1. Fiscal: Incertezas sob governo Trump – Onda vermelha reacende discussão sobre trajetória fiscal
2. Inflação nos EUA: Divulgação de novos dados – Mercado segue dividido quanto ao próximo corte na taxa de juros
3. Setor Financeiro: Por que as ações dispararam? – Vitória de Trump é associada a redução da regulação no setor
4. Petróleo: OPEP e Trump influenciam no preço da commodity – OPEP corta mais uma vez perspectivas de demanda de petróleo e Trump traz incertezas pro setor
5. Cripto: Por que os criptoativos dispararam? – Donald Trump tem postura mais favorável em relação ao tema
1. Fiscal: Incertezas para governo Trump
A reeleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos e a maioria Republicana nas duas casas do Congresso conquistadas na semana passada reacendeu discussão sobre a trajetória fiscal dos EUA nos próximos anos. O aumento da incerteza se dá uma vez que há pouca clareza sobre quais medidas serão adotadas pelo novo governo.
Uma semana após sua eleição, Trump já anunciou uma série de nomes para cargos em seu governo, incluindo Susie Williams, como chefe de Gabinete da Casa Branca; Elon Musk e Vivek Ramaswamy para o recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (cuja sigla, DOGE, é um trocadilho para a memecoin de mesmo nome); Marco Rubio como secretário de Estado; e Tom Homan como responsável pela fiscalização de fronteiras.
Na falta de sinalizações mais claras sobre os rumos da política fiscal, podemos apenas especular como será o segundo governo Trump com base nas nomeações, nas falas de líderes Congressistas e falas prévias de Trump. Compilamos aqui alguns dos principais pontos que podem emergir do lado das despesas e da arrecadação (em especial, tarifas), e estimativas do Committee for a Responsible Federal Budget (CRFB) realizadas antes das eleições para o período de 2026-2035.
Despesas:
- Otimização do gasto público: De acordo com Trump, a missão do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) será ajudar a “desmantelar a burocracia governamental, cortar regulamentações excessivas, cortar gastos desnecessários e reestruturar agências federais”. Elon Musk alegou acreditar que o orçamento federal americano pode ser reduzido em até US$ 2 trilhões com eliminação de ineficiências, enquanto o CRFB estima uma economia de cerca de US$ 300 bilhões em 10 anos (com eliminação do Departamento de Educação e redução de desperdício, fraude e abuso).
- Reversão de subsídios para energia e meio ambiente: Trump sinalizou que planeja rever uma série de subsídios e medidas de estímulos ligadas a temáticas ambientais, o que, segundo o CRFB, poderia gerar uma economia de cerca de US$ 700 bilhões em 10 anos.
- Redução de envio de auxílio para conflitos externos: Trumpdeclarou extensivamente ser contrário ao volume de gastos atuais do governo americano com conflitos externos e ao nível de gasto com a OTAN. Os EUA já enviaram cerca de US$ 113 bilhões em auxílio para a Ucrânia desde o início da guerra e tem um gasto anual de cerca de US$ 860 bilhões com a OTAN, financiando 15,6% do orçamento da organização.
Arrecadação:
- Tarifas: A promessa de imposição de tarifas sobre importações é possivelmente uma das pautas mais emblemáticas da campanha de reeleição de Trump, tendo como principal motivação a promoção da produção e economia doméstica. Tarifas seriam uma fonte de arrecadação para o governo, mas ainda é incerta qual será a abrangência das medidas, uma vez que ainda depende de articulações entre o executivo e o legislativo, e representam um grande potencial de risco inflacionário. O CRFB estima arrecadação de US$ 2,7 trilhões com tarifas em 10 anos;
- Redução ampla de impostos: Trumpdeveestender a validade do Tax Cuts and Jobs Act de 2017 (redução de US$ 5,35 trilhões na arrecadação em 10 anos de acordo com o CRFB), e declarou em campanha a intenção de reduzir ou isentar tributos sobre seguridade social, gorjetas, horas extras, indústria doméstica e pequenos negócios (redução de cerca de US$ 4 tri na arrecadação em 10 anos). Os Estados Unidos possuem o privilégio de serem emissores da moeda de reserva do mundo, o que faz com que uma deterioração no quadro fiscal por lá não pese de forma tão significativa sobre o comportamento dos mercados americanos quanto sobre países mais vulneráveis a fluxos cambiais. Nem por isso, este fator deva ser desprezado. O mercado fica em estado de alerta, aguardando sinais mais claros. Um passo em falso do governo pode ser pretexto para a volta dos bond vigilantes e colocar pressão sobre as taxas das treasuries.
2. Inflação nos EUA: Divulgação de dados de inflação
Nessa semana, a curva de juros americana abriu consideravelmente: a taxa da Treasury de 2 anos escalou 5 bps, fechando em 4,31%, enquanto a de 10 anos teve alta de 13 bps, alcançando 4,44%. O mercado segue dividido quanto às chances de um corte de 25 bps na taxa dos Fed Funds ou manutenção dos juros em dezembro.
Os principais destaques foram a divulgação de dados de inflação e falas de dirigentes de Federal Reserve. A inflação ao consumidor (CPI) veio em linha com as expectativas e acelerou de 2,4% em setembro para 2,6% em outubro no acumulado em 12 meses, enquanto o núcleo se manteve estável em 3,3%. Enquanto isso, a inflação ao produtor acelerou de 1,9% em setembro para 2,4% em outubro, ligeiramente acima do esperado (2,3%).
Após dados recentes de atividade mais forte nos EUA, a inflação ao consumidor dentro do esperado foi uma notícia positiva para os mercados, que temiam uma aceleração de maior magnitude. Ainda nesta semana, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, se pronunciou e adotou tom mais dovish, otimista com a trajetória dos indicadores econômicos, que considera consistentes com um reequilíbrio da economia americana.
Paralelamente, o dólar se fortaleceu. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar contra uma cesta de outras moedas, se valorizou +1,7% na semana. O movimento reflete o aumento dos juros longos ante taxa de juros terminal mais elevada com aumento de incertezas fiscais e possível reaceleração da inflação com expectativa de imposição de tarifas de importação nos EUA.
3. Setor Financeiro: Por que as ações dispararam?
As ações do setor financeiro destacam-se como uma das principais performances positivas dentre ações nos EUA desde a confirmação da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais. O XLF acumula ganhos de +7,8% desde o dia 05/11 (S&P 500 +1,6%) e mais de 10% desde o começo de outubro (S&P 500 +2,1%), quando as chances de Trump nos mercados de apostas ultrapassaram os 50% e sua probabilidade de vitória começou a se concretizar.
Mas por que o setor financeiro tende a outperformar durante o governo Trump? Destacamos os principais fatores:
- Menor exigência de capital regulatório: O mercado espera que as regras propostas pelo Basel III Endgame, que aumentariam consideravelmente as exigências de capital para os grandes bancos, sejam revistas pela nova administração. Resultado: Maior volume de empréstimos.
- Menor taxação: Com a maioria republicana no Congresso, aumentou a probabilidade de que as alíquotas de imposto reduzidas (de 39% para 21% em 2017) se mantenham ou mesmo sejam reduzidas ainda mais. Resultado: Mais lucro líquido para o acionista.
- Menor regulação: Os últimos anos foram bastante desafiadores para os bancos e outras empresas do setor, com maior regulação e intervenção nas práticas bancárias. Medidas como limites às taxas de cartão de crédito e contribuições mandatórias ao FDIC podem ser revistas durante a próxima administração. Resultado: Mais liberdade para as empresas do setor.
- Maior atividade de M&A: Com uma administração mais pró-business, é esperado um aumento substancial no número de fusões e aquisições, bem como um prazo mais curto nas aprovações das transações pelos órgãos governamentais. Isso impacta diretamente o setor financeiro de duas formas: 1) mais receita proveniente das áreas de Investment Banking; e 2) um maior prêmio de múltiplo dos bancos de pequeno e médio porte, em antecipação às movimentações dessa natureza dentro do próprio setor. Resultado: Mais receita e maior múltiplo no setor.
Ao longo da campanha, tanto Trump quanto diversos de seus aliados próximos (Elon Musk e Vivek Ramaswamy, notavelmente) reiteraram a vontade de diminuir o papel do Estado na economia, falando em cortes de até US$ 2 trilhões no orçamento. Com contribuições positivas para o PIB dos EUA desde o 3º trimestre de 2022, chegando a quase 1pp em alguns trimestres, essa redução teria impacto significativo na economia. Para mitigar os efeitos negativos dos cortes de gastos, a nova administração deve recorrer ao setor financeiro para impulsionar o crescimento econômico.
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4. Petróleo: OPEP e Trump influenciam no preço da commodity
Em uma semana marcada pelos impactos da eleição de Donald Trump, uma commodity se destacou pelo seu fraco desempenho: o petróleo. Os preços chegaram a bater a mínima das últimas duas semanas e encerraram a semana com queda de -5,6%.
O principal motivo para a queda foi a quarta revisão consecutiva para baixo das estimativas de demanda de petróleo global pela OPEP para os anos de 2024 e 2025. Impulso para isso foi o declínio nas importações na Índia e na China. A China apresentou 6ª queda consecutiva nas importações mensais da commodity e redução no consumo do diesel em meio à fraca atividade industrial.
O resultado das eleições americanas na semana passada também contribuiu para maior volatilidade no preço do petróleo durante a semana, uma vez que a retórica de Trump pode ter influências contraditórias sobre os preços.
Por um lado, Trump deve adotar posturas mais rígidas contra o Irã, por conta de seu programa nuclear, e Venezuela. A ampliação das sanções, mirando na atuação de intermediários, gera uma pressão altista sobre os preços.
Por outro lado, Donald Trump apoia políticas que poderiam gerar viés baixista nos preços, como:
- Aumento de produção interna: mesmo com a produção americana já estando em níveis recorde, o presidente eleito apoia a extração de petróleo e gás natural pelo processo de fracking, e retoma o slogan republicano da campanha de 2008 “Drill, baby, drill”;
- Paz no oriente médio: em seu último mandato, Trump apoiou a assinatura dos acordos de Abraão, acordos bilaterais assinados entre países árabes e Israel. Uma redução nas tensões regionais pode diminuir pressões sobre a produção de petróleo e levar à queda no preço da commodity.
Trump tem indicado que adotará energia barata como uma prioridade em seu mandato, o que também concorre para que esperemos que o petróleo permaneça mais baixo durante seu mandato. Uma consequência disso, é o impacto no setor de energia renovável.
Ao longo dos últimos trimestres, a demanda por energia elétrica aumentou consideravelmente nos Estados Unidos como consequência da eletrificação da economia e da criação de novos data centers para atender à temática de Inteligência Artificial. Novos projetos ligados a geração de energia limpa têm sido financiados por recursos governamentais como os destinados pelo Inflation Reduction Act. Num governo Trump, em que novos estímulos para o setor são improváveis, uma redução das tarifas de energia elétrica poderia ter um impacto consideravelmente negativo para o setor, especialmente novos projetos.
5. Cripto: Por que os criptoativos dispararam?
A eleição de Donald Trump trouxe uma onda de otimismo e impulsonou os preços das criptomoedas. O republicano tem adotado discurso favorável à temática e, desde que sua vitória foi anunciada, diversas criptomoedas apresentaram altas expressivas: o Bitcoin acumula alta de 29,1% desde 6 de novembro, Ethereum +29,0% e a contraditória Dogecoin acumula alta de +120,0% no mesmo período. A memecoin se beneficia não apenas devido às expectativas de desregulação e incentivo às criptos, mas também como reação à criação do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês).
Em abril desse ano aconteceu o “Bitcoin Halving”, que coincidentemente ocorre nos anos eleitorais. O evento gera uma redução na oferta e tende a provocar uma alta no preço do ativo. Nesse ano, também ocorreu outro grande acontecimento para o mundo cripto: a liberação dos ETFs de criptomoedas por parte da SEC (regulador do mercado americano), que gerou forte fluxo comprador.
Além de amplamente associado à desregulação do setor financeiro (ver item #3 deste Top 5), Donald Trump chegou a declarar durante a campanha que tem intenção em criar uma reserva estratégica de Bitcoins. A possibilidade levantou ânimos no mercado de criptomoedas, que passaram a esperar um grande fluxo comprador da parte do governo americano. Entretanto, a criação de uma reserva segue sendo um projeto ainda distante, e não necessariamente geraria grande fluxo comprador uma vez que o governo poderia recorrer a ativos apreendidos.
Ademais, ao longo de sua campanha, Donald Trump declarou que possui a intenção de substituir Gary Gensler, o atual presidente da SEC, de seu cargo “no dia um de seu governo”. Gensler é um dos integrantes da comissão de valores mobiliários americana (SEC) e constantemente se posicionou contra a incorporação de criptomoedas na economia.
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