Recap Semanal (29/03): Taxa de Juros, Inflação, crescimento e suas implicações nos preços das ações

Sua análise semanal de mercado e impactos pelo time da XP Private Investment Team



Com a elevação das taxas de juros futuras, a discussão nos mercados se voltou para os efeitos que esses aumentos têm sobre os preços das ações. Embora a resposta mais fácil seja que taxas de juros mais altas fazem cair os valores das empresas, a resposta correta é menos óbvia. A reposta mais apropriada seria que depende. Depende, em grande parte, do motivo pelo qual os juros estão subindo.

Como em qualquer discussão sobre valuation e as variáveis que influenciam esse cálculo, é útil voltar ao básico. Nesse assunto, nada mais normal do que buscarmos inspiração na recente publicação do professor Aswath Damodaran, da NYU Stern School of Business, uma referência em valuation.

Partindo da premissa que o valor de um negócio é uma função de seus fluxos de caixa esperados (com os benefícios e custos de crescimento embutidos neles) e das variáveis que precificam esses fluxos, vamos então analisar os efeitos de alterações nessas variáveis.

Nesse sentido, o efeito da elevação das taxas de juros pode ser analisado como um dos componentes que precificam o valor das empresas. O efeito direto é obviamente por meio da taxa básica, ou seja, a taxa livre de risco, na qual a taxa de desconto do fluxo é construída. No primeiro momento, é esse o efeito ao qual a maioria dos analistas se apega.

Os juros básicos crescentes sempre levam a valores mais baixos para as ações, uma vez que, mantendo tudo o mais constante,  aumentar a taxa de desconto se traduzirá em um valor presente mais baixo do fluxo. Porém, essa é uma análise rasa e que ignora os efeitos indiretos, que surgem ao nos perguntarmos, antes de tudo, por que as taxas livres de risco subiram.

Fundamentalmente, as taxas de juros podem subir porque as expectativas dos investidores em relação à inflação aumentaram ou porque o crescimento econômico real esperado aumentou, e esses fundamentos macroeconômicos podem afetar as outras variáveis que influenciam no cálculo do fluxo de caixa e, consequentemente, no valor presente do mesmo.Simplificando, o efeito do aumento das taxas de juros sobre os preços das ações dependerá em grande parte das razões  que as fizeram subir.

Se a razão do aumento das taxas de juros for, principalmente, por expectativas de maior crescimento real, o efeito provavelmente será positivo, pois o crescimento e as margens mais altas compensam o efeito da elevação dos juros e, como consequência, da exigência dos investidores por taxas de retorno mais altas sobre seus investimentos.

Mas, se as taxas aumentaram, principalmente, por expectativa de inflação mais alta, é mais provável que os efeitos sejam negativos, uma vez que existem efeitos colaterais ruins, como aumento dos prêmios de risco e margens sob pressão, especialmente para as empresas que têm baixo poder de repassar custos. Para complicar um pouco mais a análise, o efeito das mudanças nas taxas de juros também afetam as empresas de maneira desigual.

À medida que as taxas seguem subindo, os efeitos sobre o valor das açoes podem variar de empresa para empresa, com algumas sendo mais prejudicadas do que outras. Isso vai depender do perfil do fluxo de caixa da empresa, que será, em grande parte, explicado pelo seu estágio no ciclo de vida corporativo.

Toda empresa tem um ciclo de vida, que passa pelo nascimento, crescimento, envelhecimento e declínio e morte.

As empresas jovens são mais propensas a ter fluxos de caixa negativos nos primeiros anos. Assim, como um título de duration longa, o valor desse tipo de empresa está mais no longo prazo. Já o valor das empresas mais maduras, que tem como base ativos existentes, investimentos já executados, está mais no curto prazo, dado que já têm fluxo de caixa positivo.

Dito tudo isso, existe um cenário benigno, onde a revisão altista do crescimento esperado das empresas supera a elevação da taxa de juros e um cenário negativo, onde a revisão do crescimento dos lucros fica aquém da elevação na taxa de juros. Tanto o cenário positivo quanto o negativo podem afetar as empresas de forma desigual. As empresas mais maduras sofrem menos impacto das altas de juros do que as jovens. Enquanto que revisões otimistas nas expectativa de crescimento são mais capturadas pelas empresas mais jovens.

A principal história que elevou as taxas de juros durante grande parte do primeiro trimestre foi a revisão positiva da retomada econômica. Como explicado aqui, nesse cenário os aspectos positivos superam os negativos, o que gerou alta no mercado de ações, porém de forma desigual entre setores e empresas. Todavia, a partir de agora, se as taxas de juros seguirem subindo, existe o risco dos agentes de mercado começarem a se preocupar e temer que a inflação esteja por trás da alta. Nesse sentido, caso as taxas juros subam por essa razão, os mercados de ações, como um todo, podem estar suscetíveis a uma reprecificação. Caveat emptor.

Private Investment Team

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