Resumo
No cenário internacional, o Banco Central dos EUA (Fed) e o Banco Central Europeu (BCE) voltaram a subir juros, mas mercados anteveem proximidade do fim de ciclo de aperto monetário para ambos. No entanto, vale destacar que o crescimento global mais forte, revisado para cima pelo FMI, e a alta no preço das commodities (notadamente o petróleo) impõem riscos à desinflação global.
No Brasil, a agência Fitch elevou a classificação de crédito do Brasil de BB- para BB. Nos indicadores, o IPCA-15 e a taxa de desemprego trouxeram sinais positivos, enquanto as estatísticas fiscais mostram um cenário desafiador para o segundo semestre.
Cenário internacional
BC dos EUA volta a subir juros; acreditamos ter sido a última alta do ciclo
O Fed (banco central dos EUA) aumentou as taxas básicas de juros em 0,25pp em sua reunião de julho, elevando o limite superior dos Fed Funds para 5,5%. No comunicado que acompanhou a decisão, o Fed manteve as portas abertas para as próximas reuniões, dizendo que “continuará avaliando informações adicionais e suas implicações para a política monetária”.
Acreditamos, contudo, que a última reunião marcou o fim do ciclo de alta de juros. Apesar de o Fed ter deixado as portas abertas, avaliamos que os dados não justificarão aumentos adicionais à frente. Houve melhora considerável na dinâmica da inflação. Em nossa visão, a política monetária parece já suficientemente restritiva.
Efetivamente, o deflator dos gastos do consumo (PCE Deflator, em inglês), indicador favorito de inflação do Fed, desacelerou de 4,6% em maio para 4,1% em junho, ainda acima da meta de inflação de 2,0%, mas em tendência clara de acomodação.
Na mesma linha, BCE sinaliza estar perto do fim do ciclo
O Banco Central Europeu (BCE) voltou a elevar suas taxas de juro em 0,25pp. A principal taxa de refinanciamento atingiu 4,25% a.a., em seu nível mais alto desde que o euro foi introduzido. Para frente, apesar de a inflação ainda estar pressionada, a presidente do BCE Christine Lagarde sinalizou que a decisão está aberta, e não necessariamente haverá novas altas de juros. O BCE acredita que a deflação global de custos, aliada às taxas de juros já elevadas, podem ser suficientes para trazer a inflação para a meta de 2,0% mais adiante.
FMI eleva projeção de crescimento mundial, mas aponta riscos
O Fundo Monetário Internacional elevou ligeiramente suas estimativas de crescimento global para 2023 devido à resiliência da atividade econômica no primeiro trimestre, mas alertou que os desafios persistentes estão prejudicando as perspectivas de médio prazo. O FMI agora projeta um crescimento real do PIB global de 3,0% em 2023, 0,2 ponto percentual acima da previsão de abril, mas deixou sua perspectiva para 2024 inalterada, também em 3,0%.
Petróleo em alta é risco para a deflação global de custos
Os preços do petróleo subiram na semana, refletindo riscos de fornecimento. A Arábia Saudita e a Rússia anunciaram recentemente planos de reduzir ainda mais a produção em agosto, em uma tentativa de restringir a oferta global e sustentar o preço do barril em patamares mais altos. Se a tendência de alta continuar, o petróleo pode representar um freio à deflação global de custos.
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Enquanto isso, no Brasil…
Agência Fitch eleva a classificação de crédito brasileira
A agência de classificação Fitch elevou a classificação de crédito do Brasil para BB de BB-, citando desempenho macroeconômico e fiscal melhor do que o esperado. A Fitch atribuiu uma perspectiva “estável” para a nota brasileira.
De acordo com o comunicado da agência, a atualização da classificação de risco do Brasil reflete um desempenho macroeconômico e fiscal melhor do que o esperado “em meio a sucessivos choques nos últimos anos, políticas proativas e reformas que apoiaram isso e a expectativa da Fitch de que o novo governo trabalhará para melhorias adicionais”.
A agência destacou ainda que “parece improvável que (o governo) procure reverter as reformas liberais dos últimos anos”.
Inflação ao consumidor desacelera
O índice de inflação ao consumidor IPCA-15 caiu -0,07% no mês, ligeiramente abaixo da nossa expectativa (-0,05%) e do consenso de mercado (-0,03%). Em 12 meses, o índice de inflação recuou para 3,19% em julho, ante 3,40% em junho. No geral, a composição do IPCA-15 de julho veio em linha com nossas expectativas, trazendo alívio para serviços e núcleos. O resultado reforça a tendência de gradual queda da inflação.
Mantemos nossas estimativas de IPCA em 4,7% para 2023 e 4,1% para 2024.
Mercado de trabalho segue aquecido
A taxa de desemprego brasileira caiu para 8,0% no segundo trimestre, ante 8,3% no trimestre móvel encerrado em maio. De particular importância, estimamos que a taxa de desemprego mensal dessazonalizada caiu para 7,8% em junho, de 8,1% em maio. O indicador está nos menores níveis desde 2015.
Acreditamos que o mercado de trabalho brasileiro mostrará alguma desaceleração no segundo semestre de 2023, em linha com o arrefecimento da atividade doméstica, mas a taxa de desemprego deve seguir em nível relativamente baixo quando comparada aos patamares dos últimos anos.
Arrecadação de impostos perde fôlego
A arrecadação total de tributos federais registrou R$ 180,5 bilhões em junho, em linha com nossa projeção (R$ 180,3 bilhões). O resultado representa uma queda de 3,4% em termos reais em relação a junho de 2022. Os impostos sobre o lucro das pessoas jurídicas (IRPJ/CSLL) caíram refletindo principalmente a queda nos preços das commodities. Para os próximos meses, a reversão das isenções do PIS/Cofins sobre combustíveis deve ter um impacto positivo, mas não o suficiente para reverter a tendência do segundo semestre.
…e o déficit público acelera
O resultado primário do governo central foi deficitário em R$ 45,2 bilhões em junho, ante déficit de R$ 44,7 bilhões em maio e superávit de R$ 14,6 bilhões em junho de 2022. O déficit veio acima do consenso (R$ -44,7 bilhões), mas em linha com nossa projeção (R$ -45,3 bi). A preços constantes, foi o pior resultado desde 2021. Já o setor público consolidado, que considera estados, municípios e autarquias, registrou déficit de R$ 48,9 bilhões em junho, pior do que o consenso de mercado (R$ -45,0 bi) e nossa projeção (R$ -44,4 bi). A abertura mostra que o governo central, os governos subnacionais e as empresas estatais tiveram déficit de 46,5 bilhões, 0,9 bilhão e 1,5 bilhão, respectivamente. Esperamos que o resultado primário do governo continue caindo nos próximos meses devido ao desempenho econômico mais fraco.
O que esperar da semana que vem
Na economia global, a agenda da próxima semana traz vários indicadores importantes de atividade econômica. A primeira estimativa do PIB do segundo semestre da Zona do Euro será publicada na segunda feira. O Indice PMI, uma sondagem com empresários sobre o ambiente de negócios, será divulgado em vários países ao longo da semana, incluindo China, Estados Unidos, Europa, e países da América Latina. O indicador referente a julho trará os primeiros sinais de como a atividade econômica global começou o segundo semestre do ano. Na quinta, o banco central do Reino Unido (Bank of England) terá sua reunião de política monetária, e a expectativa é de mais um alta nas taxas de juros em meio a inflação persistentemente alta. Também relevante será a publicação da inflação na Zona do Euro na terça-feira. Por último, o destaque da semana será o aguardado Relatório de Emprego dos Estados Unidos (Nonfarm Payroll, em inglês), e os agentes de mercado também irão acompanhar estatísticas sobre oferta de mão de obra (JOLTS) e geração de vagas no setor privado (ADP). Todas essas publicações são referentes a julho.
No Brasil, o destaque da próxima semana será a decisão do Copom na quarta-feira. Embora a leitura do IPCA-15 tenha mostrado sinais positivos, principalmente em núcleos e serviços, esperamos que o BCB inicie o ciclo de cortes com redução de 0,25pp na taxa Selic para 13,50%. O comitê deverá mostrar cautela diante de uma inflação de serviços desafiadora e expectativas ainda desancoradas, ganhando tempo para avaliar aceleração no ritmo de cortes nas reuniões futuras – nosso cenário base prevê cortes sequenciais de 0,5pp a partir de setembro até a taxa Selic se estabilizar em 10,50% no primeiro semestre de 2024. Na terça-feira, teremos a divulgação da produção industrial de junho pelo IBGE, para a qual esperamos queda mensal de -0,4%, condizente com desaceleração para -0,6% a/a.
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