O CEO da empresa de telefonia Oi, Rodrigo Abreu, conversou com os analistas de Tech, Media e Telecom (TMT) da XP, Bernardo Guttmann e Marco Nardini, sobre a estrutura da companhia após a venda de ativos, expectativa para o leilão 5G e a negociação com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre a migração do regime de concessão para autorização como parte da série Expert Talks da XP.
Em recuperação judicial, a companhia renegociou sua dívida e vendeu ativos como parte do processo de reestruturação. Segundo Abreu, a Oi encontra-se encontra atualmente em um “momento de transição” até 2023 para criar uma base sustentável para crescer sob um novo regime a partir de 2024.
Abreu espera que a “Nova Oi”, após a venda da operação de telefonia móvel e da cisão da infraestrutura de fibra para a V.tal, deve sair de uma receita de R$ 9 bilhões para R$ 15 bilhões em três anos.
Abreu não espera uma resolução sobre a migração do regime de telefonia por concessão para autorização pela Anatel até o fim do ano que vem. Veja a live e saiba mais sobre os planos da empresa.
‘Nova Oi’ terá foco na prestação de serviços
Com a reestruturação das operações após a venda da operação de telefonia móvel e a cisão da infraestrutura de fibra ótica, a Oi deve passar a ser posicionar como uma empresa mais leve em ativos, com custos fixos mais baixos e focada na geração de receitas com a prestação de serviços, afirmou Abreu.
A empresa vendeu a operação móvel para o consórcio formado por Tim, Claro e Telefônica, por R$ 16,5 bilhões, em dezembro de 2020, cuja operação está em análise no Cade.
A Oi ainda anunciou, em 7 julho, a venda de 57,9% da sua empresa de fibra, a InfraCo rebatizada para V.tal, para os fundos do BTG Pactual e a Globenet Cabos Submarinos por R$ 12,9 bilhões. A Oi continua com uma participação de 42,1% na companhia. Abreu espera que as duas operações de venda sejam concluídas até segundo trimestre de 2022.
A Oi ainda vendeu outros ativos como torres, data centers em imóveis para buscar a desalavancagem da empresa e reduzir os custos com capex.
Abreu acredita que a valorização da empresa de Fibra para R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões em pouco tempo vai trazer a possibilidade de acelerar a desalavancagem da Oi.
No fim de março, a dívida bruta consolidada da Oi somava R$ 29,1 bilhões, considerando o “valor justo” da dívida reportado pela companhia. Neste caso, o valor incluiria um deságio equivalente à antecipação do pagamento de parte da dívida.
Outras avenidas de receita
A nova Oi, após a venda da operação de telefonia móvel e cisão da infraestrutura de fibra, deve ter como foco a prestação de serviços para os clientes e a criação de novas soluções.
Nesse sentido, o CEO da Oi vê oportunidades na prestação de serviços financeiros, para casa, de monitoramento de segurança residencial e empresarial, telemedicina e logística.
O fluxo com novas receitas já somava cerca de R$ 130 milhões a R$ 140 milhões nos últimos 12 meses e tem grande potencial para crescer, disse Abreu.
Abreu contou que a Oi já tem uma empresa de prestação de serviços de assistência técnica, a Oi Expert, semelhante a CDF, vendida para o fundo do BTG por R$ 350 milhões. “Em um ano essa empresa vai ter R$ 100 milhões de receita”, disse Abreu
Com a venda da operação de telefonia móvel, a Oi deve sair de uma receita de R$ 9 bilhões para R$ 15 bilhões em três anos, destacou Abreu.
‘Nova Oi’ deve ter margem Ebitda mais baixa, próxima de empresas de serviços
Abreu afirmou que a nova Oi deve uma receita de R$ 15 bilhões com margem Ebita de 20%, excluindo o legado da concessão de telefonia fixa por cobre. Considerando essa operação, a margem Ebitda cairia 4 a 5 pontos percentuais.
Com um capex menor, com menor necessidade de investimento em ativos fixos, Abreu espera um retorno sobre a geração de caixa para a nova Oi de 7% a 8% , se aproximando mais dos múltiplos das empresas de serviços. Ele lembrou que os acionistas ainda devem considerar a participação na empresa de fibra , que deve alcançar um valor patrimonial (equity value) de R$ 20 a R$ 30 bilhões.
Quanto aos eventos de curto prazo, Abreu destacou que a companhia já fez boa parte da reestruturação prevista no seu plano de recuperação judicial, aprovada em 2018 e teve um aditivo em 2020 e que agora os grandes eventos M&A são menos significativos que no passado. De acordo com o plano de recuperação da Oi, a empresa ainda pretende vender empresa de TV por assinatura por meio do leilão de uma unidade produtiva isolada chamada Oi TV.
Quanto aos riscos, Abreu espera que apesar da venda da operação móvel ter sido classificada como complexa pelo Cade, Abreu não acredita que isso seja um impeditivo para a aprovação até o ano que vem.
Outro ponto importante que pode ter impacto para as ações é a busca por redução de custo. Ele lembrou que a empresa já apresentou uma economia de R$ 1 bilhão em redução de custos.
A Oi teve lucro líquido de R$ 1,139 bilhão no segundo trimestre, revertendo prejuízo de R$ 3,409 bilhões no mesmo período de 2020.
Líder no mercado de fibra ótica
O CEO da Oi acredita que a V.tal deve se posicionar como líder no mercado de fibra ótica. A empresa já é líder no mercado de fibra nas capitais que contam com o serviço. “Var ter espaço para vários 3 operadores, e temos a ambição de ser a maior operadora de fibra do Brasil e imaginamos que, nesse cenário, vai ser viável termos a atuação de um conjunto de ISPs [provedores de acesso à internet] representativos em cada região”, disse Abreu.
Apesar de ter a Oi como principal cliente, a nova companhia de fibra ótica, a V.tal, já conta com 10 contratos de prestação de serviços de FTTH (sigla em inglês para fibra até a casa do cliente) para outros provedores, incluindo a Vero Internet, disse Abreu.
A companhia pretende chegar a quase 9 milhões de usuário em fibra em cinco a seis anos, disse Abreu. A receita de fibra alcançou R$ 691 milhões no 2T21, crescimento anual de 181,5%, de acordo com o balanço da empresa.
No mercado empresarial (B2B), a Oi também está buscando migrar os clientes de telefonia fixa por cobre para a rede de fibra, com foco na manutenção da receita. “O plano no B2B é mudar a qualidade da receita como já aconteceu no residencial”, disse Abreu.
Aporte de capital e dívida devem financiar investimento em fibra
O plano de investimento de R$ 30 bilhões de 2022 a 2026 da nova empresa de fibra, Vital, deve ser financiado via aporte de capital, através de oferta primária de ações, pela capacidade da nova empresa poder se alavancar e tomar dívida e pela geração de receita, afirmou Abreu. Mesmo assim, é esperado que a nova empresa tenha uma alavancagem financeira abaixo de 2x, disse o executivo.
A oferta pela InfraCo aceita pela Oi previa o pagamento de uma parcela primária de R$ de R$ 3,27 bilhões na data do fechamento do negócio, e uma parcela secundária de R$ 6,51 bilhões – que serão divididos em três parcelas anuais, mas podem ser antecipadas até dezembro de 2022, a critério da Oi, além de uma aporte adicional de R$ 1,618 bilhão após a subscrição e integralização das novas ações ordinárias.
Leilão 5G
A Oi tem interesse em participar do leilão de 5G. Segundo Abreu, o interesse da companhia seria na concessão de uso de radiofrequências nas faixas mais altas de 26GHz, que poderia inclusive interessar para a empresa de fibra Vital na prestação de serviços de telefonia fixa. “Não faria sentido participar da concessão para a faixa de 3,5GHz , comprar uma frequência como hedge”, disse Abreu.
O CEO da Oi afirmou, contudo, que o interesse vai depender das obrigações que empresas terão que atender em cada faixa, que devem constar no edital.
Resolução da Anatel sobre regime de concessão deve sair só em 2022
O CEO da Oi, Rodrigo Abreu, espera que uma resolução da Anatel sobre a migração dos contratos de telefonia de concessão para autorização só deve acontecer no fim do ano que vem.
Os contratos de concessão foram assinados pelas operadoras com a agência há 20 anos e vencem em 2025. A agência está avaliando o modelo de migração e o CEO da Oi espera que até o final do ano a Anatel deve apresentar esse resultado, com o edital saindo ano que vem. Posteriormente, as empresas devem aderir e apresentar os projetos. “Não acho que consiga andar rapidamente”, disse.
A partir do resultado dessa arbitragem, a Oi, em recuperação judicial, poderá decidir se permanece no regime atual de concessão do serviço de telefonia fixa comutada tradicional (STFC), ou se muda o contrato para autorização.
A concessão prevê obrigações a serem cumpridas pelas teles, como metas de universalização dos serviços, metas de investimento, de qualidade, controle de tarifas, entre outras. A migração para autorização, que demandaria um investimento menor, pode gerar ônus às empresas de telefonia.
A Oi entrou com pedido de arbitragem, na Câmara de Comércio Internacional (CCI), em que questiona a Anatel sobre: (i) o fato da concessão da Oi já ser insustentável economicamente há muito tempo devido a competição com outros meios, como telefonia móvel, que reduziria o ônus da migração; (ii) o desequilíbrio econômico-financeiro da concessão em função de reajustes de tarifas que demoraram mais que o prazo contratual para serem concedidos; (iii) obrigações do Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU) que não foram cumpridas segundo a Anatel e que somariam R$ 3,7 bilhões e (IV) investimento que a empresa ainda está fazendo nos ativos sob regime de concessão, como , por exemplo, para reposição de cabos de cobre furtados, que não vão poder ser amortizados após o fim da concessão em 2025, e gerariam um saldo positivo para a Oi e poderia ser deduzido da dívida com a Anatel.
Independentemente do resultado da arbitragem, a Oi já vem aditando medidas para reduzir os custos fixos com a concessão de telefonia fixa por cobre buscando a consolidação de centrais de atendimento, otimização da rede, e troca da tecnologia para fibra.

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