Resumo
No Brasil, o IPCA de março veio abaixo do esperado e com abertura benigna, atingindo patamar próximo ao topo da meta no acumulado em 12 meses. Nos dados de atividade, tivemos leituras mistas: enquanto o comércio varejista cresceu fortemente em janeiro, serviços mostraram queda maior do que a prevista.
No cenário internacional, destaque para a divulgação da inflação ao consumidor dos EUA (CPI, sigla em inglês) também referente a março. O índice geral veio levemente abaixo do esperado, mas com medidas de núcleo – excluem itens voláteis, como energia e alimentos – reacelerando na comparação anual. A ata do comitê de política monetária do Fed (Federal Reserve) também chamou a atenção, ao revelar a cautela dos diretores da instituição quanto ao setor de crédito local após os choques adversos ocorridos no mês passado. Na Europa, os últimos números de atividade mostraram sinais mistos, com varejo ainda em território negativo e a indústria resiliente. Na China, a reabertura da economia impulsiona a balança comercial, algo positivo ao Brasil. Enquanto isso, a inflação chinesa permanece controlada.
É importante destacar também a apreciação do real frente ao dólar na semana – de R$ US$ 5,06 na semana passada a quase R$/US$ 4,90 – em parte pelo IPCA melhor que o esperado, mas principalmente por otimismo quanto ao arcabouço fiscal e declarações de apoio, por parte de Lula, ao trabalho de Fernando Haddad como ministro da Fazenda. Além disso, a curva de juros cedeu 0,30 p.p na parte longa; agora, a expectativa de Selic para o fim de 2024 está em 10,75%, ante 11,00% na semana passada. Por fim, esse otimismo se refletiu também na bolsa, com o Ibovespa subindo quase 5% na semana.
Cenário internacional
Inflação nos EUA em linha com o esperado
Nos Estados Unidos, o índice de inflação ao consumidor (CPI, sigla em inglês) de março, divulgado na quarta-feira, registrou aumento de 0,1% ante fevereiro, abaixo das expectativas (consenso: 0,2%; XP: 0,17%). Já a medida de núcleo da inflação (que exclui itens mais voláteis, como alimentos e energia) subiu 0,38% na comparação mensal (consenso: 0,4%; XP: 0,32%). Em relação à média móvel de três meses dessazonalizada e anualizada, medida importante para capturar tendências de curto prazo, o índice de inflação geral cedeu de 4,15% para 3,82%, enquanto o núcleo caiu ligeiramente de 5,17% para 5,11%. Daqui para frente, acreditamos que o processo de desinflação avançará significativamente devido ao efeito-base favorável e condições financeiras mais restritivas; nesse sentido, projetamos inflação americana de 2,8% no final de 2023. A persistência da inflação elevada e o mercado de trabalho ainda apertado, combinados com a diminuição das preocupações com a estabilidade do sistema bancário, podem atrasar o fim do ciclo de aperto monetário do Fed.
Ata de política monetária nos EUA mostra consenso em relação à alta de 0,25pp na taxa básica de juros
A ata da última reunião de política monetária dos EUA revelou que todos os membros apoiaram o aumento de 0,25pp na taxa básica de juros em março, apesar das turbulências no setor bancário. Ainda assim, parte dos diretores do Fed veem as taxas atingindo o pico mais cedo e avaliam uma pausa no ciclo na próxima reunião, a ser realizada em maio. Além disso, alguns membros destacaram a influência das questões bancárias nas condições de crédito e no futuro da política monetária. De alta relevância, isso substituiu o comentário anterior de que “aumentos contínuos para os juros de referência seriam apropriados” e que “algum aperto adicional da política pode ser adequado”, o que sugere que o Fed está próximo ao fim do ciclo de aperto monetário. Considerando também a estabilização do sistema bancário e os dados econômicos recentes, reforçamos nosso cenário base de elevação final da taxa de juros americana em maio (em 0,25pp, chegando a 5,25%). Prevemos que os juros de referências ficarão estáveis até o final de 2023, o que seria suficientemente restritivo para restaurar a estabilidade de preços no médio prazo. Vemos espaço para o início de um ciclo gradual de flexibilização no 1º trimestre de 2024, em meio a avanços consideráveis no processo de desinflação e desaceleração acentuada da atividade.
Dados de atividade na Europa trazem sinais mistos
Na Europa, as vendas varejistas contraíram 0,8% em março ante fevereiro, condizente com uma retração de 3,0% frente ao mesmo período de 2022 (consenso: -0,8%; -3,5%). A variação interanual da atividade varejista está em território negativo há nove meses, refletindo a inflação persistente e as condições financeiras mais apertadas por conta dos juros em alta.
Por outro lado, a produção industrial cresceu 1,5% em fevereiro em comparação a janeiro, acima da mediana de projeções do mercado (1,0%). Esse desempenho sugere resiliência da atividade manufatureira na região, apesar da política monetária restritiva e da crise energética no ano passado.
Com inflação pressionada e atividade econômica firme, acreditamos que o Banco Central Europeu (BCE) continuará a aumentar suas taxas de juros de referência nos próximos meses.
Inflação na China abre espaço para estímulos na atividade local
Na China, o índice de preços ao consumidor recuou 0,3% em março comparado a fevereiro, levando a uma inflação de apenas 0,7% no acumulado em 12 meses (de 1,0% na leitura anterior). Esses números ficaram abaixo das expectativas do mercado (consenso: 0,0% na base mensal; 1,0% em 12 meses). Além disso, o índice de preços ao produtor permaneceu em território negativo (-2,5% em termos anuais), conforme esperado. Pelo fato de a inflação não ser um empecilho, há espaço para estímulos adicionais na economia chinesa – via gastos e/ou redução de juros – e, desta forma, o cumprimento da meta de crescimento econômico em 2023 (5,0%).
Balança comercial chinesa reflete reabertura da economia
Ainda na China, os dados de comércio exterior de março são consistentes a reabertura da economia. As exportações aumentaram quase 15% frente ao mesmo mês de 2022, primeira taxa de variação positiva em seis meses. Este resultado refletiu, em grande medida, as maiores vendas de veículos elétricos e componentes, além da intensificação comercial com a Rússia. As importações também superaram as previsões e caíram apenas 1,4% em termos interanuais (consenso: -5.0%).
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Enquanto isso, no Brasil...
Inflação de março vem abaixo do esperado, com abertura animadora
Divulgado na terça-feira, o IPCA de março avançou 0,71% contra fevereiro, abaixo das expectativas da XP e do consenso, ambos em 0,77%. No acumulado em 12 meses, o índice de inflação recuou de 5,60% para 4,65%, o menor patamar desde janeiro de 2021. Os principais desvios altistas em relação à nossa projeção vieram de ‘Frutas’, ‘Comunicação’ e ‘Energia elétrica residencial’. Por outro lado, as principais surpresas de baixa vieram de ‘Higiene pessoal’, ‘Veículo próprio’ e ‘Carnes’.
Não apenas o índice geral trouxe uma surpresa benigna, como a abertura também foi animadora. A média dos núcleos de inflação registrou alta mensal de 0,36%, abaixo da nossa projeção de 0,44%. Com isso, sua taxa anualizada da média móvel de 3 meses com ajuste sazonal – importante para medir a tendência de curto prazo – cedeu de 6,45% para 5,96%. Da mesma forma, a medida de ‘serviços subjacentes’ – mais sensíveis à política econômica – avançou 0,35% em março contra fevereiro, ligeiramente aquém da nossa projeção de 0,38%. A taxa anualizada e dessazonalizada ficou estável em 4,98%. Para mais informações e análises sobre o IPCA de março, confira o relatório completo aqui.
Vendas no varejo crescem fortemente em janeiro, mas é necessário cautela
No Brasil, as vendas no varejo brasileiro cresceram em janeiro comparado a dezembro, praticamente em linha com as expectativas. O varejo restrito – no qual são excluídos veículos, materiais de construção e atacado de alimentos, bebidas e fumo – subiu 3,8% na comparação mensal (XP: 3,5%; Consenso: 3,4%), compensando as quedas acentuadas nos últimos dois meses de 2022. Por sua vez, o índice do varejo ampliado avançou 0,2% em janeiro frente a dezembro (XP: 0,9%; Consenso: 0,6%), a segunda alta (tímida) consecutiva. Todavia, como temos argumentado, os resultados dessazonalizados das vendas no varejo devem ser vistos com cautela. Algumas atividades do varejo foram fortemente afetadas pela Copa do Mundo e pela ação promocional Black Friday no final do ano passado. Para suavizar os movimentos acentuados na margem, preferimos observar o trimestre móvel das vendas no varejo: nesta métrica, as vendas no varejo ampliado avançaram apenas 0,2% em janeiro, enquanto o índice restrito registrou queda de 0,8%. Segundo os nossos cálculos, a massa de renda real disponível às famílias crescerá 3,5% em 2023, sustentando atividades varejistas de supermercados, alimentos, bebidas, produtos farmacêuticos e higiene pessoal. Por outro lado, os segmentos mais sensíveis ao crédito provavelmente enfrentarão um ano desafiador. Condições de crédito ainda mais apertadas e o elevado endividamento das famílias devem pesar sobre segmentos de veículos, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e materiais de construção ao longo dos próximos meses. Projetamos que as vendas totais do varejo crescerão em torno de 1,5% este ano.
Setor de serviços fica estagnado no curto prazo
As receitas reais do setor de serviços despencaram 3,1% em janeiro após saltarem 2,9% em dezembro, o que surpreendeu negativamente (consenso de mercado e XP esperavam retração de 1,4% no primeiro mês deste ano). Assim como no caso da Pesquisa Mensal do Comércio, os resultados dessazonalizados mais recentes devem ser interpretados com cautela. Com base na média móvel de 3 meses - preferível devido aos movimentos fortes na margem -, as receitas de serviços ficaram praticamente estáveis em janeiro (-0,1%). Este resultado reforça nossa visão de arrefecimento das receitas de serviços no curto prazo.
Continuamos a projetar desaceleração na maioria dos segmentos de serviços em 2023, na esteira da dissipação do ‘impulso pós-Covid’, enfraquecimento do mercado de trabalho e menor demanda da indústria de transformação. Em nossa opinião, trata-se de uma perda de ritmo “dentro do roteiro”. Prevemos que a receita real do setor terciário subirá 2,5% no ano. Nossa projeção para o crescimento do PIB em 2023 permanece em 1%.
O que esperar da semana que vem
No Brasil, a agenda de indicadores está relativamente esvaziada. No campo da atividade econômica, os agentes de mercado irão acompanhar o IBC-Br (proxy mensal do PIB calculada pelo Banco Central) de janeiro e a PIM (Pesquisa Industrial Mensal) de fevereiro. Em relação à inflação, a FGV divulgará o IGP-10 de abril.
No resto do mundo, destaque para a divulgação de diversos indicadores de atividade na China, inclusive o PIB. Na zona do euro, os dados de inflação ao consumidor de março serão importantes para a definição dos próximos passos do BCE. Por fim, nos EUA serão publicados alguns resultados do setor imobiliário e o chamado “Livro Bege” do Fed, relatório periódico que traz avaliações qualitativas sobre as condições econômicas correntes. Clique aqui para receber por e-mail os conteúdos de economia da XP
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