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Varejo e o COVID-19: Entendendo a queda das ações; 4 principais pontos

As ações da nossa cobertura de varejo já acumulam uma queda de -43% desde o início de fevereiro (vs. -41% para o IBOV), com uma desvalorização acentuada nas últimas duas semanas, conforme as preocupações em relação à crise desencadeada pelo coronavírus elevaram-se. Veja abaixo as principais razões por trás da queda das ações de varejo, as tendências recentes do setor no Brasil, e os 4 principais pontos que, na nossa visão, os investidores devem ter em mente em relação à perspectiva para o setor.

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As ações da nossa cobertura de varejo já acumulam uma queda de -43% desde o início de fevereiro (vs. -41% para o IBOV), com uma desvalorização acentuada nas últimas duas semanas, conforme as preocupações em relação à crise desencadeada pelo coronavírus elevaram-se.

Neste relatório, nós

  • Mostramos as principais razões por trás do desempenho negativo das ações de varejo, na nossa opinião, mostrando as tendências recentes do setor no Brasil, bem como a evolução das vendas do varejo na China; e
  • Compartilhamos 4 principais pontos que, na nossa visão, os investidores devem ter em mente em relação à perspectiva para o setor de varejo.

Mantemos as nossas recomendações no setor inalteradas, e reiteramos como top-picks as ações da Via Varejo (Compra) e da Lojas Renner (Compra), ambas estão na nossa carteira de ações Top 10 no mês de Março. Além disso, mantemos nossa recomendação de Compra em Vivara, C&A, Pão de Açúcar e Neutro em Magazine Luiza, B2W, Lojas Americanas, Carrefour Brasil e RD (Raia Drogasil).

O que aconteceu com as ações de varejo?

Desde o início de fevereiro, as ações do setor de varejo apresentaram uma queda expressiva, com destaque para C&A (-66,9%), Vivara (-65,9%) e Via Varejo (-65,6%). O desempenho é reflexo das crescentes preocupações em relação à crise desencadeada pelo coronavírus e, em especial, aos efeitos negativos que a mesma deve ter nas vendas das varejistas no curto prazo.

Conforme detalhamos recentemente no relatório “Os impactos do coronavírus nas empresas”, publicado no dia 17 de março (acesse o link), esperamos que  o setor de varejo seja impactado de duas principais maneiras: (i) por meio de um choque de demanda pontual, em função da restrição de movimento e da priorização do consumo básico em detrimento do consumo discricionário, e (ii) por meio de um potencial choque de oferta, fruto das implicações do vírus na cadeia de abastecimento de algumas indústrias, caso a epidemia se prolongue e a disponibilidade de insumos permaneça limitada.

Por outro lado, as grandes varejistas listadas podem vir a ganhar participação de mercado. Isso porque as varejistas pequenas e médias devem sofrer um impacto ainda maior no curto prazo, pois tem acesso mais limitado a crédito, operam com dias de estoques mais curtos, têm um ciclo de caixa mais apertado e um menor poder de barganha com fornecedores.

Em relação ao coronavírus, acreditamos que o impacto na demanda é o principal ponto a se monitorar... Com a escalada recente do número de casos no Brasil, as medidas de prevenção (como quarentenas, fechamentos de shoppings e estabelecimentos de rua) têm provocado um impacto negativo cada vez mais relevante no fluxo das lojas – e, consequentemente, nas vendas.

... e os dados já começam a mostrar os impactos. A Cielo tem publicado um boletim público mostrando o impacto do COVID-19 nas vendas do varejo brasileiro (link). Na última semana (de 09 de março a 16 de março), já observamos, um impacto relevante no crescimento das vendas totais em relação ao mesmo período (comparável) do ano anterior:

  • No Brasil, as vendas totais permaneceram praticamente estáveis A/A nessa semana (vs. na média +7,4% de Dez/19 a Fev/20), porém com desempenhos bem diferentes dentre os segmentos. As vendas de produtos duráveis (como eletrodomésticos, móveis), apresentaram queda de -6,6% A/A, enquanto as vendas de produtos não duráveis apresentaram alta de 20% A/A, impulsionadas pelas categorias de alimentos e drogarias.
  • Em São Paulo, onde a crise evoluiu de forma mais drástica na última semana, observamos uma queda mais acentuada. As vendas totais na última semana caíram -13,9% A/A, influenciadas pela brusca queda no sub-setor de Turismo e Transporte (-77,2% A/A). Por outro lado, os setores de Farmácias e Super/Hipermercados apresentaram alta de +30,2% A/A e +19,2% A/A, respectivamente. As vendas nos demais setores (incluindo vestuário, eletrônicos, cosméticos, etc.) apresentaram queda de -7,5% A/A.

Dessa forma, a recente queda mais acentuada do preço das ações da cobertura de varejo está principalmente relacionada às preocupações dos investidores em relação à perspectiva de vendas de curto prazo para as empresas.

O que a experiência do varejo na China pode nos mostrar?

A experiência internacional pode trazer algumas lições. A China já passou pelo período mais crítico em relação ao crescimento de número de casos confirmados do COVID-19, e hoje se encontra em um estágio de normalização, com cerca de 20 novos casos diários confirmados no dia 17 de março (vs. 112 para o Brasil, de acordo com dados do site Worldometers).

Dessa forma, acreditamos que a evolução das vendas de varejo na China possa nos ajudar a entender as possíveis implicações para o setor no Brasil.

Na China, as vendas de bens no varejo (excluindo restaurantes) caíram -17,6% A/A em fevereiro (vs. +7,6% no 4Q19). De acordo com relatório da empresa GFK (link), o desempenho tem sido particularmente negativo em algumas categorias de eletrônicos, como fotografia, eletrodomésticos e telefonia.

Em relação ao e-commerce, as vendas do canal também sofreram um impacto negativo (-3% A/A em fevereiro). Porém, ressaltamos que o desempenho negativo também ficou concentrado em categorias mais discricionárias, como vestuário (queda de -18% A/A).

Varejo e o COVID-19: 4 Principais pontos para ter em mente

#1. Os impactos nas vendas devem se acentuar no curto prazo. Porém, as varejistas listadas estão mais bem posicionadas em relação às menores.

Conforme as tendências mais recentes mostram, e tendo em vista a experiência chinesa, o impacto negativo nas vendas do setor de varejo como um todo deve se acentuar ao longo das próximas semanas. Entretanto, ressaltamos que essa realidade deve afetar as empresas pequenas e médias em uma magnitude maior.

Isso acontece porque essas empresas têm acesso mais limitado a capital, níveis de estoque mais limitados e menor poder de barganha com os maiores fornecedores ou distribuidores. Dessa forma, acreditamos que as varejistas listadas devem apresentar ganhos de participação de mercado, conforme a crise comece a deteriorar a saúde financeira de alguns desses empreendedores.

Além disso, vale ressaltar que o desempenho de vendas médio divulgados por institutos como o IBGE ou a Cielo não são necessariamente representativos da tendência de vendas das empresas listadas. Isso porque diversos sub-setores de varejo são muito fragmentados e, portanto, as varejistas listadas têm uma participação de mercado limitada (a Renner, por exemplo, é apenas ~6% do varejo brasileiro de vestuário).

#2. A mortalidade de empresas pequenas e médias pode impactar algumas empresas

Algumas das empresas da nossa cobertura têm maior exposição a empresas pequenas e médias, como a B2W (~65% das vendas totais via vendedores no seu marketplace) e Carrefour e GPA nas suas operações de atacarejo (cerca de 45% das vendas do atacarejo é destinada a clientes PJ – pequenos empreendedores).

Dessa forma, apesar de ainda não estarmos vendo essa tendência se manifestar de maneira significativa, um aumento na taxa de mortalidade desses negócios pode afetar negativamente as vendas dessas empresas.

#3. Sub-setores de consumo básico devem ser menos impactados, e vendas de ticket alto devem ser apenas postergadas.

Os sub-setores de varejo relacionados a consumo básico (como farmácias e supermercados) devem ser menos impactados pela crise desencadeada pelo COVID-19. Na realidade, conforme evidenciado pelos dados acima, ambos têm apresentado ganhos expressivos de curto prazo.

Quanto aos demais setores, destacamos que alguns deles devem apenas ver parte da demanda ser postergada, e deslocada para um período posterior. Acreditamos que esse será o caso para as categorias de ticket mais alto (eletrodomésticos, móveis e celulares).

Isso deve favorecer uma recuperação relativamente mais forte e rápida para empresas como Via Varejo (Compra), Magazine Luiza (Neutro) e B2W (Neutro).

Por outro lado, aquelas categorias que são mais sazonais, dependentes de coleções e associadas a compras de impulso (como vestuário e joias) podem ter uma recuperação mais gradual. Nesse grupo, destacamos a Lojas Renner, C&A e Vivara.

#4. E-commerce deve ser menos impactado em relação ao varejo físico.

Acreditamos que as vendas do e-commerce no Brasil devem ser sim negativamente impactadas pela crise do COVID-19. Em especial, destacamos as categorias mais discricionárias (como vestuário), conforme vimos acontecer na China.

Entretanto, na nossa opinião as vendas do setor devem sofrer menos em relação ao varejo físico. Isso porque (i) as ocasiões de compra no e-commerce continuarão existindo, ao contrário do que acontece com as lojas, (ii) o varejo online será temporariamente o único canal de acesso a consumo, e (iii) as quarentenas farão com que os consumidores procurem bens aos quais eles anteriormente tinha acesso fora de casa (maior consumo de comida, aparelhos para práticas de exercício, etc.).

Não esperamos um aumento das vendas online tão forte quanto vimos em países como os Estados Unidos, por exemplo, porque o setor aqui no Brasil ainda é muito concentrado em produtos de ticket alto e a penetração em categorias de consumo básico (varejo alimentar e farmacêutico) ainda é limitada.

Por fim, acreditamos que isso deva favorecer o desempenho de vendas da B2W, da Magazine Luiza e da Via Varejo.

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