Dividendos extraordinários e plano de negócios anunciados. Ambos muito esperados, ambos em linha
Dividendos e plano de negócios muito aguardados. Nesta quinta-feira (21), a Petrobras divulgou duas informações que o mercado aguardava ansiosamente: (i) um dividendo extraordinário para 2024; e (ii) seu plano de negócios 2025-2029. O dividendo extraordinário de BRL20 bilhões (rendimento de 3,9%) ficou em linha com as expectativas. O plano de negócios também ficou em linha com nossas estimativas e confirmou grande parte das expectativas do mercado. Apesar da falta de grandes surpresas, consideramos ambos os anúncios positivos porque eliminam o risco de cenários negativos (por exemplo, nenhum dividendo extraordinário ou fluxos de caixa livres mais baixos no plano). Neste relatório, atualizamos nosso modelo da Petrobras com as últimas informações disponíveis e reiteramos nossa classificação Buy e preço-alvo de BRL46/PETR4 (USD17/PBR). Em termos de avaliação, prevemos um rendimento de FCFE de cerca de 13,5% e um rendimento de dividendos ordinários de cerca de 11% em 2025.
Mais sobre os dividendos
A Petrobras anunciou dividendos extraordinários relativos aos resultados do ano fiscal de 2024 de BRL20bn (c.USD3.5bn).O valor está em linha com nosso cálculo do dividendo embutido no orçamento do governo para 2024. Em nossa opinião, havia espaço para distribuições um pouco maiores (USD 4,5 bilhões), mas o resultado mais importante foi o pagamento efetivo dos dividendos que o mercado esperava (e o governo precisava).Os dividendos são equivalentes a c.BRL1,55/ação local – um rendimento de 4,1% e 3,8% sobre as ações preferenciais e ordinárias, respectivamente.As ações começarão a ser negociadas ex-dividendos em 12 de dezembro.Os pagamentos efetivos em dinheiro serão feitos em 23 de dezembro para os acionistas locais e em 3 de janeiro de 2025 para os detentores de ADRs.
Novo plano: evolução, não revolução.
O plano de negócios 2025-29 da Petrobras é uma evolução de seu plano anterior 24-28, em vez de uma revolução completa. Essa é uma boa notícia, especialmente considerando a mudança na administração no início deste ano, que levantou preocupações sobre um afastamento do plano de negócios e um aumento repentino nos gastos. Dito isso, muitos dos principais tópicos desse plano foram antecipados no comunicado de imprensa da Petrobras na segunda-feira (18), de modo que o anúncio de quinta-feira não trouxe surpresas significativas. O Capex aumentou em relação ao plano anterior, como esperado, enquanto a curva de produção de petróleo aumentou ligeiramente no curto prazo, mas, por outro lado, permaneceu praticamente inalterada.
Caixa mínimo mais baixo, teto de dívida mais alto
Uma surpresa (positiva) no plano foi a redução da exigência de caixa mínimo para US$ 6 bilhões. Ao mesmo tempo, o teto da dívida bruta foi aumentado para US$ 75 bilhões para permitir flutuações temporárias acima da meta de dívida bruta de US$ 65 bilhões. Em nossa opinião, a combinação dessas duas mudanças permite maior flexibilidade para o pagamento de dividendos extraordinários. Acreditamos que isso pode até se tornar uma vantagem para as contas fiscais do governo no final de 2025. Para ser claro, nosso argumento não é que a Petrobras pagará dividendos com base nas contas do governo, mas sim que ela terá mais flexibilidade em termos de tempo para distribuir dividendos extraordinários como o anunciado hoje. Tanto o governo quanto os acionistas minoritários se beneficiariam de tais dividendos.
Se você só tiver tempo para um slide.
Há um gráfico na apresentação da PBR que resume melhor o plano de negócios de uma perspectiva financeira: as fontes e usos de caixa ao longo do horizonte de cinco anos do plano, mostrado na Figura 7 do nosso relatório em inglês. Veja como ele se compara às nossas próprias estimativas. (i) O caixa de operações de USD 190-210 bilhões é maior do que o da estimativa da XP de USD 192 bilhões devido à nossa premissa de Brent mais baixo (USD 70/bbl), mas, fora isso, nosso modelo parece bem calibrado. Em (ii) capex + arrendamentos, a estimativa da XP de USD 125 bilhões está dentro da faixa do plano, excluindo o capex “em avaliação” de USD 122-132 bilhões. Acreditamos que isso não seja excessivamente agressivo porque: (a) a PBR assume um real brasileiro bastante forte de cerca de R$ 5,00/USD, (b) a PBR tem historicamente apresentado um desempenho inferior ao seu orçamento (embora haja razões para acreditar que desta vez seja diferente) e (c) acreditamos que é improvável que todos os projetos em avaliação sejam implementados. Por fim, isso resulta em (iii) dividendos totais da XPe, política + extraordinários, de USD 64 bilhões contra o plano de negócios de USD 50-65 bilhões. Em suma, o plano estava em linha com nossas estimativas anteriores, e fizemos apenas pequenos ajustes em nossas estimativas com base nas novas informações.
Produção: aumento de curto prazo
O novo plano de negócios ofereceu um aumento na produção de curto prazo, já que a produção de petróleo em 2025 aumentou para 2,3MMbpd (de 2,2MMbpd no plano anterior). O restante da curva de produção de petróleo permaneceu inalterado em 2,4MMbpd em 2026 e 2,5MMbpd a partir de 2027. O campo de Búzios continua sendo a pedra angular da estratégia de crescimento da Petrobras, com 6 FPSOs programados para entrar em operação entre 2025 e 2027. Espera-se que essas plataformas contribuam com mais de 1,1 milhão de bpd (Petrobras WI). A Petrobras antecipou para 2024 dois FPSOs que estavam originalmente previstos para 2025. O FPSO Búzios 7 também foi antecipado e pode potencialmente começar a produzir antes do final de 2024. Por outro lado, no médio/longo prazo, vários projetos foram adiados, presumivelmente devido a dificuldades na aquisição dos sistemas de produção. Entre eles estão o Revit Albacora, o SEAP1 e o SEAP2, agora adiados para depois de 2030.
Capex de cinco anos no valor de US$ 111 bilhões.
Sem dúvida, uma das informações mais relevantes do plano de negócios são os investimentos. O plano confirmou investimentos totais de US$ 111 bilhões para o período de cinco anos (+ US$ 9 bilhões em relação ao plano anterior). Os investimentos estão divididos em dois grupos: (i) portfólio “em implementação” de US$ 98 bilhões; e (ii) portfólio “em avaliação” de US$ 13 bilhões. Os investimentos também estão agora distribuídos de forma muito mais homogênea ao longo do tempo do que no plano anterior.
Capex vs. arrendamento.
A alocação de tais investimentos entre capex e arrendamentos (de acordo com a IFRS 16) tem sido o principal debate entre os participantes do mercado desde que o plano foi publicado. Isso pode se tornar técnico e complicado, portanto, aqui estão as principais conclusões: (i) capex + arrendamentos aumentaram cerca de US$ 10 bilhões em comparação com o plano anterior, assim como o total de investimentos; (ii) o capex real pode ser significativamente menor do que o mostrado nos slides do PBR por causa do IFRS-16. Se o capex for menor, mas os arrendamentos forem maiores, isso aumentaria os dividendos ordinários de acordo com a fórmula; no entanto, (iii) não esperamos mudanças significativas em relação à taxa de execução recente.
Mais sobre capex vs. aluguel
O capex de 80 a 85 bilhões de dólares é significativamente menor do que os investimentos de 111 bilhões de dólares (isso geralmente acontece porque parte dos investimentos são arrendamentos, mas este ano a diferença foi maior). Mais importante ainda, o capex está abaixo dos US$ 90 a 95 bilhões do plano anterior. Por outro lado, os arrendamentos aumentaram para US$ 55-60 bilhões (de US$ 35-40 bilhões). Houve alguma reclassificação entre os dois itens que estamos interessados em entender melhor nas próximas chamadas.
Downstream: aumento gradual da capacidade
Em RT&M, a Petrobras aumentou seu orçamento de investimento quinquenal para US$19,6 bilhões (de US$16,7 bilhões no plano anterior). Desse total, US$16 bilhões estão classificados como “em implementação”, enquanto US$4 bilhões permanecem “em avaliação”. A empresa pretende expandir sua capacidade de refino para 2,1 milhões de barris por dia, em comparação com os atuais 1,8 milhões de barris por dia. Do crescimento total projetado, 172kbpd virão principalmente da RNEST, onde a adição do segundo trem contribuirá com 130kbpd. Uma capacidade adicional de 120kbpd virá de projetos de reforma de refinarias, incluindo atualizações importantes na RPBC (SP), que adicionará 29kbpd, e na REPLAN, contribuindo com mais 25kbpd.
Biocombustíveis: os combustíveis do futuro.
A Petrobras continua a listar metas de biorrefinaria, com projetos para plantas dedicadas de SAF e HVO. O portfólio atual inclui 29kbpd de projetos em avaliação e 15kbpd em implementação, com destaque para o projeto BioQAV na RPBC. Outro destaque importante é a alocação de US$ 3,6 bilhões para logística. Isso inclui a construção de 16 novos navios e a expansão da infraestrutura de dutos, sendo que esta última se concentra no fortalecimento da presença da Petrobras no Centro-Oeste e no aumento da resiliência operacional. O plano também estabelece a base para o retorno da Petrobras ao segmento de fertilizantes com quatro fábricas: UFN-III, ANSA, FAFEN-BA e FAFEN-SE. A petroquímica também é um dos focos de downstream da Petrobras – estamos interessados em saber como a Braskem se encaixa nessa estratégia.
Gás natural: expansão da oferta.
A estratégia de gás natural da Petrobras se concentra em aumentar a competitividade de suas operações de gás natural, investindo em novas iniciativas de fornecimento. Esses projetos incluem a produção de biometano, a importação pelo gasoduto Brasil-Bolívia e por terminais de regaseificação. Além disso, a empresa está avançando em projetos de fornecimento – SEAP, Raia e, especialmente, o gasoduto Rota 3, que foi comissionado recentemente junto com o plano de tratamento de gás de Boaventura (UPGN).
Fortalecimento do compromisso ESG.
ESG assume papel central no Plano Estratégico da Petrobras – A Petrobras reforçou seu compromisso com ESG ao priorizar a redução de sua pegada de carbono em todo o seu portfólio de petróleo e gás. A empresa delineou as principais iniciativas para atingir suas metas para 2030, incluindo: (i) eficiência: otimização das operações, melhoria da integração energética e atualização de máquinas e equipamentos; (ii) transição de fontes de energia: substituição de fontes de energia com alto teor de carbono por alternativas mais limpas; (iii) redução de emissões: minimização da queima de gás, emissões fugitivas e ventilação; (iv) melhorias de processo: aumento da eficiência nos processos industriais; (v) captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS): expansão dos esforços nessa área. A Petrobras destinou US$ 16,3 bilhões aos esforços de transição energética – um aumento de 42% em comparação com o plano anterior. Esse investimento representa 15% do CAPEX total e 7% do CAPEX atualmente em implementação. Outra iniciativa interessante foi a meta da Petrobras de reduzir a retirada de água doce em 40% até 2030.
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