Cenário econômico
A autora agradece as contribuições do time de Economia da XP
O mês de abril foi marcado por uma boa dose de volatilidade no mercado local, tendo como principal vetor de incertezas o impasse do Orçamento 2021. Após diversas discussões em torno da proposta enviada para sanção e do possível desenho final, chegou-se a um acordo para a sanção, em que a defasagem das despesas obrigatórias é coberta por vetos em emendas parlamentares e, principalmente, despesas discricionárias do Poder Executivo. Logo após a aprovação, a curva de juros fechou (expectativas de juros caíram), sinalizando que o acordo final foi melhor do que as alternativas possíveis. No entanto, ainda há sinais de que o Congresso pode reverter parte do ajuste proposto pelo governo.
Nos Estados Unidos, o índice de inflação ao consumidor (IPC) subiu 0,6% m/m (anterior 0,4%), levando o acumulado em doze meses para 2,6% (anterior 1,7%). O resultado surpreendeu o consenso de mercado para cima, porém, na visão do nosso time de Economia da XP, não deve implicar em uma mudança de estratégia por parte do FED, que mantém firme o discurso em favor da manutenção de território expansionista da política monetária. Isso colaborou com o alívio nas taxas dos títulos soberanos norte-americanos, refletindo positivamente sobre a curva aqui no mercado local.
No Brasil, a inflação medida pelo IPCA-15 subiu 0,60% em abril, um pouco abaixo das expectativas. Apesar disso, avaliamos que o balanço de riscos para inflação permanece assimétrico para cima, com as medidas de núcleo ainda pressionadas pela alta dos preços de commodities – que voltaram a acelerar em abril - e pela interrupção da algumas cadeias produtivas devido à pandemia. A valorização da taxa de câmbio, impulsionada pela aprovação do orçamento e pela melhora do ambiente global, não parece suficiente para compensar este viés de alta na inflação de curto prazo.
Em linha com este risco inflacionário e com o cenário fiscal ainda desafiador, o mercado espera que o Banco Central siga elevando a taxa Selic nos próximos meses. Parte dos agentes acredita que o Banco Central realize o ajuste completo nos juros ainda neste ano, ou seja, já leve a taxa de juros para seu patamar neutro, em torno de 6,5%. Este é, inclusive, o principal tema a acompanhar no comunicado da autoridade monetária após a reunião do Copom do dia 5 de maio, uma vez que o tom ditará as expectativas para a trajetória de juros ao longo do ano.
Deve-se acompanhar também os desdobramentos da CPI da covid-19, instalada pelo Senado Federal, com o senador Renan Calheiros na relatoria, apesar das tentativas do governo de impedir o movimento. A composição da CPI é desfavorável ao Palácio do Planalto. O tema pode acentuar a volatilidade dos mercados locais em maio.
Por fim, os dados de vacinação contra a covid-19 tem melhorado no Brasil, apesar de números ainda preocupantes de casos e óbitos. A aceleração da imunização e a reabertura gradual da economia são essenciais para a retomada do crescimento econômico e, para o 2º semestre, seguimos com uma visão mais construtiva.
Diante do cenário atual, esperamos Selic em 5,0% em 2021 e 6,5% em 2022 e IPCA de 4,9% em 2021 e de 3,5% em 2022.
Leia o relatório Brasil Macro Mensal: Riscos, ruídos e a aproximação do cenário adverso
Resumo de indicadores
Durante o mês de abril, houve fechamento na curva futura de juros no Brasil em relação ao mês anterior, nos prazos médios e longos. Isso significa que as expectativas para os juros no futuro caíram. A principal razão foi a redução de incertezas ao final do mês com a aprovação do Orçamento 2021, que vinha trazendo forte volatilidade. Com este fechamento de curva, os ativos de renda fixa tendem a se valorizar, uma vez que a relação entre juros e preço dos ativos é inversa.
Já as taxas mais curtas se elevaram, refletindo maiores apostas do mercado em elevações maiores na Selic ainda neste ano. O efeito, neste caso, é inverso: os ativos se desvalorizam, o que pode representar uma oportunidade de compra de determinados ativos. Para quem já possui ativos que apresentaram este comportamento, vale lembrar que isso é aplicável apenas para movimentação no título antes do vencimento.
No caso do juros real, o que pode ser observado na curva das NTN-Bs, houve aumento ajuste no prêmio de curto prazo, se adequando às expectativas de juros para este horizonte.
Apesar da resolução do impasse em torno do Orçamento, continuamos enxergando como principal vetor de risco no Brasil o risco fiscal, aliado ainda à evolução da vacinação no país.
Como agir
Acreditamos que a melhor forma de se proteger de riscos é através de uma carteira diversificada, o que inclui ativos de renda fixa. Renda fixa não se limita a ativos conservadores e/ou que acompanhem a taxa Selic. Sendo assim, há diversas opções de prazos, indexadores e emissores diferentes que permitem encontrar maiores rentabilidades.
Para o mês de maio, elevamos a posição em prefixados em quase todas as carteiras, mantivemos os percentuais de inflação, tendo os reduzido para os perfis mais agressivos em benefício a outras classes de ativos e rebalanceamos as posições pós-fixadas.
Veja aqui as recomendações de carteira por perfil.
Seleção de ativos de renda fixa
As rentabilidades abaixo são indicativas do dia 04/05/21 e podem sofrer variações ao longo do mês.
Para verificar disponibilidade e taxas, acesse a plataforma, disponível para compra das 10h às 15h, em dias úteis.
Invista de acordo com o seu perfil de investidor.
Pós-fixados
Classe representada por ativos atrelados à variação de um dia das taxas de juros básicas (Selic ou CDI). A remuneração acompanha, portanto, altas e baixas nas taxas de juros.
Nosso cenário base é de que a taxa Selic continue a ser elevada nas próximas reuniões do Copom, encerrando 2021 em 5,0% e 6,5% em 2022. Ou seja, os ativos pós-fixados devem se beneficiar das altas esperadas na taxa básica de juros.
Indicamos o Tesouro Selic para a reserva de emergência e/ou gestão de caixa.
Inflação
Aqui estão os ativos cujo valor a ser recebido no vencimento, ou nos pagamentos de juros, é predeterminado em forma de uma taxa de juros, mas também corrigido por um índice de inflação, normalmente o IPCA.
Como o valor a ser recebido no futuro é corrigido, o valor atual do produto flutua conforme mudam as expectativas de taxas de juros de hoje até o vencimento, mas menos do que um produto prefixado de mesmo prazo. Em caso de alta nas expectativas para os juros, os títulos se desvalorizam e vice-versa. Essa variação só é colocada em prática (valorização ou desvalorização) em caso de resgate antes do vencimento.
Em nosso cenário base, esperamos que a inflação feche o ano de 2021 em 4,9%. Enxergamos ser importante manter parcela de ativos atrelados à inflação para proteção contra seu efeito ao longo do tempo.
Apresentamos aqui ativos que acreditamos ter boa combinação entre qualidade de crédito e rentabilidade, buscando diversificação em relação setores de atuação e prazo de exposição ao investimento. Note que as taxas podem variar ao longo dos dias, sendo estas aqui apresentadas apenas uma referência.
Duration é o prazo médio ponderado dos recebimentos de fluxos referentes ao ativo. Quando o ativo paga juros e/ou amortização periodicamente (por exemplo, todo semestre), sua duration será mais curta do que o prazo. Caso não haja fluxos de pagamento durante a duração do ativo, a duration será igual ao prazo. Quando maior a duration, mais sensível a taxa do ativo será às movimentações do mercado (em caso de venda antes do vencimento).
Entenda tudo sobre crédito privado em nosso artigo Quem tem medo do crédito privado?
Prefixados
Ativos prefixados são aqueles sobre os quais conhecemos, desde o início, exatamente quanto será pago ao final do prazo de investimento (ou seja, no vencimento). Por ser uma taxa fixa, que não é atrelada a nenhum indexador, é benéfica em cenários de expectativa de baixa de juros. Além disso, estes ativos são recomendados para quem busca previsibilidade, independentemente da expectativa para os juros no futuro.
As taxas dos ativos do Tesouro Direto variam diariamente. Portanto, é necessário checar a taxa e valor unitário do título no momento da compra, o que pode ser feito através da conta na corretora.
Na categoria de prefixados, optamos por títulos mais curtos, diante do cenário econômico e político particularmente incertos para além de 2022. Títulos prefixados mais longos pagam juros ainda maiores, mas continuamos a enxergar que a incerteza do cenário parece não justificar o alongamento deste tipo de ativo neste momento.
Como a Selic hoje está em 2,75% (com alta chance de chegar a 3,5% na reunião do Copom do dia 5 de maio), para que o título seja menos vantajoso que uma aplicação pós-fixada (caixa), a taxa Selic precisaria superar cerca de 8,58% no final de 2022 (nosso cenário é de 6,5%), 9,25% ao final de 2023 e 9,39% ao final de 2024 (segundo expectativas do mercado no momento da publicação deste relatório).
Apesar dos desafios recentes, ainda nos parece um cenário pouco provável. Assim, ainda que estejamos errados e o Banco Central tenha que subir a Selic além do esperado, aos preços atuais o prefixado curto parece uma alternativa bem defendida, a depender da estratégia de cada investidor.
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