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Vale (VALE3) | “Valor Sobre Volume 2.0”

A Vale sediou o seu evento anual "Vale Day" em Nova York. Confira nossa análise abaixo.

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Vemos três grandes conclusões do Vale Day: (1) a redução no guidance de produção de minério de longo prazo, de 400Mt para 360Mt, mas com maior teor de ferro. A Vale busca ainda “mais valor sobre volume” em seu mix de produtos, para capturar mais prêmios de qualidade; (2) A Vale dividirá seus ativos de metais básicos em uma NewCo, com governança própria, procurando um parceiro estratégico para ajudar a extrair o verdadeiro valor desses ativos; (3) a Vale usa a faixa de preço minério de Ferro 62% de US$ 90- 110/t para avaliar o fluxo de caixa de 2026 (variando de US$ 5,7 a 12,4 bilhões, também dependendo do preço do cobre e níquel, que tem 7-16% de rendimento). A empresa vê US$ 70/t como uma hipótese inviável de preços de minério de ferro de longo prazo. Ainda vemos valor nas ações da Vale e mantemos nossa recomendação de Compra.

Lições aprendidas? A Vale finalmente desiste do guidance de produção de longo prazo de minério de ferro 400Mt. A empresa reconheceu que subestimou os desafios de recuperar a produção perdida após Brumadinho. A Vale agora visa 360Mt como orientação no longo prazo, mas com um teor de ferro mais alto (de ~62% em 2022 para ~64%) e mais pelotas e briquetes verdes na mistura (~100Mt no longo prazo). Nas palavras do Sr. Spinelli: “ainda mais valor do que volume”. Os prêmios all-in da Vale estão previstos pela empresa para aumentar de ~USD 7/t em 2022 para ~USD 10/t em 2026 e ~USD 22/t em 2030 devido ao melhor mix de produtos e aos prêmios gerais no mercado para produtos de alta qualidade. A empresa abraçou totalmente o caminho para se tornar referência ajudando o setor siderúrgico a descarbonizar.

Mais cor na estrutura das operações de Metais Básicos. A decisão foi tomada e a Vale dividirá seus ativos de metais básicos em uma NewCo, com governança corporativa própria (incluindo política financeira própria e independente) com um Conselho dedicado (o CEO da Vale será um deles) que abrangerá alguns membros independentes (que já estão sendo entrevistados). A ideia é buscar um parceiro estratégico (“não quem pagar mais”) para ajudar a extrair o verdadeiro valor desses ativos, tarefa que Bartolomeo reconheceu que a Vale não conseguiu fazer sozinha. O Sr. Bartolomeo usou a VLI como um exemplo de quanto valor pode ser obtido com os parceiros e incentivos certos. Este sócio estratégico terá até 10% da NewCo.

Esqueça o preço do minério de ferro de US$ 70/t LT. A Vale usa a faixa de preço IO 62 de US$ 90-110/t para avaliar o FCF 2026 (variando de US$ 5,7 a 12,4 bilhões, também dependendo do preço do cobre e do níquel, que rende 7-16% de rendimento). Considerando a inflação geral de custos, a empresa vê US$ 70/t como uma hipótese inviável de preços de longo prazo para o minério de ferro.

Nova orientação para produção: Para o minério de ferro, a Vale vê a produção de ~310Mt para 2022, ~315Mt para 2023, ~350 para 2026 e >360 no longo prazo, enquanto para pelotas é de ~33Mt, ~38Mt, ~53Mt e ~100Mt, respectivamente. Para as mesmas datas, o níquel deve entregar ~180kt, ~170kt, ~240kt e ~300kt enquanto para a Cobre a curva de produção é ainda mais agressiva: ~260Mt, ~350Mt, ~400Mt e ~900Mt. Percebemos como, ao longo do tempo, a Vale vem prometendo demais e entregando a menos em termos de produção (ver Figura 1 a 4). Enquanto para o minério de ferro isso pode ser percebido pelo menos parcialmente justificado como um movimento estratégico (“valor sobre o volume”) para metais básicos, isso não pode ser usado como uma justificativa racional. A grande questão é quanto dessas promessas futuras o mercado usará em seus modelos. Sentimos que já faz um tempo que quase ninguém estava considerando 400Mt para minério de ferro (nem grandes números para produção de longo prazo de metais básicos), e 360Mt parece ser uma meta viável e será usada principalmente em modelos de valuation. Mas achamos que 100Mt para pelotas e as grandes promessas de metais básicos parecem mais difíceis de serem totalmente aceitas por enquanto.

Inflação de custos: O custo caixa C1 está previsto na faixa de US$ 20,5/t em 2023 contra ~US$ 19,75/t em 2022 (+4%), pois a falta de licenças afetará a produção no Sistema Norte. Destacamos que ~2/3 do aumento de C1 em 2022 vs 2021 com ajuste cambial (+USD 2,5/t ou +15%) foi causado por um aumento nos preços do diesel. O custo total do minério de ferro (não inclui Capex de sustentação, mas considera mix de produtos) deve chegar a US$ 49/t em 2022, US$ 47/t em 2023 e US$ 42/t (o que valida as dificuldades para preços de US$ 70/t no longo prazo). Notamos também como a Vale vem orientando para uma redução de C1 de longo prazo (na faixa de 10%-15%), mas muito disso tem a ver com a alavancagem operacional (o guidance atual de longo prazo vê uma queda menor, em termos %) . Em termos de Capex, o guidance para o ano que vem aumentou +3%, enquanto o de longo prazo aumentou +14% (o que, considerando a inflação geral que o mundo presenciou no ano passado, parece razoável).

Figura 1: Meta de Produção IO (Mt)

Figura 2: Meta de Produção de Pellets (Mt)

Figura 3: Meta de Produção de Cobre (Mt)

Figura 4: Meta de Produção de Níquel (kt)

Mais pagamentos de barragens legadas: a Vale forneceu um cronograma abrangente de pagamentos anuais relacionados às tragédias de Mariana e Brumadinho de US$ 3,9 bilhões para 2023. Sentimos que isso pode desencadear ajustes nos modelos, já que a maioria estava considerando ~US$ 2 bilhões. Em uma nota positiva, a empresa acaba de remover a barragem B3/B4 como nível crítico de segurança 3 (existem agora 2 barragens neste nível máximo de risco, com expectativa de superar isso até 2025).

Ainda vemos valor na Vale. As ações da empresa foram pressionadas hoje, acreditamos que devido a uma combinação de: (i) pagamentos de barragens legados acima do esperado em 2023; (ii) menor guidance de produção e: (iii) realização de lucros (mesmo depois de hoje, as ações de movimento subiram ~ 17% nos últimos 30 dias). As ações vêm subindo acompanhando os movimentos do preço do minério de ferro, por sua vez alimentadas pelas expectativas de reabertura da China (e ajudadas por uma posição técnica leve, a nosso ver). Ainda vemos a Vale no curto prazo bastante correlacionada com o macro na China. No entanto, as coisas devem mudar a longo prazo. Como a Vale destacou hoje, a siderurgia está mudando e evoluindo, e com a precificação do carbono e o jogo do xadrez geopolítico, a produção de aço deve ser cada vez mais produzida perto de onde há energia barata, com matéria-prima de alta qualidade. Vemos a Vale como o melhor player do setor para capturar essa tendência de longo prazo e por isso mantemos nossa recomendação de Compra.

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