Neste relatório, apresentamos nossa análise dos resultados do 1T23 para Cyrela (CYRE3), MRV (MRVE3), EZTec (EZTC3), Plano&Plano (PLPL3) e Trisul (TRIS3). Observamos resultados mistos no segmento de média/alta renda, com a maioria das empresas ainda relatando pressão na margem bruta, impactadas por (i) custos sob pressão; e (ii) maiores descontos. No entanto, vimos um desempenho operacional sólido, especialmente por parte das empresas de baixa renda como Plano&Plano e MRV em termos de vendas líquidas, com Cyrela se destacando de forma positiva no segmento de média/alta renda. Plano&Plano foi o destaque deste trimestre, combinando um sólido crescimento no lucro líquido e uma melhoria significativa na margem bruta, superando nossas expectativas.
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Cyrela (CYRE3) | Resultados ligeiramente positivos como esperado
A Cyrela apresentou resultados ligeiramente positivos no 1T23, explicados por uma receita líquida resiliente atingindo R$ 1,3 bilhão (+4,2% A/A e estável vs. XPe), devido a (i) sólidas vendas líquidas no trimestre; (ii) reconhecimento de receita aumentando, motivado pelo Eden Project, que deve continuar impulsionando o reconhecimento de receita líquida nos próximos trimestres, em nossa opinião.
Por outro lado, observamos uma leve desaceleração na margem bruta, atingindo 30,7% (-70bps T/T e -40bps A/A), prejudicada por um mix de projetos com margem bruta mais baixa no trimestre, mas em linha com nossas estimativas de 30,8%, impactada por (i) juros capitalizados mais altos; (ii) contribuição negativa de novos lançamentos com margens mais baixas em relação a 2022.
O desempenho mais forte de suas Joint Ventures, atingindo (R$ 45 milhões) com CURY3, PLPL3 e LAVV3, levando o resultado final para R$ 164 milhões, ligeiramente abaixo de nossas estimativas de R$ 173 milhões. Como resultado, a Cyrela apresentou um consumo de caixa de R$ 35 milhões em relação a R$ 54 milhões no 4T22, levando sua alavancagem (Dívida Líquida/Patrimônio Líquido) para 6,5%, que continuamos a ver como saudável. Assim, mantemos nossa visão positiva sobre a ação com uma recomendação de compra e preço-alvo de R$ 33,0/ação.
Figura 1: Resultados da Cyrela em números
MRV (MRVE3) | Resultados fracos conforme esperado, mas a margem bruta mostrou melhora
A MRV apresentou resultados mistos conforme esperado, embora continue demonstrando sinais de uma recuperação gradual da rentabilidade (principalmente na margem bruta). A receita líquida da MRV&CO teve um desempenho moderado, atingindo R$ 1,69 bilhão (estável A/A e +2% T/T), em linha com nossas estimativas (+2% vs. XPe). Além disso, a receita líquida das operações core (MRV Inc.) atingiu R$ 1,65 bilhão (estável A/A e +5% T/T), explicado por (i) produção de unidades mais fraca (-12% A/A) - efeitos sazonais do 1T; e (ii) mix de projetos com menor porcentagem de conclusão (POC) nas vendas do 1T (principalmente lançamentos do 4T22) afetando o reconhecimento da receita, em nossa visão, apesar da aceleração das vendas líquidas (+21% A/A; MRV Inc.).
No lado positivo, a margem bruta das operações cora da MRV teve um desempenho encorajador, atingindo 20,6% (+120 bps A/A e T/T), e a margem bruta da MRV&CO alcançou 20,9% (+110 bps A/A e +80 bps T/T), acima de nossas estimativas de 20,5%. Além disso, destacamos a margem bruta das novas vendas em 30,5% em março/23 (+1,5 p.p. vs. dez/22) e a margem a apropriar (Operações core) em 35,5% (+4,3 p.p. A/A), impulsionada por aumentos consistentes de preço (+25% A/A), o que deve continuar apoiando a melhoria gradual da margem bruta da MRV à medida que as novas vendas (projetos de 2022/2023) se tornem mais relevantes no resultado.
A MRV&CO reportou um lucro líquido de R$ 31 milhões (vs. R$ 71 milhões no 1T22 e prejuízo líquido de R$ 333 milhões no 4T22), embora pontuemos um impacto positivo (não recorrente) de R$ 188 milhões em créditos fiscais no 1T23, o que impactou positivamente o lucro. Além disso, a alavancagem financeira (Dívida Líquida/PL; operações brasileiras) aumentou para 65% (+28,4 p.p. A/A e +8,2 p.p. T/T), mas os covenants melhoraram para 0,59 vs. 0,63 no 4T22 (limite em 0,65), devido a uma redução em imóveis a pagar, explicado por renegociações de terrenos.
Figura 2: Resultados da MRV em números
EZTec (EZTC3) | Resultados fracos impactados pelo Parque da Cidade
A EZTec divulgou resultados em sua maioria negativos no 1T23. Observamos que a receita líquida diminuiu para R$ 251 milhões (-12% A/A, -19% T/T e -4% vs. XPe), negativamente afetada por (i) menores vendas de estoques prontos; (ii) menor POC devido à maior contribuição de lançamentos, impactando o reconhecimento de receita; e (iii) comparação mais difícil vs. 4T22.
Além disso, a margem bruta diminuiu para 28,4% (-370 p.b. T/T e -200 p.b. vs. XPe), afetada por (i) mix de projetos com menor margem bruta; (ii) efeitos não recorrentes de -540bps do projeto Parque da Cidade; e (iii) custos sob pressão. Além disso, observamos menores despesas comerciais (-17% T/T), explicado pela diminuição de lançamentos no 1T23. Como resultado, o lucro líquido atingiu R$ 42 milhões (-60% A/A e +34% T/T), acima de nossas estimativas (+23% vs. XPe), devido a uma receita financeira acima do esperado.
Mantemos nossa recomendação de compra, com base em um valuation atrativo, negociando a 0,6x P/VP 2023E. No entanto, continuamos a ver um cenário desafiador para o segmento de média renda, devido à taxas de juros mais altas, piora na capacidade de compra e menor nível de confiança.
Figura 3: Resultados da EZTec em números
Plano&Plano (PLPL3) | Resultados sólidos impulsionados por notável aceleração na margem bruta
Plano&Plano apresentou resultados sólidos no 1T23. A receita líquida manteve um desempenho resiliente, alcançando R$ 390 milhões (+23% A/A e -11% T/T), em grande parte em linha com nossas estimativas (+2% vs. XPe), embora afetada por (i) menor evolução de obras no 1T (efeito sazonal); (ii) mix de receita com projetos com percentual de conclusão (POC) mais baixo, apesar do aumento acentuado nas vendas líquidas (+47% A/A).
Destacamos uma notável aceleração na margem bruta, atingindo 36,1% (+8,3 p.p. A/A e +4,7 p.p. T/T), superando nossas estimativas (+3,8 p.p. vs. XPe), impulsionada por (i) controle consistente do custos ao longo de 2022 (inflação interna da Plano&Plano 3,8 p.p. abaixo do INCC LTM); e (ii) eficácia no repasse de inflação na carteira de recebíveis. Além disso, a margem a apropriar (REF) alcançou níveis excelentes de 38,3% (+6,3 p.p. A/A e +2,0 p.p. T/T), explicados por aumentos de preço robustos (+11% vs. 1T22), sugerindo uma continuação de perspectivas positivas para a margem bruta, em nossa visão.
Por fim, o lucro líquido atingiu R$ 41 milhões (+85% A/A e -29% T/T), que consideramos positivo e acima de nossas estimativas (+12% vs. XPe), impulsionado pela aceleração da margem bruta, embora apontemos que maiores despesas de venda (+48% A/A) - devido ao aumento das vendas e ao impacto de -R$ 8 milhões das despesas de ITBI - possam ter afetado negativamente o lucro. Como resultado, o ROE (LTM) alcançou 38,8%, o que consideramos sólido. Dito isso, reiteramos nossa recomendação de compra para PLPL3, com um preço-alvo de R$ 7,00/ação.
Figura 4: Resultados da Plano&Plano em números
Trisul (TRIS3) | Resultados melhores do que o esperado
A Trisul apresentou resultados melhores do que o esperado no 1T23. Do lado positivo, a receita líquida atingiu R$ 243 milhões (+48% A/A e +19% T/T), impulsionada pelas sólidas vendas líquidas (+131% A/A), impulsionadas pelas vendas de estoque.
Por outro lado, a margem bruta alcançou 24,3% (-700bps A/A e -100bps T/T), abaixo de nossas estimativas de 25,2% e impactada negativamente por maiores descontos provenientes de unidades de estoque concluído.
Além disso, o lucro líquido alcançou R$ 28 milhões (+175% A/A e +156% vs. XPe), ajudado por outros custos e pelo aumento significativo do equivalência patrimonial, mas manteve o ROE em níveis fracos de 6,4% LTM. Por fim, a dívida líquida sobre patrimônio atingiu 49,2% (+390bps T/T) ou 16,3% (+40bps T/T) excluindo o SFH.