Expert XP 2025: somos o país da renda fixa?

Neste sábado (26), Ana Rodela, da Bradesco Asset, Luiz Eduardo Portella, da Novus Capital, e Fábio Oliveira, da XP Asset, conversaram com Camilla Dolle , da XP, no palco da Expert XP 2025, sobre o cenário atual da renda fixa e do crédito privado no Brasil. A conversa abordou os impactos do ambiente macroeconômico global, as estratégias de alocação diante das incertezas fiscais e políticas, a evolução do mercado de crédito privado e o papel crescente dos FIDCs como alternativa de diversificação em um mercado cada vez mais sofisticado.

Portella iniciou comentando o cenário macroeconômico, destacando o impacto do “tarifaço” de Trump, a busca global por diversificação cambial e o enfraquecimento do dólar como temas em foco. Ele apontou que o Brasil vive um momento de realocação de recursos em meio a incertezas fiscais e eleitorais, com juros altos se consolidando como nova realidade global após a pandemia.

Ana Rodela trouxe a visão da gestão de crédito, ressaltando que o ambiente atual é marcado por eventos inéditos e de difícil comparação histórica, o que desafia os modelos tradicionais de análise. Ela destacou a importância dos “microciclos” de crédito, que afetam diretamente os spreads e exigem atenção dos gestores para geração de alpha. Além disso, mencionou a crescente diferenciação de prêmios de risco entre empresas de maior e menor qualidade de crédito, especialmente após o caso Americanas.

Fábio Oliveira (XP Asset) comentou que o mercado brasileiro está mais maduro, mas ainda enfrenta distorções na precificação de risco. Ele observou que os gestores têm operado com foco nos ciclos de crédito, mas o encurtamento dos prazos de vencimento e a falta de prêmio para alongamento são pontos a serem considerados na decisão de investimento. Fábio relembrou a crise do México como exemplo de subprecificação de risco em ambientes incertos, alertando para oportunidades que surgem nestes momentos de maior volatilidade.

Corrida por títulos isentos

Outro ponto relevante da conversa foi a corrida por títulos isentos, impulsionada pelas mudanças na tributação da renda fixa. Portella comentou que há uma forte demanda por esses papéis, com empresas emitindo até com spreads negativos para aproveitar o “gross up” antes da mudança. A expectativa é de que esse movimento continue até o fim do ano, com fundos high grade (de maior qualidade de crédito) se posicionando defensivamente para o próximo ciclo de juros.

Por fim, os FIDCs ganharam destaque como alternativa de diversificação. Ana explicou que esses fundos permitem acesso a direitos creditórios antes restritos aos bancos, mas exigem estrutura jurídica e operacional robusta. Fábio complementou que, quando bem desenhados, os FIDCs são juridicamente sólidos, como demonstrado nos casos de maior estresse, como da Parmalat e da Light. Ambos concordaram que o crescimento dessa classe depende de uma originação cuidadosa e bem estruturada.

A conversa foi encerrada com a mensagem de que a diversificação e o papel ativo dos gestores são essenciais para navegar os ciclos e capturar oportunidades em um mercado em constante evolução.

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