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Caso Silicon Valley Bank (SVB): potenciais impactos em bancos brasileiros

Potenciais efeitos do evento Silicon Valley Bank (SVB) no sistema financeiro brasileiro

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Embora vejamos uma maior deterioração do sentimento em relação ao setor bancário brasileiro (o setor já foi impactado no início deste ano pelos eventos de crédito corporativo), os indicadores do balanço dessas empresas nos levam a acreditar que o setor está em boa posição para superar o overhang trazido pelo caso SVB. Como resultado, reiteramos nossa visão de que, apesar do desafiador ano de 2023, os balanços dos bancos brasileiros estão saudáveis ​​e os atuais descontos no valuation dessas empresas funcionam como um colchão para as ações.

Neste relatório trazemos uma breve análise com base no que vimos no caso SVB e tentamos estimar possíveis impactos. Procedemos à análise dos seguintes indicadores: i) crédito a depósitos; ii) NII com mercado; iii) participação até o vencimento e “LFTs”; e iv) Índice de Cobertura de Liquidez.

Nossas principais conclusões foram:

  • Empréstimo por depósitos. Os bancos brasileiros apresentam índices saudáveis.
  • Margem com Mercado. Novos impactos são esperados para 2023, mas não tão grandes quanto no ano anterior, já que não há expectativa de novos aumentos na taxa Selic.
  • Títulos mantidos até o vencimento e participação das LFTs. A existência de LFTs (títulos flutuantes de longo prazo emitidos pelo governo – Letra Financeira do Tesouro) traz um nível adicional de proteção aos balanços dos bancos.
  • Indicador de Liquidez de Curto Prazo (LCR). Os bancos incumbentes excedem facilmente o requisito mínimo de liquidez (>100%).

Os bancos brasileiros podem ser afetados?

O ciclo de aperto monetário do Fed foi um dos grandes responsáveis pela crise e eventual falência do SVB e do Signature Bank. No entanto, como dissemos, algumas especificidades da operação do SVB pioraram o resultado desse aperto, como: i) baixa taxa de empréstimos em relação aos depósitos; ii) base de clientes concentrada; e iii) regulação flexível (embora fosse o 16º maior banco dos EUA em ativos, o SVB nunca foi submetido ao requisito de liquidez de curto prazo do Federal Reserve).

Com base no que vimos no mercado dos EUA, analisamos a situação dos bancos brasileiros para tentar mapear possíveis impactos decorrentes do caso do SVB. Assim, realizamos uma análise dos seguintes indicadores: i) razão de empréstimo por depósitos; ii) margem financeira com o mercado; iii) Participação dos Títulos mantidos até o vencimento (HTM) e das LFTs; e iv) Indicador de Liquidez de Curto Prazo (em inglês, LCR).

1) Razão de empréstimo por depósitos

O principal negócio de um banco deve ser emprestar dinheiro. Sob esse ângulo, quanto mais alta a razão de empréstimos em relação a depósitos, menor o risco de a marcação a mercado de títulos afetar os lucros dos bancos.

Figura 01: Razão de empréstimo por depósitos, no 4º trimestre de 2022 (em %)

*para Inter, valor é do 3º trimestre de 2022

Nossa visão: Em geral, os bancos brasileiros apresentam números saudáveis. Os números do Nubank parecem mais fracos em relação ao restante da cobertura, mas é necessário fazer alguns ajustes nos valores de depósitos, como: US$ 4 bilhões são Caixa, enquanto US$ 3 bilhões são depósitos compulsórios e reservas mantidas no Banco Central. Vale ressaltar que NUBR33 alcançou 53 milhões de clientes, o que significa que, em média, cada um detém menos de R$ 250 mil na instituição — ou seja, os depósitos seriam cobertos pelo FGC, em grande parte. Por fim, em dezembro de 2022, o Nu consolidou mudanças no valor justo acumulado em OCI em US$ 22 milhões, ou 0,5% de sua posição consolidada de patrimônio líquido.

2) Margem Financeira com o Mercado

Embora nem todos os bancos apresentem essa informação de forma direta e/ou comparável, essa linha do resultado mostra o quanto as atividades de tesouraria são relevantes para o lucro dos bancos.

Figura 02: Margem Financeira com o Mercado (em R$ milhões)

(1) Antes das despesas de financiamento; (2) Inclui o resultado de juros, proteção fiscal, derivativos e outros instrumentos financeiros que compensam os efeitos da variação cambial no resultado.

Nossa visão. Embora as cifras dos bancos listados não sejam totalmente comparáveis, é possível ver que a Margem Financeira com o Mercado (ou Resultado de Tesouraria) é relevante, mas não gera mais lucros do que as operações de crédito. Além disso, vemos que os números de 2022 já foram impactados pelo aumento das taxas de juros no Brasil. Espera-se que haja mais impactos em 2023, mas não tão relevantes quanto no ano anterior, uma vez que não há expectativa de mais aumentos da Selic.

3) Títulos mantidos até o vencimento e LFTs

A proporção de ativos mantidos até o vencimento em relação ao portfólio total nos ajuda a entender os possíveis efeitos negativos sobre os lucros futuros devido à marcação a mercado de ativos financeiros.

Figura 03: Participação de títulos mantidos até o vencimento (HTM) e LFTs (em R$ milhões)

Nossa visão: outro aspecto que acabou prejudicando o SVB foi a proporção maior de títulos mantidos até o vencimento. Entre os bancos brasileiros, a maior proporção é do Itaú (22%), mas o número não está muito distante dos concorrentes (cerca de 12%). Além disso, é importante destacar uma diferença significativa entre os mercados de títulos brasileiro e americano: por aqui, existem títulos do governo de longo prazo pós-fixados, indexados à taxa Selic — as LFTs. Nos EUA, títulos similares têm prazos mais curtos. Como resultado, os bancos brasileiros podem investir em títulos que sofrem menos durante os ciclos de aperto monetário.

4) Indicador de Liquidez de Curto Prazo (em inglês, LCR)

Por fim, investigamos se a quantidade de ativos líquidos de alta qualidade é suficiente para financiar saídas de caixa por 30 dias. Em outras palavras, medimos a capacidade da empresa de cumprir suas obrigações financeiras de curto prazo.

Figura 04: Indicador de Liquidez de Curto Prazo (LCR) no 4º trimestre de 2022

*valor do 3º trimestre de 2022

Nossa visão: O Indicador de Liquidez de Curto Prazo é um requisito apenas para os grandes bancos (S1). O limite mínimo é de 100% e, como podemos ver, todos os bancos superam facilmente a meta. Como resultado, mesmo em um cenário de estresse, pressionado para saques de depósitos, entendemos que os bancos incumbentes estão em boa posição para atender à possíveis aumentos na demanda por liquidez.

Nossa perspectiva geral

Embora os últimos eventos nos Estados Unidos devam aumentar a percepção de risco dos bancos em todo o mundo, vemos os bancos brasileiros bem posicionados para possíveis pressões negativas, em grande parte: i) por manterem indicadores de balanço saudáveis; ii) pela expectativa de manutenção da Selic em 13,75% (com grande parte dos efeitos do aperto no ciclo monetário já refletindo nos números de Margem Financeira com o Mercado); e iii) considerando os valuations descontados, que devem amortecer futuras desvalorizações.

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