Está oficialmente aberta a temporada de resultados do 3º trimestre de 2022 nos Estados Unidos. Algumas das principais empresas do S&P 500 começam a divulgar os números referentes ao período de julho a setembro e, como de costume, essa fila é puxada pelos grandes bancos. Nomes como J.P. Morgan, Citigroup e Morgan Stanley começam apresentando seus balanços. Até o final desta sexta-feira, 8,5% do S&P 500 terá divulgado seus resultados e, nas próximas semanas, a temporada ganha tração. Até final de outubro, 70% do valor de mercado do índice terá reportado, o que representa quase US$25 trilhões, sendo a última semana do mês a mais relevante da temporada, quando as big techs americanas divulgam seu balanços.
Até o momento, 36 empresas do S&P 500 reportaram seus números, apresentando um decrescimento consolidado de -3,47% dos lucros e crescimento de 9,41% da receita, segundo a Bloomberg. Porém, a amostra ainda é pequena, vale se atentar ao que esperamos para a temporada.
Três pontos de atenção para o 3º trimestre de 2022
1. Corte nas expectativas de lucro das empresas
A primeira metade do ano foi marcada por dois trimestres consecutivos de queda no PIB (Produto Interno Bruto) americano, caracterizando uma recessão técnica. Nos meses subsequentes, fatores como a persistência da inflação e até onde vai a elevação da taxa de juros por parte do Federal Reserve (banco central dos EUA) permanecem sem resposta.
Frente esse cenário desafiador, os analistas revisaram suas projeções de Lucro Por Ação (LPA) para o 3º trimestre durante o período (entre 30/06 e 30/09), resultando em uma queda nas expectativas de lucro de 1,8% no agregado do S&P 500. A nível setorial, 8 dos 12 setores terminaram o trimestre com uma expectativa menor de resultado, sendo que as revisões mais negativas foram em Materiais Básicos, Consumo Discricionário e Comunicação. Na ponta oposta, Petróleo & Gás teve uma revisão positiva na casa de dois dígitos.
Apesar dessa revisão para baixo nas projeções, a preocupação de revisões futuras ainda permanece. As estimativas de lucro do S&P 500 para os próximos 12 foram revisadas em apenas -1% desde a máxima projetada no ano. Enquanto que, em períodos de recessão anteriores, os lucro recuaram -12,1% na mediana.
Assim, reforçamos a relevância dessa temporada de resultados para avaliarmos como as empresas estão sendo impactadas pelo cenário atual. A depender dos resultados, podemos ver uma correção maior nas expectativas de lucro do S&P 500 para os próximos 12 meses.
2. Impacto da valorização do dólar no lucro das companhias
2022 também tem sido marcado por uma valorização expressiva do dólar americano. O índice DXY, que mede a variação do dólar em relação à uma cesta de outras moedas, já atingiu o maior patamar em 20 anos. No ano, o índice acumulou ganhos de +17%. Essa alta se dá em meio à subida dos juros pelo Federal Reserve mais rápida do que os outros bancos centrais do mundo desenvolvido, além do aumento do sentimento de aversão ao risco global, resultado da série conflitos geopolíticos, preocupação com uma recessão global, entre outros fatores, o que faz com que ativos seguros, como a moeda da maior economia do mundo, tenha ganhado maior atratividade.
Porém, a valorização do dólar tem impacto direto no resultados das empresas que têm receita fora dos Estados Unidos. Lembrando que o S&P 500 reúne as maiores empresas listadas na bolsa americana, sendo muitas delas líderes globais com presença em diversos países. Frente à uma moeda americana mais valorizada do que as outras, quando as vendas internacionais são convertidas para o dólar no balanço das companhias, elas acabam valendo menos.
Com 40% da receita do S&P 500 sendo originada por vendas internacionais, a taxa de câmbio pode gerar impactos negativos na receita e margem de lucro das empresas. Na visão setorial, vemos Tecnologia e Materiais Básicos (commodities) como os mais impactados.
3. A escalada da inflação deve seguir pressionando as margens das empresas
Corroborando com o momento delicado em que a economia americana se encontra, a inflação segue persistente. O índice de preços ao consumidor (CPI) nos EUA voltou a ser mais forte do que o esperado em setembro, frustrando as esperanças de uma desaceleração no ritmo de alta de juros nos EUA. A inflação cheia subiu 0,4% em relação a agosto e 8,2% no acumulado de 12 meses, enquanto a inflação excluindo alimentos e energia – chamado de inflação núcleo – subiu 0,6% na variação mensal e 6,6% na variação anual. Ambos bem acima da meta do banco central de 2%. Apesar dos indicadores de alta frequência apoiarem a tese de que as pressões do mercado de trabalho e da inflação devem começar a diminuir, essa percepção ainda não reflete nos dados oficiais.
Olhando para as companhias, os números divulgados até agora mostram que a margem operacional do S&P 500 se manteve em níveis relativamente altos no último ano, rodando acima de 15% desde setembro de 2021, transparecendo que as empresas tiveram pricing power (poder de precificação) pra repassar o aumento nos custos. Entretanto, a medida que a inflação continua persistente, o mercado de trabalho segue apertado e o custo de mão de obra ainda está alto, vai ser importante acompanhar esse indicador.
Se as empresas encontrarem dificuldade para repassar o contínuo aumento nos custos, poderemos começar a ver uma compressão em suas margens e também dos lucros. Olhando para frente, as projeções de mercado ainda estimam margens operacionais relativamente altas, segundo o consenso da Bloomberg, as estimativas apontam para números acima de 16% para o fim desse ano e do próximo. Em relação aos lucros, a projeção de crescimento também não parece refletir o impacto na inflação no resultado.
O que esperar para esse trimestre nos Estados Unidos?
Para o 3º trimestre de 2022 é esperado um crescimento nos lucros por ação do S&P 500 na ordem de 5,3%, em comparação com o mesmo período do ano passado. Se esse número se concretizar, apesar de ser o menor crescimento desde o 4º trimestre de 2020 e representar uma redução versus a expansão de mais de 7,5% apresentado nos dois primeiros trimestres do ano, ainda reforçaria o cenário de expansão de lucro das empresas mesmo em um ambiente macroeconômico desafiador.
Essa expectativa de crescimento reforça nossa visão que ainda haveria espaço para uma revisão nas projeções de lucros para os próximos períodos. Dadas as preocupações com a inflação atingindo máximas históricas, as consequentes taxas de juros crescentes, além de perspectivas sobre a economia cada vez mais deterioradas, o mercado estará bastante atento ao guidance para o 4º trimestre do ano e para 2023 emitidas pelas empresas nas suas divulgações de resultado.
Apesar da expectativa de crescimento, 4 setores já refletem uma perspectiva de queda nos lucros e tanto investidores quanto companhias têm discutido alguns fatores específicos que impactam negativamente os lucros. Segundo levantamento do FactSet, entre as questões mais comentadas pelas empresas que divulgaram seus resultados até o início de outubro aparecem temas como custos da mão de obra, interrupções da cadeia de suprimentos e taxas de juros mais altas, além da taxa de câmbio (valorização do dólar) que comentamos acima. Apesar da amostra até agora ser pequena, acreditamos que tais fatores devem continuar a aparecer como detratores de lucro das companhias.
A nível de receitas, é esperado um crescimento de 9,3% (ano/ano) para o 3º trimestre de 2022 no agregado do S&P 500. Dentre os setores do índice, apenas a indústria financeira aparece com perspectiva de queda na receita.
Conforme escrevemos no Bolsa americana volta a subir, é hora de ficar otimista?, reforçamos nossa visão ainda cautelosa em relação ao mercado americano, com riscos em relação à política monetária e queda nas projeções de lucros das empresas em meio ao aumento da probabilidade de recessão. Recomendamos o posicionamento em setores com pricing power, que conseguem repassar os maiores custos; demanda mais resiliente e menos exposta ao ciclo econômico; e empresas com valuations em patamares razoáveis.
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