Em tempos de pandemia, não há dúvidas de que uma das indústrias mais impactadas é a dos grandes eventos esportivos e das ligas do esporte profissional. Estima-se que o prejuízo global em 2020 chegue a 160 bilhões de dólares. Os 5 os principais pilares de faturamento são: direitos de transmissão, venda de ingressos, patrocínios, alimentação e vendas de merchandising.
Se você ama esportes, imagino que o simples fato de ver alguns eventos esportivos voltando a serem transmitidos pela TV, já devem trazer um pequeno alívio e uma grande esperança da volta “daquela” emoção. Confesso que para mim, a loucura é tão grande que ao assistir as reprises dos jogos que passaram na TV, me peguei várias vezes torcendo tanto quase como se ainda pudesse influenciar no resultado do jogo.
O fato é que a indústria está voltando aos poucos, porém enfrenta enormes desafios e muitas incertezas. Esta coluna tratará de pontuar como andam alguns dos principais eventos e ligas neste início de agosto de 2020 e para quem gosta, mostrar alguns números também.
Tênis
Começamos pelo tênis. Além de ser o meu esporte preferido e onde tenho mais informações de bastidores, é também onde a FABERG, empresa de experiências ligadas a grandes eventos esportivos que fundei, possui atuação mais forte.
Mesmo que socialmente o tênis foi considerado um dos esportes mais seguros para se praticar durante a pandemia, para o circuito profissional, por ser individual e devido aos deslocamentos necessários, os desafios para as entidades e organizadores retornarem são imensas. Considerando apenas a elite, ou seja, os maiores eventos que oferecem melhor premiação e mais pontos para o ranking, os circuitos masculino e feminino (ATP e WTA) que tinham programado 85 eventos até o final de julho, realizaram apenas 30 torneios.
Antes da reabertura, os jogadores para poder ganhar um pouco de ritmo e dinheiro tem participado de jogos e torneios exibição (que não valem pontos para o ranking). Depois de muitas polêmicas, o circuito feminino voltou (WTA de Palermo) na primeira semana de agosto. Já o masculino tem programado o seu retorno com o ATP de Cincinnatti que será realizado em Nova York a partir de 22 de agosto.
Mesmo com todos os esforços, a grande maioria dos eventos no segundo semestre já foram cancelados e o ano de 2020 está absolutamente prejudicado. Os únicos eventos da ATP neste ano confirmados até a publicação desta coluna são: ATP 1000 de Cincinnatti, US Open, ATP 250 de Kitzbuel, ATP 1000 de Roma e Roland-Garros. A mais recente baixa foi o ATP 1000 de Madrid, que já tinha sido adiado de maio para setembro, mesmo assim, com a volta dos casos na capital da Espanha, finalmente teve que ser cancelamento no dia 04 de agosto. Dentre os eventos confirmados, apenas Roland-Garros mantém a possibilidade de presença de público que deve ser entre 50 a 60% de sua capacidade.
Agora todas as atenções estão voltadas para o US Open e Roland-Garros, dois dos quatro Grand Slams. Veja o cenário e números de cada um destes 4 eventos:
1. Australian Open (janeiro) / faturamento aproximado: USD 270.000.000,00
Único que aconteceu normalmente pois foi em janeiro antes da pandemia.
2. Wimbledon (julho) / faturamento aproximado: USD 320.000.000,00
O mais tradicional torneio do mundo programado para início de julho em Londres foi cancelado pela primeira vez desde a segunda guerra mundial. Felizmente a organização deste evento possuía um seguro específico contra pandemia. Por 17 anos foram pagos aproximadamente 2 milhões de dólares anuais para uma proteção contra um cancelamento. A estratégia funcionou e a organização recebeu uma compensação de 141 milhões de dólares da seguradora, valor suficiente para não só manter as contas em dia, mas como também, pagar de forma inédita um prêmio de 25 mil libras por cada um dos 256 jogadores das chaves de simples e 12.500 libras para cada um dos 224 jogadores das chaves de duplas que estariam no evento.
3. US Open (agosto/setembro): USD 340.000.000,00
O US Open, evento mais rico do circuito até então está mantido e deverá ocorrer em Nova York, com protocolos muito rígidos a partir de 31 de agosto com portas fechadas para o público. Se isso de fato acontecer, estima-se que os organizadores deverão conseguir salvar em torno de 50% do faturamento que vem justamente dos direitos de transmissão e das cotas de patrocínio.
4. Roland Garros (maio/junho) / faturamento aproximado: USD 300.000.000,00
A Federação Francesa de Tênis se antecipou e logo em 17 de março, sem consultar outras entidades e jogadores e anunciou o seu adiamento para fim de setembro alegando que seria a única forma de salvar o evento de um desastre financeiro já que não possuíam seguro. Isso causou um grande mal estar no circuito, mas mesmo assim, deverá acontecer com a participação da maioria dos jogadores que praticamente não tiveram chances de ganhar dinheiro em premiações este ano.
Futebol
No futebol, já tivemos dois mega eventos adiados para 2021: a Euro Copa 2020 e a Copa América. A Champions League, maior e mais importante campeonato de clubes do mundo, anunciou que os jogos interrompidos da fase de “mata-mata” a partir das quartas de final, serão todos realizados em partida única em Lisboa e sem público. Com a mudança da cidade sede da final em 2020, a UEFA já confirmou que voltará a realizar o jogo do título de 2021 na mesma cidade que tinha programado para este ano: Istambul. A edição de 2022 será está conformada para São Petersburgo.
As perdas financeiras não foram divulgadas pela UEFA. No entanto, estima-se que os times das 5 grandes ligas do futebol europeu (Inglaterra, Espanha, Itália, França e Alemanha) devem somar mais de 5 bilhões de dólares em prejuízos este ano.
No Brasil, a maioria dos campeonatos estaduais já voltaram e estão sendo jogados sem público. O Campeonato Brasileiro está marcado para começar a partir de 8 de agosto e irá até 24 de fevereiro de 2021.
Olimpíadas
Os Jogos Olímpicos de Tóquio é sem dúvida um dos casos mais emblemáticos e desafiadores do mundo esportivo. A organização que adiou o evento para 2021 comemorava antes da pandemia que esta edição seria o evento esportivo de maior sucesso quanto ao resultado financeiro da história. 62 empresas já tinham fechado contratos de patrocínio e praticamente todos os ingressos já tinham sido vendidos. Agora, o sucesso previsto ruiu e se transformou em uma perda estimada em 6 bilhões de dólares, mesmo com o evento sendo realizado em 2021 com público. Ainda há uma grande discussão entre patrocinadores e organizadores para que ajustes sejam feitos para compensar os prejuízos, no entanto este embate ainda não tem data para terminar. Para os pessimistas, a culpa do adiamento foi da “maldição olímpica japonesa” lembrando que os primeiros jogos olímpicos que forma designados para Tóquio em 1940, também tiveram que ser cancelados devido a segunda guerra mundial e só vieram a acontecer 24 anos depois.
Ligas Americanas
Nos Estados Unidos, país do esporte e das ligas mais ricas do mundo, já tivemos o retorno das principais modalidades. O PGA Tour, que organiza o circuito profissional de golfe, foi uma das primeiras entidades a anunciar o retorno dos eventos, ficando “apenas” 91 dias parada. Diversas medidas foram adotadas, e até então os eventos vem sendo realizados com sucesso, porém sem a presença de público.
Na NBA, onde os jogos que estavam suspensos desde 12 de março, agora já voltaram a ser disputados em 30 de julho. A alternativa da entidade foi colocar 22 times para jogar sem público numa “bolha” do ESPN Wide World of Sports Complex em Orlando. Com isso a liga prevê salvar a sua temporada e pelo menos metade dos 9 bilhões de dólares de faturamento referentes aos direitos de transmissão. Mesmo assim os times deverão somar enormes prejuízos. Só em vendas de ingressos, estima-se meio bilhão de dólares.
A NFL, bilionária liga de futebol americano cancelou os jogos de pré-temporada, porém está com a sua temporada regular confirmada. A NFL anunciou que cada time, deverá seguir regras próprias de saúde e público propostos pelas entidades de suas cidades. Esta decisão tem sido muito criticada e ainda deverá ser revisada até o início em 10 de setembro.
A NHL (Hóquei) e MLB (baseball) também voltaram e estão sendo jogados com portões fechados.
Fórmula 1
Já o circuito da Fórmula 1 voltou com um calendário reduzido de 21 para 13 etapas. Junto vieram os protocolos que não permitem a presença de público das arquibancadas. Uma das medidas foi o corte da tradicional premiação no podium no final das corridas.
Em resumo, 2020 será um ano de muitos prejuízos para este mercado e de abstinência para os fãs do esporte que amam sentir a emoção dos eventos nos estádios. A boa notícia é que os eventos estão voltando aos poucos e já poderemos acompanhar as disputas pela televisão. Penso que além dos eventos, esta situação cria também um desafio para os atletas, pois precisarão se adaptar e mostrar força, disciplina e o amor pela competição sem a incomparável energia da torcida. Talvez esta pandemia traga novidades nos resultados e a aparição de novos ídolos.
Acompanharemos até que os grandes eventos esportivos possam receber o seu público apaixonado novamente. O que não tenho dúvidas é que o esporte seguirá firme com sua magia ensinando, encantando e emocionando o mundo.
Um abraço e até lá!
Fabio Silberberg
Fundador e CEO da FABERG Tour Experience
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@fabiosilberberg