A BRF é a maior fabricante de alimentos processados e a maior produtora de frangos e suínos do Brasil e uma das maiores empresas globais de alimentos em valor de mercado. A companhia atua nos segmentos de carnes (aves e suínos), alimentos industrializados (margarinas e massas) e produtos lácteos, com marcas de grande valor agregado no Brasil, como Sadia, Qualy e Perdigão. A companhia encerrou o ano de 2021 com Receita Líquida de R$ 48,3 bilhões, um crescimento de 22,5% A/A, fruto de um mix de valor agregado e inovações no portfólio. Mesmo em um ano com cenário de agravamento de custos e reajustes acima de 50% em alguns itens, a BRF reportou resultado bastante resiliente, com EBITDA Ajustado de R$ 5,6 Bilhões e um Lucro Líquido de R$ 517 milhões. A relação dívida líquida/EBITDA encerrou o exercício em 2,17x. A companhia não possui covenants de alavancagem.
Destaques positivos
- Portfólio de marcas fortes.
- Cenário global favorável ao agronegócio no Brasil, com redução do rebanho suíno em outras regiões.
- Crescimento populacional mundial.
- Aquecimento do mercado consumidor chinês.
Pontos de atenção
- Exposição ao câmbio.
- Correlação com o desempenho da economia.
- Exposição às cotações de grãos (commodities).
- Riscos sanitários.
- Mudanças de hábitos alimentares da população.
- Gestão e estratégia.
Quem é a BRF?
História
A BRF é uma companhia multinacional do setor de alimentos, resultado da compra da Sadia pela Perdigão.
A Perdigão foi fundada em 1934 por Saul Brandalise, na Vila das Perdizes, hoje município de Videira (SC), como um pequeno armazém familiar.
Já a Sadia foi fundada em 1944 por Attilio Fontana, em Concórdia (SC), sendo composta por um frigorífico e um moinho, dentre outros empreendimentos.
No ano de 2008, em meio à crise do subprime, a Sadia foi negativamente impactada pela compra de derivativos cambiais para proteger suas exportações da desvalorização do dólar. A desvalorização do real, somada a operações no mercado de derivativos, foram responsáveis pelo prejuízo líquido de R$ 2,5 bilhões no ano.
Nesse cenário, a união da Sadia com outra empresa se tornou uma alternativa atraente para a sua recuperação. Portanto, em maio de 2009, foi anunciado um acordo de aquisição da companhia pela Perdigão. A alteração da razão social da nova empresa para Brasil Foods veio em julho no mesmo ano.
Com isso, foi realizada uma oferta pública de ações em agosto para aumento do capital da nova empresa, totalizando R$ 2,3 bilhões de reais.Em sequência à conclusão do processo de fusão e aprovação da transação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), após o cumprimento de uma série de exigências, o conglomerado realiza uma mudança da imagem institucional, e é renomeado para BRF S.A.
Em 2015, a estratégia de expansão internacional da BRF é intensificada, por meio (i) da criação da SATS BRF em Cingapura; (ii) de uma linha de snacks com a marca Sadia na China; (iii) aquisição de participação na Qatar Nacional Import and Export Co. no Oriente Médio; e (iv) compra das marcas Vieníssima, Goodmark, Manty e Delícia na Argentina por meio de suas subsidiárias locais.
Já em 2016, a BRF criou a subsidiária OneFoods, com base em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, cujo foco é a produção, distribuição e venda de alimentos Halal (produtos preparados de acordo com a jurisprudência islâmica).
Em 2018, o então presidente da Petrobras, Pedro Parente, assume o conselho de administração da BRF em substituição a Abilio Diniz.
Em 2021, a Marfrig, uma das maiores players do setor de frigoríficos brasileiro, adquiriu cerca de 31,66% da BRF, ocupando a posição de maior acionista da companhia. Em 2022, a companhia anunciou a entrada do próprio Marcos Molina, um dos acionistas majoritários da Marfrig, no conselho da BRF.
Atuação
A BRF atua nos segmentos de carnes (aves e suínos), alimentos industrializados (margarinas e massas) e produtos lácteos, com marcas de grande valor agregado no Brasil, como Sadia, Qualy e Perdigão ecom um portfólio de mais de sete mil e trezentos SKUs.
A companhia é a maior fabricante de alimentos processados do país, a maior produtora de frangos e suínos do Brasil e uma das maiores empresas globais de alimentos em valor de mercado.
Presença
Brasil: principal região de atuação da BRF, onde possui um portfólio com mais de 800 produtos. A companhia conta com mais de 88 mil colaboradores diretos no país, alocados em 35 unidades produtivas e 20 centros de distribuição. No ano de 2021, o Brasil representou 48,7% da receita operacional líquida da companhia.
Américas: além do Brasil, a companhia está presente na região do Caribe e América do Sul, onde são comercializados alimentos industrializados e categorias como cortes de frios, empanados, carne suína in natura, margarinas e hambúrgueres.
Oriente Médio: a empresa é a maior produtora de proteínas animais na região e a maior fabricante de produtos Halal de origem animal no globo.
Ásia: a presença da BRF na região objetiva consolidar sua participação em mercados que representam o futuro da demanda global por alimentos, principalmente a China.
África: apesar de não haver unidades produtivas ou centros de distribuição da empresa no continente, a área é atendida por meio de acordos com terceiros.
Fonte: XP Investimentos, BRF.
Quem são seus acionistas?
Mafrig Global Foods S.A. (33,25%): holding operacional do setor alimentício, especializada em carne bovina. Atua nos segmentos de food service, varejo e processamento. Seus produtos estão presentes em 100 países, com operações na América do Norte e América do Sul.
Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ) (6,13%): fundo de pensão brasileiro que gerencia a previdência complementar dos funcionários do Banco do Brasil. É o maior fundo de pensão da América Latina.
Kapitalo Investimentos (5,34%): gestora de investimentos fundada em 2009 e sediada em São Paulo. Atua por meio de fundos Multimercado e de Ações e conta com mais de R$ 20 bilhões em ativos sob gestão.
Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros) (5,26%): fundo de previdência dos funcionários da Petrobras que provê aposentadoria complementar aos funcionários da estatal.
American Depositary Receipt (ADRs) (20,20%): recibos de ações da companhia, emitidos por bancos nos EUA, com lastro em ações da BRF no Brasil, negociados na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE).
Outros (29,83%).
As ações da BRF são negociadas no Novo Mercado da B3, sob o ticker BRFS3 (todas são ordinárias), e em ADRs Nível III na Bolsa de Valores de Nova York.
Dados atualizados em 16/03/2022.
Principais fatores do crédito
Para melhor entendimento, esclarecemos que a nomenclatura “4T21” significa “quarto trimestre de 2021”. Suas variações também se aplicam (ex: 3T21 seria o terceiro trimestre de 2021).
Fonte: XP Investimentos, BRF, Economatica.
Cenário atual
A Ucrânia é a quarta maior exportadora de milho no mundo. Durante o conflito com a Rússia, o preço da commodity junto a outros grãos disparou na bolsa de Chicago, uma vez que a safra da milho na Ucrânia começa a ser plantada no final de fevereiro até o início de março e com a extensão do conflito, o cenário que se consolida é de uma safra amena.
Assim, o aumento nas cotações do preço dos grãos, que são componentes de ração para aves e suínos, implica em perda de competitividade para os frigoríficos e margem para os frigoríficos que abatem esses animais, sendo que não há perspectiva de melhora nas cotações dos grãos no curto prazo.
Aponta-se a alta de 19,79% nos custos de produção de aves no Brasil em 2021 e de 6,76% nos custos referentes aos suínos, de acordo com a Central de Inteligência de Aves e Suínos da Embrapa, o que pode obrigar a empresa a subir preços para recompor suas margens.
Além disso, no BRF Day, em meados de dezembro de 2021, a empresa apresentou sua estratégia de crescimento para os próximos 10 anos, incluindo plano de investimentos de R$ 55 bilhões no período para se tornar líder de mercado, dos quais R$ 18 bilhões serão aportados entre 2021–2023.
Destaques financeiros e operacionais
- A Receita Líquida Consolidada atingiu R$ 13.724 milhões no 4T21, totalizando R$ 48.343 milhões em 2021, 22,5% superior a 2020
- O EBITDA Ajustado atingiu R$ 1.687 milhões, totalizando R$ 5.559 milhões em 2021, 7,2% superior a 2020
- A margem EBITDA foi de 11,5%, 160 bps abaixo do ano anterior.
O cenário ainda é desafiador, porém, a Companhia está focada em: aumento da preferência dos consumidores pelas marcas; aumento da capilaridade e das iniciativas multicanal; excelência na execução de negócios e inovação (especialmente no portfólio de prontos para o consumo e plant based).
Segmento Brasil
O volume de vendas atingiu 2.301 mil toneladas, 1,4% inferior a 2020, impulsionado principalmente pela queda de 2% em Aves e 1,7% em Alimentos Processados, mas parcialmente compensado por um aumento de 5% em Suínos. As duas primeiras foram afetadas (i) pela redução da renda média das famílias; (ii) cenário inflacionário, que no período acumulou 10,06% da variação no ano; e (iii) condições climáticas desfavoráveis para colheita de milho e soja na América do Sul. Além disso, devido à queda nas exportações, a concorrência aumentou o volume de oferta local, provocando queda circunstancial de preços, o que pressionou as margens.
A Companhia registrou aumento de 22,4% no CPV com um EBITDA Ajustado da operação de R$ 2.928 milhões, uma redução de 4,9% A/A, com uma Margem EBITDA Ajustada de 11,8%.
Segmento Internacional
O volume de vendas consolidado atingiu 1.958 toneladas, 4,1%% superior a 2020, com resultados mistos.
O destaque negativo foi o Segmento Ásia que apresentou queda tanto em volume quanto em margem, principalmente, devido à contração nos volumes e preços de exportação de carne suína para a China, dada a recuperação da produção local, que somada ao aumento dos custos, contribuiu para este fraco resultado.
No mercado Halal, o volume vendido manteve o mesmo patamar do ano anterior, resultado das tendências de crescimento da atividade econômica no food service com maior mobilidade, este segmento também registrou um aumento de 19,1% nos preços médios que foi parcialmente compensado por um aumento de 17,4% no CPV, contribuindo para um aumento de 400bps na Margem EBITDA Ajustada.
Por fim, o segmento de Exportação Direta registrou resultados recordes devido ao movimento de alta dos preços médios em USD de +57% a/a e à manutenção dos volumes, refletindo o aumento da demanda internacional, principalmente no Oriente Médio, África e Sul e Centro América. A operação internacional da BRF reportou um EBITDA Ajustado de R$ 2.142 milhões em 2021, com uma Margem EBITDA Ajustada de 10%, -220 bps A/A.
Pontos de atenção
Exposição ao câmbio
Por conta da operação ser em parte dolarizada, os investimentos da BRF em reais também estão expostos ao risco de mercado, que remete ao risco da variação do preço da cotação da moeda. Em suma, a desvalorização do real em relação ao dólar torna os preços dos produtos para exportação e do segmento Halal mais atrativos nos mercados internacionais, porém o contrário também é verdadeiro.
Correlação com o desempenho da economia
Se, por um lado, a desvalorização do real frente ao dólar favorece as exportações e aumenta o peso da receita em dólar, por outro, o enfraquecimento da economia nacional (uma das causas da moeda desvalorizada), e, por consequência, a perda do poder de compra pela população, desacelera as vendas dos produtos processados e de marcas fortes no país.
Nesse caso, a dinâmica para a BRF é diferente de seus pares no setor, como JBS ou Minerva, dado que o real mais forte em função de economia melhor é mais interessante que a alta do dólar, já que o impacto das vendas no mercado local de produtos de alto valor agregado é mais relevante na receita total da companhia do que as operações Halal ou exportações.
Exposição às cotações de grãos
Os grãos, mais especificamente milho e soja (farelo), são os principais componentes das rações utilizadas no setor avícola, e, portanto, são custos relevantes para os frigoríficos do segmento. A alimentação dos plantéis de aves representa de 60% a 70% do custo total de produção da avicultura.
A queda no preço dos grãos é favorável para as atividades da BRF, dado que a economia com os insumos pode aumentar as margens das atividades. Por outro lado, a alta das suas cotações pode prejudicar a rentabilidade.
Questões sanitárias
Um dos principais riscos dos frigoríficos em geral abrange questões sanitárias. O avanço da peste suína africana, por exemplo, dizimou o rebanho de suínos na China e alterou os padrões de consumo e produção no país: houve redução da criação de aves de fundo de quintal e expansão da criação no padrão internacional.
No caso do setor avícola, ressalta-se como a principal patologia a gripe aviária, doença fatal, que pode levar ao óbito os animais no mesmo dia em que os primeiros sintomas aparecem. O abate sanitário é apontado como a principal medida para conter os surtos, onde são realizadas a destruição das carcaças, desinfecção do local e procedimentos de quarentena.
Nos anos de 2006 e 2007, a expansão da gripe aviária pela Europa e Ásia resultou em bloqueio de embarques vindos do Brasil como medida de proteção. O excesso de oferta no mercado interno derrubou os preços de aves no Brasil na época. Vale ressaltar que o surto ocorreu há mais de 10 anos, porém o destaque tem como objetivo exemplificar de que maneira um problema sanitário pode afetar empresas deste setor.
Também é importante mencionar que países importadores possuem órgãos de vigilância sanitária, que aprovam a exportação de frigoríficos caso a caso, visando garantir padrões de qualidade para os alimentos comercializados em seus territórios. Com uma certa recorrência, notícias são veiculadas sobre habilitações e desabilitações de plantas no Brasil por parceiros comerciais.
Mudanças de hábitos alimentares da população
Apesar do crescimento na demanda de proteínas observado nos últimos anos, impulsionado em sua maior parte pelo aquecimento do mercado chinês há questionamentos sobre se essa expansão poderá ser sustentável no longo prazo.
Nesse sentido, a crescente preocupação com questões relacionadas à sustentabilidade na produção de alimentos aliada aos avanços tecnológicos, tem trazido inovações como as “carnes” à base de vegetais, com sabor, aroma e textura semelhantes aos originais, puxado pelas empresas americanas Impossible Foods e Beyond Meat.
Como resposta ao movimento, a BRF lançou em março a linha Sadia Veg&Tal, que inclui hambúrguer, nuggets, bacon e tortas, todos a base de proteínas vegetais.
Gestão e estratégia
Com a aprovação da fusão entre Sadia e Perdigão em 2013, a nova administração não poupou esforços em rever as práticas utilizadas pela nova companhia visando a busca de maior eficiência. A nova empresa usou como exemplo a Ambev, que também possui um amplo leque de marcas próprias e é uma das empresas brasileiras mais competitivas e internacionalizadas.
A estratégia implementada na recém-criada BRF reviu a bonificação dos funcionários, renovou equipes existentes, trouxe novos gestores, intensificou compras e focou na área comercial.
Porém, com o passar dos anos, a BRF sofreu revezes que prejudicaram os projetos iniciais previstos após a fusão.
Dentre esses insucessos, é possível citar a Operação Carne Fraca, que atingiu a companhia em 2017. A operação, conduzida pela Polícia Federal, visava apurar um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos por fiscais do Ministério da Agricultura.
Além disso, também houve: (i) embargo às exportações para a União Europeia de 20 frigoríficos brasileiros, como consequência das operações, dos quais a maioria atingida foi da BRF; (ii) aplicação de tarifas antidumping pela China em 2017 (cujo acordo para a isenção da aplicação foi firmado em 2019); (iii) restrições da Arábia Saudita à importação de carne de frango da planta de Lajeado (RS), que exportava 6,5 mil toneladas por mês ao mercado saudita.
Ao mesmo tempo, ocorreram fortes mudanças no cenário concorrencial com o fortalecimento da Seara, que aumentou sua participação tanto no mercado doméstico quanto no internacional.
Apesar de serem exemplos de casos passados, eventuais problemas de gestão poderiam levar a empresa a enfrentar novos desafios.