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Sinais heterogêneos na atividade no início do terceiro trimestre

A atividade econômica apresentou sinais mistos em julho, com nova alta de serviços e indústria e comércio mais fracos

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A atividade econômica apresentou sinais mistos em julho. Por um lado, o setor de serviços cresceu novamente acima do esperado e manteve o papel protagonista. Por outro, o comércio varejista e a indústria emitiram sinais mais fracos, refletindo, em certa medida, o efeito das condições financeiras mais apertadas.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) – proxy mensal do PIB – saltou 1,2% entre junho e julho, após ajuste sazonal. Em comparação a julho de 2021, o indicador registrou expansão de 3,9%. Reforçamos a necessidade de cautela adicional na avaliação deste tipo de resultado, principalmente na comparação com a dinâmica do PIB. Em nossa opinião, é preferível comparar as variações interanuais do IBC-Br trimestralizado com o PIB total.  

Nosso tracker para o PIB do 3º trimestre, elaborado a partir de indicadores de alta frequência, aponta para crescimento de 0,5% ante o 2º trimestre de 2022 (e alta de 3,5% versus o 3º trimestre de 2021). Reiteramos a projeção de que a economia brasileira crescerá 2,8% em 2022. Para detalhes, consultar o relatórioBrasil Macro Mensal: Projeções melhoram apesar de mundo incerto e eleições.

Mercado de Trabalho

O mercado de trabalho melhorou adicionalmente: a taxa de desemprego recuou de 9,3% no trimestre móvel encerrado em junho para 9,1% no trimestre móvel até julho, segundo dados da PNAD Contínua do IBGE. Considerando a estimativa mensalizada e dessazonalizada (método próprio), a taxa de desocupação chegou a 8,8% em julho, menor patamar desde meados de 2015 e cerca de 2,5% abaixo do nível pré-pandemia.

A população ocupada total cresceu 0,3% entre junho e julho (chegando a 99,1 milhões), o 16º aumento consecutivo na margem. Enquanto isso, a População Economicamente Ativa (PEA), que representa a força de trabalho, avançou 0,2% no mesmo período e totalizou 108,5 milhões. Com isso, a população ocupada e a força de trabalho situaram-se, em julho deste ano, cerca de 4,7% e 0,7% acima dos patamares registrados antes da eclosão da crise da Covid-19, respectivamente (fev/20 como referência).

As categorias de emprego informal expandiram 0,3% em julho. Estimamos que a população empregada sem carteira assinada totalizou 42,4 milhões, contra cerca de 40,7 milhões no início de 2020. Por sua vez, o nível de emprego formal cresceu 0,4% em julho, em linha com a desaceleração no ritmo de geração de vagas apresentado pelo CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério da Economia. Os empregos formais somaram 56,7 milhões no mês, incremento de 2,2 milhões em relação ao início de 2020.

Enquanto isso, o rendimento real médio subiu 1,0% em julho ante junho. Isto posto, o indicador ainda está rodando cerca de 6,0% abaixo dos níveis registrados antes da crise do coronavírus, como reflexo da inflação persistentemente alta e dos menores salários reais de admissão. Por sua vez, a massa de rendimento real – combina rendimento médio com população ocupada – cresceu 1,5% em julho. A variável situa-se cerca de 8,7% acima dos níveis observados antes da crise de saúde pública. Porém, reiteramos que o conceito de “massa de renda ampliada disponível” (mais abrangente do que o indicador de massa de renda do trabalho) subiu fortemente no período recente, dando fôlego de curto prazo para a atividade, em linha com as maiores transferências do novo programa social do governo (Auxílio-Brasil) e medidas de estímulo fiscal recentemente adotadas, tais como a liberação de saques extraordinários do FGTS e a antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS. Publicamos em agosto o relatório XP Macro Especial: Monitorando o ritmo de crescimento do consumo, no qual exploramos as tendências para renda e consumo.

Serviços

A receita real do setor de serviços cresceu 1,1% entre junho e julho, surpreendendo positivamente o mercado. Em relação a julho de 2021, houve avanço de 6,3%. Os resultados desagregados da Pesquisa Mensal do Serviços (PMS) exibiram sinais heterogêneos, já que três entre os cinco grupos pesquisados pelo IBGE avançaram na comparação mensal. Mais uma vez, os Serviços Prestados às Famílias foram o destaque positivo, com o quinto aumento consecutivo na margem - 10% de crescimento acumulado desde março.  

O índice geral do setor de serviços está quase 9% acima da marca pré-pandemia. Em nossa visão, o setor terciário continuará em trajetória altista até o final do ano, ainda que a um ritmo mais moderado em relação ao semestre passado, sustentado pela massa de renda real disponível às famílias em nível relativamente elevado no curto prazo devido à melhora no mercado de trabalho e estímulos fiscais adicionais.

Indústria

A produção industrial cresceu 0,6% entre junho e julho, a quinta elevação mensal desde janeiro de 2022. Desta maneira, o setor encontra-se 0,3% acima do nível de dezembro de 2021, porém ainda 0,8% abaixo do pré-pandemia. Em comparação a julho de 2021, o volume produzido na indústria caiu 0,5%.

Os resultados da atividade manufatureira em julho apresentaram sinais diversos entre as principais categorias. Do lado positivo, a produção de Bens Intermediários aumentou 2,2% na comparação mensal e compensou a contração acumulada de (também) 2,2% nas duas leituras mensais anteriores. A categoria está cerca de 2% acima do nível de produção observado ao final de 2021. Da mesma forma, a produção de Bens de Consumo Semi e Não Duráveis cresceu 1,6% em julho e mais do que compensou a queda de 0,9% observada em junho (como resultado, o grupo situa-se ao redor de 2,5% acima do patamar de dez/21).

Atribuímos às condições de crédito mais apertadas (arrefecimento da demanda) e custos de produção elevados os efeitos negativos sobre as categorias de Bens de Consumo Duráveis e Bens de Capital, que apresentaram desempenho bastante fraco em julho, permanecendo 7,5% e 5,0% abaixo do nível pré-coronavírus, respectivamente. Estes resultados corroboram a avaliação que que os investimentos perderão força no curto prazo, após recuperação relevante no segundo trimestre.

Esperamos que a indústria brasileira cresça moderadamente ao longo do segundo semestre de 2022, na esteira do aumento do consumo das famílias (puxado pela recuperação do mercado de trabalho + estímulos fiscais) e redução dos problemas nas cadeias globais de matérias-primas.

Comércio Varejista

As vendas no comércio varejista ampliado (incluem automóveis e materiais de construção) caíram 0,7% entre junho e julho, e 6,8% na comparação entre jul/22 e jul/21. Enquanto isso, as vendas no varejo restrito (excluem automóveis e materiais de construção) tiveram queda de 0,8% na margem e 5,2% em relação ao mesmo mês do ano passado. O varejo restrito situa-se 0,5% acima do nível pré-pandemia, enquanto o varejo ampliado está 3,8% abaixo.

As quedas nas vendas varejistas foram disseminadas: nove entre as dez categorias pesquisadas pelo IBGE registraram variação negativa em julho, à exceção de Combustíveis e Lubrificantes, categoria que se beneficiou das medidas de redução de tributos aprovadas no final do primeiro semestre. As demais vendas no mês foram consideravelmente mais fracas, com desempenho particularmente pior dos segmentos ligados à dinâmica crédito em comparação aos mais sensíveis à renda, refletindo o aperto das condições monetárias e o elevado grau de endividamento das famílias.

Esperamos que a demanda pelos bens mais sensíveis ao crédito permaneça em tendência de queda. Ainda assim, continuamos a acreditar que a recuperação do mercado de trabalho, em conjunto com estímulos fiscais adicionais de curto prazo, suavizará o arrefecimento do comércio varejista ao fornecer sustentação à demanda pelos bens mais sensíveis à renda. De acordo com as nossas estimativas, a massa de renda real disponível às famílias deve crescer cerca de 6% em 2022. Com isso, antecipamos certa estagnação para o varejo total nos próximos meses, com sinais mistos entre as categorias.

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