Recap Semanal (22/02): When Money Dies

Sua análise semanal de mercado e impactos pelo time da XP Private Investment Team



Estamos no meio de um importante, talvez um dos maiores, experimentos econômicos da história. Estamos dentro de um laboratório e somos parte desse experimento, que, certamente, será muito estudado no futuro, como outros do passado que estudamos hoje na academia.

Até a Primeira Guerra Mundial a regra do jogo prevalecente no sistema monetário internacional era o padrão-ouro, onde a quantidade de reservas de ouro do país determinava a sua oferta monetária e, consequentemente, sua taxa de câmbio. Até então o Reino Unido era potência hegemônica e a libra a moeda de reserva internacional.

A Primeira Guerra levou ao fim da primeira fase do padrão-ouro e em 1919, como consequência da derrota na guerra, foi estabelecida na Alemanha a República de Weimar. Políticas monetária, fiscal e social desastrosas, com impressão de papel moeda sem lastro e desenfreada , desequilibrou a economia germânica. Por qualquer que tenha sido a razão, para financiamento de déficit, por falta de capacidade de tributar ou mesmo por populismo fiscal, essa passagem também ofereceu uma experiência histórica econômica e moral de quando a moeda de uma nação se deprecia além do limite da recuperação.

Em 1923, com sua moeda efetivamente sem valor (a taxa de câmbio em dezembro daquele ano era de um dólar para 4.200.000.000.000 marcos), a república alemã estava praticamente reduzida a uma economia de escambo. Charutos, obras de arte e joias caras eram trocados rotineiramente por produtos básicos como pão. Um ingresso de cinema podia ser comprado por um pedaço de carvão e um frasco de parafina por uma camisa de seda.

Outro momento histórico, esse em 1944 pós Segunda Grande Guerra, foi o Acordo de Bretton Woods, assinado no Mount Washington Hotel, que decidiu, bem resumidamente, entre diversas outras coisas, em restabelecer novamente o padrão-ouro. Ele estabelecia um parâmetro fixo para as taxas de câmbio dos países mais industrializados do mundo frente ao dólar, que por consequência também teria uma âncora de lastro com o ouro, mais precisamente 35 onças por dólar. Assim o dólar passou a ser visto efetivamente como o ouro.

O sistema, que visava reconstruir e estabilizar o ambiente capitalista no pós Guerra, impedindo impressão de moeda sem controle, ancorou novamente o sistema monetário e foi o início do estabelecimento do dólar americano como a moeda de reserva mundial. A segunda fase do padrão-ouro durou até 1971, quando os EUA, no governo Nixon, romperam a conversibilidade do dólar com o ouro. Mas o dólar seguiu sendo a base de referência fiduciária global.

Desde então diversas moedas, que antes eram fixas, se tornaram flutuantes e seus bancos centrais voltaram a poder imprimir moeda sem um lastro, em ouro ou em dólar americano guardado em suas reservas.


Todos esses são momentos e passagens da história econômica que marcaram mudanças relevantes e rupturas no ambiente monetário global.

Para entender o presente, estude o passado.

Assim como esses momentos históricos, algo extraordinário está também ocorrendo no presente e que está levando a um debate intenso sobre suas consequências, mais especificamente, o impacto da impressão de moeda desenfreada sobre a inflação, o dólar americano como moeda de reserva internacional e o sistema monetário global.

A soma de estímulos é tão sem precedente que deixa nervosos até mesmo os keynesianos mais veteranos. Seriam essas políticas capazes de gerar inflação indesejadamente alta e de tirar a estabilidade, a fidúcia e enfraquecer a força do dólar como a moeda de reserva international, assim como a libra esterlina perdeu esse status entre o fim da Primeira Guerra e Bretton Woods?

Larry Summers advertiu que “há uma chance de que o estímulo econômico desencadeie pressões inflacionárias de um tipo que não vimos em uma geração”.

Por outro lado, a secretária do Tesouro, Janet Yellen afirmou que “posso dizer que temos as ferramentas para lidar com esse risco se ele se materializar”.

Qualquer que seja a opinião, se teremos ou não inflação indesejadamente alta e se o Fed vai agir em tempo de não desancorar a moeda, será baseada em cálculos e premissas imprecisas. O fato é que não sabemos essa resposta sobre o futuro no momento atual.

Muita coisa passa por um palpite pouco preciso sobre o “produto potencial” que vai nos levar ao cálculo de um “hiato do produto”, que corresponde ao nível de estímulo que a economia pode ter ou que ela pode atingir sem bater em restrições de capacidade e gerar inflação.

É consensual que nível de ociosidade da economia ainda é muito grande, mas até essa afirmação também é imprecisa. O termo “pleno emprego” é o conceito difícil de calcular precisamente e que pode alterar ao longo do tempo. A NAIRU, taxa de desemprego não inflacionária de uma economia, pode ser 4,5% em um momento, mas pode ser 3,5% em outro. Ela depende de diversas variáveis, como a tecnologia, tão presente no ambiente atual, cheio de rupturas em diversos setores. Além de muito se debater sobre a própria validade da Curva de Phillips e a relação entre desemprego e inflação.

Tanto o conhecimento da história como a profunda análise econômica do momento são extremamente importantes para nos guiar na gestão dos portfólios. Ecos do passado e consequências dos mercados em frenesi, com eventos de feedback loops frequentes, alimentam sentimentos contraditórios. Costumamos subestimar a capacidade dos mercados descolarem dos fundamentos. O estudo da história econômica nos coloca com os pés na realidade quando vemos eventos como a super desvalorização do marco alemão, a criação de uma moeda paralela ao marco, a Notgeld, uma espécie de Patacones da Argentina, e a perda de relevância da libra esterlina como reserva de referência internacional.

O mundo econômico está em meio a uma enorme transformação, com enorme impressão de moeda, estímulos e surgimentos de tecnologias disruptivas que estão alterando comportamentos de consumo. Temos que estar conectados no presente mas analisando, com mente aberta, a direção de longo prazo dessas grandes mudanças que estamos presenciando. Tomamos decisões e construirmos nossos portfólios dentro de um ambiente de incerteza mas que refletem sempre a conexão com o presente mas olhando para o futuro.

Private Investment Team

Avaliação

O quão foi útil este conteúdo pra você?


Newsletter
Newsletter

Gostaria de receber nossos conteúdos por e-mail?

Cadastre-se e receba grátis nossos relatórios e recomendações de investimentos

Leia também
Newsletter
Newsletter

Gostaria de receber nossos conteúdos por e-mail?

Cadastre-se e receba grátis nossos relatórios e recomendações de investimentos

A XP Investimentos CCTVM S/A, inscrita sob o CNPJ: 02.332.886/0001-04, é uma instituição financeira autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.Toda comunicação através de rede mundial de computadores está sujeita a interrupções ou atrasos, podendo impedir ou prejudicar o envio de ordens ou a recepção de informações atualizadas. A XP Investimentos exime-se de responsabilidade por danos sofridos por seus clientes, por força de falha de serviços disponibilizados por terceiros. A XP Investimentos CCTVM S/A é instituição autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.


Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com a nossa Política de Cookies (gerencie suas preferências de cookies) e a nossa Política de Privacidade.