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Sob o olhar da estratégia: Como a DeepSeek abalou o universo da Inteligência Artificial?

O que é DeepSeek e como abalou o universo da AI

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Nesta segunda-feira (27/01/2025), os mercados globais reagiram mal às notícias relacionadas aos avanços da startup chinesa DeepSeek no campo da inteligência artificial. O lançamento do seu mais novo modelo, o R1, na mesma semana que os EUA anunciaram o projeto Stargate foi simbólico. Sua performance, equivalente ou superior aos modelos de empresas norte-americanas, associada ao seu custo inferior lançou dúvidas sobre a hegemonia dos EUA na corrida pela liderança em Inteligência Artificial e abalou os mercados.
Os índices americanos, mais carregados de ações de tecnologia foram os que mais sofreram: S&P 500 (ETF SPY): -1,4%; Nasdaq 100 (ETF QQQ: -2,9%) ante questionamentos quanto ao potencial de demanda futura e o Capex previsto para empresas de AI.

O que é DeepSeek?

“DeepSeek” se tornou um dos termos mais comentados do mercado e da internet nesta segunda-feira (27/01/2025) após o lançamento do modelo de inteligência artificial da startup chinesa com desempenho similar ao do ChatGPT, da OpenAI, por uma fração do custo (de desenvolvimento e para o usuário) e é consideravelmente mais eficiente em termos operacionais.

A companhia é financiada unicamente pelo fundo de investimentos quantitativo High-Flyer, gerido por Liang Wenfeng e fundada em 2023. O grande diferencial do modelo R1, lançado em 20 de janeiro de 2025, é que ele foi criado em apenas dois meses com chips da Nvidia de gerações mais antigas (para evitar o efeito das restrições de exportações dos chips mais sofisticados impostas pelos EUA para a China), e utilizando um capex de menos de US$ 6 milhões.

O investimento modesto chama atenção, uma vez que contrasta com empresas americanas líderes de AI, como OpenAI e Meta, que preveem gastos bilionários no desenvolvimento de suas plataformas. No entanto, apesar do mercado ter penalizado as Big Techs americanas, o modelo da DeepSeek depende da continuidade do desenvolvimento dos LLMs (large language models) já conhecidos, como o ChatGPT, uma vez que apenas o torna mais eficiente e não substitui sua necessidade. Esse processo de derivar um modelo de outro já existente é conhecido como distillation.

A corrida por inovações em AI: Mercado e governo

Desde que o ChatGPT foi lançado, no final de 2022, os mercados e os governos têm se posicionado para esta nova onda de inovações, comparável a uma revolução industrial ou corrida espacial.

Em 2023, as bolsas globais vivenciaram a primeira fase do rali de inteligência artificial. À época, ainda não se sabiam quais seriam os próximos passos e não existia clareza sobre quais setores e empresas seriam os beneficiários da inovação tecnológica (muito como no início da internet). A primeira clara vencedora foi Nvidia, companhia de design de GPUs, chips cruciais para processamento de grande volume de dados. Logo, toda a cadeia de semicondutores foi impulsionada.

Em 2024, empresas da cadeia de chips seguiram com performance estelar, impulsionada por forte demanda. À medida que novos data centers iam sendo construídos, no entanto, o rali da inteligência artificial se espalhou para outros setores, como o de utilidades públicas. O mercado entendeu que esta tendência, que veio para ficar, demandaria aumento da produção de energia elétrica e infraestrutura própria.

As empresas de tecnologia e da cadeia de AI iniciam 2025 com múltiplos altos por elevada expectativa de geração de receita futura com a temática e a esperança de continuidade do crescimento acelerado observado nos últimos anos. Apesar das constantes dúvidas acerca da existência de uma bolha em Nvidia e outras empresas ligadas à cadeia da infraestrutura de AI, não vemos as características de bolha, uma vez que o preço das ações foi acompanhado de dramático crescimento da receita e dos lucros das companhias.

No entanto, a não existência de uma bolha também não é motivo para deixar de prosseguir com cautela. Em 2025, acreditamos que a demanda final e o potencial de gerar retornos positivos com o aumento de capacidade de computação e processamento de AI devem guiar a narrativa e as ações relacionadas ao tema nas bolsas.

Do ponto de vista do governo, a corrida por investimentos na cadeia de semicondutores começou antes da corrida por AI, porém as temáticas se misturam e começaram a caminhar juntas. Um dos pacotes fiscais mais relevantes do governo de Joe Biden, foi o Chips Act de 2022, que autorizou cerca de US$ 280 bilhões em investimentos para impulsionar a pesquisa e a fabricação de semicondutores nos Estados Unidos.

Mais recentemente, o recém-empossado presidente Donald Trump declarou apoio ao projeto Stargate, uma parceria entre OpenAI, SoftBank e Oracle que busca investir US$ 500 bilhões nos próximos quatro anos para construir até 20 data centers (o primeiro já em andamento, no Texas).

Para Sam Altman, CEO da OpenAI, o alcance do que ele chama de “era da superinteligência” depende de ter acesso a mais poder de computação, mas os dados de execução liberados pela DeepSeek parecem mostrar que não necessariamente é assim. A informação de que a companhia chinesa conseguiu desenvolver um modelo semelhando ao ChatGPT utilizando chips mais antigos e gastando apenas US$ 6 milhões (dado que foi prontamente questionado por Elon Musk), é um indicativo de que talvez não sejam necessários investimentos tão elevados em infraestrutura para obter resultados relevantes.

Onde Investir em 2025 banner

Assim como nos períodos de corrida armamentista e espacial, a corrida entre EUA e China por inteligência artificial acabou de ficar muito mais acirrada.

De onde vem o temor dos mercados e como isso impacta as perspectivas para AI?

Os elevados investimentos das empresas que hoje estão à frente do desenvolvimento de tecnologia e infraestrutura para inteligência artificial podem ser justificados pela expectativa de forte demanda futura. Efeito disso foi a expansão dos múltiplos do S&P 500, hoje muito mais elevados que no restante do mundo, como discutimos nas nossas perspectivas para 2025.

Embora nos últimos trimestres diversas empresas tenham sinalizado aumentos em seus guidances de capex para infraestrutura habilitada para inteligência artificial, como o anúncio de que a Microsoft espera gastar cerca de US$ 80 bilhões ao longo do ano fiscal de 2025, os retornos ainda não são completamente visíveis. Somada à desconfiança do mercado quanto à magnitude do capex, a informação de que a DeepSeek está conseguindo desenvolver um modelo similar às empresas americanas gastando uma fração de seu investimento acende um sinal de alerta quanto à eficiencia do atual modelo de investimento em AI.

Além disso, a DeepSeek anunciou, no início de janeiro, uma parceria com a AMD para utilizar seus GPUs na otimização dos modelos mais avançados, evidenciando como a empresa chinesa está apta para competir com eficiência e desafiar a lógica dos gastos altos desse mercado.

Apesar das dúvidas acerca da sustentabilidade do nível de crescimento atual, necessidade do capex elevado, questões geopolíticas e corrida tecnológica, ainda vemos o tema de inteligência artificial como importante motor de crescimento para os mercados nos próximos trimestres e anos.

Temos motivos para ficarmos otimistas. Como Satya Nadella, CEO da Microsoft, apontou em um recente post no X (antigo Twitter), podemos buscar entender a adoção de uma nova tecnologia como AI a partir do Paradoxo de Jevons, modelo originalmente criado para explicar a relação entre eficiência energética e consumo. Em essência, o paradoxo sugere que um aumento na eficiência de um recurso não necessariamente leva a uma redução no consumo total, mas pode, ao contrário, estimulá-lo.

Ademais, à medida que os modelos de AI ficam mais sofisticados e ganham novas aplicações, poderemos começar a ver ganhos de produtividade na economia. A magnitude do impacto, no entanto, é difícil de prever, considerando que não sabemos ainda qual a extensão das aplicações que serão possíveis em alguns anos ou décadas.

O grande avanço da informação divulgada pela DeepSeek está relacionado à possível migração do mercado para soluções mais acessíveis, o que pode prejudicar no curto e médio prazo a demanda esperada para chips mais sofisticados e sua cadeia, o que reduz o retorno esperado para empresas como a Nvidia. Porém, com a multiplicação de aplicativos e ferramentas baseados em AI, a necessidade de processamento de dados tende a aumentar exponencialmente.

E a China?

Os mercados chineses reagiram bem às notícias recentes: o índice de tecnologia chinês (KWEB: +0,9%) e o de grandes empresas chinesas (FXI: +0,9%) tiveram performance superior ao índice de bolsas globais (ACWI: -1,2%) e ao S&P 500 (SPY: -1,4%).

O sucesso da DeepSeek de desenvolver um modelo com custos baixos sugere que a China sido capaz de contornar as restrições impostas pelo governo americano e inovar em inteligência artificial. Isso vai em linha com os esforços recentes empreendidos pelo governo chinês em transferir o foco do crescimento econômico do país de infraestrutura para tecnologia.

No entanto, o avanço recente não deve ser visto como uma cartada de independência chinesa em relação aos LLMs americanos, considerando a própria natureza do modelo R1 da DeepSeek, que ainda depende integralmente das inovações produzidas por companhias americanas.

Mantemos uma perspectiva positiva para a China não apenas pelos avanços recentes da DeepSeek, mas também por conta do ambiente favorável para retomada do consumo e crescimento econômico, considerando extensas e continuadas medidas de estímulos governamentais, assim como melhoria no ambiente de negócios local.  

Hoje, a China gradua mais estudantes das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática todos os anos que o restante do mundo combinado. Com isso, o país também é capaz de competir no segmento de inteligência artificial com os EUA e, eventualmente, até superá-lo.

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