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Seleção Quant: Ações que se beneficiam de mudanças da inflação

Fizemos um estudo para identificar os ativos brasileiros mais sensíveis a inflação, medida pela variação mensal do IPCA. Veja os nomes que mais se beneficiam quando a inflação sobe ou cai.

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O Brasil é um país inflacionário e, com altas recentes na inflação global, fica ainda mais importante entender os impactos da variação de preços no mercado de ações. Fizemos um estudo para identificar os ativos brasileiros mais sensíveis à inflação, medida pela variação mensal do IPCA. Veja os nomes que mais se beneficiam quando a inflação sobe ou cai.

Junto ao receio de uma recessão global, o Brasil e o resto do mundo têm enfrentado o desafio de uma inflação em alta, puxada pela forte demanda pós reabertura econômica e pelos recentes choques causados pela guerra na Ucrânia e também as disrupções nas cadeias de suprimento.

É ainda mais importante entender quem ganha e quem perde no mercado de ações brasileiro em diferentes cenários. Por isso, fizemos um estudo para identificar os ativos brasileiros mais sensíveis a inflação, medida pela variação mensal do IPCA. Aqui, buscamos encontrar ações vencedoras nos dois lados — as que se beneficiam da alta na inflação e as que se beneficiam da queda de preços — analisando a relação entre retornos e o IPCA, e controlando possíveis distorções por exposição ao mercado. Em geral, empresas de consumo discricionário tendem a se beneficiar mais de uma inflação mais baixa, enquanto consumo básico e imobiliário vão bem no cenário oposto.

Ações que se beneficiam da alta da inflação

Abaixo, listamos ações que têm uma tendência histórica de desempenhar bem em momentos de alta no IPCA, o principal indicador de preços brasileiro. Para chegar a essa lista, analisamos os retornos mensais nos últimos 10 anos (entre junho/2012 e junho/2022) das ações que fazem parte do Ibovespa. Sinalizamos as ações com histórico disponível menor na tabela abaixo.

Os 5 nomes finais são aqueles com maior correlação positiva com a variação mensal do IPCA nesse período, e que pertencem a setores que cumprem pelo menos um dos critérios abaixo:

  • Conseguem repassar a alta de preços, como empresas do setor de Varejo;
  • Podem se beneficiar de um consequente ciclo de alta de juros, como os Bancos;
  • Têm expansão de margem com a subida de preços, por terem contratos indexados à inflação, como Shoppings.

Lembramos que essa não é uma carteira recomendada, com pesos designados, e sim uma seleção de ideias de investimento em ações.

Os nomes estão ordenados pelo Beta vs. Variação mensal do IPCA:

CódigoEmpresaSetorBeta vs IPCA
ASAI3*AssaíVarejo6,4
IGTI11*IguatemiShoppings3,4
CRFB3*Carrefour BrasilVarejo2,8
SANB11SantanderBancos2,5
MULT3MultiplanShoppings2,4
* Data de início da análise: ASAI3 abr/21; IGTI11; dez/21;  CRFB3 ago/17

Mais sobre as empresas

Confira abaixo os comentários de nossos analistas setoriais:

  • Varejo (ASAI3, CRFB3): Varejistas de alimentos podem servir de proteção em meio a um ambiente inflacionário. Embora as varejistas geralmente estejam sujeitas à renda familiar disponível e aos índices de confiança dos consumidores, o varejo de alimentos tende a ser uma alternativa mais defensiva dentro desse espaço. Isso porque (i) a alimentação é uma das categorias, senão a mais, necessária para a sobrevivência humana e, portanto, a última a ser reduzida; e (ii) a inflação muitas vezes é repassada integralmente aos preços por todas as empresas do segmento, pois já operam com margens apertadas e sua demanda tem baixa elasticidade aos preços. Além disso, o formato Atacarejo é ainda mais seguro entre os segmentos alimentícios, pois oferece o melhor custo/benefício e, por isso, costuma ganhar participação a medida que o consumidor busca alternativas mais em conta. Dito isso, o Assaí é o único player de Atacarejo puro, enquanto o Carrefour tem alta exposição (~70% do EBITDA) ao formato por meio de sua bandeira, Atacadão.
  • Financeiro (SANB11): Durante períodos de inflação crescente, o banco central pode aumentar os juros como medida para conter os ciclos inflacionários. A combinação da exposição líquida positiva dos grandes bancos brasileiros aos juros e às suas resilientes e rentáveis performances financeiras frequentemente leva os investidores a ver suas ações como um porto seguro durante períodos inflacionários. Adicionalmente, o Santander tem a menor liquidez de negociação entre os bancos incumbentes, o que pode amplificar a volatilidade no preço de suas ações.
  • Imobiliário (IGTI11, MULT3): O aumento da inflação impacta positivamente os aluguéis da Multiplan e Iguatemi, uma vez que a receita de aluguel, que representa entre 70% a 80% da receita total, está atrelada ao IGP-DI e IGP-M, respectivamente, levando os investidores a vê-los como um hedge (proteção) potencial durante os períodos de alta inflação. Além disso, a inflação também beneficia os proprietários de shoppings porque os custos de reposição aumentam, o que deve beneficiar o valuation do portfólio.

Ações que se beneficiam da baixa da inflação

Do outro lado, listamos abaixo ações que têm uma tendência histórica de desempenhar bem em momentos de baixa no IPCA. Para chegar a essa lista, analisamos os retornos mensais nos últimos 10 anos (entre junho/2012 e junho/2022) das ações que fazem parte do Ibovespa. Sinalizamos as ações com histórico disponível menor na tabela.

Os 5 nomes finais são aqueles mais negativamente correlacionados com a variação mensal do IPCA nesse período, ou seja, ações que tendem a ter retornos positivos quando os preços caem. Quanto mais negativo esse Beta, mais forte o efeito da inflação sobre os papéis.

Lembramos que essa não é uma carteira recomendada, com pesos designados, e sim uma seleção de ideias de investimento em ações.

Os nomes estão ordenados pelo Beta vs. Variação mensal do IPCA

CódigoEmpresaSetorBeta vs IPCA
AMER3AmericanasVarejo-12,0
MGLU3Magazine LuizaVarejo-11,9
PETZ3*PetzVarejo-11,5
VIIA3ViaVarejo-10,4
NTCO3NaturaVarejo-3,8
* Data de início da análise: PETZ3 out/20

Mais sobre as empresas

Verificamos que as Varejistas de crescimento tendem a ser as mais afetadas pela queda de preços. Confira abaixo o comentário de nossos analistas setoriais:

  • Varejo (NTCO3, VIIA3, PETZ3, AMER3, MGLU3): As histórias de crescimento são as que mais sofrem quando a inflação sobe, e portanto, tendem a estar na categoria que desempenham bem quando os preços caem. Em um ambiente de inflação em alta, empresas mais discricionárias (por exemplo, cosméticos) e/ou categorias de ticket mais altas (por exemplo, bens duráveis) tendem a sofrer pois (i) reduz o poder de compra dos consumidores, levando-os a despriorizar categorias mais discricionárias; (ii) geralmente está associado a taxas de juros crescentes, que por sua vez aumentam os custos de financiamento; e (iii) nomes relacionados a crescimento e/ou tecnologia (por exemplo, PETZ3 e AMER3, MGLU3, VIIA3) sofrem mais com o aumento das taxas de juros devido ao seu perfil de duração mais longo, isto é, são mais sensíveis à mudanças de taxas de juros. Portanto, em um cenário em que o oposto ocorre – inflação em queda e, consequentemente, juros também – essa categoria de empresas de Varejo tendem a mostrar os maiores sinais de recuperação.

O que é beta?

O beta nos diz como dois ativos se relacionam. Analisando os retornos de uma ação vs. A variação do IPCA, temos uma ideia melhor de como a ação anda em relação ao principal indicador de preços brasileiro. Um beta entre -1 e 1 indica que a ação no geral oscila menos que o IPCA, ou seja, que o movimento nos preços não é muito relevante para os retornos do papel. Um beta alto (positiva ou negativamente) sugere que a ação é mais volátil, o que rende prêmios (ou perdas) em magnitudes maiores quando o IPCA varia. Um beta positivo indica que a relação é direta, ou seja, quando o IPCA sobe, a ação sobe. Um beta negativo por outro lado, sugere relação inversa:  quando o IPCA cai, a ação sobe.

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