surpreendendo de maneira positiva, ou seja, mostrando inflação menos pressionada nos últimos meses. Eu outubro, essa categoria registrou leve queda de 0,01%. O alto endividamento das famílias, o crédito ainda apertado (lembrando que o efeito da queda da Selic demora a ser sentido na economia), além do elevado nível de estoques em alguns setores explicam os preços mais comportados no setor industrial.  

Inflação comportada no curto prazo, embora riscos sigam no radar 

Para o dia a dia dos brasileiros, o processo moderação da inflação observado nesse ano ajudou a reduzir a sensação de perda do poder de compra. Os resultados vistos nos últimos meses reforçam esse cenário, em que o “primeiro estágio” da desinflação no Brasil, puxado por alimentos e bens industriais, como roupas e eletrodomésticos, foi bem-sucedido.  

Para ilustrar essa dinâmica positiva, podemos observar a queda no índice de difusão – que indica a disseminação da inflação entre bens e serviços na economia -, que foi de 53% em agosto para 43% em setembro, após ter atingido níveis acima de 80% no ano passado.  

Porém, preços subindo acima da meta do Banco Central, especialmente no setor de serviços, ainda remetem certa cautela. Isso significa que o “segundo estágio” de desinflação está em andamento, mas ainda não foi concluído.  

Esse estágio que tem maior relação com as expectativas sobre os preços no futuro – que, por sua vez, são fortemente impactados por decisões no âmbito político fiscal. Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante – influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro.   

Nesse cenário, a piora recente da percepção de risco fiscal no Brasil mantém a luz amarela.   

A desvalorização da nossa moeda nos últimos meses também contribui para a cautela, influenciada principalmente por movimentos no cenário global. Um real mais desvalorizado adiciona pressão sobre a inflação, uma vez que boa parte do que consumimos e produzimos inclui insumos negociados em dólares ou mesmo produtos importados.  

Por fim, riscos de um repique no preço de commodities energéticas no cenário global também suscitam cautela. Impulsionado por cortes de produção por parte de países produtores e a recente eclosão do conflito militar entre Israel e Hamas, o preço do barril de petróleo no mercado futuro (tipo Brent) subiu de próximo de US$ 70 em junho para US$ 91 em setembro, antes de ceder para próximo de US$ 88 em meados de outubro.  

Caso um cenário de petróleo mais caro se concretize nos próximos meses, a inflação global pode voltar a subir. 

Vale destacar, entretanto, que a recente revisão dos preços de gasolina por parte da Petrobras deve amenizar essas pressões – a menos no curto prazo. O reajuste anunciado no dia 19 de outubro é explicado principalmente pelo aumento da oferta de combustível refinado vindo da China – o que ajudou a retomar os estoques por aqui e deu um fôlego aos preços, a despeito da alta do petróleo no mercado global.  

Em resumo, vemos um cenário em que a inflação perdeu força, mas ainda não saiu do radar – nem dos gringos, nem dos brasileiros e nem do Banco Central. Esse último optou por continuar o ritmo de reduções da taxa Selic em setembro, mas sinalizou que os juros devem seguir em patamares contracionistas ainda por um período considerável – justamente diante do cenário ainda incerto adiante.  

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