Resumo
Jerome Powell enfatiza compromisso por queda na inflação americana, em meio a mercado de trabalho ainda muito aquecido. Na China, meta de crescimento do governo ficou abaixo do esperado pelo mercado.
No Brasil, Haddad anuncia acordo de compensação aos estados por redução das alíquotas de ICMS. Do lado da inflação, o resultado do IPCA de fevereiro mostrou que dinâmica inflacionária ainda é desafiadora. Em contrapartida, os resultados do mercado de trabalho vieram melhores do que o esperado, embora ainda indique acomodação.
Discurso de Powell sinaliza compromisso com queda da inflação
Em discurso feito para o Senado americano, o presidente do Federal Reserve disse que a autoridade monetária “está preparada” para continuar o ritmo de alta nas taxas de juros para combater a inflação. Disse, ainda, que “o nível final das taxas de juros provavelmente será mais alto do que o previsto anteriormente” e que os dados econômicos vieram “mais fortes que o esperado”. O discurso confirmou a expectativa de ajuste em +0,25% na próxima reunião, a ocorrer nos dias 21 e 22 de março.
Mercado de trabalho americano ainda apertado
O Payroll (relatório de emprego não-agrícola), importante indicador do mercado de trablaho americano, indicou expansão de 311 mil pessoas empregadas, bem acima das estimativas do mercado (XP: 191k; Consenso: 225k). Por outro lado, a taxa de desemprego cresceu mais que nossa projeção (estável em 3.4%), e atingiu 3,6% em fevereiro. Por fim, a remuneração por hora cresceu ligeiramente abaixo do consenso, 0,3%, e variou 0,2% em fevereiro. Os números foram mistos, e apesar do número acima do esperado, há a indicação de desaceleração no mercado de trabalho.
O relatório ADP registrou criação líquida de 225 mil empregos privados em fevereiro, muito acima do número de janeiro (120 mil), ao passo que o total de vagas abertas – medida de demanda por mão de obra – recuou menos que o esperado (de 10,5 mi ante 10,8 mi). Além disso, a pesquisa JOLTS indica que há 1,9 vaga aberta por trabalhador desempregado em janeiro, marginalmente abaixo da razão de 2,0 registrado em janeiro.
Nesse sentido, apensar da preocupação de Powell (ver acima), parece improvável Federal Reserve eleve a taxa de juros além de 0,25 p.p. Especialmente com os problemas no setor financeiro (ver abaixo).
Problemas com bancos nos EUA derrubam bolsa e juros.
Grande financiador de startups do Vale do Silício - o Silicon Valley Bank - faliu, em meio a prejuízo na sua carteira composta de títulos do tesouro americano e hipotecas. Com a elevação rápida das taxas de juros nos últimos meses, a captação de empréstimos das empresas junto aos bancos diminui, dificultando a situação para as instituições financeiras. Hoje, o Federal Deposit Insurance Corp assumiu o controle da SVB, com o objetivo principal de prover liquidez e garantir o saque dos depósitos dos clientes do banco. Ontem, o presidente do banco pediu calma para seus clientes, mas não foi suficiente para conter a onda de saques e inevitável crise de liquidez.
O problema do SVB, e a possibilidade de que outros bancos estejam em situação parecida, levou a queda da bolsa e dos juros dos títulos públicos dos EUA.
China estabelece meta de crescimento para 2023
O primeiro ministro chinês, Li Keqiang, anunciou que a meta de crescimento do governo para 2023 é de 5%, o número mais baixo em mais de três décadas, e abaixo do objetivo de 5,5% outrora definido para 2022. Esse número foi abaixo das projeções de mercado e da XP, cujas projeções estavam no intervalo de 5,5% e 6,0%. Ainda assim, caso o objetivo seja alcançado, será um nível de crescimento maior que o observado no ano passado, 3%.
Varejo na Europa cresce menos que o esperado
Em janeiro, as vendas no varejo na Zona do Euro aumentaram 0,3% m/m, abaixo da projeção de 0,6%. Ainda assim, com inflação e outros dados de atividade ainda em alta, o Banco Central Europeu não para com o ritmo de alta na taxa de juros.
Nesse sentido, esse cenário corrobora o cenário de mercado de trabalho sólido do Fed, publicado em seu Livro Bege, documento de informações qualitativas sobre as condições econômicas.
Inflação na China abaixo do esperado
A inflação ao consumidor chines cresceu 1,0% no acumulado em 12 meses, quase metade da expectativa de 1,9% do mercado e do 2,1% registrado em janeiro. Além disso, o índice de preços ao produtor caiu 1,4% ao ano, puxado principalmente por preços mais baixos em commodities. Nesse sentido, as preocupações acerca da economia chinesa estão centradas na atividade econômica.
Produção industrial alemã em alta
Na Alemanha, tivemos a divulgação da produção industrial de janeiro, que aumentou 3,5% em relação ao mês anterior, acima das expectativas de 1,4%. Apesar da surpresa, o resultado reflete em grande parte um rebote da queda de dezembro, que foi revisada para 2,4%. Também na Alemanha, dados de vendas no varejo mostraram queda de 0,3%, bem abaixo da expectativa dos analistas de uma alta de 2%.
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Enquanto isso, no Brasil...
Publicamos nosso relatório Macro Mensal de março
No relatório deste mês, revisamos o número de resultado primário (% do PIB) e o número de IPCA para 2023. Em relação ao primeiro, previsão de maior despesa e número oficial de reoneração de combustíveis, no segundo, levaram à mudança. No cenário internacional, inflação persistente deve levar a juros mais altos por mais tempo.
Confira o relatório completo aqui.
IPCA de fevereiro indica dinâmica ainda desafiadora
Em fevereiro, a inflação ao consumidor registrou alta de 0,84%, acima da nossa projeção de 0,78%, recuando de 5,70% para 5,66% em 12 meses. Em relação ao nosso número, o maior desvio veio em Higiene pessoal, Gasolina e Transporte público, itens mais voláteis.
A inflação de serviços e os chamados núcleos da inflação (medidas que ajustam o IPCA para tentar captar a tendência subjacente da inflação) seguem rodando alto - perto de 6% ao ano - sem sinais claros de desaceleração. Isso sugere que o desafio do banco central ainda é grande para trazer a inflação mais perto da meta de 3,25%; ou mesmo da inflação que o presidente Lula manifestou preferência, entre 4,0 e 4,5%.
Preocupação com crédito reduziu juros futuros
Até quinta-feira, os juros futuros operaram em queda em meio a temores por uma crise de crédito no Brasil, tendo em vista a atividade econômica em desaceleração, o alto endividamento de famílias e problemas em empresas relevantes como Americanas e Light. Ao longo da semana a queda chegou a 60 pontos-base em alguns vértices da curva futura. No final da semana o IPCA pressionado e temor de crise financeira nos EUA reverteu parte do movimento.
Haddad anuncia compensação aos estados por perdas com ICMS
Em entrevista concedida na sexta-feira, o ministro da fazenda anunciou acordo de 26,9 bilhões para os estados, via transferência da união, pelas perdas de arrecadação com a redução das alíquotas do ICMS. Para tal, os valores serão diluídos no tempo, de forma a não ter impacto imediato nas contas do governo federal deste ano, acomodando as projeções e metas divulgadas no começo do ano.
Diretor do BNDES indica emissão de títulos para financiar crédito subsidiado
Em entrevista publicada pela Folha de São Paulo, o novo ministro do planejamento do BNDES, Nelson Barbosa, indicou a intenção da entidade em emitir títulos, isentos de impostos, para captação de recursos para operações de crédito subsidiado. De acordo com ele, “algumas atividades precisam de subsídio para se tornarem viáveis e gerarem externalidades positivas”.
Criação de empregos formais acima do esperado
O relatório do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) registrou criação liquida de 83,3 mil empregos formais em janeiro acima das projeções do mercado (XP: 78 mil; consenso: 68 mil). Com ajuste sazonal, o número foi de 30,2 mil, ante 93,4 mil. Em relação a contratações, houve elevação na maioria dos setores (ajustados sazonalmente). Por sua vez, os desligamentos recuaram 1,2%, interrompendo a sequência de duas altas consecutivas. Sendo assim, reforça nosso cenário de arrefecimento gradual do mercado de trabalho formal.
O que esperar da semana que vem
Nos EUA será divulgado o IPCA de fevereiro, dado muito importante para as próximas decisões de juros do Fed.
Na China, os números de produção industrial, vendas no varejo, setor imobiliário e taxa de desemprego serão importantes indicações para a atividade econômica global em 2023.
Na Zona do Euro, o CPI de fevereiro será divulgado Banco Central Europeu decidirá o novo patamar da taxa de juros básica do bloco.
No Brasil, o grande destaque será a divulgação do novo arcabouço fiscal, a ser anunciado pelo ministério da fazenda. Além disso, o IGP-10 de março e a PNAD de janeiro serão destaque.
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