Não tem caminho fácil

Antes de começar o texto, peço desculpas pelo exagero de citações, cometido não por acaso, mas propositalmente na certeza de que o leitor entenderá o justo excesso.

Nada como tomar uma decisão de investimento partindo da premissa de que essa decisão será a última ou deverá durar por um longo período. Como diria Warren Buffet, “investir em ações é simples. Tudo que se tem que fazer é encontrar um grande negócio gerido por gente de grande talento e integridade, comprá-lo por um preço menor que seu valor intrínseco e depois guardá-lo para sempre”.

A parte que diz “investir em ações” pode ser trocada por qualquer outra classe de ativos. A mensagem é a importância do processo de tomada de decisão.

Mas a ansiedade de se obter retornos rápidos sabota nossa paciência e, consequentemente, nosso sucesso. Admiramos Buffet por sua filosofia de investimento de longo prazo, mas, para nós mesmos, buscamos resultados imediatos, como o de quem aposta na loteria. A maioria reconhece o sucesso do value investing, mas cai na sedução do caminho fácil ou na dica de um amigo.

Análise de investimento tem mais estudo, processo e ciência do que parece. Como lembra a escritora australiana Christina Stead “o self-made man é aquele que acredita na sorte, mas manda seu filho estudar em Oxford” e como bem falou Miguel de Cervantes “diligência é mãe da boa sorte”.

O investimento fundamentalista requer uma análise mais robusta, mais detalhada e mais suor. Mas, uma vez lá, é preciso perseverança. É uma prova de endurance para atleta nenhum botar defeito. Se o dever de casa tiver sido feito, nos números, nos estudos e checklists, o bom resultado é questão de tempo. Mas não é uma ciência exata.

Não por outra razão, Charles Munger lembra sempre que “investir é uma parte ciência (pelo que tem de objetivo, quantitativo, verificável) e uma parte arte (pelo que tem de subjetivo, intuitivo, insight)”.

Nosso trabalho é arte, ciência, repetição e perseverança. O resto é sorte. Como não contamos com a Fortuna, deusa que rege a sorte dos mortais, seguimos perseverando na ciência, na arte a na repetição.