O Grupo Soma reportou sólidos resultados referentes ao quarto trimestre de 2020 (4T20), com a receita acima das nossas estimativas, devido a um crescimento de vendas mesmas lojas de 7,6% A/A, e EBITDA em linha, devido a uma margem bruta menor do que nossa estimativa. A companhia também anunciou a criação da Soma Ventures e de seu primeiro investimento através dela: a LAUF - a primeira marca do segmento fitness no portfolio da companhia.
Esperamos uma reação positiva do mercado. Vemos os resultados como sólidos, com um crescimento de receita de 15% A/A e vendas mesmas lojas em +7,6% A/A acima de outros players de vestuário (-0.8% para LREN e CEAB), além de uma expansão de margem bruta por canal. No entanto, a margem consolidada foi pressionada por um aumento temporário da participação do Atacado (devido ao deslocamento do 3T para o 4T) combinado com uma performance mais fraca de marcas mais premium, como a Cris Barros, onde o varejo físico é mais relevante para a experiência de compra. Olhando para a margem bruta do segundo semestre (para eliminarmos o impacto do deslocamento do Atacado), a queda de margem bruta é de apenas 1,4p.p. A/A. Finalmente, a companhia trouxe um detalhamento bastante completo de diversas iniciativas, com um destaque para i) a forte performance e perspectiva da FARM global; ii) lançamento do App Animale com um aumento de 35% na frequência de compra (com o próximo lançamento sendo o app da FARM); e iii) crescimento de vendas de live commerce (Lojix), que já representou 1,2% das vendas totais no segundo trimestre de lançamento.
Somando uma nova avenida de crescimento: Soma Ventures. Além do resultado, a companhia também publicou um fato relevante (link) anunciando a criação do Soma Ventures, um braço de corporate venture da companhia. O objetivo dessa estrutura é permitir que a companhia faça investimentos em marcas/companhias ainda pequenas, contribuindo para seu desenvolvimento ao compartilhar expertise e acesso a sua estrutura, sem comprometer seu foco nos negócios que hoje são core. Vemos esse movimento como positivo, pois abre uma nova avenida de crescimento, sem grande comprometimento de caixa inicialmente, mas participando e acelerando o desenvolvimento dessas marcas. Uma vez que elas atingirem uma escala e maturidade adequada, haverá a possibilidade de conversão de ações dos executivos da companhia para fazerem parte do Grupo Soma, nos mesmos moldes das aquisições recentes (veja nosso início de cobertura para mais detalhes aqui). Juntamente com o anúncio da criação dessa estrutura, o Grupo Soma já anunciou seu primeiro investimento na LAUF, a primeira marca do segmento fitness no portfolio da companhia. Vemos o anúncio também como positivo, pois acreditamos que o segmento tem muito potencial de crescimento, uma vez que há um crescente movimento em direção à saúde e bem estar, impulsionado pela pandemia.
Substituindo o CFO. A companhia também anunciou que está substituindo o atual CFO (link), Haroldo Lorena, pelo Gabriel Silva Lobo Leite, que atuava como Diretor Financeiro, tendo liderado as últimas aquisições da companhia e o IPO (veja nosso início de cobertura aqui). O Sr. Haroldo irá permanecer na companhia, como Diretor Executivo estatutário, com dedicação exclusiva à gestão das marcas do Grupo, em especial a Foxton, Maria Filó e A. Brand. Vemos o anúncio como neutro, pois ambos executivos são muito bem reconhecidos pelo mercado, enquanto o Sr. Haroldo seguirá na companhia com uma atuação mais estratégica.
Mas e daqui para frente?
O momento de curto prazo deve seguir difícil, devido às incertezas em relação à velocidade da campanha de vacinação combinado ao aumento recente de casos da Covid-19 e seu impacto na confiança do consumidor. Porém, nós vemos o Grupo Soma como uma história muito sólida, com diversas opcionalidades de geração de valor, além de esperarmos ver mais anúncios de M&A no curto prazo, tanto no formato tradicional como via o Soma Venture, o que podem ser triggers interessantes do papel. Além disso, como detalhado acima, a companhia possui diversas iniciativas que estão entregando sólidos resultados e que são um indicativo positivo para os próximos trimestres (como a FARM global, live commerce e ganhos de sinergia das aquisições já feitas). Finalmente, vemos o setor de vestuário como um dos principais beneficiários da recuperação econômica e da retomada da normalidade. Reiteramos nossa recomendação de Compra e a empresa como nossa preferência no setor, e mantemos nosso preço alvo de R$17,0 por ação para o fim de 2021.
Destaques positivos
- Nível recorde de vendas no período, com crescimento de vendas mesmas lojas em +7,6% A/A, mesmo com lojas fechadas em São Paulo, Belo Horizonte e Manaus. Isso se compara a -0,8% A/A reportado por Lojas Renner e C&A.
- Forte performance do digital, com crescimento de 153% A/A (34% acima das nossas estimativas) e vendas multicanais +200% A/A, representando 38% das vendas digitais (+19p.p. vs. 4T19).
- Farm Global como uma surpresa positiva, com receita crescendo 236% A/A, com margem EBITDA e geração de caixa positivos. Além disso, as perspectivas para 2021 seguem positivas, com uso espontâneo de celebridades contribuindo para divulgação da marca. Além disso, a companhia irá abrir pop-up stores exclusivas, o que deve contribuir ainda mais para o reforço da marca.
- Lançamento do app da Animale, que já representa cerca de 10% das vendas digitais da marca e com uma conversão 4x maior do que a do site. A próxima marca no pipeline é a Farm e os apps das demais marcas também serão lançados ainda em 2021.
- Melhora de logística/experiência do consumidor, com redução do tempo entre o pedido e a entrega em 22% A/A e com 40% dos pedidos no Rio de Janeiro sendo feitos no mesmo dia.
- Live commerce Lojix já representou 1,2% das vendas: lives semanais sendo feitas com tecnologia proprietária que permite a compra direto da plataforma, mesmo após a live terminar. Foram realizadas 17 lives no período entre todas marcas, chegando a um faturamento de R$5,5mn no trimestre (+212.5% T/T). A iniciativa começou no 3T20.
- Integração dos M&As recentes quase concluída: última fase da integração (operações e supply chain) das aquisições da Maria Filó e Cris Barros deve ser concluída no 1T21, com ganhos anuais estimados em ~R$10mn (3% do nosso EBITDA de 2021e).
- NV: Receita totalizou R$157mn em 2020 (+62%A/A), ou um adicional de 11% à receita do Grupo Soma no mesmo período. A integração das operações começou em março e deve terminar no 3T21, com os principais ganhos de sinergias esperados através da ampliação do sourcing e integração de sistemas, backoffice e CRM.
Destaques negativos
- Interrupção do processo de abertura de lojas. A companhia irá focar somente nas que já haviam aprovado e assinado por conta das incertezas com a pandemia e falta de visibilidade de uma vacinação em larga escala. Apesar de isso ser um potencial risco negativo para nossos números de curto prazo do varejo físico, acreditamos que dentro do cenário atual, a estratégia está correta.
- Queda de margem bruta, em -3,9p.p. A/A, devido a uma maior participação do atacado no período, representando 22% das vendas vs. 14,5% no 4T19. Olhando para a margem bruta do segundo semestre (para eliminarmos o impacto do deslocamento do Atacado), a queda de margem bruta é de apenas 1,4p.p. A/A. Ainda, a companhia mencionou que houve expansão de margem por canal devido à uma estratégia de operar com preços cheios nas coleções novas e menos descontos nas antigas.
- Aumento das despesas operacionais, em +27% A/A, puxado por uma preservação de pessoal (com o quadro atual sustentando o ciclo de expansão e potenciais M&As adicionais, na visão da companhia), aumento de despesas com marketing (principalmente no canal digital) e custos de frete (devido ao aumento do canal online, mas com redução do custo unitário).
Os principais números do trimestre
Confira a nossa prévia para todos resultados do setor nesse trimestre
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