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Varejo: Reunião com Grupo Martins; 4 principais destaques

Na manhã deste domingo (22 de Março) realizamos uma videoconferência com Flávio Borges Martins, CEO do Grupo Martins - um dos maiores grupos de distribuição e atacado do Brasil, com aproximadamente R$ 4,8 bilhões em faturamento. Veja abaixo os nossos quatro principais destaques da reunião.

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Na manhã deste domingo (22 de Março) realizamos uma videoconferência com Flávio Borges Martins, CEO do Grupo Martins – um dos maiores grupos de distribuição e atacado do Brasil. A companhia, fundada em 1953, apresenta atualmente um faturamento anual de aproximadamente R$ 4,8 bilhões e uma estrutura operacional robusta, composta por cerca de quatro mil colaboradores diretos, cinco centros de distribuição, além de mais de mil veículos próprios.

Por meio de sua operação de atacado, o grupo atende hoje cerca de 115 mil clientes do pequeno e médio varejo ao mês, distribuídos ao redor de todo o território nacional. Dentre eles, estão principalmente redes regionais de supermercado, além de farmácias independentes. Por fim, a companhia também possui uma operação financeira própria (Tribanco) e uma operação de comércio eletrônico.

Por que ler esse relatório? A escala do Grupo Martins, bem como sua capilaridade e proximidade com o pequeno e médio varejista, permitem que a companhia esteja com o dedo no pulso do pequeno empreendedor brasileiro, que enfrenta um momento delicado em meio à crise desencadeada pelo coronavírus. Além disso, a relevância do grupo no abastecimento do varejo alimentar do país também oferece uma leitura rica sobre o desempenho do segmento no contexto atual.

Veja abaixo os nossos quatro principais destaques da reunião. Também adicionamos nossos comentários sobre cada um dos pontos e como eles se relacionam com as empresas da nossa cobertura.


Quatro principais destaques da reunião com Grupo Martins

#1. Demanda: A crise tem impulsionado o desempenho de vendas no varejo alimentar, mas outros segmentos já mostram desaceleração.

De acordo com Martins, o crescimento das vendas no varejo alimentar já mostrava uma aceleração desde o início do ano, mas a crise fez com que a demanda acelerasse de maneira ainda mais relevante. Nas últimas semanas, a companhia observou crescimento de até 25% em relação ao mesmo período do ano anterior em algumas praças. O mesmo é válido para o segmento de varejo farmacêutico, que também apresentou aumento significativo de tráfego nas lojas.

Por outro lado, o grupo já observou uma desaceleração nas vendas de categorias como eletrônicos, apesar de um aumento temporário pontual nas vendas desse segmento, conforme as pessoas se preparavam para o período de quarentena. Outro destaque negativo, na opinião de Martins foi o sub-setor de materiais de construção.

Comentário XP: Conforme mencionamos no nosso relatório publicado na semana passada “Varejo e o COVID-19: Entendendo a queda das ações; 4 principais pontos” (acesse pelo link), tanto os dados recentes divulgados pela Cielo, quanto a experiência da China mostraram que sub-setores de consumo básico devem ser menos impactados. No caso do GPA (PCAR3; Compra), por exemplo, a operação de Multivarejo da companhia já apresentava crescimento de vendas no conceito mesmas lojas em torno de 100% no início da semana passada. Não só impulsionado por estocagem, mas também por aumento do consumo.

#2. Oferta: Sem problemas de abastecimento nos supermercados, por enquanto.

O presidente do Grupo Martins também comentou que na situação atual, o transporte e abastecimento de bens essenciais, como alimentos, estão sendo privilegiados. Dessa forma, a companhia ainda não observou nenhuma ruptura logística na sua cadeia de abastecimento e nem um aumento no absenteísmo por parte dos motoristas de seus caminhões.

Além disso, o grupo também pôde observar um engajamento grande por parte da indústria, especialmente na produção de bens essenciais (de primeira necessidade). De acordo com Martins, os fornecedores entendem a importância do seu papel para a população em um momento crítico como o atual e, portanto, até rearranjaram parte de sua produção, com o fim de garantir a produção e abastecimento desses itens.

Comentário XP: Esse comentário está em linha com o que temos escutado das companhias líderes do segmento de varejo alimentar (GPA e Carrefour Brasil). Ambas também têm comentado que, de maneira geral, não há atualmente um problema de falta de abastecimento no setor. Ou seja, a capacidade produtiva da indústria está atendendo a demanda nos supermercados. O que acontece, em alguns casos, são faltas temporárias de itens específicos entre um abastecimento e outro.

#3. Perdas e absenteísmo ainda estão sob controle nos supermercados.

Segundo Martins, a empresa ainda não observou um aumento relevante no índice de perdas (extravio, roubo ou avaria) nos supermercados ou no transporte de mercadorias. Apesar da redução no fluxo de pessoas, ainda há policiamento nas ruas e boa segurança nas lojas.

Quanto ao absenteísmo, apesar de ainda sob controle, a companhia acredita que seja natural um aumento no número de funcionários optando pela quarentena ou até por pequenos varejistas familiares optando por fechar temporariamente as suas operações. De qualquer maneira, a companhia já havia afastado idosos, grávidas ou pessoas com filhos pequenos cujas aulas foram suspensas. Além disso, a companhia tem feito um trabalho robusto de conscientização em regiões mais remotas.

Comentário XP: Acreditamos que o absenteísmo nas lojas e no transporte de mercadorias seja o principal ponto a ser monitorado ao longo das próximas semanas. Em entrevista recente, Carlos Mira, CEO da empresa TruckPad (aplicativo que conecta caminhoneiros à fretes de transportadoras e da indústria), comentou que a intensidade das atividades dos caminhoneiros está igual àquela observada antes da crise. Entretanto, já vemos relatos na mídia de alguns trabalhadores da classe se organizando para uma eventual paralisação. Isso afetaria negativamente o abastecimento de todo o setor varejista e também a entrega (last-mile) no e-commerce.

#4. A oferta de crédito será essencial tanto no curto prazo quanto no futuro, uma vez normalizada a crise.

O presidente do grupo acredita que é fundamental pensarmos na “vida após a crise” – em especial, na oferta de crédito para garantia do capital de giro das empresas e da retomada do consumo. No curto prazo, entretanto, também será fundamental garantir a liquidez de empresas de segmentos específicos (turismo, bares e restaurantes, aviação, etc.) que devem ter o fluxo de caixa mais prejudicado em meio à crise.

A companhia já tem auxiliado pequenos e médios varejistas por meio da operação financeira do Grupo Martins. A empresa consegue prover liquidez para alguns desses clientes, com acesso mais limitado a capital, por meio de desconto de duplicatas ou novas linhas de crédito. Segundo Martins, uma parte relevante tem de sete a dez dias de estoque e, portanto, dependem do abastecimento dos atacadistas parceiros.

Comentário XP: Esse comentário também reforça outro dos pontos que mencionamos no nosso relatório “Varejo e o COVID-19: Entendendo a queda das ações; 4 principais pontos“. Pequenos e médios varejistas têm acesso mais limitado a capital, níveis de estoque mais limitados e menor poder de barganha com os maiores fornecedores ou distribuidores. Dessa forma, acreditamos que as varejistas listadas devem apresentar ganhos de participação de mercado.

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