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Cosan anuncia aquisição de participação minoritária na Vale: Um acionista estratégico bem-vindo!

Um play de longo prazo

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A Cosan anunciou a aquisição de participação acionária (de até 6,5%) na Vale, através de uma complexa operação de derivativos e financiamento. Apesar de não enxergarmos triggers de curto prazo na aquisição para um re-rating da Vale, acreditamos que ter a Cosan como um acionista de referência será muito positivo para mineradora no médio e longo prazo. Adicionalmente, o fato de um excelente alocador de capital como a Cosan estar fazendo uma aposta tão grande na Vale (capitalização de mercado da Cosan é de ~R$ 30 bilhões versus ~R$ 23 bilhões que 6.5% representam na capitalização de mercado atual da mineradora) nos dão confiança no valuation atrativo e no potencial do investimento nas ações da companhia. Negociando a 3,7x EV/EBITDA 2023, reforçamos nossa recomendação de compra na Vale.

Na sexta-feira (10) a Cosan anunciou a aquisição de participação acionária na Vale, através de uma complexa operação de derivativos e financiamento. Em essência, a Cosan já detém direito de voto de 4.9% na mineradora, com exposição econômica total de 6.5%. Dentre outros triggers para conversão desse adicional de 1.6% de exposição econômica para direito de voto, está a aprovação do CADE. Adicionalmente, dos 6.5% de exposição econômica na mineradora, 1.5% é uma exposição livre e os demais 5% possuem piso e teto de preço (não divulgados pela Cosan) através dos instrumentos derivativos. A aquisição será financiada por um misto dos dividendos da Compass e da Raízen, além de uma combinação de linhas de crédito non-recourse de longo prazo.

Titularidade e direito de voto em participação de 4.9% e exposição econômica total a 6,5%

Fonte: Cosan

Desconstruindo a estratégia de aquisição de equity collar (Possibilidades no Vencimento)

Fonte: Cosan


Por que a Vale? Em grande medida a Cosan justificou a aquisição na mineradora por muitos dos motivos pelos quais temos recomendação de compra para a Vale: ativo único e irreplicável, com exposição a moedas fortes e estrategicamente posicionado onde o Brasil tem vantagem competitiva e comparativa, além de apresentar um valuation atrativo. Adicionalmente, a Cosan destacou que a Vale deve ser protagonista relevante na transição energética e descarbonização. Nesse sentido, podemos citar o: (i) minério de alta qualidade; (ii) diversas iniciativas de inovação para descarbonização da indústria do aço (como por exemplo, os “briquetes verdes”), e; (iii) divisão de metais básicos (níquel e cobre, importantes metais da transição energética).

Uma estrutura de negócios engenhosa: No call realizado na sexta-feira a noite para tratar da operação, a Cosan enfatizou a flexibilidade da estrutura da aquisição. Apesar de já possuir direito de voto para 4.9% das ações da mineradora, na prática a única participação “firme” na Vale é de 1.5% do seu capital (isto é, se a Cosan quiser se desfazer da operação, teria de vender tais ações no mercado a vista). A concretização dos demais 5% são condicionados ao exercício dos derivativos que podem ou não acontecer. Não foi divulgado exatamente qual os percentuais dentro do cronograma destes vencimentos, apenas que é zero em 2023 e de 15% em 2024, com vencimento total em até 5 aos. No entanto, uma das alternativas de funding para a Cosan é a rolagem de tais derivativos, de maneira que a decisão final sobre concretizar ou não essa participação na mineradora pode se estender ainda mais ao longo do tempo.

Engenharia de M&A em benefício da flexibilidade: Em relação a decisão sobre a concretização dessa participação, no call de sexta a Cosan citou que dependeria principalmente de progresso na agenda de oportunidades de destravamento de valor e bem menos do desempenho no curto prazo sobre o preço do minério de ferro ou o cenário macroeconômico na China. Nosso palpite é que a Cosan enxerga duas principais avenidas para um re-rating da Vale: (i) melhorias na gestão e (ii) melhor precificação da unidade de metais básicos.

Não é uma jogada “macro” de curto prazo: Sobre o 1º ponto, apesar de ainda não possuir histórico de atuação no setor de mineração, o grupo apresenta um largo track record de gestão em novos segmentos de atuação. O grupo é conhecido pelo seu sistema de rotação de executivos e alavancagem de talentos. No entanto, ao contrário de outras empresas, no caso da Vale a participação (pelo menos até o momento) não permitirá a Cosan controlar a empresa. Acreditamos que a Cosan irá buscar o apoio de outros acionistas de referência na Vale para, ao longo do tempo, imprimir a mineradora seu estilo de gestão: a possibilidade mais óbvia é a Mitsui, que detém 6% de participação na Vale e na qual a Cosan é sócia na Commit Gás (novo nome da Gaspetro). Na próxima AGO a ser realizada em 2023 haverá a renovação do conselho de administração da Vale, atualmente composto por 13 membros, e acreditamos que a Cosan buscará indicar e eleger ao menos um conselheiro.

Metais de base novamente como um forte potencial de valorização e as sinergias do Porto de São Luís são um plus: Sobre a melhor precificação da unidade de metais básicos, apesar de ser um tema discutido há anos pela Vale, tal opção ganhou momentum dentro da mineradora nos últimos meses e pode ter sido um dos fatores que motivaram a Cosan a buscar tal aquisição neste momento. A Vale disse que não há ainda decisão final sobre o desenho de eventual operação, mas o mercado especula que a mineradora poderia fazer um carve-out da unidade de metais básicos, vendendo uma participação minoritária via IPO ou numa colocação privada para um player estratégico (a níveis de valuation acima da qual a empresa negocia atualmente, podendo levar a um re-rating das ações da Vale).

Existe ainda alguma sinergia potencial com o projeto da Cosan no Porto de São Luís. No call de sexta-feira, a Cosan afirmou que segue com o plano de aporte do Porto na JV de mineração Ligga (em conjunto com o empresário Paulo Brito) cuja decisão deverá acontecer até 2024, a depender dos estudos de viabilidade das reservas minerárias. Isto é, o desenvolvimento da JV ocorrerá em paralelo com o processo de aquisição de participação da Vale. No entanto, existe uma série de opcionalidades para a Cosan e acreditamos que todas as possibilidades de combinações entre os três ativos (Porto, JV e Vale) devem estar sendo consideradas pela Cosan.

Nossa visão: a julgar pelas cotações da Vale, nos parece que o mercado viu a aquisição da Cosan na Vale como neutra. Apesar de não enxergarmos triggers de curto prazo na aquisição para um re-rating da Vale, acreditamos que ter a Cosan como um acionista de referência será muito positivo para mineradora no médio e longo prazo. Adicionalmente, o fato de um excelente alocador de capital como a Cosan estar fazendo uma aposta tão grande na Vale (capitalização de mercado da Cosan é de ~R$ 30 bilhões versus ~R$ 23 bilhões que 6.5% representam na capitalização de mercado atual da mineradora) nos dão confiança no valuation atrativo e no potencial do investimento nas ações da Vale, que está com uma posição técnica bem leve: a grande maioria dos investidores institucionais com que conversamos, está neutro ou short no papel, em razão das preocupações de curto prazo com o cenário de oferta e demanda do minério de ferro com a desaceleração econômica global e, especialmente, da China. Negociando a 3,7x EV/EBITDA 2023, reforçamos nossa recomendação de compra na Vale.

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