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André Salcedo, CEO da Sabesp: “Estamos trabalhando para que a desestatização aconteça”; assista

André Salcedo, CEO da Sabesp, é o convidado do 13º episódio do Expert Talks - Na Mesa com os CEOs

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Em dezembro de 2023, o processo de privatização da Sabesp (SBSP3) foi aprovado na Assembleia Legislativa de São Paulo. No 13º episódio do Expert Talks – Na Mesa com CEOs, Fernando Ferreira, Head do Research e Estrategista-chefe da XP, e Vladimir Pinto, Head de Energia e Saneamento do Research da XP, conversaram com André Salcedo, CEO da Sabesp, sobre os novos rumos da companhia diante da possibilidade de privatização e o compromisso com a agenda ESG.

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, fundada em 1973, é uma empresa mista que atualmente atende 376 municípios de São Paulo. Ao todo, são mais de 28 milhões de pessoas abastecidas com água potável e mais de 25 milhões que recebem tratamento de esgoto. Assista ao Expert Talks – Na Mesa com André Salcedo abaixo:

“2023 foi o ano de preparar a companhia para o futuro”

André Salcedo assumiu a presidência da companhia em 2023, quando Tarcísio de Freitas tomou posse do governo do Estado de São Paulo. Apesar do período curto a frente de uma das maiores empresas de saneamento básico da América Latina, essa não foi a primeira experiência de Salcedo no ramo.

O CEO, formado em engenharia elétrica e de produção, iniciou sua carreira no Banco do Brasil na área de gestão de riscos, e, posteriormente, ingressou em uma longa carreira dentro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), onde atuou como conselheiro no fundo de pensão e liderou a área de divida de mercado de capitais.

Um destaque da sua atuação no BNDES foi a emissão dos primeiros títulos verdes do setor de infraestrutura. Após 10 anos de atuação no banco, resolveu migrar para o setor privado, onde teve a sua primeira experiência com o setor de saneamento básico, na empresa Iguá.

Em 2023, após uma administração bem-sucedida na Iguá, assumiu a cadeira na Sabesp. “O governador estabeleceu algumas diretrizes e deu autonomia para escolher o time e gerir a companhia. Eu já tinha uma visão dos potenciais que a Sabesp tinha: 2023 foi o ano de preparar a companhia para o futuro”, explica o CEO.

“Uma estatal pode, como qualquer empresa, ser mais eficiente”

Salcedo aponta como principal objetivo da sua gestão modernizar e otimizar os processos e a tomada de decisão da Sabesp. Antes do início da gestão, ele aponta que havia muita desconexão entre setores que deveriam ter mais sinergia dentro do negócio.

O CEO ainda afirma que a Sabesp tem potencial grande de negócios para fora do estado de São Paulo, mas não nega que uma empresa estatal oferece mais desafios administrativos do que o setor privado. “São ambientes muito diferentes, os órgãos de controle para uma estatal é muito maior do que uma privada. O processo de compras de insumo pode demorar até 180 dias desde o final da concepção do projeto até entrar em edital. E se acontecer um problema, temos que começar de novo”, afirma.

Privatização da Sabesp e tarifa

Sobre o processo de concessão da Sabesp à iniciativa privada, Salcedo afirma que a gestão dele está trabalhando para que a companhia seja funcional com ou sem privatização, uma vez que, seja pública ou privada, a captação de novos contratos dependem dos leilões. “O setor mudou, temos que competir. Estamos trabalhando para a desestatização e se por algum motivo não houver, tudo o que foi feito permanece válido para a companhia ser mais eficiente.”

Como uma das medidas para otimização da empresa, ele cita a eliminação de uma das antigas sete camadas que separavam o operacional da liderança, o que, de acordo com o CEO, colabora para uma tomada mais adequada e centralizada de decisões. “[A equipe] que tem um propósito, que entende para onde a empresa está indo, se engaja”, conclui.

Sobre a possibilidade de aumento da tarifa de água, após uma possível privatização, Salcedo diz que essa questão está sendo abordada na regulação do processo, e a tendencia é de que a Sabesp incorpore um modelo de compartilhamento de eficiência, o que irá, segundo ele, diminuir a tarifa. “Estudos mostram que o ambiente de compartilhamento gera mais beneficio ao consumidor porque há um maior interesse da empresa em ser eficiente”, defende o executivo.

Ele ainda acredita que a privatização irá gerar uma expansão de infraestrutura, principalmente para áreas que hoje não são atendidas formalmente com redes de água e esgoto. “Do ponto de vista orçamentário, o saneamento compete com recursos da saúde, educação, segurança. É muito óbvio que a transferência para setor privado irá trazer mais investimento do que o Estado tem capacidade de fazer.”

A conclusão do processo depende ainda de algumas etapas, mas Salcedo diz que a Sabesp está em diálogo com os municípios os quais ela atende para entender as demandas de cada região. Ele ainda esclarece que as realidades e estágios de saneamento básico em cada cidade são divergentes, e que os recursos são alocados pensando na universalização do serviço.

Em relação à política de dividendos da empresa, o CEO afirma que o estatuto restringe a distribuição a até no máximo 25%do lucro , e que, neste momento inicial, o objetivo central é captar e alocar recursos para aumentar a infraestrutura. Após este período, que deve se estender até 2029, será possível repensar a estratégia, segundo ele.

ESG como agenda prioritária

A agenda ESG é uma das grandes prioridades da Sabesp, de acordo com o CEO, com foco para as estações de tratamento de esgoto. O processo corresponderia a 80% da “pegada de carbono” da empresa, além de gerar resíduos que são deslocados para aterros sanitários.

Salcedo enxerga alguns potenciais para geração de renda, diminuição de despesas e aumento da sustentabilidade da companhia. As metas envolvem aumentar a utilização da água de reuso advinda do tratamento de esgoto, utilizar o biogás gerado pela matéria orgânica, o que já foi implementado de forma piloto no município de Franca, acoplar ao final do processo um gerador de energia para retroalimentação e ampliar um projeto em andamento no município de Botucatu, que transforma o lodo restante do tratamento de esgoto em cerâmica para construção civil.

A empresa ainda pretende, até o final de 2025, suprir 100% da sua necessidade de energia de baixa tensão com as unidades geradoras das estações de tratamento de esgoto e instalar estruturas de autoprodução de energia solar para suprir até 2/3 da energia de alta tensão, o que representará uma redução de custos com energia elétrica.

Na região metropolitana do estado, o foco central está na limpeza dos grandes rios que cortam as cidades, Tietê e Pinheiros, assim como de outros córregos adjacentes. O CEO ressalta que a revitalização dessas vias gera um grande impacto na saúde pública. “Estudos mostram que a cada um dólar investido [em saneamento] gera cinco dólares de economia [aos cofres públicos].”

“Nem sempre o óbvio é o correto”

No final da conversa o CEO deixou algumas recomendações de conteúdo que ele considera interessante. Os destaques são: a série “Band of Brothers”, spin-off do filme “O Resgate do Soldado Ryan“, que, na visão dele, demonstra como o senso de equipe é essencial para enfrentar situações atípicas com criatividade.

Além da série, ele também recomenda a leitura dos livros: “SpinFree Economics“, de Nariman Behravesh, e “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar”, de Daniel Kahneman. Para ele, esses livros desconstroem noções consolidadas e provocam novas formas de reflexão. “Nem sempre o óbvio é o correto”, conclui.

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