Resumo
No cenário internacional, destaque para a inflação na zona do euro, que atingiu o menor nível desde 2021, reforçando o cenário de fim do ciclo de aperto monetário do Banco Central Europeu (BCE). Nos Estados Unidos, a medida de inflação preferida do Federal Reserve (Fed) veio ligeiramente abaixo das expectativas, mantendo a tendência de queda gradual.
No Brasil, a ata do Copom trouxe elementos que diminuem a probabilidade de aceleração no ritmo de queda da taxa Selic. Na seara fiscal, o governo solicitou ao STF a possibilidade de quitar precatórios expedidos, uma medida vista como positiva, mas com pontos preocupantes.
Cenário internacional
Combustível para a inflação – Preços de petróleo atingem maior patamar em um ano
Os preços do petróleo atingiram o maior patamar em um ano, à medida que o estoque da commodity no maior centro de armazenamento dos EUA recuou para o nível mais baixo desde julho de 2022, intensificando preocupações com o quadro inflacionário. Os preços do barril do tipo Brent estão ao redor de US$ 95, com vários analistas de mercado projetando US$ 100 no curto prazo. O petróleo em alta representa um risco de repique inflacionário. Os ativos de risco seguem pressionados no cenário internacional.
Alívio na inflação da zona do euro e dos EUA
Na zona do euro, o índice de preços ao consumidor avançou 0,3% em setembro ante agosto (exp. 0,5%), com a medida de núcleo da inflação recuado de 5,3% para 4,5% em 12 meses (exp. 4,8%). Este resultado representou o menor patamar desde 2021, mostrando que processo de desinflação continua a avançar na região.
Os dados de inflação mais fracos do que o esperado combinados ao enfraquecimento da atividade econômica são consistentes com a sinalização clara do Banco Central Europeu (BCE) de que o ciclo de aperto monetário terminou. Ainda assim, a inflação na Europa segue em patamares historicamente altos, e provavelmente forçará o banco central a manter as taxas de juros elevadas por mais tempo. Não esperamos cortes nas taxas de referência antes da quarta reunião de política monetária de 2024.
A medida de inflação preferida do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) subiu 0,14% em agosto versus julho, ligeiramente abaixo das expectativas do mercado (0,2%). O núcleo do deflator das despesas de consumo pessoal (PCE, em inglês) recuou de 4,29% para 3,88% no acumulado em 12 meses. Esses resultados mostram que a inflação continua em tendência de queda, apesar de permanecer consideravelmente acima da meta de 2%. Reforçamos o cenário de uma desinflação gradual, que deve levar o Fed a manter os juros mais altos por mais tempo.
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Enquanto isso, no Brasil…
O impasse dos precatórios
O governo solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que declare a inconstitucionalidade da emenda que instituiu o limite de pagamento de precatórios para, assim, quitar o estoque expedido e não pago até o momento (aproximadamente R$ 95 bilhões). Além disso, solicitou que, daqui para frente, o encargo financeiro dos precatórios comece a ser classificado como despesa financeira – o valor principal continuaria classificado como despesa primária.
A proposta é positiva, mas tem problemas. Ao quitar os precatórios expedidos e não pagos, o governo evita acumular uma dívida a ser paga em 2027, quando provavelmente o valor seria ainda maior. O problema é a reclassificação de juros de mora como despesas financeiras, o que implica adotar um padrão dissonante das recomendações técnicas e diferente do que se utiliza para as receitas.
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Ata do Copom reforça mensagem de cautela
O Copom publicou, nesta semana, a ata da reunião de 19 a 20 de setembro. O documento trouxe discussões importantes sobre o ambiente econômico global mais incerto e a resiliência da atividade doméstica.
Na frente fiscal, a ata reafirmou a importância da “firme persecução” das metas de resultado primário para a ancoragem das expectativas de inflação. Em nossa opinião, a ata reforça nosso cenário de cortes de 0,50pp na taxa Selic nas próximas reuniões, levando a taxa básica a 11,75% no final de 2023. A discussão sobre aceleração no ritmo de redução da taxa de juros deve perder força (pelo menos no curto prazo). Como defendemos, as taxas de juros pressionadas no exterior e a política fiscal expansionista no ambiente doméstico são restrições a uma flexibilização monetária mais intensa em 2024.
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IPCA-15 de setembro apresenta quadro mais favorável para a inflação corrente
O IPCA-15 de setembro avançou 0,35% em relação a agosto, em linha com a expectativa da XP e ligeiramente abaixo do consenso (0,37%). Na variação acumulada em 12 meses, o índice de inflação subiu para 5,00% em setembro, ante 4,24% em agosto. Como destaque, a inflação de serviços subjacentes atingiu 5,17% nos últimos 12 meses, a leitura mais baixa desde agosto de 2021. Os preços industriais caíram 0,16%, com surpresas baixistas generalizadas, enquanto os preços de alimentação no domicílio tiveram queda mensal de 1,25%. Em suma, o IPCA-15 de setembro confirmou o quadro mais benigno de inflação corrente. Mantemos nossas projeções para o IPCA de 2023 (4,8%) e 2024 (3,9%). Isto posto, alguns riscos de alta permanecem no radar, como a depreciação cambial, o salto nos preços do petróleo e as incertezas fiscais (que podem pressionar as expectativas de inflação).
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Taxa de desemprego permanece nos menores níveis desde 2015
Conforme divulgado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a taxa de desemprego brasileira permaneceu em 7,7% entre julho e agosto (dados mensais e com ajuste sazonal). O indicador está nos menores níveis desde o 1º trimestre de 2015. Os rendimentos médios do trabalho avançaram em agosto, ainda que a um ritmo moderado. Em termos reais, o rendimento habitual subiu 0,3% ante julho, após estabilidade nos últimos meses – a variável está cerca de 0,5% acima do nível observado em dezembro de 2022. A nosso ver, a dinâmica salarial recente não sustenta a visão de um mercado de trabalho estritamente apertado, pelo menos não ao ponto de exercer pressão sobre a política monetária no curto prazo. Dito isso, projetamos que a massa de renda disponível às famílias – inclui também benefícios previdenciários e transferências governamentais de proteção social – crescerá 5% em 2023 (acima da inflação). Tal impulso de renda tem contribuído para a resiliência do consumo das famílias este ano.
A desaceleração gradual do emprego e da renda deve continuar nos próximos meses, em linha com o ritmo mais suave de crescimento econômico. A taxa de desemprego deve encerrar 2023 em torno de 8%. Calculamos uma taxa média de 8,2% este ano, abaixo dos 9,3% do ano passado.
Resultados fiscais continuam no campo negativo
O setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 22,8 bilhões em agosto. O governo central teve saldo negativo de R$ 26,2 bilhões, enquanto os governos subnacionais e as empresas estatais registraram superávits de R$ 2,5 bilhões e R$ 0,9 bilhão, respectivamente.
Apesar dos resultados positivos dos governos regionais em agosto, o saldo do setor público continua deficitário, em linha com a piora no governo central. Por enquanto, mantemos nossa previsão de déficit de R$ 97,4 bilhões (0,9% do PIB) para o setor público consolidado em 2023. Esperamos que o saldo primário do governo central continue em rota de deterioração nos próximos meses, na esteira da desaceleração da atividade econômica – estimamos déficit de R$ 110,5 bilhões este ano. Por sua vez, não vemos mudança relevante na tendência para os estados e municípios, que devem registrar superávit de R$ 11,6 bilhões (0,1% do PIB).
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O que esperar da semana que vem
Na agenda internacional da semana que vem, destaque para a divulgação dos índices PMI de setembro na China, Estados Unidos, zona do euro e Reino Unido. O índice PMI reflete uma sondagem com empresários sobre as condições econômicas e de negócios nos países. Na 3ª-feira, haverá a publicação do relatório JOLTS, que traz a abertura de vagas e a oferta de mão de obra no mercado de trabalho dos EUA. Mas o protagonismo fica com o Nonfarm Payroll, o principal relatório de emprego da economia americana, que será conhecido na 6ª-feira. Todos esses indicadores serão altamente relevantes para a condução da política monetária do Fed nos próximos meses. Os mercados também ficarão atentos a uma possível paralisação do governo dos Estados Unidos (shutdown), que ocorrerá caso o orçamento para o próximo ano fiscal – que se inicia no dia 1º de outubro – não seja aprovado.
No Brasil, destaque para a divulgação de indicadores de atividade. Na 2ª-feira, o CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – deve apresentar ritmo moderado de geração de vagas formais em agosto (prevemos 180 mil). Na 3ª-feira, o IBGE publicará os resultados da produção industrial (PIM) no mês passado. Estimamos crescimento de 0,6% ante julho e de 1,1% em comparação a agosto de 2022. Apesar disso, mantemos o cenário de estagnação da indústria no atual semestre. Na política fiscal, atenção à retomada pelo Congresso das discussões sobre as medidas de aumento de receitas enviadas pelo governo federal. As propostas de taxação de fundos exclusivos e de investimentos no exterior devem ser unificadas em um projeto de lei na Câmara, e espera-se que os deputados iniciem a tramitação da matéria com a designação do relator. Outro ponto de atenção deve ser a decisão do STF quanto aos precatórios, a qual o governo espera que permita realizar o pagamento dos atrasados ainda neste ano.
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