Resumo
No cenário internacional, os indicadores econômicos desta semana ajudaram a mitigar as preocupações dos investidores sobre o risco de recessão nos EUA, que surgiram após a divulgação de dados fracos de emprego na sexta-feira passada. O alívio também impactou os preços do petróleo, que fecharam a semana em alta.
No Brasil, a ata do Copom reforçou o tom duro do comunicado da última semana, que foi reverberado em fala pública do diretor Gabriel Galípolo. Nos indicadores, o IPCA veio ligeiramente acima das expectativas em julho e com composição ainda desafiadora.
Publicamos nosso relatório mensal com leves alterações nas principais variáveis econômicas.
Após semana de forte estresse, a taxa de câmbio voltou para o patamar de 5,50 reais por dólar, fruto de eventos domésticos e internacionais.
Gráfico da Semana
Cenário internacional
Dados de atividade nos EUA e fala de diretor do BC japonês reduzem riscos da última semana
O PMI de serviços nos Estados Unidos medido pelo ISM – uma sondagem com empresários para avaliar as perspectivas das condições econômicas e de negócios nos países – aumentou de 48,8 para 51,4 em julho. Uma leitura acima de 50 indica crescimento no setor, que responde por mais de dois terços da economia. O dado ficou acima do consenso de 51,0 pontos. No mercado de trabalho, os pedidos de seguro-desemprego ficaram em 233 mil, abaixo dos 250 mil da semana anterior, aliviando as preocupações sobre o ímpeto do setor. Os dados desta semana ajudaram a mitigar as preocupações dos investidores sobre o risco de recessão nos EUA, que surgiram após a divulgação do Payroll na sexta-feira passada.
Ademais, a sinalização do Vice-Presidente do Banco do Japão, Uchida Shinichi, de que a instituição não voltará a elevar juros enquanto os mercados estiverem instáveis também ajudou a dissipar os temores – dado que o aumento dos juros no Japão na semana passada foi um dos motivos que gerou preocupação nos mercados (leia o Economia em Destaque da semana passada). O cenário também impactou os preços do petróleo, que fecharam a semana em alta, por conta da melhoria do sentimento em relação à economia dos EUA e das persistentes tensões geopolíticas que mantém os preços elevados.
Acreditamos que a economia americana está desacelerando em resposta à política monetária restritiva, o que levará o Fed (banco central do país) a começar a cortar os juros em setembro. Mas até agora não vemos sinais de recessão.
Exportações chinesas reforçam cenário de desaceleração do país
As importações na China cresceram 7,2% em julho de 2024 em relação ao mesmo mês do ano passado, muito acima da expectativa do mercado de 3,5%. Por sua vez, as exportações subiram 7,0% na comparação interanual, abaixo da projeção de 9,7%. Apesar do crescimento nas importações, os dados mais fracos de exportações podem sinalizar um enfraquecimento da economia asiática.
Com relação aos preços, a inflação ao consumidor chinesa avançou 0,5%, acima do esperado, impulsionada pelos preços da carne suína, item importante na cesta básica e de preços bastante voláteis. O núcleo da inflação – que exclui preços voláteis, como alimentos e energia – cresceu 0,4% em termos anuais. Ambos os resultados reforçam que a inflação na China continua bastante baixa. De fato, a inflação do Índice de Preços no Produtor ficou em -0,8% em 12 meses, sugerindo que os custos de produção permanecem moderados.
A nosso ver, a atividade econômica chinesa crescerá a um ritmo moderado nos próximos meses e o governo encontrará dificuldades para cumprir a meta de crescimento de 5% em 2024.
Enquanto isso, no Brasil...
Ata sinaliza que Copom está pronto para agir, caso necessário
O Banco Central do Brasil publicou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O documento repetiu o tom mais conservador apresentado no comunicado pós-decisão da semana passada, apontou os riscos de alta para a inflação e destacou, de forma unânime, que “não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”. Além disso, “todos os membros concordaram que há mais riscos para cima na inflação, inclusive com vários membros enfatizando a assimetria do balanço de riscos”.
Em linha com a postura mais dura da ata, o diretor do Banco Central, Gabriel Galípolo, em discurso público, alinhou-se explicitamente com aqueles membros do comitê que veem o balanço de riscos da inflação como assimétrico. Ele destacou que, em 3,2%, a previsão de inflação do Copom está acima da meta num cenário em que a taxa Selic fique parada em 10,50%. Além disso, ele afirmou que todas as opções para o futuro da Selic estão sobre a mesa e que o Copom atuará de acordo com a evolução dos dados.
Continuamos a projetar a taxa Selic constante em 10,50% até o final de 2025. Porém, as chances de aperto adicional da política monetária no curto prazo (ou seja, elevação de juros) estão aumentando.
Dólar retorna aos patamares de R$ 5,50
A taxa de câmbio voltou a cair nesta semana, fechando próxima a 5,50 reais por dólar. Fatores domésticos e externos explicam o movimento. O alívio nos dados econômicos dos EUA e o discurso de cautela com alta de juros pelo vice-presidente do Banco do Japão são os principais fatores por trás do movimento. Aqui, a mensagem mais dura na ata do Copom e, posteriormente, o discurso mais conservador de Gabriel Galípolo (ver acima) também aliviaram a pressão sobre o Real.
Projetamos 5,40 reais por dólar no final de 2024. A nosso ver, parte do prêmio de risco incorporado aos ativos brasileiros deve ser permanente e, dessa forma, a taxa de câmbio seguirá em patamares mais depreciados do que o sugerido pelos fundamentos econômicos (entre 5,00 e 5,20). Esperamos alguma descompressão nos próximos meses, em linha com a flexibilização da política monetária nos EUA e menor percepção de risco global.
Inflação em julho sobe e deve encerrar o ano em 4,1%
O IPCA registrou elevação de 0,38% em julho de 2024, atingindo 4,50% no acumulado em doze meses. A alta foi impulsionada principalmente por preços de gasolina, energia elétrica e passagens aéreas. Os preços de produtos industriais seguem reacelerando diante de dólar forte e demanda aquecida. Na mesma linha, a inflação de serviços voltou a trazer sinais de cautela em julho. Conforme o resultado, a métrica chamada “serviços subjacentes” – que exclui serviços com preços mais voláteis, como passagem aérea – acelerou para 6,0% na média dos últimos três meses em julho, de 4,6% no mês anterior.
Esperamos que a inflação siga relativamente bem-comportada nos próximos meses, mas encerre o ano acima da meta do Banco Central. Projetamos que o IPCA encerre 2024 em 4,1%.
Para mais informações, leia o relatório “IPCA de julho: Inflação sobe puxada por combustíveis e energia, e preços de serviços reacendem luz amarela”.
Publicamos nosso relatório mensal e seguimos enxergando Selic em 10,50% nos próximos trimestres
Os determinantes da inflação continuam sugerindo pressão adiante. Mercado de trabalho apertado, taxa de câmbio pressionada, política fiscal expansionista e expectativas de inflação em alta sugerem que o balanço de riscos para a inflação é assimétrico para cima. Esses dados, caso permaneçam, manteriam a previsão do Copom não muito acima da meta no horizonte relevante. O risco de uma recessão global, em contrapartida, é um fator para baixo na inflação. Desse modo, o cenário manteria o Copom em pausa durante o resto do ano (e 2025), em nossa opinião.
Mantivemos nossa projeção em 5,40 reais por dólar, patamar um pouco mais forte que atual, o que é consistente com termos de troca ainda relativamente elevados e um diferencial de juros mais aberto. Nossa projeção de IPCA subiu ligeiramente de 4,0% para 4,1% este ano, permanecendo em 4,3% para o ano que vem.
Para maiores detalhes, leia nosso relatório mensal de agosto “Brasil Macro Mensal: Juros estáveis, neste momento”.
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O que esperar da semana que vem
Na agenda internacional, o destaque da semana que vem serão os dados de inflação nos EUA referentes a julho - índice de preços ao produtor na 3ª-feira e o índice de preços ao consumidor na 4ª-feira (PPI e CPI, siglas em inglês, respectivamente). Na 4ª-feira, também teremos dados de inflação de julho no Reino Unido e atividade na China (vendas no varejo, produção industrial, e mercado de trabalho). Por fim, na 5ª-feira, atenções voltadas ao PIB do segundo trimestre no Reino Unido e atividade varejista de julho nos EUA.
No Brasil, a agenda contará com relevantes indicadores de atividade econômica. Na 3ª-feira, o IBGE divulgará a Pesquisa Mensal de Serviços e, na 4ª-feira, a Pesquisa Mensal de Comércio, ambas referentes a junho. Na 6ª-feira, será a vez do Banco Central divulgar o IBC-BR do mesmo mês, uma espécie de proxy mensal do PIB. Será relevante observar como as variáveis se comportaram após os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul em maio. Veja abaixo as nossas projeções.
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