Amilcar de Castro, o centenário de um mestre

Veja uma história sobre um dos maiores escultores brasileiros na comemoração de seu centenário e celebração de sua obra



A minha história profissional não teria sido a mesma se não tivesse conhecido Amilcar de Castro. No início dos anos 80 eu era uma jovem marchand e ele já era reconhecido com um dos maiores escultores do século XX. Eu tinha um escritório de arte no Centro do Rio de Janeiro e tinha acabado de ser contratada pela IBM como consultora pra formar uma coleção de arte brasileira e alocar esse acervo nas diversas sedes que a empresa tinha no país. Quando pensei na sede de Belo Horizonte imediatamente me surgiu a ideia de encomendar ao Amilcar uma escultura.

O primeiro encontro

Meu primo e grande arquiteto mineiro Gustavo Penna, que era amigo do Amilcar, promoveu esse encontro, numa padaria ao lado do atelier dele. Quando cheguei, ele já estava me esperando. Foi muito simpático desde o início e me mostrou uma sacola com várias maquetes de esculturas.

Colocou todas em cima da mesa e disse: “Silvia Cintra, esse é meu trabalho. Eu corto e dobro aço. O Gustavo gosta muito de você e por isso já gosto também. Vamos fazer esse projeto juntos e você por favor abra uma galeria no Rio que eu vou inaugurar ela pra você”. E assim foi.

A partir desse momento, Amilcar me levou pela mão no aprendizado do melhor da arte contemporânea e me emprestou seu olhar afiado. Nunca vou me esquecer de ver uma exposição com ele me explicando a diferença entre o bom, o quase bom e o excelente. Juntos construímos uma relação de troca que perdurou até o final da sua vida.

A Vassourinha

Em 1989 ele foi convidado para a primeira exposição retrospectiva de sua carreira no Paço Imperial. Nessa época ele estava muito envolvido em desenhar e fazia isso no papel. Com o tempo passou para o Eucatex. Até que um dia perguntei por que ele não tentava fazer isso em tela, maior. “Impossível! Eu não consigo fazer na tela a passagem entre a pintura e a marca que fica do pincel no papel. Não funciona!”

Passou um tempo e recebi pelo correio umas fotos de uma experiência que ele tinha feito em tela. Liguei pra ele e disse que ainda não era isso, estava estranho, duro. E ele na mesma hora: “Não te falei que não funciona? Eu não sou pintor. O Matisse é pintor, ele vê o mundo através das cores. Eu sou escultor, vejo através das linhas. Isso é desenho, não é pintura”. Mas ele comprou o desafio.

Meses mais tarde me ligou pra dizer que tinha achado uma vassourinha e que estava conseguindo fazer com ela o que ele queria. Pediu que eu fosse a Belo Horizonte ver o resultado. Quatorze telas, todas do mesmo tamanho. Ele tinha conseguido. Tinha acontecido na tela o desenho de um gesto só que ele fazia no papel. Os trabalhos, em grande formato, foram exibidos na retrospectiva de 89 pela primeira vez e se tornaram icônicos dentro da sua obra.

Esse ano eu completo 40 anos de carreira, ele completaria 100 de vida. Artistas como ele é que justificam minha escolha. Hoje continuo esse compromisso ao lado de seus filhos e do Instituto Amilcar de Castro, criado para conservar e preservar sua obra.

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