Quando falamos de reserva de emergência, como o nome já diz, estamos lidando com um recurso destinado para emergências financeiras que podem ocorrer quando menos esperamos e por isso, os investimentos da reserva necessariamente precisam atender a dois critérios principais que são (i) liquidez para saques rápidos caso seja necessário; e (ii) segurança, , que pode ser traduzido por baixo risco, para evitar prejuízos no momento de resgate. Essa combinação de alta liquidez e baixo risco acaba exigindo que esse investimento deixe a rentabilidade em segundo plano.
Reserva de emergência x Selic
Com essas características, a alocação ideal da reserva de emergência costuma ser direcionada para ativos de renda fixa pós fixados, já que proporcionam esse tipo de tranquilidade. Dessa forma, a rentabilidade da reserva de emergência fica extremamente dependente e correlacionada com a taxa básica de juros (a Selic). Entendendo essa relação e vendo o gráfico abaixo, sabemos que o retorno da reserva de emergência passou por um período de “vacas magras” há não muito tempo atrás, principalmente entre setembro de 2019 e março de 2021, quando a Selic esteve em processo de queda e se estabilizou por alguns meses no menor patamar da história.
De abril de 2021 em diante, o movimento da taxa Selic se inverteu e ela voltou a subir em ritmo acelerado. Para entendermos de forma sucinta o que aconteceu e vem acontecendo não é preciso ir muito longe: o Banco Central do Brasil estava diante uma enorme crise financeira causada por uma pandemia, que tornou o isolamento social necessário desde o começo de 2020 e com isso, muitas incertezas tomaram conta de todas economias do Brasil e do mundo. O remédio utilizado para acalmar os mercados e salvar a economia ? Dinheiro! Os Bancos Centrais de todo mundo injetaram liquidez (recursos na economia) com a finalidade de amenizar os impactos da crise. A injeção de recursos trouxe à tona um elemento já conhecido de muitos, principalmente pelos brasileiros: a inflação! E sabe qual é uma das ferramentas de controle da inflação no Brasil? A taxa Selic. Que estava em trajetória de queda no início da pandemia e foi reduzida ainda mais nesse cenário na tentativa de manter aquecida a atividade econômica que corria o risco de parar, porém a Selic voltou a subir a medida que a inflação deu seus primeiros sinais de que ficaria alta por um período mais longo que o esperado.
Todas essas movimentações da taxa básica de juros, acabaram gerando muitas dúvidas para o investidor iniciante, que não queria ver sua reserva de emergência sendo corroída pela inflação – enquanto a taxa de juros estava em sua mínima histórica. A grande verdade é que o investidor não deve pensar na reserva de emergência como uma fonte de retorno para a carteira, mas deve focar na segurança e liquidez desses ativos, nem que para isso abra mão de grandes retornos. A rentabilidade da reserva de emergência deverá ser algo muito próxima ao CDI, que por sua vez tem comportamento muito próximo ao da taxa Selic.
Fundos Referenciados DI
Por isso, antes de falar do que esperar para sua reserva, você precisa ter em mente que sua reserva de emergência não deveria (i) ter prazo de resgate maior que D+0 ou no máximo D+1; e (ii) ter custos elevados, como as taxas de administração no caso de fundos de investimentos. Normalmente os fundos de investimentos são boas opções para destinação dos investimentos da reserva de emergência, sendo os fundos de Renda Fixa da categoria “Referenciados DI” os mais adequados, porém é importante estar atento a um “detalhe”: o fato de ter ou não crédito privado em seu portfólio. Vejamos abaixo o comportamento de alguns fundos Referenciados DI que não possuem crédito privado em comparação ao CDI:
Por definição, os Referenciados DI investem no mínimo 95% do seu patrimônio em Títulos Públicos atrelados à Selic, oferecendo liquidez e segurança como componente principal da alocação. Os três fundos Referenciados DI que forma utilizados no gráfico apresentam as características reforçadas anteriormente, com baixa volatilidade e rendimentos próximos ao CDI, com redução apenas do custo da taxa de administração. Vale comentar, que durante o mês de setembro de 2020 tivemos uma marcação a mercado no Tesouro Selic, sendo um movimento de rápida recuperação, porém fora isso, os fundos seguiram consistentes mesmo nos momentos de maiores incertezas da economia, como em março de 2020, início da pandemia.
Mas, atenção! Assim como existem excelentes produtos para sua reserva, você pode acabar encontrando por aí fundos assustadores que vão te trazer mais prejuízo do que retorno. Como vimos recentemente no relatório do nosso time de análises, que mostrou que existem fundos com milhares de cotistas e alguns bilhões de reais investidos, que entregam retornos entre 50% a 70% do CDI – se mal acompanha o CDI, o que dirá de superar a inflação. Mesmo que a reserva de emergência não seja para obter grandes rentabilidades, você não pode ficar no prejuízo sabendo que existem melhores alternativas.
Outro ponto de atenção: as taxas cobradas por esses fundos. Se estamos falando de um fundo de investimento, que vai acompanhar de forma passiva títulos seguros do mercado, essa taxa de administração tem que ser mínima ou no melhor dos casos: tem que ser zerada! Dessa forma, o investidor vai poder capturar a melhor vantagem de aplicar através de um fundo DI, a isenção do pagamento da taxa do tesouro direto.
Um exemplo de fundo com taxa zero é o Trend DI Simples, que investe em títulos públicos e tem o objetivo de acompanhar o CDI. É um fundo com aplicação mínima de R$ 100,00, liquidez em D+0 e que oferece ao investidor flexibilidade e segurança na alocação.
Fundos Referenciados DI com Crédito Privado
Alguns avisos podem ser considerados repetitivos, porém são necessários quando falamos de reserva de emergência. Como da segurança, da liquidez, da rentabilidade em segundo plano. Porém, existem algumas alternativas de alocações que até parecem prometer isso, porém na prática o risco aumenta consideravelmente. Um exemplo são os fundos referenciados com crédito privado. Mesmo que os papeis selecionados sejam de empresas com segurança, a marcação a mercado pode trazer sobressaltos na rentabilidade, o que não é desejado para esse tipo de alocação. Para entender o que seria esse risco, vamos verificar a marcação a mercado que esses títulos sofreram durante a crise:
Essa marcação a mercado pode ser explicada por alguns fatores como (i) temores dos investidores em relação ao impacto da pandemia nos títulos de crédito, (ii) queda considerável da taxa Selic no período, somado ao (iii) aumento do prêmio de risco nos títulos de renda variável no período. É possível perceber que na sequência tivemos um movimento de recuperação na medida que investidores compreendiam a qualidade dos títulos presentes no portfólio dos fundos e que a crise não afetaria esses títulos como imaginado anteriormente. Mas ainda assim, a recuperação levou alguns meses e em alguns fundos ainda não foi concluída. Agora imagine se você ou qualquer outro investidor que tivesse sua reserva de emergência em um fundo desses e precisasse resgatar exatamente nesse período, por exemplo, porque perdeu o emprego ou precisou usar em uma emergência de saúde ?
Então devemos evitar os fundos referenciados com crédito privado para investir a reserva de emergência ? Não necessariamente, até mesmo porque esses eventos de marcação a mercado como o ocorrido no ano passado não são tão recorrentes e mesmo quando acontecem, podem não ser dessa magnitude como o de março/abril de 2021. De qualquer forma, vale ficar atento e, na medida do possível pecar pelo excesso de conservadorismo, priorizando os fundos que não possuem o termo “Crédito Privado” ou “CP” em seu nome.
Se mesmo assim você já tem ou acha que vale a pena investir nos Referenciados DI com Crédito Privado, sem problemas. Esteja ciente dos riscos e veja que quando alongamos o prazo de análise de um fundo dessa categoria, como no gráfico acima, é possível perceber que essa queda se torna menos relevante no longo prazo.
Revisando a sua reserva de emergência
Inflação alta, situação fiscal pressionada, ano eleitoral à frente – tudo isso em paralelo com a reabertura das economias que tentam se recuperar do choque causado pela pandemia do COVID-19. O cenário não está fácil, os índices de desemprego estão altos, as incertezas também. Nesses casos, é ideal que o investidor revise a situação da sua reserva de emergência, calculando seu custo de vida e procurando ter um reserva robusta para eventuais solavancos que possam ocorrer. Reveja também quais investimentos está usando ou pretende usar para esses recursos, que podem ser desde CDBs, Tesouro Selic ou, como já dissemos, fundos de investimentos Referenciado DI, com ou sem crédito privado, desde que esteja ciente do que demonstramos acima.
Voltando para ao questionamento do título “Alta de juros – o que esperar da sua reserva de emergência”, mesmo com a volta da atratividade dos títulos de renda fixa pós fixados, não espere da sua reserva, nada além da sua tranquilidade bem planejada – e isso por si, já faz toda diferença. Lembre-se que construir e gerenciar bem a sua reserva de emergência é um dos seus primeiros passos ter a tranquilidade de fazer novos investimentos de mais risco que busquem mais retorno, pois ela representa o seu “colchão de segurança”, o seu amortecedor para necessidades inesperadas ao longo do caminho.
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!