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Alívio temporário no comércio varejista

As vendas varejistas cresceram acima das expectativas em fevereiro. No entanto, este resultado deve ser interpretado com cautela, pois representou uma compensação apenas parcial das perdas registradas nos meses anteriores.

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Segundo dados publicados pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC/IBGE), as vendas no varejo ampliado cresceram 4,1% entre fevereiro e março, muito acima da nossa expectativa (2,1%) e do consenso de mercado (1,7%). Este resultado ocorreu após duas quedas expressivas na comparação mensal (-3,1% em dezembro e -2,2% em janeiro). A diferença entre nossa projeção e o resultado observado pode ser explicado, em grande medida, pelo desempenho mais forte que o esperado das vendas de veículos (alta de 8,8% em relação a janeiro).

Por sua vez, o comércio restrito - exclui veículos, motocicletas, autopeças e materiais de construção – exibiu elevação de 0,6% em fevereiro, um pouco abaixo das expectativas (ao redor de 1,0%). Este resultado interrompeu uma sequência de três variações negativas consecutivas, que levaram as vendas do varejo restrito a despencar 6,3% entre novembro e janeiro.  
 
Em relação à abertura setorial, seis dos dez segmentos varejistas da PMC exibiram crescimento entre janeiro e fevereiro; além de “veículos, motocicletas, partes e peças” (8,8%), destacamos a expansão vista em “móveis e eletrodomésticos” (9,3%) e “tecidos, vestuário e calçados” (7,8%). No entanto, vale ressaltar que todos esses segmentos tinham registrado resultados muito fracos nos dois meses anteriores. Logo, os números de fevereiro devem ser lidos com cautela (a nosso ver, como uma compensação parcial das perdas recentes).

Por outro lado, metade das categorias do varejo doméstico (5 entre 10) apresentam volume de vendas acima dos níveis pré-pandemia (fev/20). Neste quesito, chamam a atenção os seguintes segmentos: “materiais de construção” (20% acima do patamar pré-crise); “artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, cosméticos e perfumaria” (16% acima); e “outros artigos de uso pessoal e doméstico” (6,5% acima).

O rebote das vendas varejistas em fevereiro reforça nossa estimativa de que o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central, que serve como uma proxy mensal para o PIB) cresceu no período - estimamos aumento de 0,7% em relação a janeiro (-1,0% ante fev/20). O IBC-Br de fevereiro será divulgado na próxima semana.

É importante lembrar que a forte recuperação do comércio ao longo do 2º semestre de 2020 ocorreu, em grande parte, devido às medidas governamentais de transferência de renda (sobretudo via auxílio emergencial) relacionadas ao enfrentamento da pandemia, o que foi potencializado pelo deslocamento da demanda de serviços para o consumo de bens decorrente das medidas de distanciamento social.

Contudo, os principais determinantes do consumo privado vêm arrefecendo desde o final do ano passado. Inflação mais alta, fim das transferências de renda do governo e mercado de trabalho ainda fraco estão entre os motivos desta desaceleração, em nossa opinião. Além disso, o agravamento da pandemia desde meados de fevereiro (e, consequentemente, restrições de mobilidade mais rígidas) e o aperto das condições monetárias devem intensificar a tendência cadente da demanda das famílias no curto prazo, conforme já refletido nas publicações mais recentes de índices de confiança do consumidor.

Por exemplo, estimamos que as vendas do varejo ampliado contraíram 10,2% na comparação entre março e fevereiro. Além de variáveis explicativas usuais como confiança do consumidor, vendas de veículos e vendas de supermercados, nossa estimativa também leva em consideração indicadores de maior frequência, tais como transações com cartão de crédito e consumo de energia elétrica no setor varejista. Se nossa estimativa estiver correta, as vendas do comércio ampliado irão registrar retração ao redor 5,0% no 1º trimestre de 2021 em comparação ao 4º trimestre de 2020 (alta de 0,6% ante o 1º trimestre de 2020). Cabe salientar que os fracos resultados registrados no 4º trimestre de 2020 deixaram um carrego estatístico muito desfavorável para o desempenho do varejo no 1º trimestre de 2021 (de -2,0%).  

Olhando mais à frente, acreditamos em retomada do comércio varejista a partir de maio (e aceleração do ritmo de crescimento no 2º semestre), em linha com avanços na campanha de imunização contra a Covid-19 e normalização das atividades produtivas. Para 2021 como um todo, projetamos expansão de 4,5% para as vendas reais do varejo ampliado, após recuo de 1,4% em 2020.

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