Cenário econômico
A autora agradece as contribuições do time de Economia da XP
Conforme publicado em relatório produzido pelo nosso time de Economia da XP, os números da economia estão melhores neste início do ano. Os dados de atividade continuam surpreendendo para cima, mesmo com a piora da pandemia. Nos últimos meses, o cenário para a inflação ficou mais desafiador, com intensificação do choque de custos (commodities, energia) e a retomada mais forte do que o esperado da demanda interna.
Um elemento importante foi a piora da situação hídrica. A energia elétrica deve ficar bem mais cara, e é um insumo importante de produção para praticamente todos os itens da cesta do IPCA. No dia 25, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), anunciou manutenção da bandeira tarifaria vermelha patamar 2 em julho, em razão da intensidade da estação seca nas principais bacias hidrográficas do Sistema Interligado Nacional (SIN), registrando condições hidrológicas desfavoráveis. De acordo com relatório, com anúncio do reajuste de 52% da taxa da bandeira vermelha 2, esperamos IPCA de 0,62% em julho (antes em 0,49%).
A ata do Copom, divulgada no dia 28 (um dia antes do anúncio de reajuste da bandeira vermelha 2), trouxe um endurecimento no tom do colegiado. Mudou o plano de vôo para um ajuste completo da política monetária, discutiu acelerar o passo de implementação e indicou, ao nosso ver, que pode ir além do neutro se o balanço de riscos seguir piorando. Enxergamos na postura do Copom uma mudança: deixou de tentar ancorar o mercado em seu plano de vôo, para indicar que fará o que for necessário para trazer a inflação para a meta.
O risco fiscal mais iminente recuou, ajudando no desempenho dos ativos brasileiros, inclusive a taxa de câmbio. No entanto, pode voltar mais à frente, se a proximidade do ciclo eleitoral elevar a pressão por gastos populistas ou acima do teto constitucional. Se isso acontecer junto com uma mudança na postura da política monetária nos países desenvolvidos, podemos assistir a volatilidade voltar aos mercados. Se este for o cenário, inflação mais alta não ajuda. Por isso, o BC deve continuar com sua postura dura adiante.
Diante do cenário atual, esperamos Selic em 6,75% em 2021 e em 2022 e IPCA de 6,4% em 2021 e de 3,6% em 2022.
Leia os relatórios Novas projeções de Câmbio (para baixo), Selic (para cima) e Inflação 22 (para baixo) e Brasil Macro Mensal: Risco Inflacionário persiste
Resumo de indicadores
Em relação ao último dia do mês de maio, a curva de juros fechou junho com elevação de expectativas em todos os vencimentos. Como mencionado na introdução deste relatório, foi um mês marcado pela reunião do Copom, além de ter ocorrido também a mais recente reunião do Fed (Banco Central norte-americano). Ambas trouxeram tom mais conservador das autoridades monetárias, aumentando as apostas do mercado em elevações maiores e mais rápidas dos juros.
O movimento foi intensificado com a esperada aceleração na inflação no país após o reajuste de mais de 50% na bandeira vermelha 2, que baliza as tarifas de energia elétrica no Brasil, em virtude da crise hídrica.
Na última semana do mês, as taxas de juros futuros apresentaram volatilidade com a divulgação de indicadores locais acima das estimativas do mercado e aumento da percepção de risco em razão de ruídos políticos (CPI da covid-19).
A curva dos títulos públicos indexados ao IPCA (NTN-Bs) apresentou abertura ao longo do mês, o que indica maior expectativa de juro real ao longo dos vencimentos e, portanto, redução de expectativa de inflação, principalmente em prazos mais longos. Isto aponta para expectativa do mercado de que a política monetária mais dura neste ano deve ser capaz de controlar a inflação nos próximos anos.
Como agir
Acreditamos que a melhor forma de se proteger de riscos é através de uma carteira diversificada, o que inclui ativos de renda fixa. Renda fixa não se limita a ativos conservadores e/ou que acompanhem a taxa Selic. Sendo assim, há diversas opções de prazos, indexadores e emissores diferentes que permitem encontrar maiores rentabilidades.
Para o mês de julho, realizamos mantivemos as indicações de alocação para todos os perfis e classes de ativos. Os três indexadores da renda fixa são indicados para quase todos os perfis de investidores, dado o cenário atual de expectativa de elevação de juros e inflação e nossa visão de que o mercado precifica hoje elevação de Selic mais forte do que o que esperamos.
*Em "Outros" estão todas as outras classes de ativos: ações, fundos de investimentos (ações, renda fixa e multimercados), FIIs, internacional, moedas etc.
Veja aqui as recomendações de carteira por perfil.
Seleção de ativos de renda fixa
As rentabilidades abaixo são indicativas do dia 04/07/21 e podem sofrer variações ao longo do mês.
Para verificar disponibilidade e taxas, acesse a plataforma, disponível para compra das 10h às 15h, em dias úteis.
Invista de acordo com o seu perfil de investidor.
Pós-fixados
Classe representada por ativos atrelados à variação de um dia das taxas de juros básicas (Selic ou CDI). A remuneração acompanha, portanto, altas e baixas nas taxas de juros.
Nosso cenário base é de que a taxa Selic continue a ser elevada nas próximas reuniões do Copom, encerrando 2021 e 2022 em 6,75%. Ou seja, os ativos pós-fixados devem se beneficiar das altas esperadas na taxa básica de juros.
Indicamos o Tesouro Selic para a reserva de emergência e/ou gestão de caixa.
Inflação
Aqui estão os ativos cujo valor a ser recebido no vencimento, ou nos pagamentos de juros, é predeterminado em forma de uma taxa de juros, mas também corrigido por um índice de inflação, normalmente o IPCA.
Como o valor a ser recebido no futuro é corrigido, o valor atual do produto flutua conforme mudam as expectativas de taxas de juros de hoje até o vencimento, mas menos do que um produto prefixado de mesmo prazo. Em caso de alta nas expectativas para os juros, os títulos se desvalorizam e vice-versa. Essa variação só é colocada em prática (valorização ou desvalorização) em caso de resgate antes do vencimento.
Em nosso cenário base, esperamos que a inflação feche o ano de 2021 em 6,4% e 2022 em 3,6%. Enxergamos ser importante manter parcela de ativos atrelados à inflação para proteção contra seu efeito ao longo do tempo, especialmente considerando a imprevisibilidade em relação à sua trajetória em prazos mais longos.
Apresentamos aqui ativos que acreditamos ter boa combinação entre qualidade de crédito e rentabilidade, buscando diversificação em relação setores de atuação e prazo de exposição ao investimento. Note que as taxas podem variar ao longo dos dias, sendo estas aqui apresentadas apenas uma referência.
Confira o risco e invista de acordo com o seu perfil de investidor.
Duration é o prazo médio ponderado dos recebimentos de fluxos referentes ao ativo. Quando o ativo paga juros e/ou amortização periodicamente (por exemplo, todo semestre), sua duration será mais curta do que o prazo. Caso não haja fluxos de pagamento durante a duração do ativo, a duration será igual ao prazo. Quando maior a duration, mais sensível a taxa do ativo será às movimentações do mercado (em caso de venda antes do vencimento).
Entenda tudo sobre crédito privado em nosso artigo Quem tem medo do crédito privado?
Prefixados
Ativos prefixados são aqueles sobre os quais conhecemos, desde o início, exatamente quanto será pago ao final do prazo de investimento (ou seja, no vencimento). Por ser uma taxa fixa, que não é atrelada a nenhum indexador, é benéfica em cenários de expectativa de baixa de juros. Além disso, estes ativos são recomendados para quem busca previsibilidade, independentemente da expectativa para os juros no futuro.
As taxas dos ativos do Tesouro Direto variam diariamente. Portanto, é necessário checar a taxa e valor unitário do título no momento da compra, o que pode ser feito através da conta na corretora.
Invista de acordo com o seu perfil de investidor.
Na categoria de prefixados, optamos por títulos mais curtos, diante do cenário econômico e político particularmente incertos para além de 2022. Sendo assim, buscamos títulos com vencimento não muito além deste horizonte. Títulos prefixados mais longos pagam juros ainda maiores, mas continuamos a enxergar que a incerteza do cenário parece não justificar o alongamento excessivo deste tipo de ativo neste momento.
Como a Selic hoje está em 4,25% (com alta chance de chegar a 5% na próxima reunião do Copom em agosto), para que o título seja menos vantajoso que uma aplicação pós-fixada conservadora, a taxa Selic precisaria superar cerca de 7,4% em 2021, 7,6% em 2022 (nosso cenário é de 6,75%), 9,2% em 2023 e 8,8% em 2024 (segundo expectativas do mercado no momento da publicação deste relatório).
Apesar dos desafios recentes, ainda nos parece um cenário pouco provável. Assim, ainda que estejamos errados e o Banco Central tenha que subir a Selic além do esperado, aos preços atuais o prefixado curto e médio parece uma alternativa bem defendida, a depender da estratégia de cada investidor.
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