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Setor financeiro, um grande mercado em disrupção, parte I

Diante de múltiplos mais altos, enquanto o cenário se deteriora, decidimos atualizar nossa cobertura do setor financeiro.

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Diante de múltiplos mais altos, enquanto o cenário se deteriora, decidimos atualizar nossa cobertura do setor financeiro. Desde que atualizamos nossa cobertura de bancos incumbentes, em junho de 2020, o preço médio das ações de bancos privados aumentou em média 30%, quase se igualando os preços pré-COVID. Por outro lado, os mesmos enfrentam: i) um cenário de crédito deteriorado; ii) novos entrantes mais competitivos e capitalizados; iii) mudanças relevantes de comportamento do cliente, o que na nossa visão não favorece os bancos incumbentes; e iv) regulamentações bem-sucedidas por parte do Banco Central, em contraste com expectativas de atraso por parte do mercado. Dito isso, decidimos atualizar nossa cobertura do setor financeiro com uma visão mais cautelosa tanto dos incumbentes, quanto dos bancos de médio porte. Por fim, também forneceremos mais detalhes sobre disruptores listados, que acreditamos serem relevantes o suficiente para investidores monitorarem.

Uma série de relatórios. Para atualizar nossa cobertura, decidimos dividir este relatório em cinco, sendo: i) esta breve introdução sobre o porquê de acreditarmos que o setor financeiro foi impactado negativamente por tecnologia, regulação e a pandemia do COVID-19 em termos de competição e criação de valor; ii) uma abordagem do modelo de negócios dos novos entrantes; iii) um mergulho específico em disruptores listados; iv) uma atualização sobre a cobertura de nossos bancos incumbentes; e v) uma atualização da nossa cobertura de bancos de médio porte.

1º relatório: Setor financeiro, um grande mercado sendo disruptado. Começaremos a série com uma breve introdução sobre o porquê de acreditarmos que tecnologia, regulamentação e a pandemia do COVID-19 impactaram negativamente o setor.

2º relatório: A disrupção em detalhes. Em seguida, descreveremos como os disruptores estão operando dentro e fora do setor financeiro no próximo relatório. Uma abordagem especial sobre bancos digitais e marketing de afiliados será realizada. Clique aqui para acessar o relatório.

3º relatório: Apresentando os disruptores. Um mergulho profundo nos disruptores listados específicos no terceiro relatório. Clique aqui para acessar o relatório de início de cobertura de Méliuz.

4º relatório: Atualização dos bancos incumbentes. No quarto relatório, atualizaremos nossa cobertura de bancos incumbentes com mais detalhes. Clique aqui para acessar o relatório.

5º relatório: Disrupção em segmentos específicos. Por fim, dedicaremos nosso último relatório a analisar como a tecnologia mudou a concorrência mesmo em segmentos específicos, como crédito consignado, e também atualizar nossa visão sobre os bancos de médio porte.

Setor financeiro, um grande mercado sendo disruptado

A competição está chegando. Acreditamos que haja pelo menos quatro razões pelas quais o mercado financeiro brasileiro apresenta tantos novos concorrentes: i) enorme mercado, com um pool de receitas estimado de R$ 770 bilhões para 2021; ii) ainda subpenetrada com aproximadamente 30% da população sem conta bancária e apenas 27% da população com acesso a cartões de crédito; iii) altamente consolidado, uma vez que a participação dos incumbentes representa 76% do mercado de crédito; e iv) extremamente lucrativos, com os incumbentes possuindo uma média de retorno sob patrimônio líquido de 20% em 2019. E apesar de os descritos não serem novidade, uma vez que são realidade a mais de uma década, agora existe um novo fator que muda a competição: menores barreiras de entrada para os novos entrantes por meio de tecnologia.

… Devido a barreiras de entrada mais baixas. Antes do desenvolvimento de aplicativos de celular, incumbentes possuam uma série de vantagens comparativas, tais como: i) menor custo de captação devido a depósitos de varejo; ii) maiores rendimentos devido ao acesso a clientes de varejo dispostos a tomar empréstimos a taxas mais altas; iii) menores índices de inadimplência devido a décadas de dados de clientes; iv) receita diversificada por meio de milhares de agências, postos de atendimento, ATMS e funcionários que poderiam distribuir uma diversidade de produtos a milhões de clientes; ev) alavancagem operacional após várias fusões e aquisições e surgimento de subsidiárias altamente lucrativas (aquisições, seguros). Estes fatores contribuíram para entrantes estrangeiros não conseguirem ganhar escala e competir com incumbentes locais.

… Por meio da tecnologia. No entanto, agora existem maneiras de alcançar escala de uma com menor nível de gastos e custos por meio de tecnologia. Via celular, o Nubank alcançou clientes em todas as 5.570 cidades brasileiras, ganhou acesso a captação mais barata e capacidade de distribuição de seus produtos para mais de 30 milhões de clientes, já que a fintech tem o aplicativo de maior penetração, número de downloads e usuários ativos mensais. Da mesma forma, o Inter atingiu um custo de captação de 49% do CDI em 2020 com apenas 2 mil funcionários e sem agências (vs. 100% do CDI do Banco do Brasil com 92 mil funcionários e 4,4 mil agências).

Os disruptores estão chegando

Um mercado gigante para conquistar. E os disruptores têm crescido de forma impressionante nos últimos anos. No entanto, acreditamos que ainda há um enorme mercado a ser conquistado, pois o mercado ainda está altamente consolidado nos incumbentes.

E acreditamos que isso deve gradualmente acontecendo. Segundo a Global Findex, que concluiu que uma das razões para cerca de 30% da população brasileira não ter conta bancária é devido a produtos caros e à falta de confiança nas instituições financeiras. Sendo assim, acreditamos que players digitais continuarão a ganhar participação. Os mesmos trataram dessas questões com uma estratégia que consiste principalmente em oferecer uma experiência superior ao cliente sem cobrar por ela diretamente. Sem surpresas, players como Nubank. Méiuz e Inter alcançaram mais de 50 milhões de clientes combinados, enquanto os incumbentes possuem dificuldade para crescer e a um custo de aquisição do cliente mais caro. Além disso, o modelo de negócios digital dos novos entrantes corrobora para a inclusão, uma vez que os canais digitais ganharam força e fazem parte do novo comportamento do consumidor, por ex. telefones celulares e canais de PDA que já representam cerca de 45% do total de transações. Dito isso, esperamos que os participantes entrem em novos mercados e ofereçam novos produtos, tais como: i) investimentos; ii) depósitos; iii) empréstimos; iv) cartões; v) gestão de ativos; e outros. Esses mercados combinados têm um pool de receita estimado de R$ 770 bilhões em 2021.

E são competitivos aonde é relevante

E os novos hábitos e a demografia favorecem novos entrantes

... E novos hábitos de consumo podem aumentar a pressão. O fato de que clientes foram obrigados conduzir suas operações bancárias digitalmente em tempos de isolamento social pode ter acelerado a mudança de hábitos dos consumidores, que agora podem favorecer interações mais práticas de aplicativos em vez de pontos de contato presenciais em agências físicas.

A demografia também parece favorável a desreguladores. No entanto, a demografia também parece favorável a disruptores, uma vez que a participação de mercado de novos entrantes em faixas etárias mais jovens é significantemente melhor do que nas mais maduras.

Reguladores estão promovendo a competição

A sofisticação do mercado financeiro não parece favorecer os incumbentes. Na verdade, o oposto é que parece ser verdade, com os bancos incumbentes perdendo participação de mercado em praticamente todos os segmentos de investimento, como administração de fundos e renda fixa.

O PIX é um exemplo agressivo contra os bancos incumbentes

Um regulador promovendo a competição. Disruptores também se beneficiam de um regulador amigável, que tem consistentemente adicionado micro reformas pró-concorrência em sua agenda desde 2016. Destacamos: i) open banking, cuja plataforma integrada exigiria que os incumbentes compartilhassem dados de clientes com disruptores, que poderiam então oferecer produtos e serviços aos clientes os incumbentes, diminuindo consideravelmente as barreiras de para modelagem; ii) marketplace de recebíveis de cartão de crédito, que permitiria aos disruptores descontar recebíveis de cartão de crédito de estabelecimentos comerciais, mesmo quando o POS seja fornecido por uma adquirente externa; iii) pagamento instantâneo (também conhecido como PIX), que deve permitir que os disruptores reduzam os custos de transferência sem perder nenhuma receita, uma vez que as fintechs geralmente não cobram pela transferência e pelos pagamentos feitos; e iv) sandbox, que permitirá que os disruptores cresçam sem a pesada carga regulatória imposta pelas agências reguladoras. Além disso, os disruptores já contam com restrições regulatórias proporcionalmente mais baixas por parte do Banco Central do Brasil (Resolução 4.553 de 2017).

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