Um olhar sobre as perspectivas econômicas e políticas no Brasil e no mundo, em um momento marcado por incertezas globais
Ontem (28), a XP realizou o XP Macro Insights, evento exclusivo para alocadores parceiros, que contou com a presença de grandes gestores e especialistas do mercado para discutir os principais temas do cenário macroeconômico global, local e político. Ao longo de três painéis, os convidados compartilharam visões sobre os rumos da economia e dos mercados, oferecendo perspectivas relevantes para a alocação de ativos em um contexto de incertezas crescentes. Os principais pontos discutidos foram: (i) mudanças no perfil do eleitor e impacto potencial da corrida presidencial de 2026 nos mercados; (ii) nova dinâmica da economia global, com menor risco de recessão nos EUA e foco crescente na sustentabilidade fiscal das economias desenvolvidas; e (iii) riscos fiscais no Brasil, desafios para a política monetária e oportunidades táticas em meio a um cenário externo mais desafiador.
Eleições 2026 no radar: Perspectivas políticas e impactos no mercado
Pedro Jobim, economista-chefe da Legacy Capital, e Murilo Hidalgo, presidente da Paraná Pesquisas | Mediador: Paulo Gama, head de Análise Política da XP
No painel que abriu o evento XP Macro Insights, Pedro Jobim, economista-chefe da Legacy Capital, e Murilo Hidalgo, presidente da Paraná Pesquisas, discutiram os possíveis cenários para as eleições presidenciais de 2026 e o impacto da corrida presidencial nos mercados.
Os convidados destacaram mudanças importantes no perfil do eleitor brasileiro, que tem incorporado novas pautas e preocupações em sua decisão de voto. Um exemplo é a divergência entre indicadores econômicos tradicionais e a percepção pública atual. Embora o chamado “índice de miséria” – soma da taxa de desemprego com a de inflação, geralmente associado à popularidade do governo – esteja em patamares baixos, os índices de aprovação do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não refletem essa realidade.
Quanto à disputa eleitoral, Jobim e Hidalgo avaliaram que ainda é cedo para afirmar os nomes que estarão na corrida. Dois possíveis adversários do atual governo parecem ter mais força eleitoral: a ex-primeira-dama, Michele Bolsonaro, que poderia adotar uma estratégia similar à de Jair Bolsonaro, se aliando rapidamente a um nome forte na economia como Paulo Guedes; e o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que deve sustentar um discurso com foco em responsabilidade fiscal e privatizações caso avance como candidato.
Do ponto de vista dos mercados, Jobim ressaltou que, embora o cenário político interno ainda esteja em construção, o comportamento dos ativos pode reagir de forma acelerada caso um dos nomes mais alinhados às visões do mercado lidere as pesquisas. A curva de juros de longo prazo, por exemplo, poderia passar por ajustes significativos. Por ora, no entanto, os movimentos têm sido guiados principalmente por fatores externos – em especial, a política tarifária dos Estados Unidos. De toda forma, Murilo ressaltou que as pesquisas só devem mostrar um quadro mais sólido da corrida eleitoral em abril de 2026, quando os nomes dos candidatos estarão mais claros.
Reorganização global: Tarifas, geopolítica e o novo equilíbrio econômico
Bruno Cordeiro, portfolio manager na Kapitalo, e Fabiano Rios, CIO da Absolute Investimentos | Mediador: Fabiano Cintra, head de Análise de Fundos da XP
Bruno Cordeiro, gestor de portfóio na Kapitalo, e Fabiano Rios, CIO da Absolute Investimentos, participaram do segundo painel do XP Macro Insights, cujo tema foi cenário global e desdobramentos nos mercados no período recente.
Para os especialistas, o contexto de elevada volatilidade e incerteza observado em abril – na esteira do anúncio da política de tarifas comerciais nos Estados Unidos – passou por relativa estabilização. A percepção de que haveria uma forte desaceleração da economia dos EUA perdeu força e a possibilidade de recessão na maior economia do mundo parece baixa (a menos no curto prazo), considerando os recuos recentes de Trump.
Ao mesmo tempo, ambos gestores entendem que uma potencial desaceleração econômica nos Estados Unidos será compensada por estímulos fiscais em outras regiões, como Europa, China, Coreia e Austrália. Essa dinâmica vai em linha com o processo de realocação de capital nos mercados globais que observamos atualmente, que tende a trazer boas oportunidades.
Desta forma, o risco principal vem deixando de ser os efeitos da guerra comercial, e volta a ser a sustentabilidade das contas públicas nos países desenvolvidos, especialmente EUA e Japão. As taxas de juros de longo prazo dos títulos públicos vêm subindo sensivelmente. Se o movimento continuar, pode trazer impactos negativos para ativos de risco, como bolsas e moedas de economias emergentes.
Em relação às oportunidades regionais, Rios pontuou que a Europa surge como uma possível vencedora nesse novo ciclo, ao atrair capital deslocado dos EUA. A China, por outro lado, enfrenta desafios mais complexos, desde o excesso de oferta e juros já em patamar estimulativo, até riscos geopolíticos semelhantes aos enfrentados pela Rússia. Ainda assim, Cordeiro pontuou que enxerga os ativos chineses baratos, especialmente no setor de consumo, embora destacando o alto risco. Por fim, o Japão, com sua redução na emissão de títulos de longo prazo e normalização gradual da política monetária adiciona mais pressão ao realinhamento global.
Na prática, os gestores têm adotado posições táticas para explorar assimetrias e incertezas. A Kapitalo reduziu a exposição geral e concentra-se em temas ligados à inteligência artificial nos EUA, além de operar commodities com foco em tendências de médio prazo. No Brasil, vê a renda fixa dominando os outros ativos. Já a Absolute mantém posições em bolsas europeias e brasileiras, explorando a retomada de interesse por mercados emergentes, ainda que com cautela, priorizando movimentos táticos e evitando exposição exagerada a juros.
De forma geral, o momento atual exige atenção redobrada às mudanças no tabuleiro global. Embora os caminhos ainda não estejam definidos, o consenso entre os especialistas é que um novo equilíbrio está se formando – e que ele será moldado por forças econômicas, políticas e tecnológicas que exigem constante reavaliação das estratégias de alocação de capital.
Economia brasileira: Entre riscos fiscais e oportunidades táticas
Eduardo Cotrin, Portfolio Manager na JGP, José Monforte, Portfolio Manager na Vinland, e Fernando Genta, Economista-chefe da XP Asset | Mediador: Caio Megale, Economista-chefe da XP
O painel de encerramento do evento teve como foco o cenário macroeconômico brasileiro. Eduardo Cotrin, Portfolio Manager na JGP, José Monforte, Portfolio Manager na Vinland, e Fernando Genta, Economista-chefe da XP Asset, discutiram sobre os atuais desafios da economia doméstica em meio ao cenário de juros altos, refletindo uma inflação ainda acima da meta e com eleições no horizonte.
Discutindo os impactos do cenário internacional na economia brasileira, os palestrantes discorreram sobre como a alta dos juros nos EUA e a valorização do dólar impactaram negativamente os ativos locais, reforçando a dependência do Brasil da estabilidade externa. A tendência do dólar globalmente parece ser o principal vetor para os ativos locais.
Na política fiscal, Genta alertou para sinais preocupantes, como congelamento insuficiente de despesas e o uso de receitas controversas para fechar o orçamento. Monforte destacou que, historicamente, o Brasil tende a fazer ajustes quando pressionado por crises. Cotrim, por sua vez, lembrou que o país tem evitado crises por conta de circunstâncias favoráveis em momentos agudos, mas que isso pode mudar rapidamente, levando a uma desacoragem maior da taxa de câmbio (como ocorreu em outros países emergentes na história recente).
Na política monetária, os convidados divergiram em relação ao início de um possível ciclo de cortes da taxa Selic. Monforte citou a melhora recente nos números de inflação e avaliou que, conforme revisões baixistas da inflação de curto prazo vão se consolidando, o cenário esperado é que as autoridades monetárias decidam por começar a reduzir os juros entre novembro e janeiro. Já Cotrim e Genta adotam uma postura mais cautelosa, citando um ambiente econômico de ainda muitos estímulos e uma percepção de que o fiscal deve seguir expandindo até meados de 2026. Nesse sentido, para Cotrim, um corte antes de março parece pouco provável, especialmente com o crescimento ainda forte. A principal incerteza para o momento do corte de juros é a política fiscal a partir de 2027.
Em termos de posicionamento, a visão é cautelosa e altamente condicionada ao fiscal, ao cenário externo e a evolução do desenho eleitoral do ano que vem. Cotrim indicou preferência por dólar no curto prazo e por ativos mais defensivos, como a parte curta da curva de juros. Monforte aposta em NTN-Bs e acredita que a bolsa pode ter um movimento positivo caso a percepção de reformas fiscais adiante ganhe força. O gestor sugere uma proteção no câmbio para essas posições. Já Genta segue comprado em juros americanos, enxergando um teto limitado para os ativos brasileiros enquanto o cenário externo continuar desafiador. Para todos, o Brasil possui potencial – mas, para voltar ao radar dos grandes fluxos globais, depende de ajustes mais significativos que reforcem a sustentabilidade das contas públicas.
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!
