XP Expert

Uma nova crise financeira nos EUA? O que está acontecendo com os bancos americanos

O que está acontecendo com os bancos americanos? Podemos ver uma nova crise financeira, nos moldes que vimos em 2008? Exploramos esse assunto e como se posicionar no momento atual.

Compartilhar:

  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no X
  • Compartilhar no Whatsapp
  • Compartilhar no LinkedIn
  • Compartilhar via E-mail

Lembro como se fosse ontem aquela data. Naquela época, eu trabalhava em um banco americano, e estava acompanhando de perto o que acontecia nos EUA. Naquele sábado, uma reunião de emergência foi convocada no Federal Reserve de NY, com os CEOs de todos os maiores bancos americanos. Eu estava trabalhando naquele fim de semana, com um olho nos meus relatórios de análise, e outro no noticiário. A data era 13 de setembro de 2008.

A reunião fora chamada para discutir uma solução de emergência para a Lehman Brothers, que, se não fosse vendida para algum outro banco, teria que pedir concordata na segunda-feira. O banco que eu trabalhava estava entre uns dos que poderiam ser o próximo na lista, de acordo com as notícias. Não foi um fim de semana fácil, como se pode imaginar. A Lehman Brothers acabou pedindo falência, causando uma crise sistêmica de enormes proporções.

Os acontecimentos das últimas 48 horas levaram a comparações óbvias com aquela data. Afinal, dois bancos americanos foram fechados e tomado pelos reguladores em apenas 2 dias – na sexta feira, foi o Silicon Valley Bank, e no domingo, foi a vez do Signature Bank de NY. Nessa manhã de segunda feira, bancos europeus abriram em queda, e outros bancos regionais americanos também estão sofrendo no pre-market.

As comparações com 2008 são naturais, mas as similaridades, por enquanto, param por aí. Vamos olhar porque a situação atual parece diferente do que foi naquele momento. Porém, manter uma alocação defensiva nas carteiras segue sendo adequado para o momento, dado que o sentimento de aversão a risco deve continuar.

O que aconteceu com o Silicon Valley Bank e o Signature Bank?

Vamos começar pelo Silicon Valley Bank (SVB). Como o próprio nome diz, esse era o banco preferido do mundo das startups e das empresas de tecnologia. Com mais de US$200 bilhões em depósitos, o SVB cresceu rapidamente a sua base de clientes e seus depósitos nos últimos anos, em conjunto com as captações das empresas do setor e dos fundos de Venture Capital.

Como resultado, o banco se viu obrigado a comprar grandes quantidades de títulos do governo (bonds) e títulos privados e de hipotecas (MBS) para compor a sua base regulatória de ativos líquidos. Porém, dado o baixo nível de juros nos EUA, a gestão do banco optou por comprar títulos de vencimento de longo prazo, que tinham um rendimento maior.

Grande parte desses ativos estavam contabilizados como “Held to maturity” (Mantidos até o Vencimento). Dessa forma, esses títulos são marcados pelo preço de aquisição, não pelo preço de mercado, evitando assim variações de preços constantes no balanço dos bancos a cada trimestre.

Com a forte alta de juros nos EUA, o banco observou uma forte queda no valor nesses títulos, mas que não estava aparecendo nos resultados ou no seu balanço. Recentemente, com o aumento dos questionamentos a respeito da sua saúde financeira e uma corrida por saques por muitos clientes, o banco se viu obrigado a vender parte dessa carteira para recompor seu capital, com um grande desconto ao valor que estava marcado em seu balanço. O que se viu em seguida foi um clássico exemplo de uma corrida bancária, quando os clientes correram para sacar os seus depósitos o mais rápido possível. Essa corrida foi acelerada pelo mundo digital, onde as transações são feitas via um celular ou computador, sem a necessidade de o cliente ir até a agência.

Essa corrida ao SVB forçou o FDIC (Fundo Garantidor americano) a assumir o controle do banco na sexta-feira. O problema é que o FDIC garante depósitos até US$250 mil, e mais de 90% dos depósitos no SVB eram acima desse valor. O SVB estava entre os 20 maiores bancos americanos. Porém, seus ativos representavam menos de 1% do total do sistema financeiro americano.

O temor e pânico no ecossistema de tech se instalou nos últimos dias, com as empresas em dúvida se conseguiriam pagar seus funcionários e seguir suas operações, caso não conseguissem acessar os seus depósitos.

Durante a tarde de domingo, um novo anúncio foi feito nos EUA. Dessa vez, o Signature Bank de NY também foi fechado e tomado pelos reguladores. Um banco com US$89 bilhões e depósitos e muito usado pelo ecossistema crypto, o anúncio pegou muitos de surpresa. Porém, na sexta feira as ações do Signature caíram 22%, mostrando que os investidores já estavam bem preocupados com o banco, após o ocorrido no SVB. Os reguladores não esperaram o mercado abrir na segunda feira para agir, o que foi bem recebido.

Uma nova crise financeira adiante?

O receio em relação a uma nova crise financeira é natural. Afinal, todas as vezes que o Federal Reserve sobe juros, algo acontece no mundo em algum setor (ou país) que estava alavancado ou com preços muito altos no mercado. Foi assim na crise do México em 1994, com o fundo LTCM em 1998, com a bolha de tecnologia em 1999-2000 e a crise do sub-prime e do setor de real estate em 2007-08.

Porém, os bancos americanos e globais têm hoje uma regulação muito mais restritiva, que foi aprovada após a crise de 2008. Isso tornou o sistema financeiro hoje mais seguro do que era na época. Os níveis de capital regulatório são maiores, e os níveis de alavancagem do sistema são menores, e as regulações ao redor de empréstimos também são mais duras. Isso tudo ajudou a tornar o sistema muito mais seguro, mas ainda não à prova de falências, como vimos no caso desses dois bancos regionais americanos.

Além disso, o rápido anúncio do Federal Reserve e do governo americano, garantindo todos os depósitos dos clientes dos dois bancos em intervenção, ajudou a estancar a crise de confiança que se gerou com os bancos regionais americanos. A possibilidade de uma nova corrida bancária nos bancos pequenos e médios nos EUA foi reduzida após esse rápido anúncio das autoridades americanas. Os EUA possuem mais de 4,200 bancos assegurados pelo FDIC, uma fragmentação muito maior do que vemos no setor bancário brasileiro.

Em suma, não vemos uma crise sistêmica nos moldes e profundidade que vimos em 2008, dadas as grandes diferenças que existem hoje e que foram implementadas desde então. Além disso, os reguladores e bancos centrais têm atuado muito mais rapidamente para conter o contágio, como vimos nesses últimos dias, e também em 2020. Dito isso, a volatilidade e aversão a risco devem seguir dando a tona dos mercados nas próximas semanas.

O que esperar para os mercados: aversão a risco deve seguir

Apesar de uma crise mais profunda ter sido evitada pela rápida ação dos reguladores americanos durante o fim de semana, o cenário ainda pede cautela e uma posição mais defensiva nas carteiras. Como escrevemos nos relatórios recentes, não vemos a Bolsa americana com um valor muito atrativo no momento.

A Bolsa americana ainda negocia próximo a 18x Lucro, acima das médias históricas entre 15-16x. Além disso, a renda fixa americana hoje oferece as taxas de juros mais altas desde 2007, o que a torna uma boa opção aos investidores no momento. Em suma, o investidor está sendo pago na renda fixa para esperar uma melhor oportunidade de aumentar exposição na bolsa americana.

No longo prazo, porém, poucas classes de ativos no mundo tiveram uma performance melhor que a bolsa americana. Portanto, enquanto a visão tática é mais cautelosa no momento, a visão estrutural em relação a alocação em renda variável global permanece intacta.

Como impacta o Brasil?

Para o mercado brasileiro, temos que lembrar que também estamos em um cenário incerto. A dúvida em relação à política Macroeconômica futura permanece, em especial como se dará a política fiscal e a política monetária. Essa incerteza traz dúvidas em relação ao crescimento, taxas de juros, inflação, endividamento do governo e outros indicadores chave para a economia.

Dito isso, caso a crise nos bancos regionais americanos force o FED a ter uma postura mais frouxa em relação à taxa de juros, como está sendo precificado no mercado, o mercado passou a precificar na curva de juros um espaço para o Copom também cortar juros já no segundo semestre desse ano. Um início de ciclo de afrouxamento dos juros no Brasil pode ajudar os ativos brasileiros, como a Bolsa, e os títulos pré-fixados.

Mas é importante lembrar que o Brasil é um mercado emergente, e tem uma sensibilidade/volatilidade maior que outros mercados em um evento de aversão a risco global. Dessa forma, não estamos isolados do resto do mundo, e os acontecimentos lá fora seguirão tendo impacto nos preços de ativos por aqui.

Como se posicionar no cenário atual

Uma posição defensiva segue sendo a adequada para investidores de diferentes perfis. Isso significa ter uma carteira diversificada em diferentes classes de ativos, e manter ativos de qualidade na carteira de investimentos. Nossa equipe de alocação tem mantido essa postura nas carteiras recomendadas por perfil, que você pode checar aqui.

No mercado de ações, isso significa se manter investido em ações de boas empresas, que geram caixa, pagam dividendos, e são de setores que consigam navegar em tempos mais turbulentos. Nossos três temas de investimento na Bolsa seguem inalterados: 1) Commodities, 2) Empresas com crescimento secular e 3) Empresas de qualidade que estão negociando a preços razoáveis. Veja as nossas últimas visões e carteiras para a Bolsa brasileira no último Raio XP.

XPInc CTA

Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!

XP Expert

Avaliação

O quão foi útil este conteúdo pra você?


Newsletter
Newsletter

Gostaria de receber nossos conteúdos por e-mail?

Cadastre-se e receba grátis nossos relatórios e recomendações de investimentos

Disclaimer:

Este relatório de análise foi elaborado pela XP Investimentos CCTVM S.A. (“XP Investimentos ou XP”) de acordo com todas as exigências na Resolução CVM 20/2021, tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar sua própria decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta ou solicitação de compra e/ou venda de qualquer produto. As informações contidas neste relatório são consideradas válidas na data de sua divulgação e foram obtidas de fontes públicas. A XP Investimentos não se responsabiliza por qualquer decisão tomada pelo cliente com base no presente relatório. Este relatório foi elaborado considerando a classificação de risco dos produtos de modo a gerar resultados de alocação para cada perfil de investidor. O(s) signatário(s) deste relatório declara(m) que as recomendações refletem única e exclusivamente suas análises e opiniões pessoais, que foram produzidas de forma independente, inclusive em relação à XP Investimentos e que estão sujeitas a modificações sem aviso prévio em decorrência de alterações nas condições de mercado, e que sua(s) remuneração(es) é(são) indiretamente influenciada por receitas provenientes dos negócios e operações financeiras realizadas pela XP Investimentos.

O analista responsável pelo conteúdo deste relatório e pelo cumprimento da Instrução CVM nº 598/18 está indicado acima, sendo que, caso constem a indicação de mais um analista no relatório, o responsável será o primeiro analista credenciado a ser mencionado no relatório. Os analistas da XP Investimentos estão obrigados ao cumprimento de todas as regras previstas no Código de Conduta da APIMEC para o Analista de Valores Mobiliários e na Política de Conduta dos Analistas de Valores Mobiliários da XP Investimentos. O atendimento de nossos clientes é realizado por empregados da XP Investimentos ou por agentes autônomos de investimento que desempenham suas atividades por meio da XP, em conformidade com a ICVM nº 497/2011, os quais encontram-se registrados na Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários – ANCORD. O agente autônomo de investimento não pode realizar consultoria, administração ou gestão de patrimônio de clientes, devendo atuar como intermediário e solicitar autorização prévia do cliente para a realização de qualquer operação no mercado de capitais. Os produtos apresentados neste relatório podem não ser adequados para todos os tipos de cliente. Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor. Este material não sugere qualquer alteração de carteira, mas somente orientação sobre produtos adequados a determinado perfil de investidor. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço ou valor pode aumentar ou diminuir num curto espaço de tempo. Os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros. A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos. As informações presentes neste material são baseadas em simulações e os resultados reais poderão ser significativamente diferentes. Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da XP Investimentos, incluindo agentes autônomos da XP e clientes da XP, podendo também ser divulgado no site da XP. Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da XP Investimentos. SAC. 0800 77 20202. A Ouvidoria da XP Investimentos tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800 722 3710. O custo da operação e a política de cobrança estão definidos nas tabelas de custos operacionais disponibilizadas no site da XP Investimentos: www.xpi.com.br. A XP Investimentos se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste relatório ou seu conteúdo. A Avaliação Técnica e a Avaliação de Fundamentos seguem diferentes metodologias de análise. A Análise Técnica é executada seguindo conceitos como tendência, suporte, resistência, candles, volumes, médias móveis entre outros. Já a Análise Fundamentalista utiliza como informação os resultados divulgados pelas companhias emissoras e suas projeções. Desta forma, as opiniões dos Analistas Fundamentalistas, que buscam os melhores retornos dadas as condições de mercado, o cenário macroeconômico e os eventos específicos da empresa e do setor, podem divergir das opiniões dos Analistas Técnicos, que visam identificar os movimentos mais prováveis dos preços dos ativos, com utilização de “stops” para limitar as possíveis perdas. O investimento em ações é indicado para investidores de perfil moderado e agressivo, de acordo com a política de suitability praticada pela XP Investimentos Ação é uma fração do capital de uma empresa que é negociada no mercado. É um título de renda variável, ou seja, um investimento no qual a rentabilidade não é preestabelecida, varia conforme as cotações de mercado. O investimento em ações é um investimento de alto risco e os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros e nenhuma declaração ou garantia, de forma expressa ou implícita, é feita neste material em relação a desempenhos. As condições de mercado, o cenário macroeconômico, os eventos específicos da empresa e do setor podem afetar o desempenho do investimento, podendo resultar até mesmo em significativas perdas patrimoniais. A duração recomendada para o investimento é de médio-longo prazo. Não há quaisquer garantias sobre o patrimônio do cliente neste tipo de produto. O investimento em opções é preferencialmente indicado para investidores de perfil agressivo, de acordo com a política de suitability praticada pela XP Investimentos. No mercado de opções, são negociados direitos de compra ou venda de um bem por preço fixado em data futura, devendo o adquirente do direito negociado pagar um prêmio ao vendedor tal como num acordo seguro. As operações com esses derivativos são consideradas de risco muito alto por apresentarem altas relações de risco e retorno e algumas posições apresentarem a possibilidade de perdas superiores ao capital investido. A duração recomendada para o investimento é de curto prazo e o patrimônio do cliente não está garantido neste tipo de produto. O investimento em termos é indicado para investidores de perfil agressivo, de acordo com a política de suitability praticada pela XP Investimentos. São contratos para compra ou a venda de uma determinada quantidade de ações, a um preço fixado, para liquidação em prazo determinado. O prazo do contrato a Termo é livremente escolhido pelos investidores, obedecendo o prazo mínimo de 16 dias e máximo de 999 dias corridos. O preço será o valor da ação adicionado de uma parcela correspondente aos juros – que são fixados livremente em mercado, em função do prazo do contrato. Toda transação a termo requer um depósito de garantia. Essas garantias são prestadas em duas formas: cobertura ou margem. O investimento em Mercados Futuros embute riscos de perdas patrimoniais significativos, e por isso é indicado para investidores de perfil agressivo, de acordo com a política de suitability praticada pela XP Investimentos. Commodity é um objeto ou determinante de preço de um contrato futuro ou outro instrumento derivativo, podendo consubstanciar um índice, uma taxa, um valor mobiliário ou produto físico. É um investimento de risco muito alto, que contempla a possibilidade de oscilação de preço devido à utilização de alavancagem financeira. A duração recomendada para o investimento é de curto prazo e o patrimônio do cliente não está garantido neste tipo de produto. As condições de mercado, mudanças climáticas e o cenário macroeconômico podem afetar o desempenho do investimento.

A XP Investimentos CCTVM S/A, inscrita sob o CNPJ: 02.332.886/0001-04, é uma instituição financeira autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.Toda comunicação através de rede mundial de computadores está sujeita a interrupções ou atrasos, podendo impedir ou prejudicar o envio de ordens ou a recepção de informações atualizadas. A XP Investimentos exime-se de responsabilidade por danos sofridos por seus clientes, por força de falha de serviços disponibilizados por terceiros. A XP Investimentos CCTVM S/A é instituição autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.


Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com a nossa Política de Cookies (gerencie suas preferências de cookies) e a nossa Política de Privacidade.