Nesta terça-feira (16) tivemos o início do Funds Talks, evento promovido pela XP para falar sobre as tendências de investimentos em fundos listados e alternativos. O evento reuniu uma série de painéis em que gestores de recursos, lideranças do mercado e alocadores do segmento debatem as perspectivas de investimento considerando o cenário econômico, político e financeiro global. Confira a agenda completa aqui.
O primeiro dia foi focado em fundos alternativos e nossos especialistas acompanharam os painéis e preparam um resumo do que teve de mais relevante nessas conversas. Confira nos textos abaixo:
Juros altos e escassez de Capital: Oportunidades em Special Situations
Neste painel, os especialistas Mateus Tessler, da JIVE Capital, Filipe Mattos, da XP Asset e Felipe Manfredini, da XP, falaram sobre as oportunidades nas Special Situations em cenários de juros elevados. Special Situations são operações que buscam trazer liquidez pro mercado tradicional em momentos que empresas com dificuldades não conseguem acessar crédito da maneira tradicional. Uma empresa em recuperação judicial, por exemplo, pode ter bons ativos e uma estrutura organizada para discutir o crédito. Em cenários de juros elevados, poucas instituições cedem capital, então é possível conseguir uma taxa boa de retorno, criando um ambiente seguro em conjunto com outros credores.
Nesses casos é muito importante identificar o risco corporativo e o risco pessoal de quem está por trás do crédito da empresa. Encontrar ativos que estão “escondidos” em estruturas jurídicas complexas é um passo essencial para a análise de risco e precificação do crédito: encontrar o que está escondido.
O cenário macro importa muito: quando o momento está mais desafiador, com pouca liquidez, os ativos tendem a ficar mais escondidos. Por isso é tão importante identificar e precificar corretamente. Por isso costumamos ter maiores retornos em períodos de trocas de ciclos – de maior e menor liquidez na economia.
De forma diferente, o momento de liquidez temporária no mercado faz com que a gente procure ativos que tenham maturação curta ou muito longa – para aproveitar o ciclo atual de curto prazo, ou no longo prazo o ciclo já tenha mudado.
É importante entrar em situações em que a sua contraparte tenha maior interesse em encontrar a solução para o seu problema – é o caso de quando temos sócios co-solidários, que precisará arcar com um default, se necessário. No caso, você poderia executar o sócio na pessoa física; isso gera nela um interesse em resolver o seu problema.
Perspectivas para os Investimentos Alternativos no Brasil
Em conversa sobre o ecossistema dos investimentos alternativos no Brasil, Priscila Pereira Rodrigues (ABVCAP), Marina Procknor (Mattos Filho), Jorge Lange (XP Asset) e Clara Sodré (XP) abordaram as diferentes modalidades disponíveis, bem como as diferenças para os investimentos comuns.
Evolução do mercado nos últimos anos
Nos últimos anos, o mercado brasileiro de fundos alternativos tem apresentado um grande crescimento, impulsionado pela abertura desses fundos para investidores qualificados (não profissionais). Para Marina Procknor, sócia do escritório Mattos Filho, o mercado de asset management no início dos anos 2000 era muito restrito a produtos dos grandes cinco bancos do Brasil e enxerga a diversificação atual como um dos principais pontos positivos.
Priscila Rodrigues, presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital, completa esta visão de evolução do mercado e cita uma melhora expressiva da regulação para os fundos. “O mercado está propício para receber os investidores. Não é apenas melhor, é estado da arte. Não é muito mais seguro investir lá fora do que aqui [no Brasil]”.
Por que investir em fundos alternativos?
Procknor destaca que as evoluções regulatórias foram benéficas não apenas para a segurança dos investidores, mas também proporcionou uma maior liberdade de atuação para os gestores. “É uma oportunidade de colocar coisas mais divertidas no mercado”, comenta.
Jorge Lange, head de fundos de fundos alternativos da XP Asset, destaca que de 2010 para o hoje, o mercado de fundos alternativos saiu de 5% para 10% do market share total de fundos. Ele ainda reforça que dentro do private equity a proporção entre número de gestores e empresas é bem menor, quando comparado ao mundo de empresas listadas, o que maximiza as oportunidades de retorno. “Vale muito a pena gastar energia e tempo para ter acesso aos melhores gestores”, conclui.
Segmento Imobiliário e Infraestrutura: Uma avenida para o desenvolvimento
Neste debate, Rodrigo Abbud (VBI), Gustavo Ribas (NAVI), Túlio Machado (XP Asset) e Camila Pacheco (XP) falaram sobre ativos reais, também conhecidos como fundos imobiliários e de infraestrutura.
O Brasil, assim como outros países emergentes, historicamente é tido como um local de grandes riscos inflacionários, em virtude da instabilidade macroeconômica e política. Por conta disso, é muito comum que investidores busquem por ativos que ofereçam algo tipo de proteção contra a inflação.
Para os gestores, ativos imobiliários e de infraestrutura, oferecem uma proteção natural contra as flutuações inflacionárias, uma vez que o valor dos ativos e dos contratos de aluguel são ajustados por índices que também seguem a inflação. Para Rodrigo Abbud, gestor e sócio fundador da VBI Real Estate, “a simplicidade de entender e analisar o que está por trás [dos ativos imobiliários]” é um dos fatores mais atrativos desses fundos, pois permite que o investidor análise o ativo e adeque a alocação ao seu perfil, de acordo com o momento do mercado.
O gestor, que é focado em fundos de lajes corporativas, garante que o segredo para ter bons retornos é selecionar ativos com boa “localização, qualidade e governanças”, como, por exemplo, a região da Avenida Brigadeiro Faria Lima, na Zona Sul de São Paulo, uma vez que estes ativos são geridos pela dinâmica básica de oferta e demanda. “Ninguém fabrica prédio da noite para o dia, a oferta já sabemos antes e a demanda depende do cenário macro.”
Gustavo Ribas, gestor da Navi Capital, especializado em FIIs de imóveis residenciais de alta renda, explica que estes fundos também seguem a lógica da escassez, uma vez que bairros como Jardins e Vila Nova Conceição, também em São Paulo, possuem oferta limitada e grande demanda. Assim, são bons para quem almeja “proteção de capital e retornos no longo prazo”.
Em relação aos fundos de infraestrutura, Túlio Machado, head de investimentos em infraestrutura na XP Asset Management, reforça que o Brasil ainda carece de muitos investimentos no setor e que este é um bom momento para ter um ganho de capital com os fundos, uma vez que os contratos são de longíssimo prazo e possuem altas taxas de retorno.
Investindo com os próximos gigantes | Oportunidades nos Fundos de Private Equity
O Private Equity é um segmento que impulsiona empresas em momentos iniciais, bem antes de voos mais altos como o IPO. Durante este painel, os especialistas discutiram as oportunidades, os riscos e particularidades desse segmento que transforma pequenas empresas em gigantes.
Guilherme Molina, diretor de Private Equity da Patria Investimentos, começou falando sobre a importância de escolher setores mais resilientes, porque o que acontece nos negócios investidos estará menos relativo aos riscos de mercado, de cenário. Os desafios, portanto, são mais relacionados ao negócio em si.
Com esse comportamento, o gestor relatou que mesmo com um mercado desafiador, com muita volatilidade, os gestores se aproximam da operação das empresas. Assim, na maioria das investidas, conseguimos ver performances positivas.
Marco Franklin, diretor de PE da Vinci Partners, corroborou que o momento exige cautela adicional. “Empresas podem estar mais alavancadas, e o custo da dívida ficará em patamar elevado por mais tempo. Mas temos paciência para sair no momento certo das companhias. É um bom momento para estar capitalizado para estar em empresas, e menos para desinvestir”, disse o gestor.
Como escolher em qual empresa investir?
Até o momento do primeiro aperto de mão em seu novo sócio, há uma infinidade de coisas que você olha. A sociedade é um casamento de fato.
- Entender a dinâmica da indústria que a empresa está inserida; que tendências do setor vão impactar a empresa; o mercado é concentrado ou não?
- Nível da empresa: modelo de negócios; como ela faz receita; quais os produtos; gera caixa; tem dívida no balanço? Conseguimos identificar se há algum diferencial competitivo de longo prazo na empresa? Isso é o que permitirá a empresa sustentar um crescimento acima do mercado, mesmo em um cenário macro mais desafiador.
- Quem são as pessoas na liderança, há quanto tempo estão no negócio, qual o alinhamento com o acionista no longo prazo?
- Governança – quem é o sócio que você está potencialmente se juntando? É preciso haver um alinhamento de estratégia, de valores, de gestão. É uma diligência como uma via de mão dupla, pois o sócio também fará essa análise do fundo.
O acompanhamento tem que ser muito próximo da empresa, bem diferente de um fundo de ações. No PE as gestoras têm o benefício de estar dentro da empresa constantemente, e não acompanhando os reportes externos feitos pela empresa.).
Mesmo não estando dentro da diretoria da companhia, os gestores de PE tem influência sobre quem fará parte da governança da empresa. Já a decisão sobre o que será feito dentro da empresa caberá ao diretor(es).
Como lidar com os desafios?
Os gestores também relataram que a única certeza que se tem é que quando se investe em PE, as coisas não vão sair como se planejou de início. Mas isso não necessariamente é ruim, já que pode abrir oportunidades. O diferencial do bom gestor é criar valor no portfolio e saber diferenciar quando essas mudanças são estruturais ou conjunturais, comenta Fabio Kann, da XP Asset.
Marco Franklin também comentou que “cabe a nós [gestores] fazer ajustes de rota, e transformar esse desafio em uma oportunidade”. É importante saber se adaptar e corrigir a rota de modo a otimizar ainda mais as oportunidades – gerar liquidez na última etapa, e devolver o maior retorno possível aos cotistas. Porque imprevistos irão acontecer, independente de quão boa é a tese de investimentos inicial.
O importante é focar em transformar uma empresa média em uma gigante – aí será o ponto certo de desinvestir, independente do caminho.
O impacto do Venture Capital nas Startups com Alto Potencial de Crescimento
Apesar de não serem muito conhecidos no Brasil, os fundos de venture capital cumprem um importante papel de investimento e impulsionamento de novas empresas. No último painel do primeiro dia do evento “Funds Talks”, Romero Rodrigues, fundador da Buscapé e responsável por venture capital na XP Asset, convidou Daniel Alves, fundador da Arquiteto de Bolso, e Daniel Shiraishi, fundador da Finx, para comentar sobre o mercado de investimento em startups.
Sobre os negócios
A Arquiteto de Bolso é uma plataforma que conecta pessoas que querer fazer reformas com profissionais do ramo de arquitetura e design de interiores, assim como todo o ecossistema de casa e decoração. “O consumidor tem muitas dúvidas do que escolher, é um processo complexo. Nós trazemos segurança na tomada de decisão”, explica Alves, fundador da startup.
Já a Finx atua no ramo da saúde, com foco em oferecer um sistema de organização e agendamento de cirurgias e procedimentos de saúde para empresas dos setor. Atualmente, a startup conta com 20% do market share de agendamento de cirurgias e está em processos de negociação com o sistema público de saúde. Shiraishi destaca que o principal diferencial da empresa é promover maior eficiência através de um agendamento mais inteligente que utiliza melhor a infraestrutura já presente, sem aumento de custos. “Hoje, nós brigamos com o papel, e-mail e Whatsapp. Sistema ainda é muito arcaico”, explica o fundador.
Como funciona o processo de escolha das startups
Os modelos de negócio das suas startup presentes no evento são bem distintas, tanto em clientes, quanto em setor. Rodrigues explica que é necessário ser “agnóstico” na escolha dos setores, já que não é possível saber qual será o próximo setor que irá revolucionar o mercado.
Além disso, o gestor destaca que nos fundos de VC, é o ativo (empresa) que escolhe o gestor (investidor anjo), e não oposto. Por isso, parte fundamental do processo se dá em conhecer as pessoas envolvidas e o negócio como um todo. “Conhecer uma pessoa leva tempo. Leva de 6 a 12 meses para entender como o fundador pensa e como podemos ajudar. Falamos com 3 mil startups para investir de fato em 9”, conclui Romero Rodrigues.
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