Visão XP: o que esperar para os investimentos em 2021

No painel Visão XP: o que esperar para os investimentos em 2021, realizado nesta terça-feira, pelo segundo dia do evento Year Ahead, recebemos Fernando Ferreira, Felipe Dexheimer e Camila Dolle para contar um pouco mais sobre as expectativas do ano que está por vir.

As 4 etapas de 2020

Fernando Ferreira, estrategista chefe da XP, começou explicando, sob a ótica de sentimento de mercado, as 4 etapas que descrevem o ano que se encerra: começamos 2020 com um mundo otimista quanto à economia e que passou a ser um mundo em estado de choque com a rápida propagação do coronavírus e seus impactos no mercado. Na sequência, o mundo passou por uma fase de profunda incerteza na qual pouco se sabia sobre o vírus e o futuro do cotidiano humano.

Por fim, após diversos anúncios de vacinas e descobertas sobre o vírus, os agentes econômicos hoje se encontram numa fase de esperança na qual os mercados já se recuperaram e o mundo espera junto por uma continuada recuperação econômica, assim como deposita esperança na devida vacinação da população e consequente retomada da vida “normal”.

Em seguida, Ferreira enumerou os três motivos para continuarmos acreditando numa valorização dos mercados mesmo após uma recuperação tão acentuada das bolsas mundo afora:

Em primeiro lugar, os fundamentos das empresas, isto é, em última instância, os seus lucros que devem continuar a crescer. Ferreira ressaltou que isto é natural, pois estamos largando de um patamar muito deprimido em 2020, porém destaca que a expectativa de crescimento é forte tanto para o ano de 2021 como para 2022 e que no fim das contas, bolsa reflete o lucro das empresas.

Além disto, o mundo encontra-se num momento de liquidez em excesso. Não só os 17 trilhões de dólares que hoje rendem juros negativos, temos também liquidez oriunda dos mais diversos estímulos monetários e fiscais e que geram uma pressão compradora de ativos de risco na busca por retorno. Ainda, os governos americano, europeu e japonês discutem ainda mais estímulos para o ano que vem.

Por fim, devido ao passado recente do Brasil, existe ainda muito espaço para que retomemos um lugar de destaque na carteira dos investidores globais, com o potencial de gerar um forte fluxo de recursos e apetite por ativos brasileiros – em novembro houve entrada recorde de investidores estrangeiros na B3, com mais de 33 bilhões de reais em fluxo.

Para encerrar sua fala, Ferreira destaca os três riscos aos quais temos que ficar atentos e que podem mitigar o cenário traçado: um ritmo de recuperação econômica abaixo do esperado; inflação no mundo advinda de um superaquecimento dos mercados; e riscos políticos e fiscais do Brasil.

As atuais projeções da XP Investimentos apontam como valor justo para o Ibovespa 130.000 pontos para o fim de 2021, proporcionando retorno potencial de 14% em relação aos níveis atuais. Os principais riscos para a tese são: (i) recuperação econômica abaixo do esperado; (ii) superaquecimento dos mercados e da economia, o que pode levar à inflação; e (iii) riscos políticos e fiscais no Brasil.

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“O Brasil aprendeu que a renda fixa não é fixa”

Na sequência, Camila Dolle, analista de renda fixa, iniciou sua fala trazendo algumas lições que o mercado brasileiro de renda-fixa recebeu este ano.

A mais marcante delas é que, nas palavras da analista, “o Brasil aprendeu que a renda fixa não é fixa”. A frase é uma referência ao instituto da marcação à mercado, que trouxe retornos negativos em muitos produtos de renda fixa no ano, gerando uma onda de resgates e liquidações forçadas de ativos.

A contrapartida destes retornos negativos é o surgimento de oportunidades extremamente atraentes nas classes de renda fixa e que continuam vigorando enquanto a economia aguarda uma recuperação da economia real. Dolle destacou os movimentos ocorridos nos títulos públicos e nos de crédito privado, frisando especialmente as oportunidades de prêmios de crédito que surgiram desde então.

Dolle cita que os principais temas a serem monitorados em 2021 para a modalidade de investimentos são risco fiscal e inflação no Brasil, a continuidade do noticiário da covid-19 no campo mundial, seja segunda onda da pandemia ou vacina.

Para o Tesouro Direto, ativo menos arriscado dentro do contexto de Renda Fixa, Dolle comenta que em sequência às oscilações observadas nesse tipo de ativo, como a desvalorização de 1% no Tesouro Selic (que rende 100% da taxa básica de juros), houve estabilização nos preços dos ativos e volta ao comportamento natural desse tipo de investimento.

Além disso, relata que com a expansão da educação financeira no Brasil, novos investidores ingressaram no programa, com aumento de 65,3% no número total de investidores cadastrados nos últimos doze meses. Como os principais riscos para o Tesouro Direto, são mencionados os riscos das oscilações da curva de juros, assim como para todos os ativos de Renda Fixa.

Já em relação às emissões bancárias, os bancos médios (que representam a maior parte dos emissores na plataforma da XP) apresentaram forte resiliência em 2020, com liquidez robusta e antecipando o acúmulo de reservas para enfrentar o cenário de incertezas. O desempenho do setor, que veio melhor do que o inicialmente esperado, traz conforto para os investidores dessa modalidade.

Como muitas das emissões realizadas no ano foram de curto prazo, segundo Dolle, as empresas deverão acessar novamente o mercado para alongar o endividamento a partir do segundo trimestre do ano que vem, com os vencimentos das captações realizadas em 2020.

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Avanço das reformas e controle fiscal

O último panelista, Felipe Dexheimer, head de alocação da XP Inc., une ambos os discursos em traçar dois cenários polarizados para o Brasil e para o mundo e explicar as estratégias de investimentos para cada um.

Pela ótica do Brasil, a questão se resume ao avanço das reformas e o consequente controle fiscal. Num cenário positivo, a renda fixa prefixada e atrelada à inflação é beneficiada assim como ativos de risco, tais como ações de empresas brasileiras. Num cenário negativo, a renda fixa atrelada à inflação de curto prazo é beneficiada ao lado de uma depreciação do real frente ao dólar americano.

Se a recuperação econômica não se concretizar, as moedas de países desenvolvidos, dívidas de países desenvolvidos e ouro deverão ser boas opções de investimento. No Brasil, se as reformas forem alcançadas, será beneficiada a parte mais curta da curva. Se conseguirmos, e sem o cenário de recuperação, renda fixa pré-fixada ou inflação tendem a se beneficiar. Além disso, também deve ser levado em consideração que pode haver ruídos na passagem do bastão dos pacotes de estímulos para a economia real, dado que, em algum momento, a realização será descontinuada e a economia real precisará reagir.

Por fim, Felipe definiu ambos os cenários para o mercado global: um cenário no qual a vacina ganha a corrida contra o vírus e a economia global não prolonga a atual recessão. Num cenário otimista, ativos de risco como ações globais, moedas de países emergentes e ativos de crédito são beneficiados, enquanto no polo oposto, ouro, moedas de países desenvolvidos e ativos soberanos de economias desenvolvidas devem produzir melhores rendimentos.

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