Resumo
Nos Estados Unidos, o Fed (banco central) reduziu a taxa básica de juros em 0,50 p.p., o primeiro corte desde março de 2020. A redução surpreendeu os economistas, que esperavam um corte de 0,25 p.p.. No comunicado e na coletiva de imprensa após a decisão, o Fed evitou dar indicação sobre os próximos passos de política monetária, mas reforçou que os riscos estão equilibrados e a economia segue forte.
Na China, indicadores de atividade econômica corroboraram a perspectiva de crescimento mais fraco em 2024, aumentando a pressão por maiores estímulos do governo.
No Brasil, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) elevou a taxa Selic em 0,25 p.p. (de 10,50% para 10,75%), na esteira da resiliência da atividade, pressões no mercado de trabalho e expectativas de inflação desancoradas. O comunicado pós-decisão trouxe mensagens duras, reforçando nosso cenário de que o Copom optará por acelerar o ritmo de aumento de juros na próxima reunião.
Gráfico da Semana
Cenário internacional
Fed corta os juros mais do que o esperado, mas segura o entusiasmo para frente
O Fed (banco central dos EUA) reduziu sua taxa básica de juros em 0,50 p.p., para o intervalo de 4,75% a 5,00%. A decisão surpreendeu os economistas, que esperavam uma redução de 0,25 p.p., e representou o primeiro corte de juros desde março de 2020.
O comunicado que acompanhou a decisão enfatizou a melhora nas perspectivas de inflação e a desaceleração do mercado de trabalho, com o Comitê avaliando que os riscos estão equilibrados. Ao mesmo tempo, o Fed se esforçou para indicar que este ritmo mais intenso de queda não necessariamente se repetirá adiante. Durante a coletiva de imprensa, o Presidente da instituição, Jerome Powell, lembrou que a economia está forte e não precisa de cortes emergenciais nas taxas de juros.
Os mercados receberam bem a decisão. As bolsas subiram em diversas regiões do mundo, e as moedas dos países emergentes se apreciaram. O Real, por exemplo, voltou a ser cotado perto de 5,40 reais por dólar na quinta-feira (em que pese o enfraquecimento no dia seguinte).
Atividade na China desafia meta de crescimento econômico de 5%
Na China, os indicadores de atividade econômica referentes a agosto apresentaram resultados fracos. A produção industrial registrou variação anual de 4,5%, abaixo da expectativa de 4,8%. As vendas no varejo cresceram apenas 2,1%, enquanto o consenso previa aumento de 2,5%. Além disso, a taxa de desemprego subiu para 5,3%, superando a expectativa de 5,2%.
Os dados indicam atividade econômica lenta na China, em um contexto de risco de deflação, demanda persistentemente fraca e crise prolongada no mercado imobiliário. O cenário pressiona o governo a fornecer mais estímulos para as famílias e empresas, a fim de alcançar a meta de crescimento econômico de 5%.
Os níveis deprimidos de atividade econômica China representam um risco para o Brasil, dado que o país asiático é o principal destino das exportações nacionais.
Donald Trump sofre 2ª tentativa de assassinato; pesquisas mostram empate técnico
Nos Estados Unidos, o FBI está investigando uma suposta segunda tentativa de assassinato contra Donald Trump. O potencial atentado contra a vida do candidato à Presidência ocorre pouco mais de dois meses após tentativa de assassinato durante um comício em Butler, Pensilvânia. O incidente não deve alterar as campanhas dos candidatos ou o resultado eleitoral, embora levante questões sobre o protocolo de segurança.
As pesquisas divulgadas esta semana seguem mostrando um empate técnico entre Trump e Harris na corrida pela Casa Branca.
Tensão geopolítica volta a subir no Oriente Médio
Israel lançou ao longo da semana ataques aéreos contra alvos do Hezbollah no Líbano. O líder do grupo militante afirmou que os ataques representavam uma declaração de guerra, e reforçou que os ataques contra Israel continuarão até que os conflitos em Gaza terminem.
Os preços do petróleo, que vinham recuando nas últimas semanas por conta da queda da demanda global, voltaram a subir. O barril do tipo Brent (mais importante para o Brasil), que chegou a ser cotado abaixo de 70 dólares, fechou a semana próximo de 75 dólares.
Enquanto isso, no Brasil…
Banco Central aumenta a taxa Selic para 10,75%, com tom mais duro em seu comunicado
O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) elevou a taxa Selic em 0,25 p.p. para 10,75%, conforme esperado. Em nossa visão, o comunicado pós-reunião foi mais duro (hawkish, no jargão de mercado), reforçando nosso cenário de que o Comitê optará por acelerar o ritmo de aumento de juros na próxima reunião.
Devido à “resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas”, o Comitê ressalva que a economia precisa de uma política monetária mais restritiva. Para os próximos passos, o órgão não forneceu sinalizações claras. No entanto, a autoridade mostra que o caminho atualmente projetado pelo mercado para a taxa Selic – 11,50% até janeiro de 2025 e retorno para 10,50% até dezembro de 2025 – não seria suficiente para levar a inflação à meta. Assim, vemos a decisão da última quarta-feira como consistente com o nosso cenário de que a taxa Selic atingirá 12,00%, após altas de 0,50 p.p. nas reuniões de novembro e dezembro, além de uma última elevação de 0,25 p.p em janeiro. Ou seja, acreditamos que o Copom acelerará o ritmo de aumento (de 0,25 p.p. para 0,50 p.p.), visando uma reancoragem mais rápida das expectativas de inflação.
Veja mais detalhes no nosso relatório “Comunicado do Copom: Um início gradual do ciclo, com tom mais duro”.
Arrecadação tributária segue forte e deve ajudar o governo a atingir a meta fiscal
A arrecadação tributária federal totalizou R$ 201,6 bilhões em agosto, aumento real de 11,9% em relação ao mesmo mês de 2023. A arrecadação cresceu 9,5% no acumulado do ano, e 6,7% nos últimos 12 meses. O forte desempenho está ligado ao crescimento econômico e às medidas de elevação de receitas implementadas pelo governo.
Apesar do resultado positivo, o aumento da arrecadação tributária não é suficiente para fazer frente ao aumento de despesas e assegurar a meta de resultado primário nulo deste ano. Assim, o governo dependerá de medidas não tributárias, como dividendos de empresas estatais e apropriação de depósitos judiciais, para fechar a conta. Informações adicionais devem ser divulgadas no quarto relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas primárias.
Clique aqui para receber por e-mail os conteúdos de economia da XP
O que esperar da semana que vem
Na agenda internacional, o evento mais importante da semana que vem será a divulgação da inflação medida pelo núcleo do deflator das despesas de consumo pessoal nos EUA – core PCE, em inglês – referente a agosto (6ª-feira). Ao longo da semana, vários dirigentes do Fed (banco central dos EUA) falarão publicamente, incluindo o Presidente Jerome Powell (5ª-feira) – as autoridades podem fornecer mais informações sobre a reunião de política monetária desta semana, e o que esperar adiante.
No que diz respeito a indicadores econômicos, as sondagens empresariais PMI de setembro serão divulgadas nos Estados Unidos, Zona do Euro, Reino Unido e China – o índice PMI reflete a percepção de empresários sobre as condições econômicas e de negócios nas regiões.
No Brasil, as atenções do mercado estarão voltadas para duas publicações do Banco Central: a ata da reunião do Copom na 3ª-feira, que trará mais detalhes sobre a decisão desta semana de elevar a taxa Selic; e o Relatório Trimestral de Inflação, na 5ª-feira, com projeções e análises macroeconômicas da autoridade monetária. Além disso, o IBGE divulgará o IPCA-15 de setembro na 4ª-feira e a PNAD Contínua de agosto na 6ª-feira, enquanto o Ministério do Trabalho publicará a criação líquida de empregos formais (Caged) na 5ª-feira. O Banco Central também divulgará notas estatísticas ao longo da semana: setor externo na 3ª-feira e mercado de crédito na 6ª-feira. Por fim, o Tesouro Nacional publicará, na 6ª-feira, o resultado primário do governo central referente a agosto. Veja as nossas projeções abaixo.
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!