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Bolha? Mas que bolha?

Nas últimas semanas, o termo “bolha de preços” foi mencionado com grande recorrência, tanto na mídia local como também na mídia internacional. Os gráficos abaixo mostram o aumento das buscas sobre notícias no Google ao redor desse tema, no Brasil e EUA. Veja o relatório Panorama XP para o mês de Setembro completo aqui. Se […]

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Nas últimas semanas, o termo “bolha de preços” foi mencionado com grande recorrência, tanto na mídia local como também na mídia internacional. Os gráficos abaixo mostram o aumento das buscas sobre notícias no Google ao redor desse tema, no Brasil e EUA. Veja o relatório Panorama XP para o mês de Setembro completo aqui.

Se olharmos apenas para os retornos das principais bolsas ao redor do mundo em 2020, essa discussão não faria muito sentido, dado que ainda vemos a maioria das Bolsas no mundo caindo no ano, com exceção dos EUA. Esses retornos parecem muito estar longe de um cenário que poderíamos chamar de bolha de preços.

Essa discussão sobre “bolha de preços de ativos” se dá por alguns outros motivos, em nossa visão:

  1. A grande rapidez da recuperação dos preços de ativos no mundo desde março, que segundo a visão dos mais cautelosos teriam “descolado” dos fundamentos econômicos, dados os impactos que ainda estão sendo sentidos da pandemia nas economias;
  2. O rali das ações ligadas ao setor de tecnologia e varejo online (e-commerce), que têm sido o grande motor propulsor por trás da alta nos mercados. O índice da Nasdaq, a bolsa ligada às empresas de tecnologia nos EUA, já sobe 30% no ano.

No Brasil, além desses dois fatores, soma-se também o grande aumento de investidores pessoas físicas investindo na Bolsa, o que suscitou matérias na imprensa sugerindo uma possível bolha de preços em alguns ativos. Enquanto sempre existem excessos de otimismo e euforia no mercado em relação à determinados ativos, acreditamos estar muito longe de um cenário de “Bolha” no Brasil, dado que temos a pior Bolsa em termos de performance em 2020 no mundo.

Além disso, o Ibovespa negocia em um múltiplo de Preço/Lucro de 13x para 2021, em linha com a média histórica, e longe de um patamar considerado “bolha” de preços. Algumas ações estão negociando a múltiplos bem elevados no Brasil, como a Magazine Luiza (183x Lucro 2021), WEG (64x), Via Varejo (52x), e B2W (52x EV/EBITDA 2021 – empresa ainda não dá lucro), mas para o índice como um todo, não dá para afirmar que o Brasil está próximo de uma euforia onde os preços das ações descolaram dos fundamentos.

É importante frisar que o ambiente atual é propício para bolhas em preços de ativos. Isso porque quase todas as vezes que saímos de uma grave crise global, alguma bolha de ativos se forma no horizonte.

Exemplos de bolhas de preços de ativos nos últimos 20 anos não faltam: a bolha da internet de 1999/2000, a bolha imobiliária de 2007 nos EUA, que pode ter sido causada por políticas excessivamente expansionistas do FED (Banco Central americano). Além dessas, podemos citar a bolha das ações chinesas em 2015, a bolha do Bitcoin em 2017, a bolha das ações de Cannabis em 2018, entre outras.

O ambiente mais recente, principalmente após a crise de 2008, tem sido propício para a formação de bolhas de preços de ativos no mundo. Nos últimos anos, os juros no mundo caíram para níveis negativos, e já são US$16 trilhões de dívidas com juros negativos no mundo. Os governos e Bancos Centrais no mundo já anunciaram mais de US$20 trilhões em injeções de capital via pacotes fiscais e monetários (aumento de dívida soberana e impressão de moeda nova). Esse montante representa 23% do PIB global, muito além do tamanho da queda do mesmo, que é estimada entre -4 a -5% pelo FMI e outros órgãos.

Os fatores comuns nos excessos, que em geral leva à formação de bolhas de preços, são:

  1. Excesso de liquidez – esse cenário já existe no mundo, dado toda a injeção recorde de dinheiro novo no mundo;
  2. Excesso de otimismo – na nossa visão, ainda não vemos esse cenário para além de alguns ativos (como o setor de tecnologia);
  3. Premissas exageradas sobre o futuro – novamente não parece ser o caso ainda, excluindo em alguns casos específicos, que são mais difíceis de justificar o valor (como as ações da Tesla, por exemplo).

Mas e o setor de tecnologia, já podemos chamar de bolha?

Essa pergunta é pertinente, dada a rápida apreciação das ações do setor de tecnologia desde março. O índice das empresas de tecnologia nos EUA, o Nasdaq Composite, sobe +74% desde março, e +30% no ano, sendo a melhor Bolsa do mundo em performance.

Esse movimento vem sido liderado por um seleto grupo de empresas dentro do setor de tecnologia, as FAANMGs, são elas Facebook, Amazon, Apple, Netflix, Microsoft e Google. As FAANMGs já sobem 116% desde março e +79% no ano. A Apple também alcançou a marca em agosto de ser a primeira empresa a valer a impressionante marca de US$2,0 trilhões (a Bolsa brasileira INTEIRA vale U$750 bilhões).

TESLA: mas talvez o maior expoente desse movimento, e que vem chamando mais os investidores e levantando a discussão sobre bolha de preços é a Tesla. As ações da montadora de veículos elétricos e fabricante de baterias continuam a desafiar os tantos pessimistas que sempre duvidaram de seu modelo de negócios. As ações já sobem 430% no ano e o seu valor de mercado já alcança incríveis US$430 bilhões, valendo mais que todas as outras montadoras no mundo – somadas! Sob as métricas tradicionais de valuation via múltiplos, as ações da Tesla negociam a 14x Receita de 2020, e 60x EV/EBITDA e 146x Preço/Lucro para 2021! As ações da General Motors, por exemplo, negociam a 3,5x EV/EBITDA e 7x Preço/Lucro para 2021.

Mas tentando responder à pergunta se as ações de tecnologia estão em uma bolha de preços, como em 1999/2000

Na nossa visão, as ações de tecnologia são candidatas a entrarem em um cenário de bolha de preços, em que os preços se descolam dos fundamentos e das métricas de valor, e os ativos entram em uma “mania”, na qual as pessoas investem naqueles ativos apenas porque esperam que os preços subam mais no curto prazo. Porém, para o setor de tecnologia como um todo, é difícil justificar que já estamos em uma bolha de preços atualmente.

Isso porque o setor de tecnologia está disruptando uma série de indústrias relevantes no mundo (mídia, financeiro, varejo, transportes, dentre tantos outros), gerando crescimento de receita e lucros recorde. Além disso, o setor foi o maior vencedor no mundo pós pandemia, em que todas as tendências de adoção de tecnologia e digitalização foram aceleradas rapidamente. Por isso, o setor tem crescido rapidamente, e os resultados do 2º trimestre, durante a pandemia, comprovaram isso, dado que as empresas de tecnologia foram as que mais surpreenderam positivamente os resultados. 

No entanto, se essa alta parabólica de preços nas ações do setor no mundo continuar a se espalhar além de apenas alguns nomes localizados e se tornar uma tendência mais ampla de preços se desvinculando completamente dos fundamentos, e investidores começarem a comprar ações em um modo de euforia simplesmente apostando em preços mais altos, e não com base em fundamentos, então, estaremos assim vendo uma nova bolha de preços de ativos no mundo “pós-COVID”.

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