Realizamos nesta semana nossa 1ª XP CEO Conference no Rio de Janeiro, com a participação de C-levels de 8 empresas do nosso setor. As discussões do Setor Financeiro focaram nos níveis de inadimplência e nas oportunidades de crescimento para carteiras de crédito. Os maiores bancos (BB, Bradesco e Itaú) expressaram confiança de que a inadimplência está melhorando. No entanto, a maior volatilidade do cenário macro tornou-os mais cautelosos quanto à aceleração das carteiras de crédito para pessoas físicas. Em relação ao Bradesco, observamos uma mudança notável em suas mensagens, com aumento de confiança no andamento do plano de reestruturação, refletido na aceleração gradual de resultados e na transformação cultural. Stone discutiu os resultados trimestrais e as perspectivas de crédito, deixando-nos a sensação de que os investidores estão cada vez mais positivos em relação ao nome. A B3 discutiu novas iniciativas e ameaças competitivas. Vemos a empresa em uma boa tendência, mas são necessários ADTVs maiores para que os investidores se tornem mais positivos.
Um olhar atento ao espaço. As empresas que participaram da nossa conferência foram muito procuradas pelos investidores. Entre os mais solicitados, podemos destacar Itaú, XP, Bradesco e Stone. Em nossa opinião, os investidores deverão manter uma alocação notável nas ações do setor para navegar na alta volatilidade do cenário atual.
O crescimento do crédito foi um tema quente. Seja para os bancos ou para a Stone, as questões sobre o crescimento do crédito dominaram as conversas. Saímos do evento com a sensação de que os players têm muita confiança nos seus modelos e que o nível de apetite ao risco tem sido o aspecto chave. Para os bancos incumbentes, o apetite pelo crédito nos segmentos individuais de renda mais baixa, particularmente nos cartões de crédito, permanece baixo.
Bradesco com tom mais otimista. O Bradesco permanece cauteloso, mas adota uma abordagem ponderada ao risco, concentrando-se em retornos ajustados ao risco, em vez de no mero crescimento. O banco está aberto a assumir mais riscos à medida que as condições melhoram, especialmente nos empréstimos pessoais e às pequenas empresas. Apesar do crescimento dos empréstimos, mantém uma gestão prudente, equilibrando o crescimento do NII com provisões para devedores duvidosos. A transformação cultural liderada por Noronha alinha a organização aos objetivos de longo prazo, enfatizando melhorias na jornada do cliente e redução de custos. O programa de compensação revisto liga agora estreitamente o desempenho individual aos resultados organizacionais.
Feedback por empresa
Banco do Brasil (BBAS3)
Participantes: Janaína Storti (Head de RI), Marcelo Oliveira (Gerente de RI)
Principais temas discutidos: OPA da Cielo; Contrato exclusivo com BB Seguridade; Banco Patagônia; Delinquência; Crescimento da carteira de crédito pessoa física; Capital Regulatório.
Principais conclusões:
- Os executivos acreditam que a mudança pode ter demorado, mas será positiva. Assim que o processo de compra da Cielo for concluído, eles esperam que a empresa retome a tração comercial.
- Eles compreendem as preocupações dos investidores, mas sentem que não há necessidade de pressa para resolver o acordo com a BBSE. O novo acordo só deve ser assinado perto da data de vencimento. Porém, os executivos reforçam que “a BB Seguridade faz parte do Banco do Brasil” e querem maximizar seu valor.
- Quando questionados sobre o Patagônia, afirmaram que ainda existem muitas incertezas em relação à situação econômica do país, dificultando a previsão de quando os resultados da operação argentina apresentarão menor volatilidade.
- Os NPLs foram impulsionados principalmente por renegociações. Porém, acreditam que o 3T24 deverá apresentar alguma melhora, com expectativas de reversão na Americanas. A taxa de inadimplência no setor Agro era muito baixa (~0,5%), mas aumentou para 1,5%. Eles preveem que o retorno será próximo de 1%.
- Os executivos afirmaram que confiam em seus modelos de crédito internos e possuem as ferramentas necessárias para acelerar o crescimento da carteira de Pessoa Físicas, caso assim optem. No entanto, devido ao atual nível de incerteza, preferem permanecer cautelosos.
- Pareceram bastante confortáveis com os atuais níveis de capital e não expressaram quaisquer preocupações sobre potenciais restrições devido a um capital regulamentar mais restritivo. Reafirmaram que o índice de payout tinha sido recentemente aumentado para 45%, uma decisão tomada à luz do plano estratégico de longo prazo. Eles acreditam que, com um ROE de 20% e um pagamento de 45%, o atual índice BIS apoia o crescimento do portfólio na faixa baixa.
Bradesco (BBDC4)
Participantes: Eduardo Potério (Gerente de RI), Joice Carmo (RI)
Principais temas discutidos: Apetite ao Risco em Diferentes Segmentos; O apetite ao risco do banco varia por segmento; Resultados do 2º trimestre e orientações para o ano; Transformação Cultural; Novos Modelos de Remuneração.
Principais conclusões:
- O Bradesco permanece cauteloso, mas adota uma abordagem calculada e gradual ao risco. A estratégia é aumentar a concessão de crédito de forma criteriosa, sempre com foco em retornos ajustados ao risco. O objetivo não é crescer pelo crescimento, mas encontrar o equilíbrio ideal entre risco e retorno, ajustando o desempenho de acordo com as condições de mercado. As decisões de aumentar ou diminuir a concessão de crédito estão diretamente ligadas a fatores de mercado, como altas taxas de juros e alavancagem das empresas. Embora o mercado tenha se ajustado, o banco mantém uma postura conservadora, mas está aberto a assumir mais riscos à medida que as condições melhorem.
- No segmento de Pessoas Físicas (PF), o banco está mais disposto a assumir riscos no crédito pessoal, mas permanece cauteloso em relação aos cartões de crédito. No segmento pessoa jurídica (PJ), há aumento na originação de crédito, principalmente para pequenas empresas, sempre com abordagem conservadora. A estratégia é aumentar o risco de forma calculada, priorizando retornos ajustados ao risco sem comprometer a saúde financeira da instituição.
- Apesar do crescimento nas concessões e na originação de crédito, o banco continua a agir com cautela, principalmente no que diz respeito ao risco. A equipe de RI destacou que os resultados do trimestre refletem um aumento gradual nas margens com os clientes, com foco nos retornos ajustados ao risco. O banco está equilibrando o crescimento da margem financeira (NII) com a provisão para devedores duvidosos (PDD), indicando uma gestão prudente para manter a rentabilidade mesmo em cenários desafiadores. Foi também mencionado que, embora o guidance não tenha sido revisto, o banco tem a opção de acelerar ainda mais a concessão de crédito se as condições o permitirem, sem comprometer o balanço do banco.
- O banco passa por uma significativa transformação cultural liderada por Noronha. Segundo o RI, Noronha tem enfatizado a importância das mudanças culturais para alinhar a organização aos objetivos de longo prazo, como restaurar a rentabilidade e adaptar-se às novas realidades do mercado. Está envolvido em diversas iniciativas, desde a melhoria da jornada do cliente até à redução de custos, refletindo um foco abrangente na transformação do banco. Existe um sentido de urgência e compromisso dentro da organização, com equipes dedicadas a trabalhar em prol de objetivos claros e com foco nos resultados. Destacou que, apesar dos desafios, existe um alinhamento geral em torno da missão de restaurar a rentabilidade do banco.
- Um aspecto fundamental dessa transformação envolve a revisão do programa de remuneração variável, que passa a alinhar mais o desempenho individual com os resultados da organização. Este programa está estruturado de forma não linear, incentivando os colaboradores a buscarem objetivos mais elevados.
Itaú Unibanco (ITUB4)
Participantes: Gustavo Rodrigues (DRI), Pedro Manzano (Gerente de RI)
Principais temas discutidos: Posicionamento do Banco no Segmento Popular; O Apetite de Crédito do Banco em Diferentes Segmentos; Projeto Itaú One.
Principais conclusões:
- O Itaú destacou sua abordagem cautelosa na oferta de crédito ao segmento de baixa renda. A estratégia do banco envolve primeiro estabelecer uma base sólida e franquias antes de expandir significativamente o crédito nesta área. Além disso, o banco enfatizou a importância de proporcionar uma experiência digital totalmente personalizada aos clientes de baixa renda para garantir que tenham uma jornada segura e adequada no ambiente digital.
- O Itaú demonstrou maior apetite pela expansão do crédito nos segmentos de alta e média renda, onde já possui uma base sólida e vê mais oportunidades de crescimento sustentável.
- O banco destacou que, apesar do ambiente desafiador, houve recuperação no crescimento das carteiras de empréstimos pessoais e cartões de crédito, principalmente a partir de junho. Este crescimento foi impulsionado por melhorias na qualidade da carteira e por uma recuperação económica gradual.
- No segmento pessoa jurídica, o Itaú continua focado na expansão de suas operações, apesar da intensa concorrência no mercado de crédito corporativo. O banco mantém a seletividade nas concessões de crédito para evitar riscos excessivos.
- O projeto Itaú One foi discutido como uma iniciativa fundamental para integrar serviços e melhorar a experiência do cliente, especialmente por meio da migração para novos aplicativos digitais. O banco está a adotar uma abordagem gradual para garantir que os clientes se adaptam bem ao novo sistema antes de forçar uma migração completa.
- O Itaú One também foi destacado como ferramenta para atrair e fidelizar clientes de alta renda e classe média, ao oferecer uma proposta de valor diferenciada e uma experiência bancária mais integrada. O projeto já atraiu milhões de clientes e a expectativa é continuar crescendo até estabelecer uma base significativa, consolidando-se como um dos principais produtos digitais do banco.
B3 (B3SA3)
Participantes: Andre Milanez (CFO), Fernando Campos, (Diretor Associado de RI), Tatiana Castello Branco (Diretora Financeira)
Principais temas discutidos: Resultados Recentes; Perspectivas para ADTV; Novas Parcerias; Custos e Despesas; Mercado de Dados; Novos Produtos; Ambiente competitivo e novos participantes
Principais conclusões:
- A B3 está explorando ofertas potenciais nos setores de plataformas e tecnologia para diversificar suas fontes de receita, alavancando novas demandas de mercado e oportunidades tecnológicas emergentes.
- A B3 observou que o ambiente econômico e a volatilidade do mercado impactaram o comportamento dos investidores, o que influenciou o desempenho no 2T. No entanto, a empresa conseguiu mitigar alguns destes efeitos através da diversificação de receitas e do foco em produtos de maior valor acrescentado. Apesar dos atuais níveis deprimidos, a B3 vê mais vantagens do que desvantagens no mercado, especialmente com novas oportunidades em segmentos como crédito privado e derivativos relacionados.
- A empresa busca parcerias, como a da Interactive Brokers, para aumentar o volume de BDRs. O objetivo é atrair mais investidores estrangeiros para o mercado local e proporcionar aos investidores brasileiros maior diversificação de ativos. Este esforço faz parte de uma estratégia mais ampla para conectar pools de liquidez e facilitar o acesso a diversas classes de ativos, aumentando assim o volume de negociação.
- A B3 está focada em uma gestão de custos mais eficiente, principalmente após reestruturações internas que visam capturar sinergias de despesas e melhorar a execução dos negócios, especialmente em dados de mercado e serviços de plataforma. Embora prevejam uma aceleração dos gastos no segundo semestre – principalmente devido aos reajustes e despesas de final de ano – a empresa pretende controlar os custos para evitar picos significativos.
- A B3 está focando no mercado de dados como área de crescimento, investindo na consolidação e expansão de sua atuação nesta vertical. A empresa vê oportunidades, especialmente na oferta de novos produtos indexados e na monetização de dados do mercado de capitais. Embora o crescimento ainda não tenha atingido os níveis desejados, a B3 continua otimista quanto ao potencial deste segmento.
- Para o próximo ano, a B3 está focada em temas-chave, como mercado de renda fixa e produtos voltados para investidores de varejo. A empresa identifica oportunidades significativas no mercado de crédito privado e investe em tecnologias para aumentar a liquidez e a eficiência em renda fixa. Além disso, a B3 está explorando o futuro dos derivativos de criptomoedas, como Bitcoin, e outros produtos que atraem o público varejista, inclusive aqueles com recursos de gamificação. A B3 também está atenta ao mercado de duplicatas escriturais, que está passando por mudanças regulatórias e poderá se tornar uma nova fonte de oportunidades, especialmente com a obrigatoriedade de registro de duplicatas estimulando o desenvolvimento de novos produtos e serviços.
- A B3 observou que o cenário competitivo evoluiu nos últimos anos, mas não necessariamente de forma negativa. Essa competição cria um ambiente de desconforto que impulsiona melhorias internas, que podem ser benéficas para a empresa. Embora existam preocupações sobre novos participantes e potenciais ofertas competitivas, a B3 observou que a concorrência se concentrou principalmente no preço e não em propostas de valor significativamente melhores. Ao continuar aprimorando seus serviços e produtos, a B3 acredita que poderá manter uma posição forte no mercado.
Caixa Seguridade (CXSE3)
Participantes: Eduardo Costa Oliveira (CFO e DRI), Matheus Mendonça Marques (Gerente de RI)
Principais tópicos discutidos: Eventos do segundo trimestre; Aviso de sinistros do seguro Prestamistas; Índice de sinistralidade de hipotecas e residências; Resseguros; Crescimento em Residencial; Negócios de acumulação
Principais conclusões:
- O CFO da CXSE reforçou que os impactos dos eventos do trimestre serão limitados ao segundo trimestre e, a partir do terceiro trimestre, espera-se que a empresa retorne a um nível normalizado de lucratividade.
- Os executivos enfatizaram que o índice de sinistralidade registrado no segundo trimestre foi afetado pelos eventos recentes. No entanto, espera-se que o índice normalizado esteja ligeiramente acima dos níveis históricos, estimado entre 4 e 6 pontos percentuais a mais.
- Os executivos também discutiram os índices de sinistros nos segmentos Habitacional e Residencial, que foram impactados pelos eventos climáticos no Rio Grande do Sul. Três empresas do grupo foram afetadas: Caixa Residencial (Run-on), CNP (Run-off) e Too Seguros. Eles indicaram que o nível normalizado no próximo trimestre deve ser ligeiramente menor, pois alguns sinistros foram antecipados devido às chuvas.
- Acreditam que haverá um reajuste nas apólices de resseguro. Quando as renovações começarem, eles terão um entendimento mais claro se haverá necessidade de repassar esses custos para o seguro comercializado.
- Há um aumento na demanda do consumidor devido aos eventos no RS, juntamente com mudanças nas políticas comerciais que incentivaram termos de seguro mais longos e reduziram o atrito nas renovações.
- O primeiro semestre do ano foi afetado pelo aumento das solicitações de saque e portabilidade em previdência privada, que eles atribuem aos eventos no RS. Eles estão trabalhando para melhorar o portfólio de fundos para conter esse fluxo negativo e preveem um segundo semestre de 2024 pressionado.
- O foco em produtos com pagamentos mensais, em vez de pagamentos únicos, pode desacelerar o crescimento no curto prazo, mas espera-se que traga benefícios no médio e longo prazo.
Stone (STNE)
Participantes: Mateus Scherer (CFO) e Roberta Noronha (Gerente de RI)
Principais tópicos discutidos: Software; Carteira de Crédito; Resultados do 2T24; Banking; Funding; Headcount.
Principais conclusões:
- Esclareceram que a receita de software continua fraca, mas o segmento digital do negócio Linx, que já foi “encerrado”, não gerou muito caixa. Embora a linha superior possa sofrer inicialmente, espera-se que isso ajude a melhorar as margens. O desinvestimento em algumas verticais de software é provável nos próximos 12 meses.
- Os investidores expressaram preocupação com relação a uma provisão que estava muito próxima da formação de NPLs. Os executivos explicaram que a provisão deve permanecer mais baixa até que se alinhe mais com os níveis observados nas safras de crédito.
- Eles planejam ajustar os processos de concessão de crédito, pois os critérios muito restritivos levaram à originação de créditos com melhores ratings. Eles pretendem promover alguma flexibilidade nos padrões atuais. Isso gera preocupações, pois a empresa está reduzindo as provisões e, ao mesmo tempo, está disposta a conceder empréstimos a clientes mais arriscados.
- Atualmente, um dos principais focos da administração é envolver mais as equipes comerciais na oferta de crédito.
- Eles veem o PIX ganhando participação no mercado de transações em dinheiro, o que explica o forte TPV. Eles observaram que a oferta BBB afetou tanto as vendas quanto as despesas de vendas. A formação da equipe de especialistas comerciais também aumentou as despesas de vendas, mas isso deve impulsionar o crescimento do TPV em 2025, pois esses especialistas são necessários para adquirir clientes maiores.
- A alíquota efetiva de impostos no segundo trimestre foi maior (~23%). Não houve “Lei do Bem” no segundo trimestre. Eles esperam ver algo mais próximo de 20% no segundo semestre do ano.
- Eles identificaram duas grandes lacunas nas ofertas dos bancos estabelecidos. investimentos e crédito. Com relação aos investimentos, eles estão preparados para lançar ofertas, mas estão agindo com cautela para evitar a canibalização dos depósitos. Em termos de crédito, eles estão lançando o “Giro Fácil”, uma oferta semelhante a um cheque especial.
- Quando questionados sobre a implementação de uma estratégia de crédito semelhante ao Nu (Low and Grow), eles observaram que ela é menos eficaz no segmento corporativo. O fato de analisarem os limites de crédito somente após seis meses torna sua oferta menos competitiva.
- A “Financeira” lhes permitiu emitir LFs e CDBs, abrindo muitas oportunidades. Agora, eles podem captar recursos a um custo menor (~CDI + 0,8% vs. CDI + 3% anteriormente).
- Entretanto, o preço de suas ofertas é dinâmico. Há algum impacto das taxas de juros, mas isso é diluído com o tempo. É comum oferecer serviços adicionais para evitar que os clientes enfrentem taxas mais altas (venda cruzada com serviços bancários).
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