Na semana passada, fizemos uma viagem de campo de 3 dias ao estado do Mato Grosso (MT), onde visitamos (i) o principal terminal ferroviário (TRO) da Rumo, em Rondonópolis, (ii) os principais atores do setor agrícola (nas áreas de: produção/semeadura de grãos; comercialização; transporte rodoviário; pesquisa especializada; e infraestrutura rodoviária); e (iii) autoridades reguladoras (incluindo o Governador reeleito, Mauro Mendes). Saímos da visita com uma impressão positiva no ambiente de negócios do estado e reiteramos nossa visão positiva para a Rumo, bem como nossas expectativas otimistas para o projeto de extensão de Lucas do Rio Verde (LRV).
Observamos seis conclusões principais da imersão de 3 dias no MT: (1) nenhum impacto ferroviário é esperado dos protestos rodoviários pós-eleitorais em MT; (2) encontramos um ambiente político/regulatório saudável no estado (com um governo focado em resultados, permitindo um superávit fiscal e um forte foco em infraestrutura); (3) as fortes perspectivas de alta (volume e tarifa) para a receita em 2023 foram confirmadas (apesar de observarmos alguma cautela em relação à produção de grãos a partir de 2024); (4) o projeto de LRV deve enfrentar um processo de licenciamento ambiental tranquilo e ser o projeto ferroviário dominante na região no futuro previsível; (5) A BR-163 (de Sorriso a Miritituba) está a caminho de começar a cobrar pedágio no início de 2023 (permitindo maior competitividade para a rota de exportação da Rumo através de Santos) e (6) os recentes investimentos da Rumo na TRO melhoraram significativamente as operações e adicionaram em ganhos de eficiência.
#1: Nenhum impacto esperado nas operações da Rumo por causa dos protestos rodoviários
Desde as eleições presidenciais (30 de outubro), o Brasil tem visto algumas greves e bloqueios de estradas, e uma concentração recente no estado de MT deixou os investidores preocupados com os possíveis impactos nos volumes ferroviários. Pudemos verificar que os bloqueios diminuíram na última semana e não afetaram as operações da Rumo. Embora o fluxo de caminhões tenha sido significativamente reduzido no TRO da Rumo, a capacidade de armazenamento agora maior do terminal (145 mil toneladas, contra 45 mil toneladas no passado) funcionou como um amortecedor para os volumes ferroviários. Adicionalmente, soubemos que houveram dois tipos de protestos, (i) marcados pelos resultados eleitorais, e (ii) movimentos mais recentes motivados mais especificamente por sanções do Supremo Tribunal a entidades suspeitas de financiar protestos
#2: Estrutura política e regulatória positiva no estado de MT proporciona um ambiente de negócios saudável
Observamos que um perfil de governo orientado para resultados permitiu superávit fiscal e um forte foco em infraestrutura.
- Um governo orientado para resultados. A princípio, nossa impressão positiva decorre da orientação pragmática do governo para resultados. Conversamos pessoalmente com o governador Mauro Mendes, ele próprio empresário, e que nos apresentou um resumo da estratégia de sua equipe desde o primeiro mandato de 2019-22 (reeleito no primeiro turno de outubro com 68,45% dos votos válidos). Um ajuste fiscal rígido foi implementado desde 2019, incluindo medidas como (i) uma reforma administrativa, (ii) uma nova e mais restritiva lei de responsabilidade fiscal e (iii) reorganização dos incentivos fiscais. As contas do estado passaram de déficit em 2015-18 para superávit em 2019-21.
- Impostos estaduais adicionais para o agronegócio não são um risco. Enquanto outros estados, como Paraná e Goiás, discutem aumento de impostos para o setor agrícola com o intuito de financiar a infraestrutura (causando preocupação dos investidores quanto ao futuro incentivo à produção de grãos), o governo do MT espera manter os atuais níveis de investimento em infraestrutura sem mudanças nos impostos.
- Infraestrutura é prioridade. Líder no agronegócio, mas com uma população relativamente pequena, Mato Grosso tem uma clara necessidade de promover infraestrutura para escoar a grande produção do estado. O governador Mauro Mendes lembrou que o Mato Grosso já fez seu ajuste fiscal, quando o FATHAB (Fundo Estadual de Transportes e Habitação) foi fortalecido para financiar investimentos públicos, com a infraestrutura sendo uma prioridade pública desde 2019, já tendo mais de R$ 7 bilhões investidos.
#3: Fortes perspectivas de receita confirmadas para 2023 (volume e tarifa)
É um consenso entre os stakeholders da Rumo (produção de grãos, comercialização, pesquisa e infra/transporte) que a produção e exportação de grãos deve ser forte para o final de 2022 e 2023. Nossos channel checks também indicam fortes tarifas ferroviárias.
- Comercialização de grãos em níveis baixos: A comercialização de soja e milho da safra 2022/23 é baixa (33-19%, segundo o IMEA, contra média histórica de ~43-40%, respectivamente). No entanto, dada a forte produção, acreditamos que a recuperação é uma questão de tempo, garantindo sólidos volumes de transporte.
- Por que os produtores não estão vendendo? As margens dos produtores se expandiram significativamente nos últimos anos devido ao cenário favorável para o câmbio e preços das commodities. No entanto, dada a alta recente dos preços dos insumos (os preços dos fertilizantes estão se normalizando, mas os demais insumos continuam altos), os produtores tendem a esperar por novos aumentos nos preços das commodities.
- Por que as tradings não estão comprando? Aprendemos que as tradings também estão retendo acordos de compra devido à alta incerteza nos preços do frete rodoviário causada pelos desenvolvimentos macro/políticos em andamento. Já o ferroviário, eles têm contratado com a estratégia de garantir espaço no modal com melhor custo-benefício.
- Volumes ferroviários: No curto prazo, o forte crescimento da produção/exportação é consenso, enquanto no longo prazo observamos algumas preocupações dos produtores de grãos.
- Para 2023, no principal terminal de embarque de grãos da Rumo em Rondonópolis (TRO), a empresa tem expectativa operacional de crescer (i) volumes de exportação em ~10% (principalmente grãos, parcela relevante das operações globais da Rumo) e (ii) importações volumes de fertilizantes em ~15%. Vemos essas expectativas como fortes e um pouco acima de nossas estimativas.
- Para as safras seguintes, notamos que os produtores estão esperando para ver devido a dois fatores: (i) preços altos dos insumos; e (ii) incerteza política. Fundamentalmente, também é consenso o forte potencial de crescimento de longo prazo (ganhos de produtividade e grande espaço para expansão de área plantada).
- Tarifa ferroviária: Mais uma vez, os insights de mercado sugerem fortes tarifas para a Rumo em 2023. Nossas verificações de canal indicam que as tarifas de grãos na malha norte da Rumo podem crescer até 20-25% no 1S23 (acima de nossas estimativas). As interações das tradings confirmaram nossa expectativa de que a Rumo esteja altamente contratada para 2023 (mais do que a média para esta época do ano) com níveis tarifários atrativos.
#4: Notícias positivas sobre o projeto LRV da Rumo
Observamos duas conclusões principais de nossa reunião com o governador Mauro Mendes e sua equipe relacionadas ao projeto de extensão da Rumo para o VLT.
- O licenciamento ambiental tem perspectivas positivas. Como o processo de licenciamento ocorre em etapas (ou seja, trechos ferroviários), os investidores tendem a ver a aprovação geral como um risco potencial. Até o momento, a Rumo só obteve aprovação para implantar 8 km de ferrovia (obras iniciadas no início de novembro). Portanto, vemos como importante (e positivo) que o governo espere que a Rumo receba uma licença adicional para implementar mais um trecho significativo até o início de 2023 (em linha com a expectativa de tempo da empresa indicada no início de 2022).
- LRV deve ser o projeto ferroviário dominante na região. No que vimos como uma visão pragmática, o governo do estado acredita que novos projetos de autorização dependerão muito do interesse econômico de um eventual operador, o que ainda é cedo para especular. Portanto, esperamos que o trecho de LRV da Rumo seja o único projeto ferroviário privado a se concretizar na região em um futuro previsível.
#5: A nova concessão da BR-163 está a caminho de iniciar a cobrança de pedágio no início de 2023
Nos reunimos com a direção da Conasa, nova operadora da concessão de 10 anos da BR-163 que liga Sorriso (região centro-norte de MT) a Miritituba (no Pará, onde a rodovia se conecta à hidrovia). Observamos três conclusões principais:
- As tarifas de pedágio devem começar no início de 2023, beneficiando a competitividade da Rumo. A empresa indicou os marcos que acredita que serão alcançados no final do ano para iniciar as cobranças de pedágio no início de 2023. São eles: (i) processo de auditoria da ANTT (órgão regulador federal) no início de dezembro; (ii) conclusão das obras da terceira (e última) praça de pedágio em meados de dezembro; e (iii) reunião final do regulador para deliberar sobre a aprovação da cobrança de pedágio (prevista para 15 de dezembro, mas outra data pode ser marcada). Este é um evento competitivo importante para a Rumo, pois a tarifa de pedágio (~R$ 20/ton) agrega competitividade à rota alternativa da Rumo por Santos.
- As condições da estrada já estão restauradas. A Administração explicou o histórico recente das condições das rodovias, que podem ser resumidas como: (i) até 2020, quando os últimos 50km eram de terra, e o governo federal as pavimentara até o ano de 2019; (ii) entre Ago-21 e Mai-22 a falta de obras de manutenção provocou um agravamento significativo das condições; e (iii) desde 22 de maio, quando o Conasa iniciou as obras iniciais do ano-1 de sua concessão, as boas condições foram restabelecidas.
- Leitura positiva para o ambiente regulatório estadual. A Conasa é proprietária da BR-163, que é uma concessão federal e três outras concessões estaduais em MT. A administração observou um relacionamento positivo com ambos os níveis regulatórios: (i) agência federal (ANTT); e (ii) agência estadual do MT (AGER/MT), apesar do perfil relativamente novo do programa de concessões do estado (a própria agência existe desde 1999). Por fim, a direção também comentou que a Sinfra (Secretaria de Infraestrutura de MT) viu sua equipe passar de menos de 10 integrantes para mais de 40 pessoas hoje.
#6: Os recentes investimentos da Rumo na TRO trouxeram operações mais eficientes
Fizemos uma visita guiada às operações do terminal e ficamos positivamente impressionados com os ganhos de eficiência implementados desde os investimentos de expansão da Rumo há alguns anos.
- Crescimento de capacidade e volume. A TRO opera atualmente com capacidade de 27mt (milhões de toneladas) de grãos e 6mt+ de fertilizantes por ano (e 145kt [mil toneladas] de armazenamento). Em grãos, espera-se que o terminal atinja ~22,5 milhões de toneladas em 2023 (vs. ~20,5 milhões de t em 2022) e ~3,2 milhões de t de fertilizantes (vs. ~2,7 milhões de t em 2022), atingindo ~10-15% de crescimento, respectivamente. Embora o local permita novos aumentos de capacidade, a Rumo acredita que a capacidade atual é suficiente para suportar o crescimento dos próximos anos, até que os novos terminais sejam construídos no interior do estado de MT.
- Ganhos de eficiência e KPIs. A Rumo tem realizado importantes projetos de eficiência no terminal, sendo eles (i) a Trizy, plataforma startup de logística (controlada pela Cosan) melhorou a redução do ciclo do caminhão dentro do terminal; (ii) O Faturamento 2.0/3.0 permite desde 2018 o fluxo de grãos em regime de pool permitindo à Rumo uma importante flexibilidade nas entregas dos clientes; (iii) abastecimento de vagões, projeto de engenharia que tem permitido atingir a plena capacidade dos vagões e ganhar eficiência; e (iv) índice de perda de carga, que se traduz em vantagem competitiva comercial (a Rumo opera hoje com 0,11% de perda e seus contratos permitem até 0,35%, contra 0,50% da concorrência). A poupança também gera receitas adicionais.
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