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A Era do ESG: Investimentos e negócios além do lucro

O mundo dos investimentos passou a perceber que priorizar valores ambientais, sociais e humanos significa dar valor moral e, consequentemente, financeiro a um determinado ativo; saiba mais sobre a estratégia ESG

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A Era do ESG: Investimentos e negócios além do lucro

O que antes era uma questão tocada apenas por ativistas, pesquisadores e intelectuais de nicho, hoje se consolidou como uma prática essencial e requisito básico para qualquer empresa se manter relevante no longo prazo. ESG representa os valores humanos, sociais e ambientais de uma sociedade que começa a enxergar no seu entorno uma forma distinta de prosperar, que vai além do lucro. O mundo dos investimentos passou a perceber que priorizar tais valores significa dar valor moral e, consequentemente, financeiro a um determinado ativo.

O que é ESG?

As três letras que estão no vocabulário recorrente dos maiores investidores e executivos do mundo representam uma sigla em inglês: Enviromental, Social and Governance (ESG). Ou seja, ESG representa um conjunto de fatores e critérios que tornam a filosofia de qualquer investimento mais sustentável no sentido de valorizar questões ambientais, sociais e de governança corporativa.

É um tipo de estratégia que não se abstrai do lucro. Pelo contrário, o lucro ainda é o objetivo, porém muda-se a forma de realizá-lo, realocando o dinheiro para projetos que visam um mundo mais justo, igualitário, com maior respeito à individualidade das pessoas e maior responsabilidade no uso de recursos naturais e preservação do meio ambiente, por exemplo.

Por que empresas, investidores e consumidores adotaram o ESG?

Uma nova Era se consolidou no capitalismo há alguns anos. Empresas, investidores e consumidores buscam cada vez mais olhar para o mundo com uma perspectiva mais alongada, de preservação da História, dos recursos naturais, sentindo-se como parte do planeta.

O que seria da humanidade com um escasso sistema de abastecimento de água? Qual seria a expectativa de vida se ocorresse um desmatamento desenfreado das grandes florestas do mundo? E se a intolerância, em seus mais diversos níveis e tipos, aumentasse a ponto de vivermos uma guerra generalizada? São questionamentos como esses que fazem a lógica capitalista mudar de rumo.

A Mckinsey, renomada empresa de consultoria global, produziu diversos estudos sobre o tema. Em um deles, são elencados alguns motivos para essa adoção ser cada vez mais forte daqui para frente.

Maior demanda de consumo e maiores receitas

Uma forte proposta de ESG ajuda as empresas a explorar novos mercados e aproveitar oportunidades. Por exemplo, quando os critérios ESG são aplicados de forma explícita no negócio autoridades governamentais podem ser novas parcerias de negócio já que a questão da sustentabilidade é um dos principais requisitos na avaliação de contratação para obras e serviços públicos.

Ou seja, a burocracia para uma avaliação ou contratação acaba sendo muito menos morosa e mais fácil de se comparar com empresas que não estão em conformidade com os fatores ESG.

Outra questão bastante importante do ESG é a grande demanda e preferência por parte do consumidor. Uma pesquisa da McKinsey mostrou que os clientes dizem que estão dispostos a pagar mais para contribuir com o meio ambiente ou causas sociais. 

Mais de 70% dos consumidores pesquisaram compras em vários setores, incluindo as categorias automotiva, de construção, eletrônica e embalagem, e disseram que pagariam 5% a mais por um produto ecológico se ele atendesse aos mesmos padrões de desempenho que uma alternativa não ecológica. 

Outra pesquisa, desta vez da Nielsen, de 2018, confirma também a preocupação dos consumidores nos Estados Unidos, um dos maiores mercados de consumo do mundo. Os resultados mostraram que 48% dos entrevistados pensam em mudar seus hábitos de consumo para reduzir os impactos ambientais.

Exemplos práticos

Na prática, há empresas que aproveitam essa demanda para incorporar fatores ESG nos seus produtos. Por exemplo, um dos casos mais emblemáticos dos últimos anos foi o Projeto Sunlight, da Unilever, que desenvolveu um detergente lava-louças que usava muito menos água para o enxágue em comparação a outras marcas concorrentes.

A proposta fez superar o crescimento da categoria em mais de 20% em vários mercados com escassez de água, de acordo com o artigo da Mckinsey. Outro exemplo dado pela consultoria global é o da tradicional petrolífera finlandesa Neste Oil, uma das companhias que mais incorporaram fatores ESG, gerando, aproximadamente, 2/3 de seu lucro a partir dos combustíveis renováveis, entre outros produtos sustentáveis.

Investimentos de ESG geram bons retornos

Empresas que adotam os fatores ESG como prioridade são vistas como um negócio mais sólido com foco no longo prazo. Companhias que adotam boas práticas de compliance e governança para evitar fraudes ou aquelas que usam a transparência para evidenciar que a operação está de acordo com um risco reduzido de danos socioambientais podem ser exemplos de antecipação para não haver nenhum tipo de surpresa negativa.

Investidores que aplicam seus recursos a esse tipo de companhia na Bolsa, por exemplo, veem tais práticas como essenciais para as ações não encontrarem tanta volatilidade pelo caminho no longo prazo.

Redução de custos

O ESG também pode reduzir substancialmente os custos operacionais, como o uso de matérias-primas ou o gasto com energia elétrica. A eficiência é a chave para haver uma economia considerável.

Por exemplo, a 3M, companhia reconhecida pelo seu modelo sustentável, economizou bilhões de dólares adotando o exemplar programa Pollution Prevention Pays (3P), reutilizando matérias-primas e reaproveitando mais os seus recursos, com o foco de diminuição na emissão de carbono e de produtos tóxicos ao meio ambiente.

Outra companhia que puxou a frente na redução de custos, considerando as boas práticas ambientais, foi a FedEx, um dos maiores serviços de entrega do mundo. Uma das metas para 2020 era a de eficiência de combustível, reduzindo os gastos em 50%, a partir do aumento de suas frotas de carros híbridos e elétricos.

Aumento de produtividade

Como um dos pilares do movimento ESG, saber lidar de forma empática com os funcionários e proporcionando-lhes um ambiente adequado e satisfatório é uma das formas de aumentar a produtividade. Há estudos que mostram que há uma relação direta entre felicidade no trabalho e bons resultados financeiros.

Ao examinar as ‘100 melhores empresas para se trabalhar na América’, publicadas todos os anos na renomada revista Fortune, o pesquisador Alex Edmans, professor da London School of Economics, verificou que as empresas que incluíram seus funcionários para uma maior conexão com os valores da empresa, garantindo um bem-estar social confortável, tiveram maiores retornos de suas ações, de 2% a 3% ao ano, em um período de cerca de 25 anos, comparando com outras companhias que não se destacaram tanto no engajamento com os colaboradores.

Como surgiu o ESG?

Curiosamente, as primeiras ideias de investimento sustentável surgiram a partir de códigos éticos e crenças religiosas, que moldaram os primeiros casos.

Grupos religiosos como judeus, muçulmanos e metodistas estabeleceram parâmetros éticos e que vão de acordo com os seus valores para investir seu dinheiro, proibindo a alocação dos recursos em empresas nos setores bélico, álcool e tabaco.

Mas a primeira evidência concreta de um fundo de investimento conhecido globalmente, que inspirou o ESG como o conhecemos hoje, foi o Pax World Fund, constituído em 1971 por dois reverendos, que embutiram seus valores para apostar em empresas que se destacavam em responsabilidade social e excluir os seus investimentos de empresas que estavam contribuindo com a Guerra do Vietnã.

Em 1977, outro importante marco para o movimento ESG foi dado: Leon Sullivan, reverendo e líder de direitos civis norte-americano, desenvolveu um código de conduta para as empresas, apelidado de Princípios de Sullivan.

Esses princípios foram criados para promover a responsabilidade social corporativa e aplicar pressão econômica na África do Sul em resposta, na época, ao sistema de segregação racial do Apartheid. Décadas depois, em 2000, as Organização das Nações Unidas (ONU) adotam uma versão atualizada do código de conduta corporativa de Sullivan para empresas para fundar o Pacto Global, lançado pelo então secretário-geral Kofi Annan.

O programa da ONU é o principal instituto global de consolidação da integração da governança ambiental, social e corporativa nos mercados de capitais. A iniciativa cunhou pela primeira vez o termo Investimento ESG em 2005, com a publicação Who Cares Wins.

Como investir com a estratégia ESG?

Da mesma forma que as grandes empresas tem olhado para o ESG como uma forma de vantagem competitiva, os investidores também buscam pela estratégia para encontrar as companhias mais resilientes e que, mesmo em choques financeiros, conseguem se sobressair por estarem em dia com os fatores que garantem a robustez a longo prazo.

Há algumas formas de investir em empresas que tem a estratégia ESG em seu DNA. Veja abaixo algumas delas.

ETFs

O investimento mais corriqueiro usado no mundo inteiro para aproveitar estratégias de ESG é o Exchange Traded Fund (ETF), conhecido popularmente como fundo de índice. Basicamente, esse tipo de ativo replica o desempenho de um índice consolidado no mercado financeiro.

E como há inúmeros índices focados em ESG, cada um com sua metodologia e composição, os ETFs se tornaram a forma mais automática de adicionar essa estratégia na carteira de investimentos. No entanto, aqui no Brasil ainda não há ETFs de ESG disponíveis, apenas nas Bolsas de Valores do mercado internacional. Mas como acessá-los?

Fundos de Investimento

Os Fundos de Investimento são veículos capazes de reproduzir esses ETFs. Atualmente, na plataforma da XP, foi recém-lançado o Trend ESG Global, que investe, de forma passiva, em três ETFs que replicam índices com as empresas que mais se destacam em estratégias de ESG no mundo.

Ações

As opções anteriores demonstram uma estratégia passiva, ou seja, de investimento indireto em ações de empresas renomadas que adotam o ESG em suas operações. Porém, nada impede de um investidor definir os seus próprios critérios e montar uma carteira própria de ações na Bolsa brasileira que olham para esta questão.

Seria uma estratégia mais avançada, que demandaria bastante estudo para entender quais companhias no Brasil tem adotado o ESG como princípio. No entanto, seria uma estratégia acessível, por ser um investimento feito na B3, a Bolsa de Valores oficial do Brasil, e com isso o investidor poderia ter mais controle da carteira, revisando suas posições da maneira que quiser, sem se submeter às composições dos índices ESG.

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