1. Economia Americana: Emprego surpreende, volatilidade nas treasuries – Dados mais fortes de emprego provocam disparada das taxas na sexta-feira
2. Banco Central Europeu: Início de ciclo de cortes e mensagem cautelosa – Mercado espera próximo corte em setembro
3. China: Guerra Comercial Parte 2? – Aumento de tensões e expectativa de guerra comercial impulsionam exportações
4. Eleições 2024: Votos têm consequências – México e Índia enfrentam volatilidade nos mercados após eleições presidenciais
5. AI e Semicondutores: Regra de 3 – Nvidia se torna segunda empresa mais valiosa do mundo, e ASML, a segunda empresa mais valiosa da Europa
1. Economia Americana: Emprego surpreende, volatilidade nas treasuries
A semana foi marcada por uma forte volatilidade nas taxas das treasuries longas, que iniciaram a semana em forte queda, refletindo dados que mostravam uma desaceleração da economia americana, mas reverteram parcialmente o movimento e voltaram a subir na sexta-feira, após dados de mercado de trabalho mais fortes que o esperado. A taxa de 10 anos encerrou a semana em 4,43% (contra 4,50% do fechamento da semana passada após ter atingido a mínima de 4,28%), a taxa de 30 anos encerrou a semana em 4,55% (contra 4,63% na semana anterior e mínima de 4,43%).
O nonfarm payroll, relatório mais importante do mercado de trabalho dos EUA, mostrou criação líquida de 272 mil vagas de emprego em maio, consideravelmente acima da expectativa de 180 mil. Por outro lado, números de março e abril foram revisados para baixo, compensando parte da surpresa positiva. O dado mais forte em maio reforça que o Federal Reserve não deve ter pressa para reduzir as taxas de juros. A taxa de desemprego aumentou de 3,9% para 4,0% e o salário médio por hora subiu de 3,92% para 4,08% na variação acumulada em 12 meses – acima do nível compatível com a inflação dentro da meta de 2%. Dados dos relatórios privados JOLTS e ADP, também divulgados nessa semana, trouxeram dados mais fracos que o payroll.
Na próxima semana, o FOMC, comitê de política monetária do Federal Reserve, se reunirá. O consenso de mercado aponta para 1,47 cortes de juros até o final do ano. O mercado segue esperando que o Fed inicie o corte de juros em setembro, porém, com apenas 50,3% de chances de ocorrer um corte até lá. Os próximos dados de atividade e inflação devem manter o mercado dividido entre um primeiro corte na taxa de juros em setembro ou dezembro, sendo provável que as expectativas permaneçam voláteis e sensíveis às próximas divulgações.
A XP acredita que o Fed reduzirá os juros pela primeira vez em dezembro. No entanto, considerando a situação atual da economia, o risco de um corte nos juros muito cedo supera o risco de um corte muito tarde, especialmente porque o primeiro poderia prejudicar a credibilidade do Fed para atingir a meta de 2%.
2. Banco Central Europeu: Início de ciclo de cortes e mensagem cautelosa
Nesta semana, o Banco Central Europeu (BCE) iniciou o ciclo de afrouxamento monetário da Zona do Euro, realizando seu primeiro corte de juros desde 2019. As taxas eram mantidas estáveis desde setembro de 2023. O BCE foi o quarto banco central desenvolvido a iniciar o ciclo de cortes, após o Riksbank (banco central sueco), SNB (banco central suíço) e BoC (banco central canadense).
A autoridade monetária da Zona do Euro cortou suas taxas básicas em 25 bps, conforme amplamente esperado pelo mercado. A decisão de iniciar o processo de normalização da política monetária da região foi possível devido à trajetória de convergência da inflação para meta e ao enfraquecimento da atividade econômica europeia.
Diferentemente dos Estados Unidos, a atividade econômica na Zona do Euro sofreu impactos negativos do crescimento de tensões geopolíticas, e o mercado de trabalho europeu se deteriorou.
Mesmo com o início do ciclo de cortes, o banco central alerta que a luta contra os preços elevados ainda não terminou, uma vez que as pressões inflacionárias permanecem fortes devido a salários. A presidente do BCE, Christine Lagarde, declarou que é provável que a inflação permaneça acima da meta até o próximo ano. A autoridade monetária sinalizou que irá se ater à evolução dos dados para tomar as próximas decisões, e apesar do corte, as taxas de juros permanecem em território restritivo.
O mercado agora espera que o próximo corte de juros ocorra em setembro, pulando a reunião de julho. Um novo corte dependerá da evolução da inflação, especialmente dos componentes de serviços, dos salários e da política monetária global, notadamente, das expectativas quanto a um corte de juros pelo Federal Reserve.
A sinalização de que o BCE não irá se apressar para realizar cortes de juros foi interpretada como mais dura, e impulsionou o Euro, taxas de juros locais e provocou uma reação negativa nas bolsas europeias. A XP espera um corte de 25 bps em setembro, e outro em dezembro de 2024.
3. China: Guerra Comercial Parte 2?
Nessa semana, o ETF representativo das grandes empresas chinesas, o FXI, registrou sua terceira queda semanal consecutiva, ao cair -0,5% após novas notícias negativas na frente geopolítica.
Novas notícias sugerem que a Europa e a China estejam mais perto de uma guerra comercial: autoridades da União Europeia teriam dito esta semana à indústria automotiva chinesa que pretendem impor tarifas sobre as importações de veículos eléctricos. Caso a medida se concretize, é quase certo que desencadeará uma retaliação da China. Autoridades chinesas visitaram Bruxelas nessa semana para argumentar contra a medida, e Pequim se comprometeu a fazer tudo o que for necessário para proteger os seus interesses nesse caso. As indústrias da aviação e da agricultura europeias seriam objeto de retaliação da China nesse primeiro momento.
Ainda nessa semana, dados de balança comercial superaram expectativas: exportações e importações cresceram 7,6% e 1,8% em maio, respectivamente. As exportações saltaram no ritmo mais acelerado em um ano, à medida que crescem os temores de tarifas mais pesadas e a uma guerra comercial aos moldes de 2019, envolvendo desta vez a Europa além dos EUA.
Como parte de uma estratégia de reposicionamento nas cadeias globais de valor, a China tem construído rapidamente novas fábricas e vem expandindo as existentes. O consumo doméstico não tem avançado de acordo com as expectativas devido à crise no setor imobiliário, que afetou profundamente o patrimônio das famílias e sua propensão a gastar.
Nesse sentido, as medidas de estímulo ao setor imobiliário anunciadas à cerca de um mês vêm dando resultados: Xangai e Shenzen, duas das maiores cidades da China registaram melhora no sentimento dos compradores de casas, após as medidas de relaxamento de requisitos mínimos para compra. Em Xangai, cerca de 90% das mais de 300 unidades oferecidas num novo projeto durante o fim de semana foram vendidas, e em Shenzhen, alguns desenvolvedores chegaram a rescindir ofertas de desconto após forte aumento de interesse dos compradores.
4. Eleições 2024: Votos têm consequências
2024 não é apenas mais um ano de eleições no mundo, mas sim o maior ano eleitoral da história. Com ao menos 64 países indo às urnas neste ano, praticamente metade da população mundial já foi ou irá, em algum momento até dezembro, ter novos (ou velhos) governantes eleitos.
Aqui neste relatório semanal já comentamos sobre Taiwan, já houve eleições na Rússia (por lá, as pesquisas costumam acertar!), entre outros. Temos, também, falado bastante sobre as eleições dos EUA, embora as vitórias avassaladoras de Trump e Biden nas primárias de seus respectivos partidos tenham esfriado um pouco as discussões. Ainda teremos, em 2024, eleições parlamentares que definirão o próximo primeiro ministro no Reino Unido e, quem sabe, na Venezuela.
Mas vamos ao grande tópico da semana: as eleições no México e na Índia. As pesquisas eleitorais nos dois países até acertaram os vencedores na corrida à presidência, mas falharam em predizer a composição legislativa dos partidos e geraram uma enorme volatilidade nos mercados locais, curiosamente, pelos motivos opostos.
No México, história foi feita ao eleger a primeira mulher como presidente do país: Claudia Sheinbaum. O resultado já era amplamente esperado, dado que as pesquisas indicavam uma vitória fácil da candidata do MORENA, mesmo partido do atual presidente, Andrés Manuel Lopez Obrador (ou AMLO, para os íntimos).
O que não se esperava, no entanto, era a magnitude da dominância da coalizão encabeçada pelo MORENA, a Sigamos Haciendo Historia, na esfera legislativa. Assegurando mais de 2/3 dos deputados e elegendo 83 dos 85 senadores necessários para a maioria qualificada no Senado, o bloco político poderá buscar as tão almejadas (e prometidas por AMLO, na campanha de 2018) reformas constitucionais. Vale lembrar que AMLO terá, ainda, um mês de presidência após empossado o novo legislativo e deverá usar esse período para emplacar algumas das promessas não cumpridas ao longo de seus 6 anos de governo.
Em consequência do inesperado resultado, o mercado reagiu negativamente e o índice de ações (MEXBOL) caiu cerca de 3%. Num movimento bem mais relevante, o peso mexicano desvalorizou 7%.
Já na Índia, país mais populoso do mundo, o partido do primeiro-ministro Narendra Modi, que busca um terceiro mandato, o BJP (Bharatiya Janata Party) até foi o primeiro colocado nas urnas, mas perdeu 63 cadeiras em relação à composição anterior e elegeu apenas 240 parlamentares, número bem distante dos 400 (de um total de 543) que as pesquisas indicavam. Modi anunciou que será o líder de uma coalizão de 15 partidos e iniciará um novo governo no próximo domingo, marcando um histórico terceiro mandato.
Os mercados na Índia tiveram uma semana volátil. O principal ETF das ações indianas chegou a subir 3,4% na segunda-feira, conforme pesquisas apontavam uma vitória fácil do BJP, mas desabaram cerca de 6% na terça, repercutindo a performance ruim do partido de Modi e as preocupações com a falta de continuidade das reformas e disciplina fiscal do primeiro-ministro. Com a formação da maioria, houve uma recuperação parcial do mercado que fechou em alta de 1,8%.
5. AI e Semicondutores: Regra de 3
Na semana em que a 3ª maior empresa do mundo, Nvidia, se tornou a 3ª empresa a ultrapassar a histórica marca dos US$ 3 trilhões de dólares em capitalização de mercado, escolhemos 3 empresas que foram destaque neste universo de A.I. e semicondutores na semana.
Em primeiro lugar, ela, a queridinha do mercado: Nvidia subiu 10,3% na semana e estendeu seu rally em 2024 para 144% e chegou a ultrapassar a barreira dos US$ 3 trilhões em capitalização de mercado. Em algum momento da semana também chegou a valer mais que a Apple e ficou apenas atrás da Microsoft, na vice-liderança das maiores empresas do planeta Terra. A performance positiva nesta semana marca a 7ª consecutiva de ganhos e foi impulsionada pelos comentários otimistas do CEO, Jensen Juang, na conferência Computex, em Taipei, ao longo da semana. Jensen foi tietado como superstar e distribuiu autógrafos pela feira (esta pobre moça esqueceu o papel, mas isso não foi problema para Jensen!).
Empresa número 2: ASML (faz parte da nossa lista Top Ações Internacionais). A fabricante holandesa das máquinas que fazem os chips semicondutores mais avançados do mundo era a 3ª empresa mais valiosa da Europa mas subiu 7,1% na semana e ultrapassou a francesa LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton e fica atrás, agora, apenas da dinamarquesa Novo Nordisk. A alta dos últimos dias nas ações da ASML reflete a notícia de que enviará suas máquinas mais avançadas, capazes de produzir numa distância 1,7x menor que a geração anterior, ainda neste ano para TSMC e Intel, antes do esperado.
E em terceiro lugar: HP Enterprises (ticker: HPE) não confundir com a HP Inc (ticker: HPQ). A HPE é focada em soluções corporativas (a outra, HPE, ficou com as impressoras e notebooks) e tem se beneficiado do recente boom da demanda por servidores, em especial os voltados para processamento de inteligência artificial. Após apresentar resultados acima das estimativas dos analistas e aumentar o guidance de receitas e lucros para o ano, a HPE subiu 13,5% na semana.
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