Cenário econômico
Os autores agradecem as contribuições do time de Economia da XP
No mês de agosto, continuamos a ver uma combinação de fatores que já se desenhavam em julho, como a variante delta da covid-19, que trouxe maior aversão ao risco aos mercados no último mês, expectativas em relação ao momento em que o Fed (Banco Central norte-americano) vai começar a reduzir os estímulos monetários no país.
Por outro lado, também voltamos a nos deparar com risco fiscal mais forte, em meio a discussões em relação ao pagamento dos precatórios federais e do Auxílio Brasil (novo e maior Bolsa Família). E, para complementar o cenário já mais desafiador, a inflação não deu ainda sinais de que irá arrefecer, com a piora na crise hídrica e problemas nas cadeias de produção, em meio à retomada da economia – o que também impulsiona a alta dos preços.
Já no começo de agosto, o Banco havia decidido pela elevação da taxa Selic em um ponto percentual, para 5,25% e manteve o discurso duro. Dado o cenário que continuou a se desenhar ao longo do restante do mês e as expectativas para este e para o próximo ano, o mercado continua esperando novas elevações na taxa básica de juros até o final do ano.
Mais recentemente, no dia 31 de agosto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Ministério de Minas e Energia oficializaram a criação da bandeira “escassez hídrica”, que eleva a taxa extra cobrada na conta de luz de R$ 9,49 para R$ 14,20 por 100 kWh consumidos. A nova bandeira entrou em vigor em 1º de setembro até abril de 2022. O impacto será de 6,78% na conta de luz e 0,31pp no IPCA. Com isso, nossos economistas revisaram as projeções para o IPCA.
Diante do cenário atual, esperamos Selic em 7,25% em 2021 e em 2022 e IPCA de 7,7% em 2021 e de 3,6% em 2022.
Leia o relatório Brasil Macro Mensal: Risco fiscal pode exigir mais do Banco Central
Resumo de indicadores
Em relação ao mês anterior, a curva de juros fechou agosto com elevação de expectativas em todos os vencimentos, principalmente nos intermediários e longos. As incertezas que já estavam presentes em julho praticamente foram mantidas, porém somaram-se a elas maiores tensões políticas e receios em relação ao cenário fiscal (PEC dos precatórios e Auxílio Brasil, principalmente). A inflação continuou sendo um dos focos de preocupação, especialmente como resultado da crise hídrica, mantendo elevadas as apostas para as próximas reuniões do Copom.
A curva dos títulos públicos indexados ao IPCA (NTN-Bs) também apresentou abertura ao longo do mês, em linha com as expectativas de juros, o que indica maior expectativa de juro real ao longo dos vencimentos.
Como agir
Para o mês de setembro, realizamos trocas nas indicações de alocação para alguns perfis e classes de ativos. Como resultado do cenário econômico citado anteriormente, ampliamos a alocação em ativos indexados à inflação.
Em nossa visão, os três indexadores da renda fixa são indicados para quase todos os perfis de investidores, dado o cenário atual de expectativa de elevação de juros e inflação e nossa visão de que o mercado ainda precifica Selic mais elevada do que o que esperamos.
Acreditamos que a melhor forma de se proteger de riscos é através de uma carteira diversificada, o que inclui ativos de renda fixa. Renda fixa não se limita a ativos conservadores e/ou que acompanhem a taxa Selic. Sendo assim, há diversas opções de prazos, indexadores e emissores diferentes que permitem encontrar maiores rentabilidades.
Veja aqui as recomendações de carteira por perfil.
*Em “Outros” estão todas as outras classes de ativos: ações, fundos de investimentos (ações, renda fixa e multimercados), FIIs, internacional (incluindo renda fixa global), moedas etc.
Seleção de ativos de renda fixa
As rentabilidades abaixo são indicativas do dia 01/09/2021 e podem sofrer variações ao longo do mês.
Para verificar disponibilidade e taxas, acesse a plataforma, disponível para compra das 10h às 15h, em dias úteis.
Invista de acordo com o seu perfil de investidor.
Pós-fixados
Classe representada por ativos atrelados à variação de um dia das taxas de juros básicas (Selic ou CDI). A remuneração acompanha, portanto, altas e baixas nas taxas de juros.
Nosso cenário base é de que a taxa Selic continue a ser elevada nas próximas reuniões do Copom, encerrando 2021 e 2022 em 6,75%. Ou seja, os ativos pós-fixados devem se beneficiar das altas esperadas na taxa básica de juros.
Indicamos o Tesouro Selic para a reserva de emergência e/ou gestão de caixa.
Inflação
A inflação deve ultrapassar 7% em 2021. Como fica a renda fixa?
Aqui estão os ativos cujo valor a ser recebido no vencimento, ou nos pagamentos de juros, é predeterminado em forma de uma taxa de juros, mas também corrigido por um índice de inflação, normalmente o IPCA.
Como o valor a ser recebido no futuro é corrigido, o valor atual do produto flutua conforme mudam as expectativas de taxas de juros de hoje até o vencimento, mas menos do que um produto prefixado de mesmo prazo. Em caso de alta nas expectativas para os juros, os títulos se desvalorizam e vice-versa. Essa variação só é colocada em prática (valorização ou desvalorização) em caso de resgate antes do vencimento.
Em nosso cenário base, esperamos que a inflação feche o ano de 2021 em 7,7% e 2022 em 3,6%. Enxergamos ser importante manter parcela de ativos atrelados à inflação para proteção contra seu efeito ao longo do tempo, especialmente considerando a imprevisibilidade em relação à sua trajetória em prazos mais longos.
Apresentamos aqui ativos que acreditamos ter boa combinação entre qualidade de crédito e rentabilidade, buscando diversificação em relação setores de atuação e prazo de exposição ao investimento. Note que as taxas podem variar ao longo dos dias, sendo estas aqui apresentadas apenas uma referência.
Confira o risco e invista de acordo com o seu perfil de investidor.
Duration é o prazo médio ponderado dos recebimentos de fluxos referentes ao ativo. Quando o ativo paga juros e/ou amortização periodicamente (por exemplo, todo semestre), sua duration será mais curta do que o prazo. Caso não haja fluxos de pagamento durante a duração do ativo, a duration será igual ao prazo. Quando maior a duration, mais sensível a taxa do ativo será às movimentações do mercado (em caso de venda antes do vencimento).
Entenda tudo sobre crédito privado em nosso artigo Quem tem medo do crédito privado?
Prefixados
Ativos prefixados são aqueles sobre os quais conhecemos, desde o início, exatamente quanto será pago ao final do prazo de investimento (ou seja, no vencimento). Por ser uma taxa fixa, que não é atrelada a nenhum indexador, é benéfica em cenários de expectativa de baixa de juros. Além disso, estes ativos são recomendados para quem busca previsibilidade, independentemente da expectativa para os juros no futuro.
As taxas dos ativos do Tesouro Direto variam diariamente. Portanto, é necessário checar a taxa e valor unitário do título no momento da compra, o que pode ser feito através da conta na corretora.
Invista de acordo com o seu perfil de investidor.
Na categoria de prefixados, optamos por títulos relativamente mais curtos, diante do cenário particularmente incertos para além de 2022. Sendo assim, buscamos títulos com vencimento não muito além deste horizonte. Títulos prefixados mais longos pagam juros ainda maiores, mas continuamos a enxergar que a incerteza do cenário parece não justificar o alongamento excessivo deste tipo de ativo neste momento.
Como a Selic hoje está em 5,25% (com expectativa da XP de chegar a 6,25% na próxima reunião do Copom), para que o título seja menos vantajoso que uma aplicação pós-fixada conservadora (100% DI), a taxa Selic precisaria superar cerca de 9,6% em 2022 (nosso cenário é de 6,75%), 10,3% em 2023 e 10,5% em 2024 e 2025 (segundo expectativas do mercado no momento da publicação deste relatório).
Apesar dos desafios recentes, ainda nos parece um cenário pouco provável. Assim, ainda que estejamos errados e o Banco Central tenha que subir a Selic além do esperado, aos preços atuais os prefixados curtos e médios parecem alternativas bem defendidas, a depender da estratégia de cada investidor.
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