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JBS (JBSS3): destaques da reunião com CFO

O impacto do coronavírus no setor de proteínas foi o principal tema discutido, assim como a estratégia da JBS em seus diferentes segmentos de atuação e regiões.

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Realizamos hoje (13/04) uma reunião online com o CFO da JBS, Sr. Guilherme Cavalcanti, e com a diretora de relações com investidores, Sra. Christiane Assis. O impacto do coronavírus no setor de proteínas foi o principal tema discutido, assim como a estratégia da JBS em seus diferentes segmentos de atuação e regiões. Mantemos nossa recomendação de Compra para JBS, com preço-alvo de R$ 36 / ação. Veja os detalhes abaixo.

A JBS afirmou que tem três prioridades neste momento: (1) manter trabalhadores seguros; (2) manter plantas operando; (3) manter os empregos. Nesse sentido, a empresa vem realizado reuniões diárias para o contingenciamento da crise, uma vez que as informações são bastante dinâmicas. A JBS segue com uma visão positiva para o longo prazo e reiterou seu plano de investir R$ 8 bilhões de reais no Brasil nos próximos 5 anos.

Cenário do coronavírus

Diante do cenário atual, a empresa tem visto muita volatilidade no setor de proteínas. Nas primeiras duas semanas de quarentena, a demanda esteve muito aquecida, sobretudo via supermercados. Agora estaria ocorrendo uma normalização, mas o padrão de consumo segue bastante errático - a única certeza é que a procura segue acima da média esperada para o período.

A respeito das medidas de contingência, vale ressaltar que as plantas localizadas mais perto dos grandes centros estão mais sujeitas à contágio. Por exemplo: a planta da Cargill que foi fechada recentemente situa-se perto de Nova York; já a planta da JBS na Pensilvânia é próxima da Filadélfia, mas segue funcionando com capacidade reduzida. A outra planta da JBS operando com capacidade reduzida é a de Greeley, no Colorado, onde foram registrados casos de coronavírus entre os funcionários, segundo notícias.

A JBS ressaltou que está trabalhando em conjunto com o governo dos EUA para a contenção dos casos, com a disponibilização de testes para todos os funcionários da planta afetada, de maneira a evitar rupturas na logística de abastecimento do país. Conforme comentado pelo presidente da Smithfield Foods, maior produtora mundial de carne suína, cuja fábrica na Dakota do Sul foi fechada durante o final de semana, caso mais alguma planta feche, os EUA poderia entrar em um cenário de escassez de proteínas. Daí a importância das plantas da JBS permanecerem abertas, ainda que com capacidade reduzida.

Uma das três prioridades atuais da JBS é manter seus funcionários seguros. As novas medidas de proteção incluem: (1) o uso do dobro do número de ônibus para evitar que um trabalhador sente ao lado do outro; (2) medições constantes de temperatura dos funcionários nas plantas no mundo todo; (3) utilização de aparatos de segurança específicos para proteção conta a doença como máscaras e luvas. Após a implementação dessas novas medidas, a empresa já reportou quedas nos níveis de absenteísmo em algumas plantas, uma vez que os funcionários passariam a se sentir mais seguros para ir trabalhar.

Operações nos EUA

Nos Estados Unidos, a JBS possui nove plantas de carne bovina e cinco plantas de carne suína. A empresa tem, portanto, flexibilidade para realocar a produção entre suas diversas plantas. Adicionalmente, ela conta com a possibilidade de redirecionar parte de sua produção no Brasil, na Austrália ou no Canadá para os Estados Unidos via exportação.

Segundo o Sr. Cavalcanti, um dos efeitos da crise do coronavírus são as contratações sendo realizadas. Anteriormente, a JBS tinha uma dificuldade significativa em contratar mão de obra qualificada nos EUA, fato agravado pelo baixo desemprego que vigorava no país até recentemente. Com o aumento do desemprego no país e o aumento da oferta no mercado de trabalho, a JBS estaria contratando, tanto para cobrir os funcionários afastados pelo coronavírus, quanto para suprir a demanda extra por conta do mercado aquecido. Por exemplo, agora, a empresa conta com condições de formar turnos aos sábados nas fábricas, enquanto ela não tinha mão de obra suficiente para tanto anteriormente.

A operação de frango da JBS nos EUA foi o segmento da empresa mais afetado pelo coronavírus. Uma quantidade significativa da produção era direcionada para bares e restaurantes (foodservice), o qual foi fortemente afetado pela pandemia. Por fim, vale ressaltar que nenhum caso de coronavírus foi registrado até agora nas plantas da Austrália; o país vem fazendo um trabalho bem robusto em termos de contenção da crise.

Operações no Brasil

Com o início da quarentena, houve uma forte queda no canal de venda para bares e restaurantes (foodservice), parcialmente compensada pelo aumento das vendas nos supermercados. Do ponto de vista do perfil de consumo, houve aumento da participação nas vendas de congelados, inclusive os de maior valor agregado como aqueles pertencentes à linha Seara Gourmet. A empresa também afirmou que não está observando trade-down no consumo por enquanto (com aumento do consumo de carnes mais baratas como frango e porco em detrimento de carnes mais caras como a bovina), nem no Brasil nem nos EUA.

Os consumidores, inclusive, tem procurado alimentos com alto valor nutricional; a carne bovina, por exemplo, é uma fonte rica de zinco. Adicionalmente, as vendas no canal online praticamente duplicaram desde o início da quarentena, embora sejam pouco significativas considerando o resultado total da empresa. Olhando para frente, a manutenção dessa demanda aquecida dependerá sobretudo da magnitude da recessão econômica, mas vale ressaltar que a JBS é muito diversificada tanto geograficamente quanto em linhas de produtos, então mesmo no caso de trade-down ela estaria bem posicionada.

Exportações para a China

Do lado das exportações, a JBS afirmou que já está vendo sinais de normalização da demanda chinesa, apesar da queda registrada em Fevereiro. Neste trimestre, as exportações das três proteínas fecharam positivamente tanto em preço quanto em volume: em dólares, as vendas de frango do mercado brasileiro como um todo cresceram 8,4% na comparação anual, seguidas pelas vendas de carne bovina com +29,2% A/A e pelas de carne suína com +66,3% A/A. A JBS acredita que o cenário deve permanecer positivo para o resto do ano, uma vez que a Peste Suína Africana segue afetando o mercado chinês de proteína, dado o enorme déficit criado pela dizimação do plantel de suínos chinês.

Outro ponto importante é que, com a abertura do mercado chinês para a proteína americana, as exportações da JBS USA devem seguir aumentado ao longo do ano. Com a redução da tarifa de carne bovina vinda dos EUA para a China de 48% para 12%, os preços norte-americanos se tornam muito mais competitivos. Adicionalmente, a China também vem flexibilizando certas medidas sanitárias, passando a permitir o uso de hormônios (salvo a raptopamina) e a exportação de gado mais velho do que os 30 meses ou 4 dentes estipulados anteriormente.

Conjuntamente, na opinião da JBS, essas medidas de abertura da China refletem uma demanda que permanece aquecida, sinal de que segue vigente a situação de déficit de proteínas em função do surto de Peste Suína Africana no país. Inclusive, 2020 e 2021 deveriam ser anos em que tal déficit se materializa de maneira ainda mais intensa do que ocorreu em 2019, uma vez que no ano passado ainda houve um abate massivo, sobretudo de porcos, por conta dos receios do coronavírus. Agora, os animais reprodutores terão de ser guardados (e não abatidos) para permitir a reconstrução do plantel no país asiático.

Oferta de insumos

Sobre a questão do preço do gado, vale lembrar que além do ativo físico, trata-se também de um ativo financeiro. Ou seja, a queda que observamos no preço futuro do gado neste ano versus o ano passado pode ser resultado da queda de fundos que tinham gado como ativo financeiro e tiveram que vende-lo em função da alta na volatilidade nos mercados diante do coronavírus. Do ponto de vista do ativo físico, a JBS entende que a disponibilidade de gado nos EUA segue boa, e que os preços devem se recuperar no médio prazo.

No caso das operações da JBS de carne bovina nos EUA, 80% do custo é composto pelo preço pago pelo gado, e como este vem caindo, a empresa vem ganhando margem. No caso brasileiro, o câmbio favorece muito as exportações, tanto da Seara quanto da carne bovina, permitindo um aumento significativo de margem. Adicionalmente, a empresa ainda enxerga espaço para o preço do gado cair no Brasil, o que também poderia favorecer a empresa. Ambos os movimentos podem compensar custos extras com medidas de contingenciamento com o coronavírus, como ônibus extra ou aparelhos de proteção, além dos preços de grãos mais altos.

Sobre grãos, outro componente importante do custo, a empresa segue protegida, sobretudo em relação à alta recente do milho. A companhia já vinha operando no mercado financeiro com uma posição comprada em milho superior a de costume, tornando-a menos vulnerável a aumentos nos preços. Olhando para frente, dois fatores levam a empresa a crer que o preço do milho deve cair até o final do ano: (i) a safrinha brasileira do segundo semestre deve vir boa, aumentando a oferta no país e favorecendo a redução dos preços; (ii) com a queda global no preço do petróleo, espera-se redução da demanda por etanol nos Estados Unidos; consequentemente, haveria redução da demanda também por milho, cujo impacto baixista nos preços deveria ser transmitido para o Brasil por conta da paridade entre os dois países. Com a queda nos preços do milho, a JBS poderia ganhar margem, tanto em suas operações no Brasil quanto nos EUA.

Balanço sólido

A crise do coronavírus veio em um momento em que a JBS está com a posição financeira mais privilegiada em toda a sua história. Entendemos que seu sólido balanço é uma das vantagens da empresa que deve ajudá-la a navegar esse momento de incertezas. Atualmente, ela pretende manter os níveis elevados de caixa de maneira a poder utilizá-lo como um “seguro” diante da volatilidade, mas quando o cenário voltar a normalidade, a empresa poderia voltar a renegociar dívidas com o objetivo de diminuir sua despesa financeira. Por exemplo, a empresa emitiu um bond a juros de 6,25% ao ano, os quais poderiam ser reduzidos para LIBOR + 2%, economizando cerca de 8 milhões de dólares por ano para a empresa.

BNDES e listagem nos EUA

A JBS entende que é pouco provável que a venda do BNDES ocorra em um momento tão volátil do mercado, mas a decisão final é exclusiva do Banco. A potencial listagem nos EUA segue sendo uma prioridade para a JBS, por conta de vantagens já sabidas como: a empresa poderia ser beneficiada do maior capital disponível para alocação em empresas listadas nos EUA versus aquelas listadas em mercados emergentes, além de uma potencial reavaliação dos seus múltiplos (hoje as ações da JBS são negociadas  a 4,9x EV/EBITDA, ao passo que as ações da Tyson, sua concorrente norte-americana, são a 7,5x). Nesse sentido, o projeto de listagem deve ser retomado assim que possível.

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